Como todos os caudilhos e ditadores que se consideram acima do bem e do mal, Hugo Chávez não contava com a reação internacional ao fechamento da RCTV. Nem imaginava que os seus conterrâneos teriam a coragem de sair à rua para protestar contra o fim da concessão da mais antiga e mais popular televisão do país.
Chávez contava com a retórica dos seus militantes dentro e fora da Venezuela, inclusive no Brasil. Acreditava que bastaria repetir os chavões e chavecos contra a mídia golpista-imperialista e o assunto estaria resolvido da mesma forma com que tomou conta do Legislativo e do Judiciário.
Desta vez a desculpa foi esfarrapada demais, o pretexto para a violência foi tão convincente quanto o dos nossos ‘aloprados’ que, na véspera da eleição do ano passado, inventaram um dossiê para comprometer a oposição e, quando foram flagrados, também acusaram a mídia de golpismo.
A doutrina de que os fins justificam os meios ainda tinha alguma credibilidade lá no fim do século 18 – virou piada neste início do século 21. Isso não significa que devemos esquecer as irresponsabilidades dos grupos latino-americanos de mídia eletrônica. Erraram muito no passado, mas aprenderam lições importantes ao perceber que a crítica aos meios de comunicação é mais efetiva para corrigir distorções do que o uso da força para calar estes meios.
O povo de Caracas saiu à rua não para defender vagos princípios sobre a liberdade de expressão, saiu à rua para defender o que acha que é seu. Uma concessão de TV pertence ao povo, o Estado apenas a administra.