O britânico Terry Eagleton, de 67 anos, é filósofo e crítico literário. Não navega na internet, não tem e-mail, não anda com celular e usa computador apenas para escrever. Ele faz falta na internet. Seus adversários intelectuais teriam muito a perder e sofreriam muito com suas tiradas irônicas. ‘Católico desde o berço e marxista desde a escola’, como o definiu Laura Greenhalgh, que o entrevistou para o Estadão (14/8, caderno ‘Sabático’, p. 4), disse que a onda de ateísmo atual começou no dia 11 de setembro de 2001. É que irrompeu ali um ‘absolutismo metafísico que colocou o Ocidente em xeque’. Em nome do Islã, pessoas doavam a vida, certas de que morreriam em troca de um bem maior.
Aos ateístas, ele dá um conselho que não pediram. Nas palavras da entrevistadora: ‘Em vez de desacreditar Deus e fomentar a islamofobia, é tempo de recuperar o melhor das tradições socialistas e judaico-cristãs, gerando pensamento ético.’
De sua autoria, a editora Civilização Brasileira está lançando O problema dos desconhecidos, e a Jorge Zahar, Jesus Cristo – os evangelhos. Ao criticar com veemência o biólogo Richard Dawkins, autor de Deus – um delírio (Companhia das Letras), ele diz: ‘Dawkins é um liberal respeitável, inclusive se manifestou contra a intervenção no Iraque’, mas ‘está no fundo contribuindo com a ideologia da guerra, ao investir de forma tão alucinada contra Deus.’ Acha também que os autores ateístas surgidos recentemente formulam falsas questões: ‘Quando o mundo começa efetivamente é uma pergunta para os cientistas, não para os teólogos. Até São Tomás de Aquino sabia disso.’
A política não se interessa pelas pessoas
É uma crítica nada sutil. Os autores que lideram o combate ao que entendem por Deus, nem sequer se dão ao trabalho de aferir se são maioria os cristãos que não aceitam a teoria da evolução e acreditam que Deus criou o mundo, lendo a Bíblia como se fosse um livro de ciências. Isso é coisa do século 19.
Eagleton teve um livro sobre teoria literária muito lido. A intelligentsia vivia outra época. Eram os anos 1960 e 70. ‘Havia uma atmosfera intelectual ambiciosa.’ E hoje? ‘Ficamos menos ambiciosos.’ E pergunta à entrevistadora: ‘Já percebeu como as pessoas não estão interessadas em formular questões fundamentais?’ E ela indaga: ‘Seria preguiça intelectual?’ Ao que ele responde: ‘Não é bem isso. As pessoas formulam grandes questões quando sentem que há chance de mudança lá na frente. Hoje as visões ficaram estreitas e de curto prazo, justamente quando o mundo mais se globaliza. A inteligência se retraiu, consequentemente a teoria literária também.’
Como se trata de um autor que é também professor, acrescenta: ‘Perdemos o nervo que nos fazia ousar. Meus alunos hoje só se interessam por cultura popular. Ou pela cultura da política, não pela política.’ E, criticando especialmente as alunas, diz que elas não querem saber do potencial transformador que o movimento de liberação da mulher teve nos anos 1960.
Conclui dizendo que as pessoas não se interessam pela política porque a política não se interessa por elas.
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Escritor, professor da Universidade Estácio de Sá e doutor em Letras pela USP; seus livros mais recentes são o romance Goethe e Barrabás e De onde vêm as palavras