Dezessete anos após a abertura das ondas estatais para a competição de canais televisivos na Grécia, a TV privada enfrenta momento de duras críticas por seu comportamento ‘anárquico’, conteúdo ‘libertino’ e baixos padrões de qualidade. Shows de talentos, o uso de câmeras escondidas para reportagens investigativas e o tom geral dos telejornais – normalmente pontuado por jornalistas berrando – parecem ser os maiores responsáveis por colocar o mercado de TV privado, classificado como falho, na berlinda.
Mensalmente, o Conselho Nacional de Rádio e Televisão, autoridade independente que supervisiona as transmissões de rádio e TV no país, divulga dezenas de alertas e impõe multas para emissoras em toda a Grécia. Violações na programação vão desde a revelação de documentos judiciais até linguagem inadequada, apresentações adultas em horários impróprios e transmissão ilegal sobre as freqüências de outros canais.
Analistas de mídia afirmam que o problema com a TV grega é que a transição do monopólio estatal para um mercado livre, em 1989, foi realizada sem um plano sólido, o que criou um ambiente cheio de improvisações mas sem diretrizes consistentes. ‘Nós temos um mercado que opera sem regras e onde a competição leva ao excesso’, afirma Stelios Papathanassopoulos, professor de comunicação de massa na Universidade de Atenas. ‘É fato que todos os canais operam sem licença’, completa Spilios Haramis, diretor-geral do grupo que opera o Canal Antenna, o maior do país. ‘Eu acho que isso acontece por razões políticas. Diga-me, isso acontece em algum outro lugar do mundo?’.
Território sem leis
Por 17 anos, entretanto, esta situação foi aceita com base em muita tolerância por parte dos sucessivos governos. ‘A privatização da TV grega começou sem nenhuma lei básica que definisse como as freqüências seriam distribuídas ou quem teria o direito de operar um canal’, diz Popi Diamantakou, veterano colunista de TV do jornal Ta Nea. ‘Eu acho que nunca houve disposição política para criar e impor uma lei’.
Diamantakou alega que é esta natureza caótica que leva ao baixo padrão de qualidade que tomou conta das emissoras do país. Uma pesquisa feita em novembro revelou que 65% dos entrevistados consideravam que os programas de notícias mostram mais violência do que refletem a realidade. Neste mesmo mês, multas recebidas por quatro canais privados pela controversa cobertura de um suposto caso de estupro em uma escola chegaram a US$ 963 mil. A maior multa foi recebida pela Antenna, por um talk show noturno que exibiu diversos vídeos de estudantes fazendo sexo – as imagens teriam sido gravadas pelos próprios estudantes em um celular com câmera. O canal considerou a represália uma ‘decisão chocante de censura’. Nos últimos três anos, o conselho que fiscaliza a programação aplicou mais de US$ 17 milhões em multas. Informações de John Hadoulis [AFP, 10/12/06].