O governo queniano suspendeu, no penúltimo dia de 2007, as transmissões de notícias ao vivo de emissoras de rádio e TV, após os protestos contra a reeleição do presidente Mwai Kibaki terem ganhado força no país. ‘Com base nas informações recebidas do ministro de Segurança Interna, John Michuki, para manter a segurança pública e a tranqüilidade, ordeno a suspensão imediata de transmissões ao vivo até avisos posteriores’, afirmou o secretário permanente do Ministério da Informação, Bitange Ndemo. ‘Também ordeno que jornalistas e empresas de comunicação parem de divulgar material alarmista ou incitem a violência’.
Mais de 300 pessoas foram mortas em protestos pós-eleitorais. Desde que a comissão eleitoral declarou a vitória de Kibaki, entre alegações de fraude, apoiadores do líder da oposição Raila Odinga tomaram as ruas de todo o país, incluindo a capital Nairóbi. No primeiro dia de 2008, uma igreja no oeste do Quênia foi incendiada, matando mais de 50 pessoas que buscavam abrigo dos confrontos – algumas delas foram queimadas vivas. Muitos quenianos deixaram suas casas temendo ataques e saques. Governo e oposição trocam acusações mútuas pela violência que se espalhou no Quênia. Kibaki é da tribo quicuio e Odinga, da tribo luo. Os resultados das eleições parecem ter reacendido as disputas étnicas que há muito existem no país.
Sem notícias
A maior parte dos jornalistas cumpriu a ordem do governo, temendo represálias – o que deixou o país em um blecaute de notícias. Uma emissora de rádio privada, a Kiss FM, continuou a transmitir seu programa com comentários de ouvintes ao vivo por telefone. Dois jornalistas da emissora de TV privada K24 foram atacados por manifestantes enquanto cobriam protestos. A rádio Lake Victoria, estação que apóia abertamente Odinga, teve o sinal cortado. O subgerente da emissora, Seth Oloo, acredita que houve uma ‘sabotagem’ do governo.
A organização internacional Repórteres Sem Fronteiras expressou sua preocupação com a censura imposta à mídia. ‘A censura pode resultar em rumores e desinformação nas ruas. Esta decisão é contraproducente, além de impor um clima de intimidação. Pedimos ao governo que converse com os executivos de mídia e editores para deixá-los trabalhar livremente, para que o público seja informado da melhor maneira possível’, declarou. Um primeiro encontro foi realizado entre a associação de proprietários de empresas de mídia e o governo, mas nada foi acordado. Wachira Waruru, chefe do Conselho de Mídia, órgão regulatório da imprensa, classificou a proibição de ‘draconiana’ e disse que ela ameaça a liberdade de imprensa. Informações da AFP [30/12/07] e da Repórteres Sem Fronteiras [31/12/07].