A tentativa de aliciar a revista Época para a campanha de difamação contra a candidatura de José Serra ao governo de São Paulo expõe claramente a estratégia do governo e do partido do governo: desmoralizar a imprensa. O oferecimento de um dossiê ao semanário do Grupo Globo (o complexo de comunicação mais importante do país), embora recusado, desvenda o despudor dos operadores da reeleição de Lula. Sabiam que poderiam ser desmascarados e não se preocuparam com as conseqüências.
Foram em frente: procuraram uma empresa jornalística despreocupada com a sua imagem, sua credibilidade, e preocupadíssima com a sua sobrevivência financeira. Procuraram a IstoÉ e de onde menos se esperava surgiu o escândalo.
A soma destes dois movimentos de cooptação da imprensa (ambos abortados por diferentes razões) desvenda um tipo de golpismo inédito em nossa história política: escancarar as fragilidades de uma imprensa incapaz de investigar por conta própria e, por isso, contumaz comensal das migalhas oferecidas pela bandidagem política.
Tropa de choque
Este desprezo instintivo pela instituição jornalística (e em última análise pelo próprio regime republicano) deve ser examinado dentro do contexto doutrinário ostensivamente exibido pelo PT no seu plano de governo para o segundo mandato de Lula: a comunicação precisa ser ‘democratizada’, uma imprensa a serviço de interesses escusos não é confiável, deve ser saneada por ‘conselhos populares’ ou quando não pelos esbirros do lúmpen jornalístico chapa-branca.
Quem está melando o processo democrático e minando um de seus esteios – a imprensa – é esta tropa de choque constituída por seguranças, churrasqueiros e a indispensável corte de maquiavéis de botequim que entre um naco de carne e uma talagada de uísque ruminam suas toscas conspirações para continuar no poder.