O meio rádio novamente se agitou com a notícia da aquisição de mais uma emissora de FM em São Paulo pelo Grupo Bandeirantes. A bola da vez seria a freqüência dos 107,3Mhz, cuja concessão pertence à Universidade Anhembi-Morumbi, e que atualmente transmite programação dedicada ao rock n’roll com o nome de Rádio Brasil 2000. Seria mais um capítulo na ofensiva que vem sendo feita desde o fim do ano passado e que possibilitou a aglutinação de emissoras como Alpha, 89FM, Nativa e Sucesso. Esta última, que está nos 96,9Mhz do dial, transformou-se na cabeça de rede da Band News FM, ambicioso projeto no segmento all news. O que parecia certo, porém, se transformou em novela.
Segundo comentários do mercado publicitário, a Bandeirantes tinha planos de transformar a Brasil 2000 na Rádio Band Sports, uma rede voltada para o esporte. A idéia era combater a entrada da ESPN, que vem negociando com a Rádio Capital AM (1040KHz-SP) a possibilidade de tomar conta do departamento de esportes.
Sabão em pó não
A notícia foi amplamente divulgada em jornais e sites de internet. O vice-presidente de rádios do Grupo Bandeirantes, Neneto Camargo, chegou a confirmar à Folha de S. Paulo o acordo com a Anhembi-Morumbi, dizendo que os alunos do curso de Comunicação teriam acesso às outras emissoras do conglomerado em contrapartida. Após a divulgação da notícia, contudo a tristeza tomou conta dos poucos porém fiéis ouvintes da Brasil 2000, que usaram o Orkut como forma de manifestar seu descontentamento.
O caso teve entretanto uma reviravolta no fim de semana passado. Na sexta-feira 4, divulgou-se nas comunidades relacionadas à emissora no Orkut que o acordo não sairia mais e que a Brasil 2000 continuaria transmitindo sua própria programação. Tal informação foi confirmada por Carmem Maia, integrante do conselho de administração do Grupo Anhembi-Morumbi, que toma conta tanto da rádio como da universidade. Em entrevista via e-mail, ela disse que não há nada acertado entre as partes. Deixou claro, contudo, que as negociações continuam. ‘Existem conversas e propostas de parceria e de desenvolvimento de um trabalho conjunto, mas são apenas conversas’.
Perguntada sobre o tipo de proposta em discussão, Carmem Maia foi evasiva: ‘Uma parceria entre o Grupo Anhembi e o Grupo Bandeirantes, que inclui a radio, por exemplo’. Por outro lado, ela foi incisiva ao ser questionada se houve uma proposta oficial para ‘se adquirir’ a freqüência dos 107,3Mhz: ‘Não se ‘adquire’ freqüência. Não somos sabão em pó. Não tenho nada escrito relacionado a uma proposta oficial. Até o momento foram conversas…’
Fora do ar
Enquanto essas conversas não avançam, continua a retransmissão pela Brasil 2000 de quatro horas da programação jornalística da Rádio Bandeirantes AM (840KHz-SP), entre 6h e 10h. Carmem desmentiu que a Anhembi-Morumbi receba pagamento mensal de R$ 80 mil pela ocupação desse espaço.
A principal crítica feita à rádio é quanto ao péssimo alcance de seu sinal. Carmem admitiu o problema, mas não mencionou medida concreta para resolver isso. ‘Estamos, sempre, tentando melhorar’. Sobrou apenas uma farpa lançada aos profissionais da área técnica: ‘Talvez mudar os técnicos, que tal?’
Um indício de que algo estaria para acontecer na Brasil 2000 foi a retirada repentina de três programas do ar: o Garagem, o DDO, no qual o ouvinte participa ao vivo para pedir músicas, e o apresentado por Kid Vinil, um especialista em rock. Mesmo com a confirmação de que a programação continua como está, Carmem disse que as atrações não voltarão à grade: ‘Estamos analisando cenários futuros. Sim, podem voltar à programação, mas não igual, tem de se pensar em novos formatos…’
Duras críticas
O jornalista André Barcinski, um dos apresentadores do Garagem, fez duras críticas aos manda-chuvas da Brasil 2000 no site dedicado ao programa. Segundo ele, ‘o Garagem nunca foi querido na rádio’. E afirmou: ‘Em seis anos, nenhum diretor ou chefe de programação jamais nos ligou para dar uma sugestão ou fazer algum comentário sobre o programa. Nunca fomos chamados para opinar sobre a programação da emissora’. Carmem rebateu suas declarações: ‘Não foram sugeridas mudanças porque achávamos que o programa estava bom. Quanto a não ser ‘querido’ na rádio, é uma pena que o Barcinski tenha sentido essa rejeição. Da parte da Brasil, o Garagem sempre foi querido. Tão querido que o espaço era cedido mesmo sem ter qualquer apoio comercial. Isso não é ser querido?’
Procurado para comentar as declarações da conselheira, André Barcinski encaminhou o seguinte texto:
Acho muito legal a Carmem elogiar o Garagem, e agradeço a ela. Só discordo dela em alguns pontos: para um programa se ‘sentir querido’ numa emissora ele precisa de apoio e de contato com a direção, para que exista um intercâmbio. E, em seis anos, nenhum diretor da rádio jamais nos procurou para sugerir alguma coisa ou fazer alguma crítica construtiva. Eu, por exemplo, nunca falei com a Carmem. Para falar a verdade, sequer a conheço. Também acho que essa história de que a rádio estava nos ‘cedendo espaço’ é engraçada. E os seis anos em que fizemos o programa sem ganhar nada? Quer dizer que a rádio estava nos fazendo um favor? Eu sempre achei que isso era uma troca, que ninguém estava fazendo favor a ninguém. E tem mais: eu consegui três patrocínios para o Garagem, mas não pudemos fechá-los, porque eram de empresas de bebida alcoólica, e a rádio não autorizou, com a desculpa de que a Brasil 2000 é uma fundação e não permitiria. E vender a rádio a uma emissora comercial, pode?’
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Colaborador dos sítios Laboratório Pop, Bacana e Ruídos, Papo de Bola; colaborou por quase dois anos com o site da Rádio Brasil 2000 FM-SP