A discussão que se desenrola em torno das assessorias de imprensa e comunicação, e se o profissional que ocupa esse cargo deve ser definido como jornalista ou não, merecem, sem dúvida nenhuma, uma discussão mais aprofundada, a fim de que nós, jornalistas, não nos arrependamos mais tarde por estar destruindo um importante mercado de trabalho em vez de trabalharmos por mais espaços. Há muitos anos temos sentido na pele como estão escassos os empregos nas redações e agora deparamos com os próprios colegas de profissão questionando se são jornalistas aqueles que trabalham em assessoria de imprensa. Por isso decidi entrar neste debate e coloco aqui muito mais um depoimento do que um artigo em defesa do diploma, isso é certo, e a importância de cursar uma faculdade para uma atuação digna e ética, seja nas redações seja nas assessorias de imprensa e/ou comunicação.
Iniciei minha carreira em 1983, formada aos 21 anos, como jornalista da então minúscula assessoria de comunicação do Banco do Estado de Minas Gerais (BEMGE), comprado posteriormente pelo Itaú, cerca de dois anos após minha saída. Posso dizer, sem sombra de dúvida, que foram meus anos de faculdade que me deram a base para avançar com um trabalho de comunicação interna, pouco expressivo na época, com a produção de um house organ, que ganhou uma grande visibilidade entre os funcionários e, posteriormente, a redação de materiais institucionais que contribuíram para uma integração maior das áreas do banco, que possuía, inclusive, agências em outros estados, como Rio de Janeiro e São Paulo.
Sem o direcionamento da postura jornalística, principalmente, em relação aos entrevistados, e o cuidado e rigor na redação das matérias, editoriais e artigos, apreendidos na faculdade, seria impossível realizar meu trabalho no banco. Sem dúvida nenhuma, ficaria perdida, pois não teria base para fazer as entrevistas com objetividade e difícil seria definir o foco e propiciar uma redação ao mesmo tempo objetiva e consistente. A ética era também uma busca constante e essa foi consolidada através do esforço de muitos professores em transmitir esse valioso preceito aos alunos, fundamental na profissão e que nos dá a vontade se seguir em frente na luta diária, que todos nós, jornalistas, sabemos não é fácil.
Dos tempos de faculdade
Em 1986, entrei na revisão do jornal Estado de Minas, onde fiquei por dois anos e passei depois para a redação, onde trabalhei por oito anos na querida Editoria de Agropecuária, onde fazíamos, ainda, a cobertura pioneira no estado de Meio Ambiente e de Consumo, essa também realizada pelo Diário da Tarde. A Agropecuária foi fundida, depois, com a editoria de Economia, onde fiquei por mais oito anos. Os 16 anos de redação foram de uma dedicação e aprimoramento que poderia dizer exaustivos, pois quando saí em 2002 era assim que me sentia. Só mesmo muita garra e obstinação para enfrentar a pressão e a manutenção firme da ética no dia-a-dia de uma redação. Além do trabalho nos domingos e feriados, com a sobra de muito pouco tempo para a família e a vida privada.
Sem descanso nem um mês, pois tinha contas a pagar, assim que saí do jornal comecei a escrever para revistas, como a de pecuária de leite Balde Branco, e ao final de 2003 fui contratada como assessora de Comunicação da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig), onde me encontro até hoje. Então, retornei à assessoria de comunicação em um momento em que foram lançados os carros flex no mercado nacional e o setor sucroenergético deu um boom e hoje vemos toda movimentação em torno das energias limpas, como o etanol e a bioeletricidade, gerada pelo bagaço da cana. Pensei que iria sair do jornal e fazer uma coisa mais leve, mas qual nada, o crescimento extraordinário do setor em Minas Gerais e no país tem exigido de mim a mesma dedicação e obstinação diária de uma redação de jornal. Não fosse toda a base jornalística apreendida desde os tempos de faculdade, não conseguiria dar o direcionamento e atender com toda atenção a grande mídia e imprensa especializada, além da formatação de conteúdo que para site, material institucional, feiras e eventos, que expressassem o trabalho desenvolvido pelo setor e sua expansão.
Minas Gerais e o país têm exigido de mim a mesma dedicação e obstinação diária de uma redação de jornal. Não fosse toda a base jornalística apreendida desde os tempos de faculdade, não conseguiria dar o direcionamento e atender com toda atenção a grande mídia e imprensa especializada, além da formatação de conteúdo que para site, material institucional, feiras e eventos, que expressassem o trabalho desenvolvido pelo setor e sua expansão.
Amar, defender e honrar a profissão
Outro dia li um artigo no jornal Estado de S. Paulo (9/9) do professor da ECA-USP Eugênio Bucci, ‘Assessor de Imprensa é jornalista?’, e fiquei chocada, principalmente, pelo modo desrespeitoso com que tratou os jornalistas, assessores de Comunicação, descartando a importante bagagem que inicia na escola tanto para o exercício do jornalismo nas redações de jornal e assessorias, função que deve ser exercida com dignidade e ética. Mesmo trabalhando agora na assessoria, a realização de entrevistas, objetividade, busca de profundidade no conhecimento dos assuntos e clareza na redação e repasse das informações são as mesmas.
É difícil entender por que nós, jornalistas, trabalhamos contra nós mesmos, querendo extinguir espaços conquistados e, principalmente, mantidos ao longo de anos e colocando ‘lenha’ nessa polêmica toda em torno dos assessores de imprensa e/ou comunicação. Da minha parte, digo com todas as letras que sou, sempre serei e honrarei a profissão que abracei, com todas as forças, para minha vida! E pela minha experiência, já se vão 27 anos de formada nada mais importante do que a faculdade e, como consequência, o diploma, como base fundamental de nossa profissão, principalmente, para aprender a amá-la, defendê-la e honrá-la!
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Jornalista, Belo Horizonte, MG