Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Adivinhe qual pauta a mídia hegemônica privilegiou

No dia 11 de abril, o jornal Bom Dia Brasil apresentou uma matéria de 9 minutos e 3 segundos para o caso da garota Isabella. Na parte da tarde, foi a vez do Jornal Hoje exibir outra matéria de 8 minutos e 24 segundos sobre o caso. Cobertura similar foi feita pelo Jornal Nacional, com 7 minutos e 55 segundos. Um pouco mais tarde, foi a vez do Jornal da Globo dedicar 5 minutos e 44 segundos. A novidade do dia era o fim das prisões temporárias do pai e madrasta da garota.

Desde o dia do crime, os telejornais de todas as emissoras têm dedicado cobertura semelhante ao caso (essa não tem sido uma característica apenas da Rede Globo). Dia após dia passamos a acompanhar a ‘trama’ nos diversos tipos de programas televisivos, todos, no entanto, abordando a questão em tom ‘novelístico’, vide a repercussão e o tempo de cobertura explicitado acima.

Chamo a atenção para o dia 11 de abril, pois no mesmo dia em que a Rede Globo dedicava em seus telejornais nacionais pouco mais de 31 minutos para a cobertura do caso Isabella, uma notícia desconcertante era veiculada no Jornal Nacional.

Com tempo de 1 minuto e 55 segundos, a matéria informava que entre janeiro e março de 2008, 552 pessoas foram assassinadas na região metropolitana de Salvador. 436 apenas na capital.

Questão ética

Na reportagem, o secretário de Segurança Pública da Bahia lamentava que, diante do caos social, restava como opção o aumento do efetivo da polícia (mais precisamente 3,2 mil homens para a Polícia Militar e quatro mil na Polícia Civil).

Mais uma vez, o discurso favorável à repressão ganhava destaque no horário nobre.

Dentre esses 552 homicídios é bem provável que dezenas tenham sido cometidos em situação similar, senão pior, que o ocorrido com Isabella. Porém, ao contrário deste, os crimes da periferia de Salvador (e também os de BH, Rio, São Paulo, Belém, Natal e outros) são originados da exclusão social – um debate que pouco interessa à imprensa hegemônica, pois a criminalização de tais acontecimentos atende melhor à pseudo-indignação dos ‘colonistas’ e sua mídia.

É impossível não questionar o fato de que uma mesma notícia receba uma cobertura de mais de 30 minutos, num mesmo dia, 12 dias após ocorrido aquilo que a levou ao público. O caso Isabella apresenta todos os pré-requisitos técnicos de uma notícia de ‘sucesso’, vide nossos valorosos manuais. Se esta é a mídia que domina nosso país, questioná-la não é apenas uma questão ideológica. É também uma questão ética.

******

Estudante de Jornalismo, Universidade Fumec, Belo Horizonte, MG