Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

As exigências da nova era

Eu vou dispensar a nominata, ter que citar nominalmente aqui cada uma das pessoas presentes, para ganhar um pouco de tempo. Mas, queria dizer que hoje é um dia especial e que deve ser guardado de forma especial por todos vocês e por quem está em casa, também, assistindo à TVT.


Quando, em 1978, [19]79, os metalúrgicos de São Bernardo e os metalúrgicos do ABC se levantaram por melhores salários, fizeram greves, assembleias, se levantaram por liberdade sindical, pela democracia, muitas vezes nas suas assembleias eles não tinham sequer um grande equipamento de som, e a palavra era passada para frente por ondas de trabalhadores que falavam para os outros. Isso tem 32, 31 anos e agora os trabalhadores, aqui, têm uma TV que vai poder levar muito mais longe, pelas ondas eletromagnéticas, a palavra dos trabalhadores, o olhar dos trabalhadores, a sensibilidade dos trabalhadores para os grandes problemas nacionais e para os problemas do mundo.


É uma tremenda conquista, é uma tremenda conquista, mas que também mostra como às vezes as conquistas são lentas no Brasil, porque são 32 anos para que isso tenha se realizado e 22 anos, desde a Constituição de [19]88, que estabeleceu, num outro artigo – não é o 220, eu também não sabia o número. Eu sou péssimo para números – que estabeleceu, no artigo 223, que a radiodifusão deve ser encarada de forma complementar entre o setor comercial, o setor estatal e o setor público. E a TVT é um típico exemplo de TV pública, de comunicação pública.


Então, acho que é muito importante a gente ver a conquista e ver os desafios que tem pela frente, quer dizer, os desafios de fazer uma boa televisão e os desafios, principalmente, de fazer uma televisão numa época tão interessante para a comunicação.


Momento de transformação


Eu, como jornalista, posso dizer, como um velho jornalista que tem muito tempo de janela em matéria de jornal – eu fiz todo tipo de imprensa que vocês podem pensar e imaginar, eu fiz –, eu vejo esse momento do jornalismo hoje em dia com extraordinário otimismo, não pelo que se faz, mas pelas extraordinárias possibilidades do que se pode fazer, porque nós estamos assistindo ao fim de uma era no jornalismo e ao início de outra.


No jargão das redações, onde fica o comando das redações, o comando das redações é chamado de ‘aquário’. Nós vivemos um modelo de jornalismo, desde o início, […] que era o jornalismo da era do ‘aquário’, comandado pelo ‘aquário’, onde o que tinha importância era a opinião do ‘aquário’. Tudo bem, muitas vezes a dos jornalistas que brigavam dentro das redações para fazer o melhor jornalismo possível e conseguiam através de um processo de pressão de cá, pressão de lá – porque as redações são um grande caldeirão – conseguiam muitas vezes também botar a sua marca no que saía no jornal, na televisão, no rádio. Mas, quem manda nessa era é o ‘aquário’. E o que caracteriza essa era? Você tem um núcleo ativo de produção de informação e uma massa passiva de consumidores de informação: o Olimpo e, lá embaixo, o resto.


Essa Era do Aquário está acabando, felizmente. E nós estamos entrando no jornalismo da Era da Rede, onde, graças à internet, graças à digitalização, o aquário não fica mais tão isolado. Sai uma notícia e essa notícia pode ser discutida, debatida, verificada, consolidada. Pode também ser negada. Ou seja, não temos mais um centro ativo produtor de informações e uma massa passiva de consumidores de informação. Nós temos hoje em dia os consumidores de informação também sendo ativos, também sendo produtores de informação. Isso eu chamo uma revolução, nós estamos só começando; incomoda muito, incomoda muita gente que estava acostumada a ficar no Olimpo, mas isso é inevitável, está acontecendo no mundo todo, está acontecendo no Brasil e isso é muito bom. É muito bom para nós jornalistas que podemos fazer um jornalismo melhor. Mas é muito bom para a população que pode ter acesso a um jornalismo melhor e pode contribuir com um jornalismo melhor.


Eu acho que a TVT tem o desafio de estar nascendo nesse momento de transformação e de transição. Isso quer dizer que ela tem que olhar para a frente. Não achar também que são os dirigentes sindicais, os dirigentes que sabem tudo. Também não. É se abrir para a rede, se abrir para o que vem de fora, se abrir para o novo, porque é possível fazer melhor do que se faz. Eu acho que esse é o grande desafio de vocês. Muito obrigado.

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Jornalista, ministro-chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência da República