Grupos ativistas de liberdades civis contestaram uma decisão da autoridade regional do metrô de San Francisco de desativar os serviços de telefones celulares na semana passada antes de uma manifestação já programada, comparando-a às ações repressivas dos regimes do Oriente Médio. A autoridade de trânsito (Bay Area Rapid Transit Authority – Bart) suspendeu o fluxo de informações em várias estações da região central da cidade – na hora do rush, quinta-feira (11/8) – sem qualquer aviso. A Bart declarou que foi bem-sucedida em impedir um protesto.
A manifestação foi organizada em consequência do segundo assassinato de um suspeito pela polícia da Bart nos últimos anos. Autoridades da Bart disseram que estavam preocupadas porque os protestos em plataformas apinhadas de gente poderiam colocar em risco os passageiros. “Temos que garantir a movimentação dos passageiros e foi por isso que agimos dessa forma”, disse Jim Allison, porta-voz da agência, no domingo (14/8). “Não se trata de uma tentativa de abafar informação.”
A região da Grande San Francisco (Bay Area) abriga ativistas de tecnologia que se empenharam em passar ferramentas anticensura e antimonitoramento aos manifestantes no Egito, China, Egito, China e em outros lugares. E eles se indignaram com o que chamaram uma suspensão sem precedentes nos Estados Unidos, que violava a proteção constitucional aos direitos de liberdade de expressão e de reunião. “Cortar o serviço de telefones celulares em reação a um protesto programado é um ataque vergonhoso à liberdade de expressão”, disse, num depoimento postado em seu website, a Electronic Frontier Foundation (EFF), sediada em San Francisco. “As autoridades da Bart mostraram pensar da mesma forma que o ex-presidente do Egito, Hosni Mubarak, que determinou a suspensão dos serviços de celulares na Praça Tahrir, no início deste ano, em reação a manifestações pacíficas e democráticas.”
Suspensão durou mais tempo
Destacando determinações do primeiro-ministro britânico, David Cameron, no sentido de restringir os serviços das redes sociais durante os distúrbios, a EFF disse que via “histórias de censura chegando cada vez mais perto de casa”. Alguns ativistas disseram que haviam enviado reclamações, via Twitter, à Federal Communications Commission (FCC) americana e Jim Allison disse que havia informado um assessor de imprensa da FCC sobre o que acontecera.
Uma facção do grupo de ativistas hackers Anonymous convocou um protesto mundial para segunda-feira (15/8). Pediu a seus apoiadores que bombardeassem as máquinas de fax da Bart com transmissões em preto, que consomem tinta. A Bart aumentou suas dificuldades com alterações sucessivas para sua explicação dos acontecimentos. Na manhã de sexta-feira (12), a agência – que é uma entidade mantida com verbas públicas – disse que havia solicitado às quatro emissoras de ondas eletromagnéticas sem fios que suspendessem a transmissão. Posteriormente, disse que agira sozinha, cortando a energia elétrica que supria as conexões por onde passavam os sinais.
No domingo (14/8), Jim Allison afirmou que fora mais complicado do que isso. “Basta dizer que a passagem de informações para as conexões na plataforma foi interrompida”, disse. E acrescentou que mais detalhes poderiam permitir que pessoas de fora prejudicassem as comunicações no futuro.
A Bart também reconheceu que a suspensão do serviço durou mais tempo, e afetou mais estações, do que aquilo que fora inicialmente revelado. Jim Allison disse que, no domingo, a suspensão foi de 16h às 19h35 em todas as oito estações de San Francisco – o dobro do número inicialmente divulgado.
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[Joseph Menn é do Financial Times, San Francisco]