‘Trinta anos no poder é mais do que suficiente’ (Omar Sharif, ator egípcio)
Quer dizer, então, que no Egito do faraó Mubarak existia, há mais de 30 anos, uma ditadura cruel? Tão cruel quanto a do Irã de Ahmadinejad e raivosos aiatolás? E por que, então, a opinião pública internacional deixou de ser devida e tempestivamente abastecida, ao longo desse período, pelas diligentes agências noticiosas, pela sempre atenta grande mídia, de informações pormenorizadas frequentes a respeito dos atentados ali permanentemente cometidos contra as liberdades individuais e os direitos humanos? Hein?
Quer dizer, então, que também a Tunísia acha-se mergulhada, há decênios, sem que sejamos adequadamente informados, num clima político asfixiante, com a negação sistemática pelo governo do acesso popular aos direitos fundamentais? Assim como ficamos sempre sabendo ocorrer em Cuba, para nos determos num outro exemplo de regime de exceção prolongado?
A convulsão que sacode o mundo árabe, neste momento, está mostrando com obviedade ululante a nudez do rei. Vem retirando, como acontece na tradicional ‘dança do ventre’, os véus da hipocrisia geopolítica que, há muito tempo, regem o relacionamento das superpotências com governos árabes (e não apenas, tão somente, árabes) corruptos e ditatoriais. Mas, todos eles, benevolentemente preservados por conveniências estratégicas, digamos assim, com o concurso prestimoso dos canais de comunicação social, de uma exposição dramática, capaz de estampar com absoluta claridade perante os olhares da opinião pública mundial os desmandos, desatinos e horrores por eles praticados contra a dignidade humana.
Redobrar de atenções
É chegado, sem sombra de dúvida, o momento exato de as grandes potências reverem seus errôneos procedimentos. De refazerem piramidais desacertos, de inspirações maquiavélicas e maniqueistas. Os sinais de que essa política de conluios mórbidos, com base em interesses escusos, em artimanhas nocivas à causa democrática, está em flagrante desacordo com o bom senso, caminhando em sentido oposto ao clamor das ruas, são inequívocos. Postular apoio incondicional em troca da inconfiável solidariedade dos déspotas de plantão costuma sair muito caro. Pode desembocar em acontecimentos de imprevisíveis consequências.
A tirania feudal e feroz imperante na enigmática Arábia Saudita, polo de um fundamentalismo religioso exacerbado, exige, por exemplo, um redobrar de atenções. Antes que seja tarde demais. Os estudiosos dos fenômenos sociológicos do mundo árabe são unânimes em apontar: uma eventual explosão popular no reino saudita, conduzido há décadas com pulso de ferro pelos governantes, contém potencialmente grau de toxicidade e ingredientes explosivos bem mais perturbadores do que os de uma outra qualquer situação politicamente dramática vivida no universo islâmico.
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Jornalista, Belo Horizonte, MG