Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Antes tarde do que nunca

A chamada grande imprensa finalmente despertou para o risco de ser contrabandeada para dentro da legislação a reabertura dos bingos e dos cassinos de máquinas caça-níqueis. Quase em cima da hora, uma vez que os agentes da jogatina no Congresso Nacional se movimentam com agilidade e contam com apoios importantes. O próprio líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), tem contribuído para dar regime de urgência ao projeto que propõe legalizar o jogo.


Nas edições de terça-feira (14/12), data em que o lobby da jogatina planejou juntar esforços para empurrar o projeto dentro da pauta de votações, os jornais finalmente resolvem atentar para o assunto. Até então, o tema vinha sendo abordado em notas curtas e em comentários de alguns colunistas.


Ainda assim, a imprensa vem tangida por um grupo de trabalho coordenado pelo Ministério da Justiça, que divulgou um documento enviado à Câmara, no qual alerta os deputados para o fato de que a aprovação de uma lei que libera os bingos beneficiaria grupos criminosos. O texto desmonta os principais argumentos dos defensores da jogatina, entre os quais se destaca o sindicalista e deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força, cujo currículo recomenda uma atenção especial da sociedade.


Guerra declarada


Para começo de conversa, diz o documento, a proposta de transferir recursos financeiros dos bingos para a saúde não pode ser cumprida porque seria inconstitucional. Segundo o Ministério da Justiça, o Estado não teria condições de fiscalizar o jogo e conter a ‘sanha lucrativa da criminalidade organizada’.


Em outras páginas dos jornais, noticia-se que o consumo de crack já se estende por 95% das cidades brasileiras, sendo que apenas 15% delas têm alguma estrutura para atendimento dos dependentes.


A epidemia da droga devastadora agora é nacional. O governo federal não parece ter uma estratégia para combatê-la e a tendência é que a situação se torne ainda mais grave nos próximos anos.


A imprensa parece não enxergar a conexão entre fenômenos aparentemente distantes, mas cuja interrelação já foi devidamente demonstrada por especialistas: quando atacados em uma de suas fontes de renda, os investidores do crime organizado buscam assegurar o resultado financeiro em outra área, sempre além dos limites da lei.


Com a guerra declarada aos pontos de droga nas favelas do Rio de Janeiro, o negócio se diversifica e se espalha por todo o país. Com a droga sob cerco, o dinheiro do crime busca uma saída legal, através da jogatina.


Ainda que tarde, menos mal que os jornais comecem a dar mais atenção para os movimentos da bancada de aluguel no Congresso Nacional.




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A bancada da jogatina – L.M.C.


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Observatório na TV


A Folha de S.Paulo acompanha com interesse e noticia, na edição de terça-feira (14/12), a definição da norma ISO 26000, que deve se tornar a principal referência de responsabilidade social nas empresas e outras organizações. Foram cerca de oito anos de debates que envolveram 450 especialistas de 90 países e 40 entidades internacionais.


A nova norma deve juntar e consolidar um emaranhado de acordos, tratados e manifestações de boas intenções, formando um conjunto de diretrizes para que a responsabilidade social possa ser adotada como parte das estratégias de negócios.


Essa definição deixa para o passado a velha prática da filantropia, baseada no princípio caridoso da boa vontade, que costumam mover fortunas em direção aos menos favorecidos, mas não tem sido capaz de produzir mudanças significativas e duradouras no cenário de desigualdades sociais.


Em agosto, o fundador da Microsoft, Bill Gates, juntou-se ao investidor Warren Buffett e ambos convenceram 40 bilionários americanos a doar pelo menos metade de sua riqueza à caridade. Outras iniciativas, como a do financista George Soros, injetam bilhões de dólares em instituições filantrópicas ou de defesa de direitos civis.


No Brasil, essa prática segue muito restrita, e pode ser estimulada com o advento da norma ISO 26000. Supõe-se que a corrupção, ou a notícia da corrupção, que espalha a insegurança sobre a destinação de recursos doados a boas causas, seja um importante empecilho.


O Observatório da Imprensa na TV vai discutir nesta terça-feira (14) como a mídia pode contribuir para incentivar a prática da filantropia – ou, em termos mais atualizados, da responsabilidade social. Às 22h na TV Brasil, em rede nacional. Em São Paulo, canal 4 da NET e 181 da TVA.