O título aqui utilizado é o mesmo de uma das comunidades encontradas num site de relacionamentos no Brasil. Com mais de mil participantes, tornou-se popular ao definir o caso Nardoni como o substituto do Big Brother Brasil 8.
O caso alcançou proporções espantosas na imprensa e uma das questões mais debatidas é o porquê de tamanha dimensão que lhe foi dada. Entrevistas, especulações e diversas outras estratégias já foram e continuam sendo desenvolvidas no intuito de elucidar esse questionamento.
Outros crimes também ganharam proporções gigantescas, como o caso von Richthofen ou o do menino Hélio. Há quem diga que o diferencial do caso Isabella Nardoni é o grau da atrocidade potencialmente cometida pelo principal suspeito do crime: o pai da criança. Mas será mesmo essa a razão do boom provocado pela mídia no que se refere não somente a esse, mas a tantos outros casos análogos?
Há os que afirmam ainda que a maioria dos crimes grotescos só ganha espaço na imprensa quando se trata protagonistas integrantes da classe média alta das principais regiões do Brasil.
‘Imparcialidade da imprensa’
Outra explicação sustenta-se na consensual idéia de que a imprensa trabalha tão-somente em cima do que lhe proporciona audiência, mas isso é o que, no jargão jornalístico, se chama imprensa marrom.
Vivemos mesmo numa sociedade atravancada por sanguessugas, parasitas de tragédias alheias?
Indagações e especulações à parte, independente dos motivos que provocam a supervalorização de bizarrices, tornado-as notícias sensacionais, é possível inferir o quão a mídia pode ser cruel. A apelação relega a análise e reflexões acerca da notícia pautada, buscando atingir o emocional do público.
Desde sentimentos de condescendência à indignação popular, passando pela troça e mesmo pela indiferença, muitas vezes a mídia articula e manipula a informação. A comicidade na apresentação de tragédias veiculadas nos meios de comunicação torna lúdicas as notícias. A descrição da comunidade mencionada na abertura deste texto zomba da tragédia Nardoni.
Diversos filósofos já se debruçaram sobre a temática do poder midiático e a famosa ‘imparcialidade da imprensa’. Então, o que temos? Uma infinidade de dúvidas de ordem socioeconômica, religiosa e cultural, entrecortadas por incontáveis teorias acerca dessas mesmas dúvidas.
Só a dor é socialista
Francis Bacon, no século 16 afirmou: ‘Informação é poder’. À época do festival de Woodstock, consagrou-se a célebre consigna ‘sexo drogas e rock and roll’. Em fases diametralmente distintas, ambas fazem atribuições sobre a mola propulsora do mundo: o poder.
A máxima do filósofo inglês apresenta a dimensão alcançada pelo domínio da informação; a seguinte, que já caiu em domínio público, indica o tripé do mundo: sexo, atrelado ao amor, drogas, que representam o poder, e rock and roll, o dinheiro.
De ‘quarto poder’ a simplesmente poder, a mídia, no decorrer dos tempos acompanhou o processo evolutivo da sociedade, tornando-se ‘‘eco-protagonista’’ da vontade popular. ‘Protagonista’ por figurar ao centro e ‘eco’ por fazer ressoar os ocultos desejos sociais.
Numa sociedade inteiramente dilaceradora de emoções, irremediavelmente viciada no sofrimento alheio, a mídia faz ponte entre a crueza da realidade e o universo fantasioso das mentes humanas. A imparcialidade jornalística dá lugar à produção mercadológica.
Se a poesia pudesse explicar, diria então que talvez tudo isso ocorra porque a cada dia se reserva sua própria dor, ou, como afirmou a jornalista Márcia Frazão, porque somente a dor é socialista.
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Estudante de Comunicação Social, Jornalismo & Relações Públicas – UESPI, Teresina, PI