Nas últimas semanas, Florianópolis ganhou destaque em noticiários nacionais por causa de um suposto caso de estupro que envolveu o filho de um dos diretores da RBS. O primeiro veículo a dar essa notícia não foi uma mídia tradicional, mas o já conhecido blog Tijoladas do Mosquito. Sem nenhum tipo de cuidado editorial, o blogueiro Amilton Alexandre jogou em seu site a denúncia, segundo ele seguindo apenas seu ‘faro jornalístico’. O blogueiro não se importou com as consequências, e postou em seu site os nomes dos adolescentes acusados. Como tanto os garotos como a garota são menores, seus nomes não podem ser revelados, nem suas fotos publicadas. Mas há fotos e inclusive diálogos dos garotos no site do Mosquito.
Não existe, no Brasil, uma lei específica para os crimes cometidos pela internet; nesses casos é acionado o código civil. Como a rede mundial de computadores evolui muito rapidamente, antes de uma lei ser finalizada, já está desatualizada, já que a cada dia surgem novos programas, sites e modas que colocam à prova a justiça contra os crimes virtuais. Nesse caso do estupro, o blogueiro nega ter postado o nome dos envolvidos. Segundo ele, apenas teria sido colocado o printscreen do Orkut dos garotos. Ou seja, a informação já seria pública, o que o blog fez foi apenas divulgá-la de outra maneira.
Tratamento editorial
Esse tipo de jornalismo não convive, usualmente, com os dilemas éticos de uma empresa jornalística padrão, embora existam e mereçam análises. Ainda que possam existir anunciantes em sites, eles não têm voz para influenciar pautas. Os valores pagos por eles são irrisórios, e o que mantém o blog geralmente são voluntários. Não existe uma preocupação com o que será publicado, nem sequer com a forma do texto, que muitas vezes exagera nos palavrões e erros de português.
Para os blogueiros, a grande repercussão dos seus escritos é uma novidade. Há poucos anos era insignificante a quantidade de leitores desse tipo de mídia, e por isso ela não incomodava os veículos maiores. Hoje, entretanto, há blogs mais acessados do que portais de notícia. Com relação à credibilidade, os meios tradicionais ainda detêm maior reconhecimento por parte do público. No entanto, cada vez mais vem sendo colocada em xeque a objetividade e a isenção dos grandes jornais e revistas. Esse caso que envolveu um membro de família dona de rede de TV representa bem uma situação em que os blogs têm mais crédito perante os leitores do que os jornais do grupo em questão.
Houve um dilema ético e uma escolha na RBS na hora de tratar este fato que envolveu o filho de um dos seus diretores. O dever da empresa jornalística é priorizar a informação. Se outros fossem os protagonistas, provavelmente outro seria o tratamento editorial. Os leitores habituais do Diário Catarinense passaram a se informar por e-mail, blogs e redes sociais sobre o caso. Se o Tijoladas não houvesse noticiado o fato, ele poderia ter sido censurado e nunca teria ido ao ar. A Rede Record, rival da Globo, tem noticiado em primeira mão o andamento da denúncia, o que já rendeu ao Mosquito uma participação no Domingo Espetacular. Já nos programas/noticiários da RBS, aparentemente se pretende fazer com que a garota, de vítima, passe a culpada, pois há um viés que busca mostrar se, mesmo menor de idade, ela teria ou não concordado com o ato sexual.
O que faz a diferença
Existe um novo tipo de público leitor que duvida da veracidade das notícias e vai aos blogs para ter um contraponto ao que está sendo dito de forma oficial.
O caso do Cala Boca Galvão, sucesso estrondoso no Twitter, foi e ainda é abafado pela Globo por motivos óbvios, mas o fato é que pela primeira vez a população tem um aliado para fazer frente àqueles que se consideram donos dos fatos. O mundo virtual permite que sejam feitas investigações independentes, e não raras vezes blogueiros têm furado a grande imprensa em todo o mundo.
Pode-se dizer que surge um novo tempo em que o jornalista independente passa a ter vital importância para a sociedade, uma vez que ele conhece boas fontes, e agora pode fazer seu próprio veículo para distribuir notícias exclusivas. No caso do Mosquito, um razoável tempo de trabalho na área lhe garante uma rede de fontes que podem fazer a diferença na hora de apresentar uma denúncia. Muitos hoje preferem ligar para ele a informar a mídia dominante, pois sabem que não haverá censura, nem papas na língua na hora do blogueiro postar em seu site uma manchete. Com essa concorrência dos blogs, e-mail, Twitter e redes sociais, os jornais, rádios e TVs, habituados a serem líderes, estão começando a comer poeira na hora de dar notícias – poeira digital.
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Acadêmico de Jornalismo na Universidade Federal de Santa Catarina