A falta de um jornal diário alternativo aos veículos conservadores de grande circulação deixa, efetivamente, o terreno livre para a hegemonia do discurso das idéias contrárias a qualquer avanço social daqueles que não são espelho das elites e de seu triste preposto, a classe média. Em outras palavras, as ações que visam melhorar a vida das classes populares são bombardeadas por edições que utilizam o efeito ilusório da boa denúncia dentro do melhor espírito democrático do papel da imprensa em defesa da coisa pública.
Dizendo de outro modo, agora é a Petrobras o alvo do desmonte da administração do PT, de acordo com o projeto de invibializar a governabilidade do segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. De ‘acabar com essa raça’ que soube usar muito bem as ferramentas assistencialistas, sim, criadas na gestão tucana com o objetivo de reduzir o Estado a um denominador mínimo comum, mas que nas mãos dos petistas forjados a partir de matéria-prima social, salvadas e reconhecidas todas as críticas, ganhou consistência real de política pública a ponto de garantir a reeleição do presidente.
O povo não é bobo… e a fome tem pressa. Os projetos apoiados pela Petrobras são de extraordinário alcance social. Se saem pelo PT, pelo PSDB, pelo PFL só importa ao moralismo golpista ou a gente de boa fé e má consciência. Aliás, a grande matéria seria o fato de PSDB e PFL terem projetos efetivos para as classes populares. Esses partidos elitistas, que detestam a realidade brasileira, celeiro de ministros ridículos com ares de executivo estadunidense e intelectual europeu, estão mais para cheiro do cavalo, dessa vez por razões de mercado. Agora mesmo, o que se viu em São Paulo com a vitória de José Serra foi o aumento da tarifa do metrô.
Logo, não há estranheza em que a maior parte dos projetos parta do PT. Claro que não há ingenuidade, ‘não vivemos em nenhuma república de anjos’, como bem assinalou Madison, um dos signatários da Constituição dos Estados Unidos. Faz-se política todo o tempo, o que é muito saudável, na medida em que política é a administração das diferenças que impede a barbárie. Quando não há política, a violência toma conta da situação que, a propósito, é o que estamos vivendo hoje em todos os níveis. A própria quebra de patente de remédios foi uma ação política compatível com o projeto tucano de desmonte do Estado. Louvável e sensível, sem dúvida, porque necessária para dar prosseguimento aos tratamentos de saúde de responsabilidade pública. Do contrário, os doentes ficariam sem medicação, morreriam, e o custo político seria desastroso porque, diante desse quadro, ia ser difícil a opinião pública aceitar as justificativas do mercado. A quebra de patente foi um exemplo do que é justo sem ser legal e, em última análise, é isso que está em jogo em se tratando do bem-estar social republicano.
A propósito, voltando ao caso das matérias que acusam a Petrobras de ser máquina do PT, outra grande reportagem seria a presença de tucanos e pefelistas em passeatas, atos públicos ou qualquer tipo de manifestação em favor da reforma agrária. Fazendo um rápido balanço de memória, não há registro na história das coberturas jornalísticas da participação de udenistas e arenistas, por exemplo, no comício da Central do Brasil, em 1964, ou no das Diretas Já, em 1982. Faz sentido. O único lugar onde o diabo é burro é na cabeça dos evangélicos. Eles insistem em exibir as sessões de descarrego em que o Capeta apanha feito um condenado, mas está sempre lá marcando ponto para ser castigado. E o pior é que o povo, crédulo, acredita.
Nunca antes neste país, e é fato, a população mais pobre teve acesso a comida, diversão e arte como agora. Não é do modo que muitos de nós desejamos, por isso mesmo estaria na hora de a imprensa cobrar emprego e distribuição de renda mais igual por outras vias. Mas esse viés não interessa aos grandes jornais. A proposta é escrever a história das ações sociais desse governo pela contrafação do que poderia ser visto como bom para o país, como as iniciativas financiadas pela Petrobras e que estão disponíveis no site da empresa para serem conhecidas e acompanhadas pelo cidadão que se interesse pelo assunto.
Entretanto, esse olhar só terá espaço em veículos alternativos à maioria dos que hoje circulam pelo país. Para isso, o primeiro passo pode ser a democratização das verbas públicas para todos os meios de comunicação e o melhor uso da rede pública de televisão. Porque quem gosta de dar força ao inimigo é diabo de evangélico.
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Jornalista, mestre e doutoranda em Semiologia pela UFRJ