O discurso de Mahmoud Ahmadinejad, presidente do Irã, na Assembléia Geral da ONU nos EUA no dia 24/9, deixou indignados diversos meios de comunicação e de proteção dos direitos dos jornalistas.
Os Repórteres Sem Fronteiras publicaram em seu sítio, no dia 26/9, uma carta aberta a Ahmadinejad em que afirmam que o povo iraniano não é o ‘mais livre do mundo’ como alegou o presidente, em resposta à crítica de diversos jornalistas e representantes internacionais sobre a situação deplorável dos direitos humanos no Irã. Ele adicionou que essas organizações não estão familiarizadas com a situação dentro do país porque nunca estiveram lá.
‘Sr. Presidente, os fatos são claros e o lamentável recorde de violações à liberdade de imprensa em seu país nem precisa ser discutido. Desde sua última visita à ONU há um ano, 73 jornalistas foram presos e não menos que 20 meios de informação foram censurados’, afirmou os RSF na carta. ‘Em uma declaração conjunta recente, mais de 170 jornalistas reclamaram de acentuada deterioração na liberdade de imprensa. O Irã foi, nos últimos anos, a maior prisão de funcionários da mídia do Oriente Médio.’
A organização de defesa dos jornalistas afirmou que, neste momento, há 10 jornalistas presos, incluindo um que foi sentenciado a morte. ‘Muitos jornalistas foram levados a tribunais, a maioria acusada de ‘violar a segurança nacional’ por tentar dar notícias ao povo iraniano. O senhor diz que a mídia no Irã é livre para criticar seu governo, mas os fatos mostram o contrário.’
Os RSF ainda lembram que alguns jornalistas pagam altos preços por serem eloqüentes, por assim dizer. É o caso de Said Matinpour, jornalista do semanário Yarpagh, preso em sua casa dia 28/5, sem acusação formal, e mantido em confinação solitária, sem poder receber visitas da família ou do advogado. É, também, o caso de Soheil Assefi, jornalista preso dia 4/8, acusado de ‘disseminar falsas informações passíveis de incomodar a opinião pública’.
Os RSF também condenaram o trecho do discurso de Ahmadinejad em que ele afirma haver talvez 10 vezes mais jornais de oposição no Irã do que pró-governo. ‘Esses jornais a que o senhor chama ‘de oposição’ são, acima de tudo, obra da elite vigente no poder. Não são livres, abertos e pluralistas’, diz a carta dos Repórteres Sem Fornteiras, lembrando que recentemente o Ministério de Cultura e Ensino Islâmico cancelou o alvará de mais de 500 meios de comunicação. Isso sem contar com a autocensura, dado que os editores são muitas vezes alvo de perseguição e ameaça de serviços de inteligência do governo.
‘A internet também não escapa a censura’, afirma a carta, em resposta ao comentário do presidente iraniano de que a internet no país é livre. ‘Muitos sítios são alvos de perseguição, principalmente os de cunho político e religioso, mas também os sítios de organizações internacionais como os Repórteres Sem Fronteiras.’
Por fim, Robert Ménard, autor da carta e diretor-geral dos RSF, discorre sobre a dificuldade da mídia estrangeira de entrar no Irã e trabalhar no país. ‘Os correspondentes também são perseguidos e intimados a interrogatórios dos serviços de inteligência. Os próprios Repórteres Sem Fronteiras pediram repetidamente vistos para trabalhar no Irã nos últimos 10 anos, sempre sem sucesso. Esperamos que o convite que o senhor fez durante a conferência não se prove palavras vazias. Garantimos que não hesitaremos em aceitar.’