O Sudão aumentou as restrições a trabalhadores de organizações humanitárias e jornalistas que viajam pela conturbada região de Darfur. Analistas dizem que a manobra tem como objetivo ocultar os crescentes conflitos entre rebeldes e o exército. Na onda repressora, trabalhadores humanitários já foram barrados, jornalistas, detidos, e as regras para estrangeiros mudam a cada semana.
Apenas um exemplo do quão confusa é a situação: uma repórter britânica do Sunday Times foi presa, esta semana, ao chegar ao aeroporto, a princípio sob acusação de que estava usando um boné de uma organização de mídia diferente. Logo seu passaporte foi apreendido por supostas irregularidades.
‘Definitivamente tem havido uma onda de repressão nos últimos meses’, diz Leslie Lefkow, do Human Rights Watch. ‘É o velho padrão usado pelo governo na tentativa de restringir o fluxo de informações’. Segundo ela, os principais alvos são mesmo a imprensa e as organizações não-governamentais. Darfur é a região do mundo com a maior operação humanitária em andamento, com 14 mil trabalhadores dedicados a ajudar as pessoas nos miseráveis acampamentos locais.
Tanta ajuda se justifica: estima-se que 200 mil pessoas tenham sido mortas e 2,5 milhões tenham ficado desabrigadas desde o começo do conflito, em 2003, quando grupos rebeldes iniciaram uma luta armada em protesto contra a pobreza e a marginalização impostas à área.
Censura e detenções
O governo sudanês nega que prejudique o trabalho da imprensa, mas não é o que dizem os jornalistas. Estrangeiros são detidos por motivos absurdos. Recentemente, um repórter Ocidental ficou preso por um dia porque oficiais de Cartum escreveram uma palavra errada em sua permissão de viagem.
Enquanto a nova constituição exalta a liberdade de imprensa, na prática o país restabeleceu a censura a seus jornais independentes. Segundo a Repórteres Sem Fronteiras, pelo menos 15 jornalistas foram presos este ano.
O esforço para impedir o fluxo de informação é tão grande que um coordenador dos Médicos Sem Fronteiras foi preso no ano passado depois que o grupo publicou um relatório sobre as centenas de estupros em Darfur – que o governo nega que tenham acontecido. Informações de Opheera McDoom [Reuters, 8/11/06].