Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

As manobras diversionistas

O deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) declarou – e quase toda a imprensa engoliu a história – que ele havia recuado no projeto de mudanças do Código Florestal, passando a admitir a manutenção de margens mínimas de 30 metros de matas para proteção de rios. A notícia havia sido divulgada no domingo (1/5) pelo Globo e foi confirmada na segunda-feira pelos outros jornais. Nas edições de terça (3), todos os jornais repetem a lenga-lenga, que no entanto não convence os ambientalistas.


O relatório de Aldo Rebelo não pode ser aprovado simplesmente porque não tem base científica. É uma confusa mistura de conceitos que tem como objetivo claro reduzir as exigências para a defesa do patrimônio ambiental.


Uma curta entrevista publicada pelo Estado de S.Paulo, que ouviu o engenheiro agrônomo Alceo Magnanini, de 85 anos, revela mais sobre o projeto do que dezenas de reportagens contando o vai-e-vem de Aldo Rebelo. O veterano ambientalista, que foi um dos autores do Código Florestal original, criado entre 1963 e 1965, afirma que o relatório do deputado Rebelo é um atentado à soberania nacional.


Sem contexto


Um resumo publicado pela Folha de S.Paulo ajuda a entender as mudanças propostas pela bancada ruralista, interessada em ampliar indefinidamente as fronteiras agrícolas. O agrônomo Magnanini argumenta que o Brasil não precisa expandir as áreas de plantio, mas intensificar os processos de produção.


Outro detalhe abordado na entrevista é a discussão aceita pela imprensa, em torno da formação das matas ciliares. Ele observa que a questão não é plantar árvores ao longo dos cursos d’água, mas restaurar as florestas.


Em praticamente todo o noticiário, a imprensa tem entrado no debate sobre a proposta de reduzir de 30 para 15 metros ou menos as faixas de matas para proteção dos rios, presente no texto de Rebelo. Mas a questão central, lembrada por Magnanini, é a recuperação das florestas, com toda sua complexidade biológica. Só as florestas podem proteger da erosão as terras agriculturáveis.


Trata-se, no fim das contas, de proteger os próprios agricultores de sua insensatez, e com isso preservar o interesse nacional.


Ao dar a palavra aos protagonistas dessa disputa, a imprensa deveria contextualizar cada um deles, revelando o histórico de cada grupo de interesse e suas ações sobre o território nacional.


Os debates não deveriam ser liderados por um parlamentar que não sabe diferenciar um pé de alface de uma samambaia e que foi financiado pelas forças conservadoras que tradicionalmente desprezam o patrimônio ambiental do país.


 


Observatório da Imprensa na TV


No Dia Internacional da Liberdade de Expressão, o Observatório da Imprensa na TV comemora seu 13º aniversário. Nesta mesma data, a Unesco homenageia as mídias digitais e sua cruzada contra as ditaduras.


O Observatório na TV também fala em favor da liberdade, apresentando uma coletânea de depoimentos de jornalistas como Artur da Távola, Evandro Carlos de Andrade, Roberto Civita, Ruy Mesquita, Antonio Britto, Otavio Frias Filho, Villas-Boas Corrêa, Joel Silveira, João Roberto Marinho, Millôr Fernandes e Mino Carta.


Para lembrar os treze anos de pioneirismo na observação da mídia pela TV, eles falarão também sobre a mídia digital, o sensacionalismo e a espetacularização da notícia, o futuro do jornal impresso, a formação do jornalista e outros temas essenciais.




Alberto Dines:


Hoje é o Dia Internacional da Liberdade de Expressão instituído pela Unesco há 20 anos. É também o 13º aniversário do Observatório da Imprensa na televisão. Feliz vinculação que nos acompanhará para sempre: garantimos a soberania individual através de uma obstinada busca de qualidade. Esta combinação de direito com dever será o tema do especial desta noite com depoimentos dos 25 maiores jornalistas brasileiros. Às 22h, em rede nacional pela TV Brasil. Em São Paulo pelo canal 4 da Net e 181 da TV-A. Esta festa também é sua.