Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.
A maior tragédia nos céus brasileiros ocorreu há exatos 67 dias. Mas suas conseqüências continuam até hoje. O apagão aéreo que ameaça o futuro da nossa aviação comercial veio acompanhado por um outro apagão e talvez mais grave: o apagão da verdade.
Ao longo de 67 dias assistimos a uma incrível e inédita sucessão de lorotas e irresponsabilidades. E não apenas no tocante às causas da tragédia. Como se não bastasse a dimensão da catástrofe e a dor das famílias enlutadas, escancarou-se a incúria dos responsáveis diretos e indiretos na condução das investigações.
Estamos diante de um escândalo político e administrativo de grandes proporções cujas conseqüências tendem a agravar-se à medida que nos aproximamos das festas natalinas e das férias de verão. Como no caso da Escola Base em março de 1994, desde as primeiras horas a imprensa contentou-se em reproduzir declarações apressadas e levianas das autoridades. No caso, autoridades federais. Na semana seguinte à colisão, essas autoridades já apontavam culpados e criavam um clima para os inevitáveis linchamentos.
Quem recuperou a credibilidade da imprensa foi a Folha de S.Paulo, com sua repórter política Eliane Cantanhêde, que teve a coragem de investigar na direção contrária da sugerida pelas autoridades. Depois da Folha, aliás, muito depois da Folha, veio a revista Época e, na sua esteira, o Fantástico de domingo.
Uma coisa é certa: este é um caso que não poderá virar pizza. Aqueles que estão sofrendo diariamente as conseqüências do apagão aéreo não devem esquecer que o apagão da verdade começou em seguida ao primeiro turno e estendeu-se até depois do segundo turno. Esta será uma pizza difícil de engolir.