Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Alta definição deve encarecer TV por assinatura

Leia abaixo a seleção de sexta-feira para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Sexta-feira, 14 de dezembro de 2007


CPMF
Folha de S. Paulo


Depois da queda


‘O FIM abrupto da cobrança da CPMF não foi o melhor desfecho. Retirar de chofre R$ 40 bilhões do Orçamento, sem programa negociado de corte de despesas, não é o modo indicado para obrigar o setor público a gastar melhor o dinheiro dos impostos. De positivo, a sessão encerrada na madrugada de ontem mostrou que o Executivo nem sempre pode tudo no Congresso.


Todo o processo de negociação conduzido pelo Planalto foi de um amadorismo espantoso. A soberba de quem julgava a renovação do tributo um evento de fim de ano tão certo como os fogos em Copacabana deu lugar, nos últimos dias, ao pasmo diante da derrota possível. A chegada de uma carta do presidente Lula que prometia 100% da CPMF para a saúde, quando a sessão no Senado rumava para o final, fechou a novela em cena patética.


Controle de gastos públicos, destinação total da CPMF à saúde, baixa gradual da alíquota do imposto, redução de outros tributos, abatimento no Imposto de Renda, isenção para a baixa renda… A dispersão de ‘propostas’ que circularam nas últimas semanas indica que nem governo nem oposição entraram nesse jogo para confrontar visões de Orçamento, tributação, gasto público e política econômica.


O único interesse do Planalto era manter os cofres cheios por mais três anos. A oposição no Senado fixou-se no objetivo tático de impor uma derrota ao governo, contra a vontade explícita, no caso dos tucanos, de cinco governadores de Estado do PSDB. Não havia ninguém disposto a conciliar o imperativo de baixar os impostos e os gastos públicos com a necessidade de fazê-lo de forma ordenada e paulatina.


É importante que o governo Lula demonstre, após a derrota, a maturidade que lhe faltou ao longo do processo. Optar pela vingança e pela manipulação atabalhoada de outros impostos e de rubricas orçamentárias seria piorar as coisas. Agiu bem o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ao assegurar as metas de superávit primário -a poupança para abater dívida pública.


A adaptação emergencial à falta da CPMF deveria começar pela suspensão de gastos novos previstos para 2008, tais como aumentos reais para servidores e salário mínimo. Um pente fino nas emendas parlamentares se justifica. Na regulamentação da emenda 29, que tramita no Senado, pode-se trocar o indexador de gastos para a saúde: em vez do PIB nominal, um índice de inflação. A economia está crescendo com força, o que facilita a diluição dos custos do ajuste.


Mas é preciso, sobretudo, que governo e oposição voltem logo às negociações com espíritos desarmados e ambições mais elevadas. A maneira de solucionar esse impasse de modo duradouro é reformar a estrutura da tributação e do gasto público no Brasil.


Nesse diálogo o governo poderia recuperar parte do que perdeu na CPMF. O imposto do cheque poderia ganhar status permanente, no lugar de tributos mais perversos. E poderia ser costurado um pacto suprapartidário a fim de conter as despesas de custeio, mediante um programa para aumentar a qualidade e a produtividade dos serviços que o Estado presta à população.’


 


Fernando de Barros e Silva


A CPMF, o PAC, o pato


‘SÃO PAULO – Como explicar a derrota histórica na madrugada de ontem? E como dimensioná-la? É o maior revés para Lula? Depende. Muita gente ainda faz contas, mas até Papai Noel já percebeu que o governo terá de sacrificar investimentos em infra-estrutura, ainda que isso não impacte o crescimento do país em 2008. Uma coisa é certa: o PAC levou uma canelada.


Em termos políticos, porém, a derrubada da CPMF parece bem menos nociva ao Planalto do que foi, por exemplo, a eleição de Severino Cavalcanti, em fevereiro de 2005. E isso apesar do engajamento do governo pela renovação do tributo, em contraste com a desídia de quase três anos atrás.


Tratava-se, então, de uma causa e de um sintoma do completo desarranjo da base parlamentar lulista, processo que desembocou logo adiante na crise do mensalão, colocando em risco o próprio mandato.


Não há nada disso no horizonte. O governo decerto perde -e muito-, mas desta vez cai de pé. Fica sem o dinheiro, mas ganha um discurso. Verdade ou não, vai transferir para a oposição a culpa pelo sumiço de R$ 40 bilhões da saúde. E saberá se segurar sem eles.


Os ‘demos’ do PFL só podem estar como pintos no lixo -chafurdando em felicidade. São os pequeninos grandes vitoriosos da madrugada. Jogaram seu papel. O fato é que o governo perdeu para si mesmo, derrotado pela incapacidade do Executivo de operar a própria base, balofa demais, eficaz de menos.


E o PSDB? Venceu contra si mesmo. Serra e Aécio, os governadores presidenciáveis, ficaram sem dinheiro e sem discurso. Queriam a CPMF e foram derrotados com Lula. Não é algo fácil de entender.


Mas Arthur Virgílio, o Jim Jones do tucanato, só liderou a bancada na ponta da faca porque tinha respaldo e retaguarda de Fernando Henrique. Visão estratégica? Vitória da democracia? Parece só inveja histórica. Seria melhor se não fosse. Como FHC bem sabe, quem paga o pato não é a turma do Paulo Skaf.’


 


Eliane Cantanhêde


O gostinho (amargo) da vitória


‘BRASÍLIA – Como transformar uma vitória numa derrota: basta seguir os passos do PSDB, que rachou em pedaços durante a tramitação da CPMF e não conseguiu reunir os cacos ontem para comemorar a maior derrota do governo Lula no Congresso. Em vez disso, os tucanos choramingavam pelos cantos.


Governadores irados, senadores perplexos (com eles mesmos), todos com ciúme do DEM.


Afinal, foi o DEM quem levantou a bandeira contra a CPMF, articulou-se com a Fiesp, garantiu a unidade na Câmara e depois no Senado e ajudou segurar o impulso tucano de cair no colo do Planalto.


Juntos, os dois partidos poderiam ontem dividir o gostinho da vitória e já retumbar a disposição dos líderes Agripino Maia (DEM) e Arthur Virgílio (PSDB) de, passada a votação, sentar à mesa para negociar com o governo a menor perda possível para a saúde. Mas o PSDB não sabe comemorar vitórias, como não sabe fazer oposição.


Afinal, Arthur Virgílio merece as glórias por ter segurado as rédeas do partido na oposição? Ou deve ser demonizado pelo fim de um imposto tão importante para a área social? O razoável seria que os tucanos cuidassem de lhe garantir as glórias, deixando o resto para o governo. Se não fossem tucanos…


E como transformar derrota em vitória: basta seguir o governo, escondendo que os ventos internacionais sopram a favor, a arrecadação é recorde, e a gastança, muita. E ameaçando aumentar a carga tributária já escorchante e cortar gastos com ‘os pobres’. Jogando a culpa na oposição, é claro.


Independente da guerrinha entre vitoriosos e derrotados, o fato é que o governo vinha excessivamente forte, e a oposição, frágil. O fim da CPMF é um tranco. O governo desce do salto alto, o Congresso recupera credibilidade, e a oposição passa a ter real poder de pressão. Esse equilíbrio é saudável e anima a negociação para o ‘bem comum’.’


 


Janio de Freitas


A partir da derrota


‘O EFEITO colateral mais importante, na maneira como os opositores da CPMF derrotaram o governo, está em ser, também, a primeira derrota imposta à visão cínica de política, há anos dominante com sua negação das exigências éticas nas relações entre administração pública e legislativo, e com os métodos de cooptação amoral entre governos, partidos e parlamentares.


Com os R$ 60 bilhões arrecadados neste ano além do previsto, talvez o dano financeiro do governo, sem a CPMF, venha a se mostrar menor do que o dano político.


Há pelo menos dois alicerces para essa hipótese. O primeiro é que o governo saiu tão mais enfraquecido, em relação ao poder impositivo ostentado até então, quanto mais abusivos foram os seus métodos para obter votos pela CPMF – incluída a humilhante e inútil ‘missão sigilosa’ de Lula na casa de José Roberto Arruda, governador do Distrito Federal, ao encontro de integrantes de partidos oposicionistas. O outro amparo da hipótese são os esperáveis reflexos, na Câmara, do ocorrido no Senado.


O futuro da contra-ofensiva havida no Senado é de difícil previsão, por mais cautelosa que seja. Mas o ambiente favorece desdobramentos. Com bem mais de um terço dos senadores formado por PSDB, DEM e dissidentes dos partidos governistas, o Senado já era um problema constante para Lula, que nunca pôde ter certezas ali. Acréscimo a esse ambiente, o desgaste causado pelo caso Renan Calheiros difundiu entre os senadores um constrangimento que incentiva ânimos de recuperação, como, aliás, ressaltaram vários dos discursos na votação da CPMF. E uma nova presidência da Casa, com a necessária disposição de se distinguir da antecessora, vem na mesma linha.


A derrota do governo não significou, porém, a afirmação especial da democracia que alguns lhe estão atribuindo. A democracia não esteve em jogo, jamais, a propósito da disputa provocada pela CPMF. Se a vitória da ‘minoria’ é que indica democracia, como já foi dito e escrito, então os crentes de tal simplificação devem declarar a Venezuela de Chávez uma bela democracia e não mais explorar conceitos conforme suas conveniências.


O problema não esteve na democracia: está na generalização de processos torpes de adquirir apoio aos interesses governamentais, quando de decisões parlamentares, e de fazer política e administração pública.


O dinheiro do Orçamento não é moeda para corromper consciências no Congresso. Cargos na administração, nas estatais e nos fundos bilionários destinam-se a necessidades do país, não à sujeição de direções partidárias e de grupos políticos. Mas esses processos tornaram-se regra na engrenagem geral da política e na parte da administração pública sob comando governamental direto. Assim, e não por afinidades programáticas, são feitas as ‘bases aliadas’, assim são buscadas as maiorias governistas a cada votação, e assim está constituída a maior parte da cúpula ministerial do governo.


O vale-tudo dos métodos fez, no empenho de prorrogar a CPMF, exibição completa. Lula disse inverdades a granel, com as alegações de que ‘pobres não pagam CPMF’, ‘a CPMF é um imposto contra a sonegação’, ‘a CPMF é o imposto que distribui renda’, Lula passou muito tempo dizendo muitas inverdades. E fez escola no ministério e nos partidos da ‘base aliada’. Campanha com um fecho digno do todo: no que seriam os minutos anteriores à votação, o líder do governo expôs ao Senado uma carta (pronta desde a véspera), firmada por dois ministros, disse ele que se comprometendo a destinar toda a CPMF à saúde.


O senador Pedro Simon, ao sugerir suspender-se a votação para examine da proposta até o dia seguinte, sintetizou o abalo que a carta provocou no Senado. Foi necessária uma hora de confrontos exaltados, até que Tasso Jereissati lesse a carta: a tentação aos senadores era uma fraude, a destinação integral seria a prestações.


O efeito colateral da derrota do governo pode ter utilidades adicionais. Como, por exemplo, fazer com que Lula reponha os pés, não digamos que no chão, porque ele está lá em alturas siderais, porém mais próximos do chão pisado pelos que querem merecer respeito como homens públicos.’


 


DEBATE
Nelson Motta


Ter razão ou ser feliz?


‘BELO HORIZONTE – Em tempo de radicalização e de guerra de opiniões, quando cada um quer provar que tem razão, mesmo à custa da verdade, com a clareza e sinceridade que caracterizam nosso grande poeta, Ferreira Gullar foi ao fundo da questão: ‘o importante não é ter razão, é ser feliz’. E abriu o coração inteligente: quando discute com a namorada e acabam brigando, ele sempre tem razão, mas ela vai embora furiosa e passa três dias sem ligar. Ele fica sozinho em casa, cheio de razão, mas numa tristeza infinita, infelicíssimo.


Há muito tempo me esforço para desistir da idéia de convencer alguém de qualquer coisa. Com minha intuição, experiência e convicções, ofereço minhas opiniões com sinceridade, apresento meus argumentos, me empenho em ser claro e objetivo. Se forem aceitas, ótimo, se não, ótimo também.


Gosto de aprender, não tenho problemas para admitir meus erros e equívocos, não me sinto inferior por não ter razão. Nem culpado por me sentir feliz.


Gullar, comunista histórico, sabe que nenhum sistema político, econômico ou filosófico gerado pela razão humana é capaz de fazer o indivíduo feliz, que é o que interessa. Cada pessoa é um mundo complexo, insondável e imprevisível, e a sensação de felicidade ou o seu avesso atingem ricos e pobres, burros e sábios, religiosos e ateus, desde que o mundo é mundo. Não bastam diversão e arte, além de comida, para fazer o homem e a mulher felizes. O buraco é mais embaixo e muito mais fundo.


Passeando pelos blogs, especialmente os políticos, e lendo as torrentes de ódio, ressentimento e vitupérios que as falanges digitais de militantes trocam o dia inteiro (essa gente não trabalha?), não se pode deixar de notar que, quanto mais razão eles acham que têm, mais infelizes se sentem.’


 


TRABALHO
Rogério Cezar de Cerqueira Leite


O ‘boimate’ e o desafio da mediocridade


‘QUEM NÃO se lembra do sensacional ‘furo de reportagem’ do maior semanário brasileiro em começos da década de 1980, quando empolgavam o imaginário popular as primeiras façanhas da engenharia genética? Um grande laboratório estrangeiro teria conseguido hibridizar o tomate e a vaca!


Citava-se uma das mais conceituadas revistas científicas de então. Pensem só que magnífico porvir! Uma vaca capaz de fotossíntese, dispensando pasto e ração e dando flores nos chifres. Um tomateiro sendo ordenhado no jardim de sua casa, dando leite quentinho. E quantos outros híbridos milagrosos não viriam em seguida?


Mas eis que a decepção veio no dia seguinte. A revista científica em questão fora publicada no dia 1º de Abril.


Pois não é que se anuncia agora uma hibridização ainda mais inconsistente, ainda mais grotesca que aquela que teria gerado o ‘boimate’, a saber, a fusão da CLT com o regime do servidor público? E ainda estamos longe do 1º de Abril!


A mais evidente incompatibilidade genômica da hibridização proposta está na imposição de concursos públicos e regime CLT concomitantemente. A CLT significa ausência de estabilidade. O concurso público subentende a estabilidade. Ou muda-se a Constituição, ou fecha-se a Justiça do Trabalho. Mas, por outro lado, vai ser um maná para os advogados trabalhistas.


Ninguém duvida das boas intenções da administração federal ao enviar ao Congresso Nacional a proposta de criação de uma nova fórmula institucional, a Fundação Pública de Direito Privado. A iniciativa demonstra que o governo federal percebe que atividades diversas exigem organizações diversas.


Não podemos esperar que operem com eficiência ideal a tropa de elite e o Corpo de Baile do Teatro Municipal se a ambas organizações forem impostas as mesmas regras, a mesma disciplina e, enfim, o mesmo uniforme. O que seria uma blitz da valorosa tropa de elite ao som do ‘Lago dos Cisnes’ de Tchaikovsky e com aquelas sapatilhas cor-de-rosa?


A vitaliciedade, isto é, a estabilidade irreparável, como é o caso do funcionalismo brasileiro, é fonte de ociosidade, irresponsabilidade e mediocrização. Em alguns casos, traz benefícios compensatórios. É o caso de policiais, juízes, fiscais, promotores etc., que, se pressionados, encontram na estabilidade um escudo eficiente.


Todavia, na grande maioria de funções públicas e paraestatais, a estabilidade protege apenas o medíocre e se constitui no maior obstáculo à qualidade e à eficiência. Essa característica se torna tanto mais saliente quanto mais intelectualmente intensa for a atividade.


Foi, pois, com o objetivo de promover a eficiência na produção intelectual que foi instituída, há pouco mais de dez anos, a fórmula ‘organização social’ (OS). É uma organização civil sem fins lucrativos que firma com o governo um contrato dito ‘de gestão’ estabelecendo objetivos e metas e cujo desempenho é periodicamente avaliado. Cada OS propõe seu próprio sistema de seleção, que o governo aceita ou não, e este último pode sempre interromper o contrato de gestão.


O Conselho de Administração da OS é civilmente responsável.


Essas condições resultam em eficiência e produtividade comparáveis às do setor privado. A legitimidade da fórmula foi recentemente testada graças a denúncias de inconstitucionalidade provenientes de dois partidos importantes e que foram rejeitadas pelo Supremo Tribunal Federal.


Mas eis que ressurgem as cruzadas defensoras da mediocridade e da estabilidade vitalícia. Uma irmandade misericordiosa de deputados do PT pretende inserir na fórmula sofrível de criação das fundações híbridas a exigência de concursos públicos.


Outro franco ataque às organizações dessa natureza acaba de ser realizada pelo Ministério Público, o que reflete o conceito equivocado de que o bem-estar do indivíduo deve prevalecer sobre o interesse da sociedade, que é o que fundamenta a exigência da estabilidade.


Paradoxalmente esse preceito é uma característica do capitalismo, e não do socialismo. O profissional competente, meritório, não precisa desse tipo de proteção. E é engano pensar que o medíocre é apenas um peso morto, tolerável, inerte. Pois a experiência mostra que o medo da comparação com o competente e as exigências naturais de um meio ativo e comprometido com a qualidade geram militância e corporativismo adversos que terminam corrompendo o ambiente de trabalho e pervertendo os valores da instituição.


ROGÉRIO CEZAR DE CERQUEIRA LEITE, 76, físico, é professor emérito da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e membro do Conselho Editorial da Folha.’


 


PUNIÇÃO
Folha de S. Paulo


Decisão de multa a Lula por propaganda irregular é adiada


‘O ministro do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) Carlos Ayres Britto votou ontem pela redução de R$ 900 mil para R$ 20 mil de multa aplicada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva por propaganda irregular, mas a decisão foi adiada por pedido de vista de outro ministro, Ari Pargendler.


O relator do recurso de Lula, José Delgado, já havia votado por manter o valor da multa. Ontem, Ayres Britto disse que ele deve ser compatível com os rendimentos de Lula. O salário do presidente da República é de R$ 11.420.


Em agosto de 2006, o TSE condenou Lula a pagar multa nesse montante pela distribuição pela Casa Civil da Presidência de jornal tablóide considerado de caráter eleitoral, em janeiro daquele ano. A publicação, que tinha 36 páginas e foi feita pela Casa Civil em parceria com o Ministério do Planejamento e a Secretaria Geral da Presidência, teve um milhão de exemplares e trazia comparações entre ações do governo Lula em relação a gestões anteriores. Lula foi considerado diretamente responsável pela publicação.’


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


O PSDB perdeu


‘Na página ‘+ lida’ na Folha Online, ‘O PSDB perdeu’, de Kennedy Alencar. Ou ainda, ‘os dois candidatos à Presidência da República, José Serra e Aécio Neves, foram derrotados pelos tucanos do Senado’, um grupo ‘liderado por FHC’. Eliane Cantanhêde postou que ‘o PSDB rachou em pedaços com FHC segurando a rédea oposicionista’ e Serra e Aécio ‘forçando negociação’. Mas ‘não é o fim do mundo’, a votação ‘nem teve um fim’ e agora vem a negociação.


Até Reinaldo Azevedo, na Veja On-line, e Paulo Henrique Amorim, no iG, concordavam que ‘triunfou no PSDB a leitura política’, de FHC, contra ‘a dos governadores, de olho no caixa, o que é legítimo, mas não categoria absoluta’. Ou, ‘se for preciso, FHC joga na mesma fogueira o PSDB, Serra, Aécio -e o Brasil’.


‘CACOS’


Aécio Neves falou à Folha Online e outros, ‘é hora de catarmos os cacos, de sentarmos à mesa novamente, o que passou, passou’. Também os tucanos Cássio Cunha Lima, ‘colecionamos uma série de erros’, e Yeda Crusius, ‘a CPMF pode entrar de volta, não é uma questão acabada’.


‘IRRESPONSÁVEL’


O também presidenciável Ciro Gomes (PSB) falou, foi até manchete do Terra. ‘Foi um ato de irresponsabilidade contra o país como há muito eu não via igual’, declarou, depois de seu aliado Tasso Jereissati, que conseguiu até siderúrgica para o Ceará de ambos, votar contra a CPMF.


‘PICUINHAS’


Sem menção na home page de nenhum dos principais sites de jornais e portais, mas com maior destaque no ‘Jornal Nacional’ do que Serra e Aécio, FHC soltou nota supostamente cobrando que oposição e governo deixem ‘as picuinhas’ e negociem.


‘HUMILDADE’


Ato contínuo, seu líder Arthur Virgílio deu entrevista à Reuters Brasil falando em negociação, ‘vamos discutir com muita humildade’. Mas já ameaçando o segundo turno da DRU, ‘que está nas nossas mãos, se Lula retaliar’.


Como ele, relacionou ontem o blog de Josias de Souza, também Álvaro Dias e outros.


MERCADO NÃO, SÓ A SAÚDE


Nas manchetes on-line e de televisão, nada de PSDB. ‘Saúde será a área mais afetada, diz governo’, na Folha Online. Ou ainda, ‘garante cumprimento da meta fiscal’. Foi após notícias como ‘Bovespa despenca’, ‘tem forte queda’. E após a agência de risco Fitch ameaçar que ‘opções à CPMF’ poderiam ‘atrasar o grau de investimento’.


Kennedy Alencar postou que neste momento ‘o governo não assumirá publicamente a possibilidade de redução da meta de superávit, mas a saída continua como opção’.


NO MERCADO, NÃO


Também pelo mundo, das agências ao site do ‘Wall Street Journal’, o risco de o governo mexer na meta de superávit concentrou a atenção, até saírem os títulos aliviados, ‘Brasil vai manter meta fiscal apesar da perda da CPMF’. Melhor ainda, ‘jura manter’.


NO MERCADO, NÃO


A pressão começou cedo, com Jonathan Wheatley, do ‘Financial Times’, postando que o país poderia perder o ‘grau de investimento tão aguardado’, sendo seguido por Efe etc. Meio da tarde e as mesmas e outras agências noticiavam a queda na Bovespa.


5 X TUPI


Saiu ontem no ‘Independent’ e outros britânicos, bem como na Bloomberg, no site de mercado This Is Money: o ‘rumor’ ou ‘buzz’ de reserva maior do que Tupi causou corrida às ações da portuguesa Galp e da britânica BG, sócias da Petrobras. Tudo começou com um relatório do UBS, anteontem na Bloomberg, apontando um ‘vizinho maior’ de Tupi, o Pão de Açúcar. ‘Cinco vezes maior.’


FMI SOSSEGADO


A nova edição da ‘Economist’ destacou, sobre o Banco do Sul, que ‘o FMI pode dormir sossegado’. Ainda não tem estatuto, capital, nada. ‘Ensina por que a unidade sul-americana é tão difícil.’


PARA NADA?


O ‘JN’ e a Agência Bolivariana de Notícias cobriram a mesma ausência de notícias sobre a visita de Lula a Hugo Chávez. Lauro Jardim, na Veja On-line, postou sobre o hino cantado em português.’


 


CUBA
Renata Baptista


Músicos cubanos somem em Recife; polícia crê em deserção


‘Três músicos do grupo cubano Los Galanes desapareceram após uma série de apresentações em Pernambuco. O caso foi comunicado à Polícia Federal na manhã de anteontem, quando os três deveriam ter embarcado de volta a Havana.


O vocalista Miguel Angel Núñez Costafreda, 40, e os violonistas Juán Alcides Díaz, 42, e Arodis Verdecia Pompa, 36, chegaram a Recife no dia 5 com os outros três membros da banda e um representante de Havana. Fizeram seis shows em Recife, Garanhuns e Igarassu.


Segundo o produtor musical Jair Pereira, que contratou o grupo, os três recusaram um convite para jantar após a última apresentação, na terça, e pediram para ser levados ao hotel, em Olinda. Lá, fizeram um telefonema e, em seguida, entraram em um carro que estava em frente ao estabelecimento, levando bagagem e instrumentos.


Só na manhã seguinte os outros integrantes do grupo perceberam a falta dos três, mas, mesmo assim, retornaram a Cuba com o representante do governo.


‘Já os procurei por toda a parte. De qualquer maneira, se eles quiserem retornar a Cuba, estou com as passagens deles’, disse Pereira.


A PF trabalha com a hipótese de que os cubanos peçam asilo político e informou que eles ainda não estão em situação irregular no país, pois o visto de permanência nesses casos é, geralmente, de três meses. O órgão disse estar à procura dos cubanos.


Segundo Pereira, a ida de Los Galanes a Pernambuco foi a primeira experiência de um projeto de intercâmbio cultural que ele pretende manter. ‘Espero que este incidente não traga nenhum impedimento legal.’’


 


TV POR ASSINATURA
Tatiana Resende


Alta definição deve elevar preço da TV por assinatura


‘A tão esperada programação em alta definição vai encarecer a assinatura da TV paga. As três principais operadoras do país -Net, Sky e TVA- confirmam que será cobrado um adicional na mensalidade com o acréscimo desse conteúdo no pacote .


O sinal digital, que começou a ser transmitido no dia 2 na TV aberta só em São Paulo, já era realidade para assinantes que têm decodificador digital. Já o conteúdo em alta definição começa agora a ser produzido no país pelas emissoras. As operadoras alegam que, além do gasto extra com captação, haverá aumento de custos com a transmissão, já que, além do sinal em alta definição, o formato padrão continuará a ser enviado.


Isso vale também para programas internacionais, que já são produzidos em alta definição em seus países de origem, mas transmitidos para o Brasil em formato padrão porque não havia, até então, receptores capazes de captar o sinal.


Quanto a assinatura vai ficar mais cara ainda não foi definido. ‘Nenhum canal ousou dizer’, afirma Luiz Eduardo Baptista, presidente da Sky. André Müller Borges, diretor-executivo corporativo da Net, reitera que esse aumento vai depender do que vai ser cobrado a mais pelo programador.


‘O que traz queda de preço é escala’, ressalta Baptista, pois, quanto mais assinantes quiserem o produto, menor será o valor cobrado por ele.


Nos EUA, o presidente da Sky diz que o adicional na mensalidade pelos canais em alta definição da DirecTV é US$ 6,99. Segundo ele, a operadora tem 400 canais, dos quais 100 têm o conteúdo nesse formato. Já as TVs a cabo cobram US$ 12, de acordo com o vice-presidente da ABTA (Associação Brasileira de TV por Assinatura), Antonio João Filho.


Gratuito por um ano, a Globosat terá, a partir da segunda quinzena deste mês, um canal na Net com toda a programação em alta definição, mas o conteúdo será uma miscelânea de programas de canais transmitidos em formato padrão.


Segundo a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), a princípio, a operadora pode cobrar a mais pelo pacote com esse ‘plus’, mas não pode obrigar ninguém a migrar. A análise oficial sobre a mudança, no entanto, só será feita pelo órgão com casos concretos.


Conversor


Além de pagar o adicional na mensalidade, os assinantes terão que ter um decodificador com conversor digital embutido para receber o sinal em alta definição. Até agora, só a Net anunciou o aparelho ‘híbrido’, por R$ 799, indicado para TVs de plasma e LCD. O equipamento já vem com um programa que permite a interatividade e, no início de 2008, vai possibilitar a gravação de até 80 horas de programação.


O conversor semelhante mais barato, para a TV digital aberta, custa R$ 699, sem interatividade nem possibilidade de gravação, o que comprova o subsídio (nao informado) da Net para fidelizar o cliente.


De acordo com o diretor da empresa, há uma lista de espera de 2.000 pessoas pelo aparelho, mas o número de contratos já assinados não foi informado.


O presidente da Sky diz que o ‘híbrido’ da empresa já está pronto e custaria R$ 599, mas não há data de início das vendas. ‘Não lanço porque acho que vai ser um fracasso.’


A TVA vai anunciar o novo decodificador até março, que será cedido sem custo aos assinantes que compraram por R$ 899 o aparelho lançado em junho do ano passado -já apto a receber o sinal digital e em alta definição da TV paga (disponível só em um canal na operadora), mas não da TV aberta.’


 


Sky diz que pode deixar de oferecer ponto extra


‘As operadoras de TV por assinatura continuam em pé de guerra com a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) por causa da nova regulamentação sobre o ponto extra. O presidente da Sky, Luiz Eduardo Baptista, afirmou ontem que a prestadora deixará de oferecer o ponto adicional se realmente não puder cobrar por ele. Na empresa, cerca de 10% da base de 1,6 milhão de clientes têm ponto extra, mas a medida só será válida para novos pedidos. ‘Em relação aos assinantes atuais, não decidimos ainda’, disse.


As normas foram publicadas no dia 5 no ‘Diário Oficial’ da União e terão de ser cumpridas a partir de junho. O presidente da ABTA (Associação Brasileira de TV por Assinatura), Alexandre Annenberg, pediu mais esclarecimentos para a agência reguladora por considerar que as regras podem ter sido apenas ‘mal redigidas’. No entanto, já adiantou que, para driblar a perda de receita, ‘uma solução seria diluir o custo [dos pontos] com todos os assinantes’.


O diretor-executivo corporativo da Net, André Müller Borges, argumentou que a mudança na legislação com relação ao ponto extra, permitindo a instalação e a manutenção da rede por terceiros, será inócua, pois, na prática, isso não é possível e o cliente é dependente da Net para fazer o serviço. Nesse caso, a cobrança pela prestadora continua válida. A empresa tem 2,4 milhões de assinantes e 1,2 milhão de pontos extras.


A Anatel prevê que os assinantes podem instalar um equipamento certificado pela agência para substituir o decodificador das operadoras, mas os representantes da Sky e da Net afirmaram que o aparelho ‘genérico’ não vai funcionar.


Sobre essa possível retaliação da Sky à nova legislação, o órgão regulador respondeu de forma genérica:


‘Se a Anatel identificar alguma atitude prejudicial ao assinante, a prestadora será responsabilizada. Os direitos dos usuários serão resguardados’.


A TVA não quis comentar as mudanças na legislação.’


 


FUSÕES E AQUISIÇÕES
Folha de S. Paulo


Acionistas aprovam venda do Dow Jones para News Corp.


‘Os acionistas do grupo Dow Jones -empresa que controla o ‘The Wall Street Journal’- aprovaram ontem a venda da empresa para o grupo de comunicação News Corporation -do magnata Rupert Murdoch, 76-, em um negócio avaliado em mais de US$ 5 bilhões.


A aprovação, aceita por 60,3% dos acionistas, era a última etapa antes de o controle do Dow Jones mudar de mãos. A família Bancroft, principal acionária do grupo, havia rejeitado a oferta, mas em agosto divulgou comunicado dizendo: ‘É nosso maior desejo que, nos próximos anos, ‘The Wall Street Journal’ continue a ter, e merecer, a admiração universal e o respeito que conquistou ao redor do mundo.’


O valor oferecido pela News Corp. (de US$ 60 por ação) representa um prêmio de cerca de 65% acima do preço da ação do Dow Jones antes que a oferta se tornasse pública, em maio.


O Dow Jones disse ter cerca de 85,4 milhões de ações em circulação. A companhia encerrou o segundo trimestre deste ano com dívida de US$ 392 milhões.


Segundo fontes da indústria de comunicação, os Bancroft receavam fechar o negócio por temer que Murdoch controle a informação do jornal para proteger outros interesses empresariais. Ele disse que os temores não têm fundamento e prometeu proteger a independência editorial do ‘WSJ’.


A News Corp. é um conglomerado de comunicação que inclui a Twentieth Century Fox, a rede Fox de televisão, o portal MySpace e dezenas de jornais nos EUA, Reino Unido e Austrália. A Dow Jones tem o ‘WSJ’ e outras publicações financeiras.’


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


Para Net, jornalismo em HD é irrelevante


‘Maior operadora do país, a Net enviou às emissoras de São Paulo ofício em que impõe ‘condições mínimas’ para transmitir os sinais de alta definição (HDTV) das TVs abertas.


O documento foi recebido com indignação. Emissoras interpretam que só a Globo se enquadra nas condições. Reclamam da ingerência de uma empresa de capital estrangeiro e apontam desrespeito a orientação da Anatel por isonomia.


As TVs só terão seus sinais em HDTV na Net se transmitirem pelo menos 40 minutos diários e 400 minutos semanais de ‘programação relevante em alta definição’ entre as 18h e as 24h, sem contar intervalos. Esse tempo praticamente dobra em março e em agosto.


A Net diz no ofício que só é programação relevante ‘teledramaturgia, filmes, transmissões esportivas, shows musicais e documentários’. Logo, telejornais e programas de auditório são irrelevantes em HD. Assim, a Rede TV!, que já exibe jornais em HD, não conseguiria cumprir a meta. Record, SBT e MTV também ficariam fora.


Fernando Magalhães, diretor de programação da Net, diz que estabeleceu condições mínimas porque a operadora só quer ‘replicar em HD quem realmente tem HD’.


Ele nega prática discriminatória e o favorecimento à Globo. ‘A gente entende que estipular um mínimo não é discriminatório.’ O executivo diz desconhecer jornais em HD.


SUPERNERD O menino Pedro Malta será o próximo mutante de ‘Caminhos do Coração’, da Record. Segundo o autor, Tiago Santiago, Malta viverá um ‘mutante superinteligente, meio nerd, capaz de criar artefatos e máquinas de muito poder’.


TELHADO 1 Executivos da Rede TV! já não falam com convicção sobre a realização de uma segunda temporada de ‘Donas de Casa Desesperadas’. O programa foi bem comercialmente, mas a audiência, agora na faixa de 2,5 pontos, deixou muito a desejar.


TELHADO 2 ‘Donas de Casa’ só emplacará em 2008 se a Disney ceder. Entre outras coisas, a Rede TV! reivindica o direito de mexer no roteiro original americano, para abrasileirá-lo.


VENDE-SE A Globo está tentando vender merchandising em sua novela das seis, ‘Desejo Proibido’, que se passa em 1930. ‘É possível, por exemplo, inserir na trama a chegada à cidade de uma agência bancária’, sugere boletim enviado nesta semana às agências de publicidade.


OUTRO TEMPO O site do SBT informa que a emissora ‘continua sendo vice-líder absoluta de audiência em todo o Brasil’ na medição 24 horas. Os dados, porém, são de outubro. Nos de novembro, conhecidos há uma semana, a Record já ultrapassou o SBT.


SEM FESTAS Silvio Santos vai trabalhar normalmente neste final de ano. Só pára de gravar na segunda semana de janeiro, quando viaja para os EUA.’


 


PRÉ-OSCAR
Folha de S. Paulo


Globo de Ouro dá ênfase aos dramas


‘A safra de dramas foi excepcional nas telas em 2007, na avaliação dos correspondentes estrangeiros em Hollywood.


Um total de sete títulos na categoria (e não os usuais cinco) foram anunciados ontem na disputa pelo Globo de Ouro, prêmio que a associação dos correspondentes confere, há 64 anos, aos melhores no cinema e na TV, na temporada anterior.


Os troféus da 65ª edição serão entregues no próximo dia 13 de janeiro, semana anterior ao anúncio dos indicados ao Oscar 2008, que será em 22/1.


Embora possua regras distintas das do Oscar, o Globo de Ouro é considerado um indicador das tendências de premiação da Academia de Artes e Ciências de Hollywood.


Além de ser o ano do drama, 2007 foi também o ano de ‘Desejo e Reparação’, para os organizadores do Globo de Ouro. O filme de Joe Wright, baseado no livro ‘Reparação’, de Ian McEwan, previsto para estrear no Brasil em fevereiro, recebeu o maior número de indicações -sete, incluindo melhor filme, diretor, atriz (Keira Knightley) e ator (James McAvoy).


Campanha francesa


O Globo de Ouro foi sensível à intensa campanha da França pelo reconhecimento de seus candidatos. A atriz Marion Cotillard, que vive Edith Piaf em ‘Piaf – Um Hino ao Amor’, obteve sua indicação.


‘O Escafandro e a Borboleta’, produção francesa dirigida pelo norte-americano Julian Schnabel (‘Basquiat’), emplacou três indicações -melhor diretor, roteiro e filme estrangeiro, categoria em que concorrerá com o também francês ‘Persépolis’, o candidato oficial da França ao Oscar.


O ator espanhol Javier Bardem, cujo desempenho em ‘Onde os Fracos Não Têm Vez’, de Joel e Ethan Coen, gerou burburinhos de indicação ao Oscar, também entrou na disputa pelo Globo de Ouro.


Os irmãos Coen, cujo filme totalizou quatro indicações, disputam o prêmio de direção -com Ridley Scott e Tim Burton, além de Wright e Schnabel.


Anderson e Washington


O ator Denzel Washington, que concorre por sua interpretação em ‘O Gângster’, disputa também a categoria melhor filme, como diretor de ‘The Great Debaters’.


Outro destaque são as indicações do novo longa de Paul Thomas Anderson (‘Boogie Nights’, ‘Magnólia’), ‘Sangue Negro’, a melhor filme e ator (Daniel Day-Lewis).


‘Sangue Negro’ disputará com o brasileiro ‘Tropa de Elite’ os prêmios do próximo Festival de Berlim (7/2 a 17/2).


O Globo de Ouro dará o prêmio honorário Cecil B. DeMille ao cineasta Steven Spielberg.


A imprensa americana aponta que a greve dos roteiristas em Hollywood poderá comprometer a preparação da cerimônia de entrega do Globo de Ouro -transmitida pela TV- e eliminar seu tom festivo.’


 


Disputa de filme estrangeiro alija título do Brasil


‘O Brasil ficou fora da disputa pelo Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro. Segundo as regras do prêmio, havia três títulos nacionais pré-qualificados a uma indicação -’A Casa de Alice’, de Chico Teixeira, ‘Deserto Feliz’, de Paulo Caldas, e ‘O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias’, de Cao Hamburger, o filme escolhido pelo Brasil para representá-lo na corrida pelo Oscar.


Hamburger não tomou como uma derrota a exclusão do Globo de Ouro nem como mau prenúncio de suas chances no Oscar. O diretor considera que a disputa nessa categoria no Globo de Ouro é mais acirrada que a do Oscar. ‘Essa indicação [do Globo de Ouro] leva em conta todos os filmes do mundo feitos em língua não-inglesa e cobre um período de tempo diferente [do considerado pelo Oscar], assim, a concorrência é maior.’


A relação dos indicados ao Globo de Ouro ‘até que foi boa para a gente’ disse Hamburger, citando que somente dois indicados são pretendentes ao Oscar -o drama romeno sobre o aborto ‘4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias’, vencedor da Palma de Ouro em Cannes, e a animação francesa ‘Persépolis’, ambientada na revolução islâmica no Irã- e poderão ‘tirar proveito’ da vitrine do Globo de Ouro.


Os demais candidatos a filme estrangeiro no Globo de Ouro não foram admitidos pelas regras da Academia de Hollywood. ‘Lust, Caution’, de Ang Lee, teve sua procedência de Taiwan questionada.


Embora ambientado na China (à guisa de Afeganistão), ‘O Caçador de Pipas’, de Marc Forster, é produzido pelos EUA. ‘O Escafandro e a Borboleta’ foi preterido pela França, que indicou ‘Persépolis’.


O último vencedor do Oscar estrangeiro, o alemão ‘A Vida dos Outros’, havia sido indicado ao Globo de Ouro, mas perdeu para ‘Cartas de Iwo Jima’, de Clint Eastwood.’


 


MÚSICA
Ben Ratliff


Led Zeppelin tem um reencontro com a sua antiga grande força


‘DO ‘NEW YORK TIMES’, EM LONDRES – Algumas bandas de rock aceleram o ritmo quando tocam suas canções antigas outra vez, décadas mais tarde. Tocar rápido é uma espécie de escudo: uma maneira de refutar a verdade inegável do envelhecimento, de todo aquele entusiasmo irrecuperável e aquela massa muscular perdida, e funciona como barreira contra a importância cultural reduzida de uma banda antiga.


Mas o Led Zeppelin desacelerou um pouco o ritmo. Na 02 Arena, em Londres, em seu primeiro concerto integral desde 1980 -sem John Bonham, que morreu naquele ano, mas com o filho dele, Jason, como seu substituto natural-, a banda reencontrou muito de sua força antiga em tempos mais graciosos do que os das velhas gravações ao vivo.


A velocidade das canções foi mais próxima à dos velhos discos da banda gravados em estúdio, ou menor ainda. ‘Good Times Bad Times’, ‘Misty Mountain Hop’ e ‘Whole Lotta Love’ foram passeios confiantes e tranqüilos; ‘Dazed and Confused’ foi um glorioso arrastado fatídico.


Tudo remete ao blues, em que se arrastar graciosamente é uma virtude e do qual o Led Zeppelin tirou metade de suas idéias iniciais. O vocalista da banda, Robert Plant, não quer que nos esqueçamos disso: ele apresentou ‘Trampled Underfoot’ explicando sua conexão com ‘Terraplane Blues’, de Robert Johnson, e mencionou Blind Willie Johnson como a inspiração de ‘Nobody’s Fault But Mine’. (Além disso, a banda passou dez minutos de deleite em cada uma de outras duas canções de blues de seu catálogo: ‘Since I’ve Been Loving You’ e ‘In My Time of Dying’.)


Ahmet Ertegun, a quem o concerto foi dedicado, teria ficado satisfeito -certo, como estava, da importância fundamental da música negra sulista para a cultura americana.


Ertegun, morto no ano passado, foi quem levou o Led Zeppelin a assinar com a Atlantic Records, e o concerto da segunda-feira foi um evento único em benefício do Fundo Educacional Ahmet Ertegun, que vai oferecer a estudantes de música bolsas de estudo em universidades dos EUA, da Inglaterra e da Turquia, o país de origem de Ertegun.


Abertura


Ao final do show de mais de duas horas, já era difícil recordar que qualquer outro artista havia se apresentado. Mas a banda foi precedida pela Bill Wyman’s Rhythm Kings -um divertido show de R&B com vocalistas que se revezaram, como Paolo Nutini e Albert Lee, além de Paul Rodgers e Foreigner. Todos eles gravaram anteriormente para a Atlantic sob a direção de Ertegun.


A apresentação do Led Zeppelin foi marcada por uma espécie de serenidade em alto volume. Para começo de conversa, foi bem ensaiada: o planejamento e os ensaios vinham acontecendo desde maio.


Em lugar de seus guarda-roupas coloridos de tempos passados, os integrantes usaram sobretudo preto. Diferentemente de Mick Jagger, Robert Plant -que, aos 59, é o mais jovem dos membros originais- já não anda ou gesticula como uma mulher excitada.


Ele não consegue mais alcançar algumas das notas mais altas, mas, com a exceção de uma tentativa fracassada nesse sentido em ‘Stairway to Heaven’, encontrou outras trajetórias melódicas adequadas. Cantou com autoridade e dignidade.


Quanto a Jimmy Page, seus solos de guitarra não foram tão frenéticos e articulados quanto eram no passado, mas isso reforçou o fato de que sempre foram secundários em relação aos refrães, que na segunda-feira foram enormes, fortes e gloriosos. (Mas Page não deixou de usar um arco de violino em seu solo em ‘Dazed and Confused’, na maravilhosa e estranha sessão do meio da canção.)


O baixo de John Paul Jones ficou um pouco perdido na acústica do 02 Arena -como todos os espaços desse tipo, o 02, que tem lugar para 22 mil pessoas, não tolera bem as freqüências baixas-, mas formou um conjunto perfeito com Bonham. Quando se sentou para tocar teclado em ‘Kashmir’, ‘No Quarter’ e algumas outras canções, ele simultaneamente operou os pedais do baixo com seus pés, mantendo a mesma batida atrasada.


E o que dizer de Jason Bonham, o grande ponto de interrogação naquele que foi -não há como comprovar isso cientificamente, mas aceitemos que foi, sim- o reencontro de rock mais ansiosamente aguardado em uma era repleta desses reencontros?


Ele é especialista nas batidas de seu pai -uma enciclopédia ambulante de todas as variações delas, em todas as gravações existentes. E, excetuando-se alguns momentos pequenos em que acrescentou alguns toques, Jason Bonham se ateve ao som e ao clima do original.


As batidas no tambor de corda não tinham exatamente o mesmo timbre, aquele som bárbaro, reverberante. Mas, quando o show adentrou sua segunda hora e alguns dos problemas de som foram sendo corrigidos, o espectador se descobriu deixando de se preocupar com isso. Tudo acabou funcionando.


O Led Zeppelin já teve semi-reencontros algumas vezes no passado, mas sem muito sucesso: apresentações curtas e problemáticas no Live Aid em 1985 e no concerto do 40º aniversário da Atlantic Records em 1988. Mas este foi um concerto de reencontro no qual a banda investiu, apesar de não ter planos para uma turnê futura; entre as 16 canções apresentadas, houve uma que ela nunca antes havia tocado ao vivo: ‘For Your Life’, do álbum ‘Presence’.


O clima de emoção e excitação do público era extremo e genuíno; os urros da multidão entre um bis e outro foram devoradores. Ao final, enquanto os três membros originais agradeciam os aplausos, Jason Bonham se ajoelhou para fazer uma reverência diante deles.


Tradução de Clara Allain’


 


 


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O Estado de S. Paulo


Sexta-feira, 14 de dezembro de 2007


CPMF
Denise Chrispim Marin


‘São coisas da democracia’, diz Lula


‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva atribuiu ontem ‘às coisas da democracia’ a derrota de seu governo na votação da prorrogação da CPMF no Senado. A declaração foi feita durante viagem a Caracas, na Venezuela, no único momento de aproximação de um repórter brasileiro, que furou o esquema de segurança do Palácio de Miraflores e infiltrou-se entre as autoridades venezuelanas. ‘Falo sobre isso amanhã (hoje)’, afirmou o presidente, quando entrava no carro que o levou ao aeroporto de Caracas, onde embarcou para São Paulo.


O Palácio do Planalto sempre soube que não tinha os 49 votos necessários para prorrogar o imposto do cheque por mais quatro anos. A revelação foi feita ontem por dois ministros, José Múcio, das Relações Institucionais, e Paulo Bernardo, do Planejamento.


À 1h25 de ontem, com a emenda derrotada no Senado, Múcio afirmou, em entrevista no Planalto: ‘Toda vez que fazíamos a ronda, chegávamos nos 45 votos.’ Confessou também que o governo apostava na conquista de votos do PSDB e do DEM. ‘O Planalto achou que a oposição estava aberta ao diálogo.’


Bernardo contou que na tarde de quarta-feira o presidente Lula já não tinha dúvida sobre a derrota. Antes de ir ao Palácio do Alvorada, para se preparar para a viagem à Venezuela, ele discutiu com assessores medidas alternativas a anunciar na próxima semana para compensar o fim do tributo.


Com frágil maioria no Senado, o próprio presidente investiu na pressão sobre aliados e adversários, adotando discursos públicos fortes e até agressivos. Com isso, ele esperava dobrar a resistência da oposição, mas acabou acirrando mais os ânimos no Congresso.


Lula voltou as baterias principalmente para o DEM, responsável pela resistência mais forte à CPMF. Chamou seus integrantes de ‘demos’ e alinhou o partido com sonegadores, que seriam os únicos adversários da CPMF. Também adotou o discurso de ricos contra pobres, mas não conseguiu conquistar um voto sequer na oposição, fato raríssimo em votações que interessam ao governo.


‘O resultado dessa votação representa um choque de democracia’, disse o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN). ‘O governo agora vai ter de fazer as coisas com mais articulação política e com maior respeito à oposição. É uma mudança de eixo na política.’


O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), foi pela mesma linha. ‘Agora que o governo vai descer a níveis terrenos, poderemos começar um diálogo’, declarou o senador tucano. COLABORARAM LU AIKO, TÂNIA MONTEIRO, JOÃO DOMINGOS e MARCELO DE MORAES’


 


Elisangela Roxo


Contribuintes comemoram fim do imposto do cheque


‘Consumidores ouvidos pelo Estado aprovam o fim da CPMF. ‘Ainda bem que esse imposto acabou, porque tudo o que a gente paga não vai mais parar nos bolsos do governo’, afirmou o motociclista Arnaldo Gonçalves de Oliveira, de 41 anos.


Para tentar fugir de pelo menos um tributo, a CPMF, ele escolheu ter apenas uma conta poupança, sem o cheque como opção. Agora, Oliveira acredita que os avanços da economia devem servir para cobrir a CPMF, mas reclama que os benefícios ainda não são sentidos pela população. ‘Dizem que o País vai bem, o PIB cresceu, mas a situação de quem trabalha na rua é muito ruim.’


O camelô Epaminondas da Silva, de 42 anos, acha ‘muito bom’ o fim da CPMF. ‘Pelo menos é um imposto a menos para o brasileiro pagar.’ Ele disse duvidar que a destinação do imposto tenha sido mesmo o sistema de saúde. ‘No posto do meu bairro nem médico tem’, contou.


‘O fim do imposto do cheque? Achei maravilhoso’, disse o advogado e presidente do Partido Liberal Democrata, Álvaro Solon Coelho, de 79 anos. Para o monitor Luis Henrique da Silva, de 26 anos, ‘foi uma conquista do povo, os trabalhadores já pagam tributo demais’.


A professora Sheila Rienzi, de 40 anos, acha que nem população nem governo ganharam ou perderam com o fim da CPMF. ‘O imposto foi criado para cobrir um déficit do governo, que agora deve tirar o dinheiro de outro setor para balancear as contas. Não acho que a criação realmente teve relação com reverter alguma coisa para a saúde’, avalia ela, ao lado do impostômetro da Rua Boa Vista, no centro de São Paulo, que mede o total de dinheiro pago pelos brasileiros na forma de impostos.


O painel, mantido pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP), será ampliado no ano que vem para mostrar mais dígitos. A previsão é de que em 2008 o total chegue a R$ 1 trilhão, mesmo com a extinção da CPMF.


No último dia de dezembro, segundo o presidente da ACSP, Alencar Burti, os brasileiros terão pago R$ 906 bilhões em impostos. Burti acredita que a extinção da CPMF é uma conquista da sociedade. ‘Quem ganhou foi o País. Ao governo caberá agora gerir cortes e despesas para equilibrar os juros.’’


 


TV PÚBLICA
O Estado de S. Paulo


Conselho da TV Brasil assume hoje no Rio


‘A Empresa Brasil de Comunicação (EBC), operadora da TV Brasil, dá posse hoje a seu Conselho Curador – entidade que, segundo o governo, terá a função de garantir a independência da TV pública diante do Estado e do mercado. Depois da posse, os conselheiros elegerão seu presidente – provavelmente o economista Luiz Gonzaga Belluzzo – e discutirão seu regimento. A cerimônia será na TVB, no prédio em que funcionava a TV Educativa, no centro do Rio. ‘É simbólico, porque é o início do funcionamento do órgão que garante a natureza pública da TV’, disse a presidente da EBC, jornalista Tereza Cruvinel.’


 


FREGUESIA DO Ó
Renata Gama


Documentário resgata história do bairro na voz dos moradores


‘A energia da ?saudosa? Freguesia do Ó já está no sangue do cineasta André Costa há muito tempo. Como boa parte da família dele nasceu e morou no bairro, ele praticamente cresceu nas antigas ruas e no entorno do Largo da Matriz – o grande ponto turístico e o lugar mais tradicional da região. Por causa disso, ele decidiu levar a público seu carinho pelo bairro e, em 2006, passou três meses coletando imagens para o documentário ‘Freguesia do Ó: Cenas de um Bairro, História de uma Cidade’, realizado em parceria com a Prefeitura.


Durante as filmagens, Costa tentou retratar fielmente o dia-a-dia da Freguesia, além de mostrar as mudanças sofridas na paisagem urbana do bairro em seus mais de 400 anos de história.


Para isso, a equipe conversou com crianças e jovens que, ao analisarem fotografias antigas do bairro, puderam perceber as transformações na arquitetura do bairro. O resultado é um imenso arquivo com 46 horas de material, que foi editado em um vídeo de 26 minutos – que deverá ganhar uma nova edição, estendida, em breve.


A escolha pela Freguesia como cenário para o filme não se deu exclusivamente pelo envolvimento pessoal do cineasta com o lugar. ‘É um bairro muito peculiar, um dos mais antigos de São Paulo e que guarda muitas características de tempos remotos’, justifica o cineasta, orgulhoso do trabalho realizado. ‘A geografia é interessante: a Igreja, posicionada bem no centro, em destaque, tem um papel fundamental para a socialização das pessoas, como ocorre em cidades do interior’, explica Costa.


FOLCLORE


Além disso, há outra característica cultural que destaca a Freguesia do Ó em relação às outras regiões da capital: é um dos únicos lugares da cidade onde ainda se comemora a Festa do Divino pelas ruas. ‘É um bairro cativante, pois todo mundo se conhece, apesar do crescimento urbano, e que guarda rastros importantes da fundação nessas relações interpessoais’, conta Costa.


Não é por acaso que o bairro preserva uma certa semelhança com o clima de interior. Na realidade, a Freguesia do Ó era uma região onde os proprietários de terra instalavam fazendas. Essa característica durou até o século passado e resistiu ao tempo por causa de uma barreira natural: o Rio Tietê separa o bairro da região central, o que retardou parcialmente o desenvolvimento.


André Costa ressalta que o próprio crescimento imobiliário chamou sua atenção na Freguesia. ‘Por ser uma área de várzea, os terrenos tinham um valor comercial baixo até a década de 1970. Isso favoreceu o desenvolvimento do futebol de várzea na região’, lembra. ‘Depois, o bairro começou a crescer e, hoje, já é uma região residencial bem valorizada’, conclui o cineasta.


Segundo Costa, o período de pesquisa oficial para a produção do documentário durou alguns meses. ‘Mas como sempre estive circulando pelo bairro quando criança, a pesquisa durou praticamente toda a minha vida’, brinca.


No total, entre período de pesquisa, filmagens e montagem, foram cerca de dez meses de trabalho. Mas como muitas histórias ficaram de fora da produção porque não couberam nos 26 minutos de filme, ele está planejando voltar à mesa de edição para acrescentar cenas cortadas. O objetivo é fazer uma nova versão da fita, com uma duração maior, contando principalmente a história das famílias da Freguesia.’


 


PRÉ-OSCAR
Luiz Carlos Merten


Desejo e Reparação lidera disputa


‘Começou ontem a corrida do Oscar. Afinal, as indicações para o Globo de Ouro, prêmio concedido pela Associação dos Cronistas Estrangeiros de Hollywood, são tradicionalmente consideradas uma prévia das indicações paras o prêmio da Academia de Hollywood. Os concorrentes ao Globo de Ouro para os melhores de 2007 foram anunciados ontem. A entrega dos prêmios será em janeiro, quando a academia também estará divulgando os finalistas para o Oscar.


Desejo e Reparação lidera a lista de indicações para melhor drama, concorrendo a sete prêmios, que incluem melhor diretor (Joe Wright), atriz (Keira Knightley), ator (James McAvoy) e atriz coadjuvante (Saoirse Ronan). Como sabe todo cinéfilo, o Globo de Ouro separa os filmes nas categorias drama e comédia (ou musical). Os demais dramas concorrentes são – O Gângster, de Ridley Scott; Senhores do Crime, de David Cronenberg; Onde os Fracos não Têm Vez, dos irmãos Coen; Conduta de Risco, de Tony Gilroy; The Great Debaters, de Denzel Washington (que foi indicado para melhor ator de drama pelo filme de Scott); e There Will Be Blood, de Paul Thomas Anderson.


As comédias e musicais indicados na categoria principal são – Across the Universe, de Julie Taymor; Charlie Wilson’s War, de Mike Nichols; Sweeney Todd, de Tim Burton; Hairspray, de Adam Shankman; e Juno, de Jason Reitman. Burton, Joe Wright, Ridley Scott, Julian Schnabel (por The Diving Bell and the Butterfly, que a Europa vai distribuir no Brasil, mas ainda não tem título em português), e os irmãos Coen são os indicados à melhor direção.


Dois atores foram indicados para concorrer em duas categorias. Cate Blanchett concorre a melhor atriz de drama por Elizabeth – The Golden Years; e a melhor coadjuvante por I’m not There, que a Europa também vai distribuir no Brasil. Philip Seymour Hoffman concorre a melhor ator de comédia por The Savages, e a melhor coadjuvante por Charlie Wilson’s War. Ambos já venceram o Globo de Ouro e o Oscar da Academia de Hollywood, Hoffman como melhor ator, por Capote, de Bennett Miller, e Cate como melhor coadjuvante, por O Aviador, de Martin Scorsese.


O Brasil não concorrerá ao Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro, embora permaneça a aposta de O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias, de Cao Hamburger, para o Oscar da categoria. Os indicados pelos correspondentes estrangeiros de Hollywood são – 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias, de Christian Munghiu, da Romênia; The Diving Bell and the Butterfly, de Julian Schnabel, da França e dos EUA; Lust, Caution, de Ang Lee, que a Europa vai distribuir no Brasil (e não tem título em português), de Taiwan; Persepolis, de Marjane Satrape, também da França; e Caçador de Pipas, de Marc Foster, dos EUA. A listagem do último pode causar surpresa, mas a indicação é para melhor filme em língua estrangeira e ele é falado em afegão.


Ratatouille concorre com Bee Movie e Os Simpsons na categoria de animação. Só se todos os correspondentes tiverem enlouquecido, o primeiro deixará de ganhar. Algumas apostas consolidaram-se – Marion Cotillard foi indicado para melhor atriz de comédia ou musical, por Piaf, de Olivier Dahan; George Clooney concorrerá a melhor ator de drama por Conduta de Risco; e Casey Affleck, o irmão mais talentoso de Ben Affleck, participará da disputa para melhor coadjuvante por O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford, de Andrew Dominik. Os três filmes encontram-se em cartaz em São Paulo. Casey terá um forte oponente em Javier Bardem, o genial vilão do filme dos irmãos Coen.’


 


CINEMA
Luiz Zanin Oricchio


Em filme, a vida dividida de José Lins do Rego


‘O diretor Vladimir Carvalho usou uma tática inusitada de promoção para seu novo filme, O Engenho de Zé Lins. Com a ajuda de universitários, distribuiu cerca de 30 mil panfletos do lado de fora do Maracanã, antes do jogo do Flamengo contra o Atlético Paranaense. Do lado de dentro do estádio, conseguiu que o placar eletrônico desse chamadas, durante o intervalo, para a estréia do filme. ‘Por sorte o Mengo venceu por 2 a 0’, diz Vladimir, ‘senão a propaganda poderia ter sido negativa’.


Tudo se explica quando se sabe que o personagem do filme, se não chegou a ser um jogador rubro-negro famoso como Leônidas da Silva ou Zico, foi, sim, um flamenguista histórico. José Lins do Rego, Zé Lins, para os amigos, era paraibano de nascença, mas adotou o Rio como moradia e o Flamengo como pátria. O escritor de obras-primas como Menino de Engenho e Fogo Morto foi torcedor fanático e dirigente do clube carioca.


Uma boa parte do filme é dedicada a essa relação de José Lins do Rego com o futebol, e o Flamengo em particular. E não sem motivo. ‘O futebol servia para Zé Lins se equilibrar um pouco, ele que vivia sempre tentado pela depressão’, diz o diretor Vladimir Carvalho em conversa por telefone com o Estado. Vladimir cita uma definição genial de Otto Maria Carpeaux: ‘Zé Lins é um homem são em busca de uma doença.’


Mas o que Zé Lins tentava compensar com o futebol, de que doença, imaginária ou real tentava se curar? Qual o seu déficit, qual sua falha? Difícil dizer, porque a intimidade de uma pessoa, mesmo a de um grande escritor que se revela em suas obras, é o segredo mais bem guardado do mundo. Pode-se conjecturar. E o filme revela um desses segredos guardados a sete chaves, mas tornado público pelas parentes do escritor: criança, menino de engenho, Zé Lins, brincando com uma arma, matou sem querer um amiguinho de infância. O acidente o traumatizou. A família nunca tocava no assunto e obrigou a todos ao silêncio obsequioso sobre o assunto. O próprio Zé Lins jamais falou nesse fato, como afirma no filme uma de suas filhas.


É com grande habilidade – e delicadeza – que Vladimir introduz essa morte involuntária no texto do filme e a coloca em circulação, ouvindo as próprias pessoas da família, mas também amigos de Zé Lins, como o poeta Thiago de Mello, e outros escritores como Ariano Suassuna e Carlos Heitor Cony. Suassuna diz que agora compreendia as súbitas mudanças de humor do romancista, que ia da euforia à depressão de forma tempestuosa.


Aliás, é dos depoimentos muito abertos, lúcidos e emotivos, que O Engenho de Zé Lins tira sua força maior. Em especial, o do poeta Thiago de Mello, que conviveu muito com o escritor e o acompanhou até a morte. A descrição da agonia do amigo é longa, comovente, inesquecível. ‘Tive ainda de tirar muita coisa da fala do Thiago’, conta Vladimir.


O diretor, que é paraibano como Zé Lins, conta que teve contato com sua obra desde cedo. ‘Meu pai adorava seus livros e lia trechos para nós, à noite. Acabei me tornando fanático por sua obra.’ Vladimir acha que, nos 50 anos de sua morte, Zé Lins anda relativamente esquecido como personagem e sua obra literária está um tanto jogada para segundo plano. Não é difícil explicar, entende o diretor: ‘Ele morreu moço, com apenas 56 anos. Saiu de cena muito cedo e isso cobra seu preço’, diz Vladimir. Talvez o filme nos ajude a prestar mais atenção a ele. Zé Lins merece.’


 


Luiz Zanin Oricchio – Gostei


Lynch, passagem para o imprevisível


‘Vamos dizer de entrada – Império dos Sonhos é obscuro. Quer dizer, quem se dispuser a vê-lo deve estar preparado para enfrentar dificuldades. Em primeiro lugar, porque a linguagem de David Lynch, salvo casos especiais, como Twin Peaks e História Real, não é das mais fáceis. Segundo, se alguém usa o verbo ‘compreender’ no sentido de trazer algo desconhecido para um universo mais familiar, estará em maus lençóis.


Para fruir o universo que Lynch propõe é preciso certa disposição prévia de se deixar levar por sons e imagens, sem tentar torná-las familiares logo de saída. Assim, se você se arriscar a essa viagem (e ela vale a pena) prepare-se para ter o sentimento de estranheza como companheiro de estrada. E não se deixe levar pela ilusão de que essa é uma estrada para o aleatório. Há sinais espalhados e é a esses sinais que o espectador deve se apegar.


A atriz-fetiche de Lynch, Laura Dern é, no filme, o que é na vida – uma atriz, em busca de um filme que descobre ser um remake inacabado, pois os protagonistas haviam sido assassinados. Império dos Sonhos pode ser visto, de certo modo, como a fragmentação mental dessa atriz, cuja mente se torna a cada vez mais complexa e perturbada quanto mais entra em contato com seu diretor, vivido por Jeremy Irons. Talvez isso torne tudo mais claro. Talvez não. O próprio diretor não faz nenhuma questão de dissipar dúvidas. No ano passado, Lynch apresentou Império dos Sonhos no Festival de Veneza, que o homenageou com o Leão de Ouro pela carreira. A sessão de imprensa foi das mais engraçadas pois alguns críticos saíram perplexos, sem saber em que gaveta mental deveriam arquivar o que haviam visto. Talvez tudo se esclarecesse na entrevista.


Mas não. Um jornalista ousou assumir o papel do homem comum e perguntou sobre o que era o filme. Lynch disse que achava isso claríssimo. E passou à pergunta seguinte. O jornalista insistiu e o diretor foi mais preciso: disse que a graça do cinema era essa, fazer com que o espectador entre em contato com um mundo desconhecido, onde ele não sabe o que pode acontecer. Quem compra um ingresso na bilheteria, compra, de fato, uma passagem para o imprevisível.


Mas qual o sentido de tudo isso? Nesse ponto, a meu ver, Lynch foi bastante esclarecedor: ‘Não se intimide’, aconselhou. ‘Use a intuição; deixe-se levar e lembre-se de que o cinema vai além das palavras. Esse é o problema das entrevistas. Queremos reduzir o filme a uma explicação e isso o empobrece. O público deve entrar numa sala de cinema com a mesma disposição de quem vai ouvir música num auditório. Busque a experiência, não o sentido.’


A ‘explicação’ de Lynch, ou, na verdade, a sua recusa de explicação, é uma tentativa de colocar o cinema no passo das artes contemporâneas. Você não exige que alguém compreenda (a não ser de forma metafórica) uma peça de Webern ou Schoenberg. As obras são, e isso é tudo. No caso da música, as obras soam. No do cinema, se expõem, nesse complexo de sons e imagens que juntamos sob a denominação técnica de ‘audiovisual’. Em muitos sentidos, Império dos Sonhos é isso, um espetáculo, um filme-instalação para os sentidos, um estímulo para a mente. É preciso estar inteiro para poder apreciá-lo.


E estar inteiro quer dizer que não se pode permanecer conformado com o cinema como arte do século 20, mas cuja forma narrativa ainda é tributária do século 19. As histórias lineares, com começo, meio e fim, personagens desenhados e estáveis, enredos previsíveis, etc. começam a ser contestadas já nos anos 20 do século passado, pela música, pela literatura, pela pintura. A incerteza passou a fazer parte do arsenal da física teórica. O próprio cinema dessa década realiza seus experimentos de vanguarda, depois arquivados. Lynch retoma essa linha evolutiva, abandonada. Faz cinema de ponta. Não é o único cinema que merece ser chamado de contemporâneo. Mas é o cinema que trabalha na fronteira da linguagem. Nesse sentido é incontornável, goste-se ou não.’


 


Luiz Carlos Merten – Não Gostei


‘Há uma lenda, difundida pelo próprio David Lynch, segundo a qual ele queria ser pintor e só teria se direcionado para o cinema ao ver o efeito que o vento produzia numa de suas telas. Pode ser simplesmente uma jogada de marketing, ou mais um detalhe acrescentado ao folclore do autor, mas a verdade é que Lynch é um artista visual que pensa seu cinema como suas telas e instalações. Tudo integra um movimento que leva o observador aos limites dos sentidos (mais do que da consciência). Uma simples olhada no catálogo da recente exposição que ele realizou na Fundação Cartier de Paris mostra que suas telas dialogam com pinturas de Edward Münch, Edward Hopper e Salvador Dalí. Seus filmes também dialogam com os quadros e existem muitos fotogramas que poderiam integrar a exposição como se fossem pinturas do autor.


As paisagens industriais de Inland Empire, o novo David Lynch, poderiam sair de um quadro de Hopper, por exemplo. Mas a principal influência do filme que está sendo lançado nos cinemas brasileiros como Império dos Sonhos talvez seja outra, e literária. Lynch diz que faz filmes como se fossem sonhos que o espectador deve sonhar acordado. Eles obedecem, ainda segundo o autor, a uma lógica que ele, no entanto, não quer desvendar para a platéia. Cada um pense o que quiser. Pegue aquela família de coelhos que, de repente, irrompe nas cenas. O que aquilo representa? Já virou lugar-comum dos admiradores de Lynch dizerem que representa o que você quiser e o importante é que o próprio público decifre os signos do filme, sem esperar uma narrativa tradicional – ?mastigada? – como as de Hollywood.


Digamos que aqueles coelhos não estão ali impunemente e traduzem uma homenagem, ou referência, do autor a Lewis Carroll e a sua Alice. Só que a Alice de David Lynch em Império dos Sonhos não é a do país das maravilhas e sim, antes, uma projetada no país do pesadelo. As imagens de Laura Dern morrendo entre os sem-teto no Hollywood Boulevard são a radicalização desse pesadelo, mas, se existem uma Alice e um coelho (muitos coelhos), então também deve existir um espelho – e o espelho bem pode ser, ou é, metaforicamente o próprio cinema ao qual Império dos Sonhos se refere, pois a personagem de Laura Dern, vejam a coincidência, é uma atriz e está participando de um filme que, olhem a outra coincidência, vira maldito.


Para atravessar o espelho mágico do cinema, Lynch brinca com a relatividade dos pontos de vista. Há um crime, desde o início, mas a pergunta não é quem é o culpado e sim, quem é a vítima? Os atores são amantes na ficção, e ele quer seduzir a colega de elenco na vida. O marido da realidade é ciumento e termina por invadir a ficção. Tudo se mistura e, para complicar, como dizem várias personagens, o tempo aparece como outro elemento perturbador e a gente não sabe mais o que vem antes nem depois. Tal é o quebra-cabeças armado por Lynch. Pode-se argumentar, timidamente – para não chocar os estetas defensores do cinema de arte -, que também há um espelho em Encantada, a nova produção da Disney, que também estréia hoje. Se não mais original, é com certeza mais divertido quando o príncipe sai da animação, vira gente em Nova York e dialoga com o espelho (a televisão) num quarto vagabundo de hotel. Lynch era um autor intrigante – quando fez O Homem-Elefante, Veludo Azul e Twin Peaks. Hoje em dia, virou gênero de si mesmo, e é previsível na sua imprevisibilidade. Pode ser que de outra forma, mas está virando o contraponto perfeito (e esperado) a Hollywood. Com um agravante – três horas de sonho acordado, de lógica que a gente deve estabelecer, são demais. Já que o espectador fica livre, a gente bem pode esperar que um daqueles corredores, ou portas, levem à saída. The end, por favor.


Serviço


Império dos Sonhos (Inland Empire, EUA-França-Polônia/2006, 180 min.) Dir. David Lynch. 14 anos’


 


 


TELEVISÃO
Keila Jimenez


RedeTV! cresce 55%


‘As TVs estão comemorando o encerramento de 2007 com um faturamento pelo menos 10% acima do esperado.


Mais em festa ainda está a RedeTV!, que fecha o ano com um crescimento registrado de 55% em relação ao faturamento de 2006. A mais alta taxa do mercado, segundo a emissora.


No primeiro semestre de 2007, a RedeTV! cresceu 37% em relação ao primeiro semestre do ano passado. De julho a outubro, o crescimento foi de 62%. E, em novembro, 114% sobre novembro do ano passado, batendo todos os recordes.


Boa parte desse crescimento tem um nome: Pânico.


A atração bateu todos os recordes de faturamento este ano. Enfrentou até overbooking de anunciantes nos breaks e excesso de merchandisings.


O programa, que tem duas horas de duração, chegou a ter em outubro quase metade (50 minutos) ocupada por merchandisings e breaks, o que causou reclamações por parte dos humoristas e do público. Ainda há fila para anunciar na atração.


O Superpop também foi muito bem em faturamento, assim como a transmissão da Série B do Brasileirão.’


 


 


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