Dez anos após o genocídio ocorrido em Ruanda, a imprensa local ainda tenta reconstruir sua reputação e reconquistar sua liberdade. Em 1994, o sangrento episódio deixou marcas profundas no pequeno país no centro da África. Na ocasião, a maioria da população, da etnia Hutu, matou mais de 800 mil membros da minoria Tutsi, além de hutus simpatizantes a ela.
Uma parte da imprensa do país aliou-se aos hutus, e ajudou a espalhar o ódio e a sede de matança na região. Hoje, os repórteres de Ruanda trabalham oficialmente sob repressão. Segundo Carter Dougherty [The Boston Globe, 5/4/04], o regime de trabalho no país é considerado opressivo por jornalistas ocidentais e até de outros países do continente africano. Mas as restrições são o resultado do comportamento da mídia durante o genocídio.
Antes de 1994, muitos jornalistas aliaram-se a extremistas hutus que haviam planejado o genocídio. A revista Kangura publicava longos artigos denegrindo os tutsis. Chamava-os de raça subumana cujo objetivo era destruir Ruanda, e conclamava os hutus a se armarem contra eles. Logo após o início da matança, a emissora de rádio RTLM destilava veneno em suas transmissões, divulgando inclusive nomes de tutsis e seus esconderijos.
Entretanto, alguns jornalistas ruandeses e diversos observadores internacionais afirmam que as restrições impostas hoje à mídia parecem menos uma forma de evitar a repetição dos eventos de 1994 e mais um meio de os políticos evitarem ser criticados. ‘A imprensa era a ferramenta, não a causa do genocídio, que teve motivações políticas’, diz Casimir Kayumba, editor do jornal Ukuri – palavra que significa ‘verdade’ na língua local de Kinyarwanda.
O tribunal de crimes de guerra da ONU considera que a mídia teve um papel determinante no massacre de Ruanda e condenou figuras-chave dos veículos de comunicação por incitamento ao genocídio.