A Espanha também está engajadíssima na Copa do Mundo e dominada por um suspense ainda mais agônico do que o nosso. Isso não impediu que o seu mais importante diário, El País, anunciasse no domingo (20/6) duas importantes novidades.
A atração mais visível e retumbante foi o lançamento da Eskup, uma rede social de informação destinada a manter um diálogo permanente entre os leitores e os jornalistas. Um Facebook (ou Twitter) eminentemente jornalístico vocacionado para oferecer nova dimensão às informações e funcionar como provocação ao debate.
O nome Eskup vem do inglês, (combinação de Skype com scoop, furo, notícia em primeira mão (primicia em espanhol, em português primícias). Na verdade é um sensacionalismo ao contrário: a novidade está nos desdobramentos do que foi noticiado. É a materialização da simbiose papel/internet já prometida há muito tempo, porém efetivada apenas em blogs. Poderá converter-se num periodismo (jornalismo em espanhol) de fluxo contínuo.
De qualquer forma, um avanço audacioso, assumido sem timidez nem vacilação (ver ‘Nace Eskup, una red social de información‘ http://www.elpais.com/articulo/Pantallas/Nace/Eskup/red/social/informacion/elpepirtv/20100620elpepirtv_2/Tes, ‘Ana Alfageme, responsable de medios sociales de El País‘ e ‘La nueva puerta de entrada a los contenidos está en Facebook y Twitter‘).
Passou batido
A outra novidade seguramente menos visível para o leitor, mas definitiva em matéria empresarial, é a entrada no Grupo Prisa do acionista francês Nicolas Bergggruen, de 49 anos, que vai investir até 900 milhões de dólares. É o único multimilionário sem feudos, castelos, casas e propriedades. Vive para os seus negócios: energia eólica, educação, cultura e, obviamente meios de comunicação. Num momento em que os grandes grupos internacionais de mídia se movimentam na clandestinidade sem que os seus usuários saibam o que está acontecendo nos bastidores, é confortante descobrir que o capitalismo pode ser pós-capitalista – transparente e progressista (ver ‘Es importante tener medios de calidad‘).
O El País, ‘periódico global em español’, geralmente equidistante só pisou na bola um dia antes, quando resolveu apoiar ostensivamente a candidata Dilma Rousseff no seu giro europeu: concedeu-lhe em Madri uma entrevista de uma página (com chamada na primeira página) onde no intróito o repórter Fernando Gualdoni informa que a candidata era ‘conocida como la Juana de Arco del movimiento guerrillero VPR, uno de los más importantes de lá epoca’ [Juana de Arco é o equivalente de Joanne D´Arc].
Numa das respostas a candidata Dilma Rousseff afirma: ‘Soy la ministra de la Casa Civil. Soy quien coordina los ministros y los principales proyectos de gobierno’ (Sou a ministra da Casa Civil. Sou quem coordena os ministros e os principais projetos do governo) [ver ‘El éxito de Lula también es el mio‘].
Quando o jornalista e publisher do El País Juan Luís Cebrian entrevistou o presidente Lula em Brasília, deu uma aula de jornalismo isento. Não foi lido pelos coleguinhas e pupilos.