Leia abaixo a seleção de sexta-feira para a seção Entre Aspas.
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O Estado de S. Paulo
Sexta-feira, 16 de maio de 2008
PUBLICIDADE
Garoto Bombril e as garotas do Ronaldo
‘Ronaldo, o fenômeno, pode até não gostar. Mas o ator Carlos Moreno, protagonista há 30 anos das campanhas publicitárias da fabricante de produtos de limpeza Bombril, na certa vai fazer muita gente rir. Ele aparece caracterizado como se fosse o jogador e, ao mesmo tempo, como os travestis com os quais ele se envolveu em recente episódio no Rio. Sob a assinatura ‘não leve gato por lebre’, o anúncio será veiculado em revistas de celebridades como Caras e Contigo. Mas é suficiente para incomodar o ídolo do futebol, que apresenta desculpas em série na grade de programação da Rede Globo. Já freqüentou o Fantástico e o matutino de Ana Maria Braga.
Os anúncios de oportunidade, recurso recorrente no meio publicitário, aproveitam fatos que geraram impacto na mídia e recriam situações que favoreçam os anunciantes. ‘Não vamos causar problemas para o Ronaldo’, diz Sérgio Franco, da agência W/Brasil. ‘A série de propagandas tem histórico de brincar com o o Garoto Bombril incorporando personagens.’ E trata-se de uma série e tanto, uma das mais longas da publicidade brasileira.
Já são 344 filmes, fora as peças para impressos, que merecem registro no Guinness, o livro dos recordes. A atual linha da propaganda alerta o consumidor para evitar imitações. O crescimento da concorrente Assolan, com 25% de participação de mercado deu o alerta. A Bombril ainda detém 60% de participação.’
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Agências mudam posição em ranking
‘Duas agências de propaganda ganharam um lugar entre as dez maiores agências do País por movimentação de verbas publicitárias, segundo o ranking do Ibope Monitor referente ao primeiro trimestre deste ano. O relatório preliminar acaba de chegar ao mercado e já provoca uma agitação no meio publicitário.
A NeogamaBBH pulou da 13ª posição para o 7º lugar, e a Giovanni Draft FCB subiu da 11ª posição para o 8º lugar. As agências que perderam faturamento publicitário em relação ao ranking do ano passado e, por isso, saíram da lista das dez primeiras foram a Lew,Lara/TBWA – que perdeu contas importantes, como a da fabricante de cosméticos Natura -, agora na 11ª posição, e a F/Nazca Saatchi & Saatchi, que aparecia na 9ª posição e agora caiu para a 12ª.
A agência Young & Rubicam mantém a liderança do ranking, com R$ 946 milhões de movimentação, graças às verbas do maior anunciante do País, a rede varejista Casas Bahia. A McCann Erickson, que estava na 2ª posição no ano passado, caiu para a 4ª. A AlmapBBDO, que era a 4ª, passou a ser a 2ª. A JWT manteve a 3ª posição.
O relatório do Ibope leva em conta o total dos investimentos em propaganda feito de acordo com a tabela anunciada pelos veículos de comunicação.Não considera os descontos, usualmente praticados no setor e que giram, em média, em torno de 40% do valor de tabela.
Outra alteração no relatório que surpreendeu o mercado, porque o segmento a que se dedica vive momento de forte expansão, foi a queda da agência especializada em marketing imobiliário Eugenio Publicidade, que caiu da 14ª posição, no ano passado, para o 21º lugar, no primeiro trimestre deste ano.
As dez maiores do ranking são: Young & Rubicam, com movimentação de R$ 946 milhões; AlmapBBDO, com R$ 352 milhões; JWT, com R$ 345 milhões; McCann, com R$ 277 milhões; DM9DDB, com R$ 256 milhões; Africa, com R$ 236 milhões; Neogama BBH, com R$ 220 milhões; Giovanni Draft FCB, com R$ 207 milhões; Leo Burnett, com R$ 187 milhões; e Ogilvy, com R$ 174 milhões.’
PEDOFILIA
CPI convoca sites Bebo, Facebook e My Space
‘A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pedofilia, no Senado, aprovou ontem a convocação de representantes dos sites Facebook, My Space e Bebo. Segundo o presidente da CPI, Magno Malta (PR-ES), o objetivo é que os responsáveis assumam o compromisso de cumprir a lei brasileira e combater a pedofilia na internet, a exemplo do que fez o Google.’
CANNES
E foi a vez do argentino Leonera…
‘Talvez seja suficiente dizer que se trata de um autêntico filme argentino. Leonera, de Pablo Trapero, possui as qualidades quase sempre associadas ao cinema do país vizinho. Conta uma história humana, com personagens bem delineados e interpretações sinceras. Ao comentar a seleção de Leonera para a competição, Walter Salles, que tem co-produzido, por meio da Videofilmes, os filmes recentes de Trapero, disse que, se alguém merecia estar em Cannes, era seu colega de Buenos Aires. O bom de Trapero é que ele não se repete. El Bonaerense, Familia Rodante, Leonera. Nenhum filme se assemelha ao outro, embora o conceito de família como inferno e paraíso, que já estava no road movie anterior do cineasta, repita-se agora na história da grávida que vai presa e descobre que, de acordo com a legislação, só poderá permanecer com o filho na cadeia até ele completar 4 anos. O tema de Trapero é como essa mulher traída pelos homens, pela própria mãe (que tentará se apossar do neto) lutará com todas as suas forças para recuperar o menino.
Um filme sobre instinto, que supera a cultura repressora. Sobre uma mulher que amadurece dentro da cadeia e precisa achar um caminho dentro do mundo hostil. Ninguém faz uma travessia assim sozinho e o filme de Trapero é sobre as afinidades eletivas, sobre as fidelidades que compensam as traições, sobre a construção da ética na vida dessa mulher (e o tema é caro ao co-produtor Salles). Trapero constrói seu filme sobre essa situação particular, sem exagerar na psicologização da personagem. E conta com ótimo elenco – a atriz Marina Gusman, sua mulher na vida real, é ótima, numa verdadeira entrega ao longo de todo o processo vivido pela personagem, que, como ela, está grávida nas primeiras cenas. Rodrigo Santoro, que subiu a escadaria do Palais, com Marina e Trapero, para a sessão de gala de Leonera, faz um pequeno, mas importante papel.
Apesar das óbvias virtudes de Leonera, com final aberto, havia pouca gente na coletiva realizada pela manhã, exatamente o contrário do que ocorreu à tarde, quando havia gente pelo ladrão para ver Angelina Jolie, Dustin Hoffman e Jack Black, o trio de dubladores de Kung Fu Panda. A animação de Mark Osborne e John Stevenson é uma produção pessoal de Jerry Katzengerg, da DreamWorks Studios. Promete ser uma das sensações do verão americano. -Angelina, claro, foi a sensação da entrevista. Gravidíssima (de gêmeos), ele teve de falar mais de crianças, de família e Brad Pitt do que propriamente de cinema, embora neste caso as coisas não fossem excludentes.
‘Quando se é pai ou mãe, a gente procura inevitavelmente filmes com boas mensagens para a família’, ela diz. A história do urso panda que é bom de kung fu enquadra-se no conceito. ‘É um filme mais sério do que pode parecer’, advertiu Hoffman. ‘Vivemos numa sociedade em que as pessoas precisam se projetar em super-heróis. A idéia, aqui, é criar um anti-super-herói, alguém muito pequeno, mas que realiza coisas extraordinárias, e nesse sentido vira um verdadeiro herói’, ele concluiu. Angelina teve de falar bastante sobre seu trabalho como embaixadora da ONU, neste momento em que a Ásia )Mianmar e, agora, a China) sofre o efeito de tufões e terremotos. ‘Estar aqui em Cannes é um prazer, porque faz parte do meu trabalho e é melhor ainda porque estou com um filme no qual acredito. em 1980. Como a mundanidade faz parte do folclore de Cannes, houve a inevitável pergunta se Brad Pitt acompanharia Angelina Jolie no tapete vermelho. Ela disse que sim. ‘Ele está agora com as crianças, mas à noite vamos participar da montée des mardches’, ela disse, em francês – antes, já havia dito que, em sua casa, com filhos (adotivos) de tantas nacionalidades, existem professores de francês, vietnamita e cambojano. ‘Queremos que as crianças cresçam conhecendo sua origem e cultura, e não influenciá-los para que adotem a nossa.’
WALTZ WITH BASHIR: nova vertente do documentário animado
VERDADE E ANIMAÇÃO: Houve surpresa quando Dossiê Rê Bordosa foi selecionado para o Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade. Um documentário animado parecia uma novidade muito grande, depois confirmada quando o filme passou e foi premiado no Cine PE. Cannes está tendo agora o seu Dossiê Rê Bordosa na competição. O diretor israelense Ari Folman fez um filme – Waltz with Bashir – que dificilmente será ignorado pelo júri, na premiação. Ainda é cedo para falar em prêmios, mas Bashir parece levar vantagem. Afinal, a diretora de Persépolis, premiado no ano passado, está no júri e Marjane Satrapi abriu sua preferência pelos filmes políticos, que de alguma forma refletem sobre o mundo em que vivemos. Waltz with Bashir inspira-se em experiências da vida do próprio diretor, quando integrou o Exército israelense, na ocupação do Líbano. Ari Folman criou um documentário-animado-verdade. Seu tema é o mergulho de dois homens – um é ele próprio – no horror da guerra que ambos tentaram eliminar da memória. Folman filmou em vídeo e depois apresentou o material à dupla de animadores Yoni Goodman e David Polonsky. Eles não fizeram a animação em cima daquelas imagens. Tomaram-nas como referência. O resultado é ousado, graficamente, mas é a ética que subverte a relação do filme com a platéia. A animação cria um distanciamento, mas, de repente, o diretor lança a platéia no centro de imagens reais do massacre de palestinos por tropas falangistas, aliadas de Israel, em Sabra e Chatyla. A força das imagens, a riqueza da trilha – com uma cena de soldados surfando ao som de rock pesado que lembra Apocalypse Now -, tudo faz de Bashir um acontecimento nesta nova vertente do documentário animado.’
Tutty Vasquez
É nós na fita
‘Depois de O Pagador de Promessas, em 1962, o cinema brasileiro pagou um bocado de mico no Festival de Cannes. Tínhamos sempre lá um cineasta, um ator, uma atriz, o Barretão e 22 jornalistas contra a indústria mundial de estrelas e gênios da sala escura. Teve a zebra de 1986, quando Fernandinha Torres fez um bonito danado, mas, em geral, estávamos na Croisette cumprindo tabela, à espera de um milagre brasileiro, quem sabe um novo Glauber…
Essa fase de heroísmo frustrado já era. Como diria o outro, ‘nunca na história deste país’, o Brasil chegou com um time tão à vontade na festa que rola desde 1946 na Cote D?Azur. Estão lá a trabalho Waltinho Salles, Fernando Meirelles, Daniela Thomas, Rodrigo Santoro, Alice Braga, Matheus Nachtergaele, Lula Buarque, Marisa Monte, Carolina Jabor, Caetano Gotardo e Fernanda Teixeira.
Levamos também o Paulo Coelho no papel que bem poderia ser da Naomi Campbell, o que, cá pra nós, é outro luxo para este Brasil que só existe em Cannes.’
SAÍDA DE MARINA
Amazônia é assunto internacional, diz jornal
‘‘Uma coisa tem que ficar clara. Esta parte do Brasil é importante demais para ser deixada aos brasileiros. Se perdermos as florestas perderemos a batalha contra as mudanças climáticas.’ É assim, num texto curto e direto, que o jornal londrino The Independent fecha o seu editorial de ontem, em que critica duramente o governo brasileiro pela saída da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
Sob o título Salvem os Pulmões do Planeta, o jornal diz ainda que a Amazônia ‘é um recurso precioso para o mundo inteiro, pelo qual todos temos de assumir a responsabilidade’. Além do editorial, o jornal dedica duas páginas à saída da ministra.
Porta-voz de causas ambientais, The Independent define a renúncia da ministra como ‘um tapa no futuro do planeta’. E repete as críticas aos fazendeiros e madeireiros da Amazônia. Acusa o governo de ceder aos lobbies do agronegócio e compara: ‘Quase 25% do total de emissões de carbono do planeta hoje se devem ao processo de desmatamento – superando de longe os 14% produzidos por aviões, carros e fábricas’.
O jornal admite que o Brasil não aceitará pagar sozinho a conta dos erros ambientais do planeta. ‘Por que pagaria sozinho por algo que beneficiaria todo mundo?’ E conclui que a saída será ‘trabalhar por um acordo internacional na próxima etapa do protocolo de Kyoto’.
A queda de Marina também foi abordada pela revista britânica The Economist, para quem a nomeação dela para o ministério em 2003 havia sido ‘como escolher um advogado de direitos humanos para comandar a polícia’.
‘A saída dificultará a tarefa do governo Luiz Inácio Lula da Silva de convencer os observadores de que está determinado a deter o ritmo do desmatamento.’ A revista diz ainda que Marina deixa o cargo com a reputação ‘intacta’ e ‘voltará ao Senado, onde pode dizer o que quer’.’
NEGOCIAÇÕES
Investidor enfrenta o Yahoo
‘O investidor bilionário Carl Icahn quer derrubar o conselho de administração do Yahoo, empresa da qual é acionista, e fazer com que a empresa retome as negociações com a Microsoft. Em carta enviada a Roy Bostock, presidente do conselho da empresa de internet, Icahn indicou dez nomes para o conselho, acusando os diretores atuais do Yahoo de agirem irracionalmente e perderem a confiança dos acionistas e da Microsoft.
Em carta, o Yahoo rejeitou a intenção de Carl Icahn de nomear candidatos (incluindo ele próprio) para o conselho de administração. A empresa afirmou que o atual conselho é o mais qualificado para maximizar valores para os acionistas. O site de buscas acrescentou que, no momento, não há nenhuma proposta de aquisição sobre a mesa, seja da Microsoft ou de qualquer outra companhia, e que as declarações feitas por Icahn são reflexo de um ‘significativo desentendimento’ dos fatos sobre a oferta da Microsoft. O Yahoo disse ainda que está preparado para aceitar uma proposta de US$ 37 por ação.
No começo do mês, a Microsoft retirou sua oferta pelo Yahoo, após o fracasso das negociações em torno do preço de venda da empresa de internet. A Microsoft recusou-se a oferecer mais do que US$ 33 por ação.
Ao indicar os dez nomes para o conselho, Icahn deu início oficialmente à chamada disputa por procurações de voto, técnica que consiste em persuadir os acionistas de uma empresa a eleger um novo conselho, favorável a quem iniciou a disputa. Icahn já comprou mais de US$ 1,5 bilhão em ações do Yahoo desde que a Microsoft desistiu da compra, e pediu autorização à Comissão Federal de Comércio para adquirir um montante de até US$ 2,5 bilhões.
Nos últimos dias, as ações do Yahoo vinham subindo com os rumores de que o bilionário estaria comprando papéis da empresa e de que tentaria derrubar o atual conselho. Na bolsa eletrônica Nasdaq, os papéis do Yahoo subiram 2,3% ontem, chegando a US$ 27,75.
‘É bastante óbvio que a oferta da Microsoft, de US$ 33 por ação, é uma alternativa melhor do que as perspectivas para o Yahoo se a empresa seguir sozinha’, disse Icahn em sua carta. ‘Eu e muitos investidores acreditamos que uma combinação entre Yahoo e Microsoft criaria uma empresa dinâmica.’ Mais importante que isso, disse o investidor, seria um empresa forte o suficiente para competir com o Google.
Conhecido por seu envolvimento em disputas por procurações, Icahn costuma investir em empresas que considera subvalorizadas ou mal administradas.
Um porta-voz da Microsoft não quis comentar a carta de Icahn, dizendo que a empresa de software ‘deixou para lá’. O sentimento reflete o que o presidente da empresa, Steve Ballmer, e outros executivos têm dito publicamente: que eles esperam encontrar outras maneiras de fortalecer suas operações de internet para enfrentar o Google. Mas muitos analistas acreditam que a Microsoft só está fingindo, como parte de um plano de derrubar o preço das ações do Yahoo para ser mais fácil negociar um acordo amigável em alguns meses.
OFERTA REJEITADA
Crise: Jerry Yang, um dos fundadores do Yahoo, reassumiu a presidência da companhia há 11 meses, para tirá-la da crise. Yang e David Filo, o outro fundador do Yahoo, têm juntos cerca de 10% da companhia
Proposta: A Microsoft ofereceu, no começo de fevereiro, US$ 44,6 bilhões, ou US$ 31 por ação, pelo Yahoo. O objetivo da empresa de software é enfrentar o Google, que tem como maior fonte de receita a publicidade via internet. Depois de dez dias, o conselho da empresa de internet rejeitou a oferta, e tomou outras medidas, como um acordo com o Google, com o objetivo de evitar que ela prosperasse
Nova oferta: O presidente da Microsoft, Steve Ballmer, aumenta a oferta para US$ 47,5 bilhões, ou US$ 33, no começo deste mês. Yang e Filo pedem US$ 37 por ação, cotação que os papéis da empresa não alcançaram nos últimos dois anos, e a Microsoft retirou a proposta. Yang argumentou que o valor do Yahoo vai ultrapassar US$ 50 bilhões, com a expansão da publicidade online’
INCLUSÃO
Microsoft se une ao projeto do computador de US$ 100
‘Depois de anos de conflitos, a Microsoft e o projeto de educação e informática Um Computador Por Criança (OLPC, na sigla em inglês) chegaram a um acordo que colocará o sistema operacional Windows nos computadores da organização.
Os laptops com o sistema operacional da Microsoft serão testados no próximo mês.
A Microsoft resistiu por muito tempo a se juntar ao ambicioso projeto porque os laptops da OLPC usavam o sistema operacional Linux – alternativa ao Windows -, que é distribuído de graça.
Os pequenos e robustos laptops foram saudados por seu design inovador. Mas eles são vendidos principalmente para governos em países em desenvolvimento, e as vendas estão em ritmo lento, em parte porque os países relutam em comprar máquinas que não rodam com Windows.
Os ministros de Educação querem computadores de custo baixo que possam ajudar no desenvolvimento educacional, mas geralmente vêem a familiaridade com a computação baseada no Windows como uma habilidade importante, que pode melhorar as chances no mercado de trabalho.
‘As pessoas que compram máquinas não são as crianças que as usam, mas funcionários públicos, na maioria dos casos’, disse Nicholas Negroponte, fundador da OLPC. ‘E todas as pessoas estão muito confortáveis com o Windows.’’
VIDEOCLIPE
Jotabê Medeiros
Arte da ultraviolência
‘Mais de 1 milhão de pessoas já viram esse videoclipe no MySpace, YouTube e DailyMotion. Na França, está no centro de um quente debate no momento: dirigido por Romain Gavras (filho do cineasta Costa-Gavras), o clipe da música Stress, da dupla francesa de electro Justice, já foi apelidado até de ‘Laranja Mecânica do Terceiro Milênio’.
A ação é providenciada por uma gangue de garotos (alguns negros, outros com feições que sugerem filhos de imigrantes) que zanza pelos subúrbios e pelas ruas de Paris barbarizando, batendo, espancando, chutando, molestando pessoas. É ultrarealista e, embora protagonizado por atores, há relatos de pessoas que viram e passaram mal.
Sua atmosfera de hiperviolência e brutalidade está causando reações fortes. O sindicalista Frédéric Lagache, da polícia francesa, disse que o tipo de abordagem que o filme mostra é ‘inaceitável, intolerável’ e que o filme faz a ‘apologia da violência, um crime reprimido pela lei’.
O filósofo espanhol Eduardo Subirats, professor da New York University, ouvido pelo Estado, demonstrou enérgica aversão ao clipe. ‘É mais um filme dessa mescla de cinismo, irresponsabilidade e genocídio que hoje define as políticas globais sufragadas pela União Européia e os Estados Unidos da América. Anunciam algo muito pior que as visões apocalípticas de Orwell ou Huxley.’
O guitarrista Edgard Scandurra, da banda Ira!, também viu o videoclipe e fez um trocadilho com o nome do grupo ao emitir sua opinião, dizendo que o filme faz ‘Justiça’ ao grupo. ‘O pessoal está meio estressado, não acha? O mundo anda de cabeça pra baixo e a cultura da violência e do mal atrai mais do que a do amorzinho’, ponderou. ‘De resto, para um artista, um clipe polêmico acaba ajudando. Ando meio cético com o valor dos videoclipes. Prefiro o Daft Punk.’
O diretor do clipe, Romain Gavras, declarou, a respeito da polêmica: ‘A brutalidade pode parecer nociva, mas a 75 Prod, a nossa produtora, não está incomodada. Nós estamos trabalhando com a informação. Por que denunciar os artistas que denunciam a violência?’
O artista plástico Yuri Firmeza (leia seu texto na página 3), cujo trabalho consiste em intervenções que visam a causar reações do público, analisa a atração que o clipe exerce como uma ‘excitação voyeurística em torno da atrocidade’, algo típico dos tempos modernos.
O jornalista americano David Knight defendeu o filme, dizendo que, se ele pode ser acusado de fazer apologia da violência, também o deverão ser filmes como Laranja Mecânica, La Haine e Man Bites Dog.’
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Sete minutos de pura controvérsia
‘Ontem à noite, os garotos controversos responsáveis pelo clipe Stress, do Justice, seriam confrontados com toda a imprensa mundial no Festival de Cannes, para onde foram convidados. À frente do cortejo, Romain-Gavras, o diretor do clipe, que tem 26 anos e também milita num coletivo artístico chamado Kourtrajmé, ligado à cultura hip-hop, e que produziu trabalhos como o clipe de I Believe, do Simian Mobile Disco.
Vive imerso na cultura pop: em sua página no MySpace, declara-se fã do Daft Punk e do Ministere Amer, e do filme O Charme Discreto da Burguesia. Dirigiu também o clipe The Age of Understatement, do Last Shadows Puppets.
Gaspard Augé e Xavier de Rosny, a dupla Justice, nunca foram tão populares mundo afora. Eles já ganharam o prêmio mais importante da música local, o Victoires, mas agora estão bombando. O clipe de 7 minutos que divulga sua música está sendo debatido dos Estados Unidos à Romênia, e as conclusões raramente são equilibradas.
Os músicos do Justice não se esquivaram de falar sobre o seu polêmico material. Augé, de 28 anos, e Rosnay, de 25 anos, soltaram uma declaração conjunta à imprensa francesa: ‘Estamos conscientes que o clipe está sujeito à controvérsia. Nós não imaginamos um só instante que o debate iria tão longe, que nós teríamos de nos justificarmos por acusações tão graves’, disseram. ‘O filme não pode ser visto como uma estigmatização do subúrbio, como uma incitação à violência ou, mais ainda, como um meio torpe de veicular uma mensagem racista.’
Eles foram convidados para tocar na abertura do Festival de Cannes, no Vip Room, o megaclube da Croisette, às 2h30 da manhã, acompanhados do DJ Medhi, para animar a noitada dos 2 mil convidados famosos da mostra. Apesar da farra, suas explicações ainda ecoavam por toda a França: ‘Nós sempre quisemos deixar ao espectador a escolha de ver ou de ignorar, sem jamais tentar orientar seu pensamento, porque essa é a idéia que nós cultivamos da arte e da diversão.’
Mas suas intenções em relação à violência urbana não convencem muita gente. Segundo o filósofo Eduardo Subirats, há um fundo de preconceito e uma estratégia de segregação no videoclipe Stress, de Gavras (cujo pai, ironicamente, ficou famoso ao fazer filmes de esquerda, como Z).
‘Os governos da França e Itália decidiram expulsar 8 milhões de ‘sem-documentos’ da União Européia. A palavra em espanhol para isso, ‘indocumentado’, é uma metáfora da expressão midiática que designa seres humanos desprovidos de uma função econômica nas economias de mercado, e que são, por conseqüência, indesejáveis. É um conceito implicitamente racista, herdeiro da tradição nazista – material humano sem função econômica destinado aos campos de extermínio’, disse Subirats, fazendo um paralelo com o nazismo.
Para ele, o vídeo de Romain-Gavras é ‘uma representação propagandística desses ‘sem-documentos’ como criminosos’, por causa das feições dos atores do clipe, que parecem filhos de imigrantes. ‘É a mesma estratégia propagandística usada nas campanhas nazistas antes e durante a Segunda Guerra’, considerou. E foi além: ‘Serve para distrair a atenção das campanhas de extermínio humano que se levam a cabo na Colômbia, no Iraque ou no Afeganistão.’
Nem todo mundo é tão ácido em relação ao trabalho. Tahar Chender, responsável pela companhia discográfica Because, disse que ‘a idéia de base do clipe’ sugere apenas que o cineasta procurou fazer ‘uma paródia do tratamento da informação pelas grandes redes de televisão’. Os garotos que barbarizam pelas ruas no filme estão sendo ‘filmados’, e em alguns momentos se voltam contra os cinegrafistas que os seguem, atacando as câmeras.
Mohamed Bamigi, fundador do Blondy Blog, afirmou que o clipe não faz mais do que ‘superpor imagens violentas com uma música agressiva’, e que não denuncia nada.
Stress é a 10ª faixa do disco Cross, lançado no Brasil pelo selo Ed Banger. A capa do disco sugere um esquife, um caixão de defunto em forma de cruz, o mesmo símbolo que os garotos do clipe usam nas costas dos seus casacos. Os músicos têm demonstrado convicção de que é possível fazer uma música eletrônica com grande apelo não só ao corpo, mas também à mente. Muitos já os compararam ao Daft Punk, mas eles parecem se assemelhar mais ao Basement Jaxx.
Cross é o disco com o qual foram apresentados ao mundo. O grupo Justice está em turnê. Nesta segunda-feira, estará tocando no Olympia de Paris. Depois, passam por Dijon, Nantes, Arras e Angoulême, e também participará de diversos festivais de música na temporada, como o Les Voix du Gaou de Six Fours, no fim de julho, e o Rock en Seine em Saint-Cloud, no final de agosto.
JUSTICE, ISABELA, STRESS: OS ESPELHOS NA NOSSA FACE SÁDICA
VOYEURISMO ATROZ: Hoje acordei cedo com o som de algumas tevês sintonizadas no mesmo canal. Não foi preciso muito tempo para que eu percebesse o motivo do frisson causado nos vizinhos. Hoje seria anunciado o resultado do pedido de habeas-corpus dos pais de Isabela. Eu, que não tenho tevê em casa, sei de todos os pormenores do crime que virou novela.
Nós, eu e vocês, que estamos lendo este texto, somos trespassados pelas infinitas reconstituições do crime, na internet, nos destaques de jornais, em capas de revistas, em centenas de e-mails, nas conversas nos ônibus, nas rádios e em todas as manchetes do jornal televisivo, gerando uma excitação voyeurista em torno dessa atrocidade que rapidamente se configura em espetáculo. Todos de olhos grilados na frente da tevê, compartilhando, mesmo que inconscientemente, com o jogo apitado pela mídia.
No clipe da música Stress, do Justice, estamos diante de uma ‘situação-limite’ dessa exacerbação da violência. O microfonista manuseando uma vara de microfone boom aparece em quadro – no fim é ateado fogo em sua roupa. A mão de um dos integrantes da gangue tampando a câmera. O olhar frontal para a câmera, a cuspida e a garrafada no fim do clipe nos arremessa para uma posição menos passiva diante da imagem.
Ao romper com uma narrativa de ‘cinema fechado’, o clipe confunde o espectador sobre a natureza do que está sendo mostrado. Aí, talvez, resida a ‘perversidade’ do clipe. Revela bruscamente o que preferimos ignorar. Ou seja, coloca um espelho na nossa face sádica. Somos flagrados com os olhos atentos esperando a próxima reconstituição do crime e o ápice das cenas, que, à semelhança das novelas, sempre ficam para o próximo capítulo. Pelo visto, amanhã acordarei cedo outra vez.
YURI FIRMEZA É ARTISTA PLÁSTICO’
TELEVISÃO
Rede Vida quer conteúdo da Pan
‘Impressionada com a qualidade da TV Jovem Pan (jovempanonline.com.br), nascida há menos de um ano na web, a direção da Rede Vida procurou a família Amaral de Carvalho com a proposta de levar para a tela convencional de TV parte do conteúdo produzido pela Pan. Mas o proprietário da Pan, Antônio Augusto Amaral de Carvalho, o Tuta, acredita que seja cedo para tanto. ‘Temos que consolidar esse trabalho, ainda há muito a fazer’, fala Tuta.
Quinta maior rede de distribuição de sinal no País, a Rede Vida tem hoje, nas contas do diretor da emissora, Monteiro Neto, potencial para alcançar mais de 110 milhões de brasileiros via sistema aberto – o canal está também nos pacotes básicos das principais operadoras de TV paga. ‘Temos profunda admiração pela credibilidade da Jovem Pan e pelo trabalho que eles estão realizando na web e estamos prontos para distribuir o que eles puderem disponibilizar de conteúdo, nem que seja por uma hora diária’, diz Monteiro Neto.
Sob o comando de Nilton Travesso – ele e Tuta se conhecem desde a inauguração da TV Record, em 1953 – a Jovem Pan online tem até agora sete câmeras e dois estúdios de TV. Providenciou figurino padronizado (com as iniciais JP na lapela) e repaginou ligeiramente a turma que antes só mostrava a voz. Com uma vantagem: habituado a falar no rádio à vontade, o time dispensa teleprompter. ‘Aqui ninguém precisa disso’, gaba-se Tuta.
ACERVO MUSICAL
Mas o xodó do patriarca é o acervo musical que deu origem ao novo canal da casa na web. Tuta cria e supervisiona pessoalmente capinhas para mais de 800 vídeos musicais. ‘Muita coisa nem as gravadoras têm’, conta. São shows de 20, 30, até 50 anos atrás, comprados por ele em viagens pelo mundo.’
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Folha de S. Paulo
Sexta-feira, 16 de maio de 2008
ASSUNTO
Crônicas contemporâneas
‘RIO DE JANEIRO – O drama dos cronistas sempre foi o assunto. Mas hoje, embora eles abundem, parece que todos embarcam sempre nas mesmas canoas. Começa a ficar bem chato e previsível. Tudo sempre parece girar em torno do governo, do oficial, do institucional, para o bem e para o mal, como se o mundo em volta não existisse.
Os grandes cronistas, como Rubem Braga e Fernando Sabino, também tinham seus problemas com os assuntos, e encontravam em seu talento e sua sabedoria as formas de entreter e divertir o leitor. Mas, se escrevessem hoje, coitados, como todos nós nessa árdua atividade, seriam quase obrigados a comentar os escândalos políticos, as falcatruas, mentiras e sem-vergonhices que explodem todos os dias nos jornais, rádios, TVs e blogs.
Não que exista mais corrupção hoje do que nos tempos dos grandes cronistas, mas a eficiência da PF e a do Ministério Público na democracia a trouxeram à luz e levaram-na ao centro das atenções.
Será que Rubem Braga, autor de célebre crônica apocalíptica sobre a devassidão de Copacabana na virada dos anos 60, não escreveria nada sobre mensaleiros, sanguessugas e aloprados? Ou sobre o novo mundo do clepto-sindicalismo?
Mas também seria muito divertido ler crônicas de Nelson Rodrigues sobre o MST, os quilombolas, as elites sindicais, os ecochatos, a ‘bolsa-ditadura’, as cotas raciais, o politicamente correto. Quantas gargalhadas perdemos, sem a veia tragicômica de Nelson, durante os dias inesquecíveis do caso Renan Calheiros.
Hoje há cronistas por toda a parte, cada um pode ter o seu próprio blog. Mas os melhores e os piores se aproximam quando todos escrevemos variações sobre o mesmo tema: escândalos e baixarias no país da piada pronta.
Está difícil mudar de assunto.’
TODA MÍDIA
Do Comando Sul
‘No topo das buscas de Brasil no Yahoo e nos sites de ‘New York Times’ e ‘Washington Post’, ontem, o texto ‘EUA reasseguram Brasil sobre frota e águas territoriais’, de Raymond Colitt, da Reuters. Foi uma entrevista em Brasília do chefe do Comando Sul dos EUA, quanto ao restabelecimento da Quarta Frota, voltada à América Latina -e ‘foco de preocupação’ por aqui, como admite o almirante americano. Diz que os EUA vão respeitar as 200 milhas, onde estão as novas reservas de petróleo do Brasil, e que a Quarta Frota tem propósitos ‘principalmente’ pacíficos.
ENTRE EUA E EUROPA
Começa hoje no Peru a cúpula de países da Europa e da América Latina, mas temas como inflação dos alimentos e pobreza ‘podem ser postos de lado’ pelas notícias sobre o conteúdo dos computadores das Farc, ressaltou a americana Associated Press.
As evidências de oferta de armas do venezuelano Hugo Chávez ao grupo colombiano estavam na primeira página do ‘Washington Post’, na edição de ontem. E à noite ganharam destaque de Globo e demais, também por aqui.
E OS BRICS
Sites como o australiano ‘The Age’ deram ontem a reportagem ‘Encontro dos Brics busca transformar força econômica em poder’, da Bloomberg. Os Brics ‘estão falando em formar uma aliança política’ na reunião de seus chanceleres na Rússia, com ‘agenda de assuntos não-econômicos como armas e o combate ao terrorismo’.
De lá, para a Agência Brasil, Celso Amorim falou em ‘reunião de caráter histórico’, que prova de que ‘a geografia mundial está mudando’.
AMAZÔNIA E SOBERANIA
Em Manaus, o ministro Roberto Mangabeira Unger deu entrevista em inglês à BBC e declarou, sobre o Plano Amazônia Sustentável, que pretende ‘reconciliar três compromissos: com a conservação, com a produção e o compromisso de defesa da nossa soberania’
CONTRA MANGABEIRA
De Paris, o novo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, criticou o governador Blairo Maggi na Globo e iniciou ‘briga’. Mas seu alvo é outro, como evidenciou em coletiva -e daí para a manchete dos sites e portais e a escalada dos telejornais: quer Jorge Viana no lugar de Mangabeira Unger, na coordenação do PAS.
Viana que, segundo o blog de Lauro Jardim, atacou Mangabeira na conversa com Lula: ‘Não é por ter ido lá duas vezes que pode dar veredito sobre a Amazônia. Ele pode ser professor dos professores em várias áreas, mas é aluno de telecurso na Amazônia’.
‘CHAMPION’
Marina Silva segue motivando elegias pelo exterior, com editorial no ‘Independent’ e texto na ‘Economist’, ambos contrariados pela saída da ‘defensora’ (champion) da floresta tropical. O ‘NYT’ deu nota sobre o ‘choque’ na comunidade ambiental internacional
O ‘JEITINHO’ E O ‘GUANXI’
Em longa série de cinco textos sobre investimentos no exterior, o site americano WRAL concentrou a atenção quase inteiramente no Brasil e na China.
Mais precisamente, nos ‘conceitos de favor’ de cada um, o ‘jeitinho’ e o ‘guanxi’. No caso do Brasil, avisou em detalhe para as relações familiares e outras de compadrio. E disse que os favores são muitas vezes condição incontornável, nos dois países, mas ‘podem representar problemas’, até legais, mais para a frente.’
COLUNA
Gustavo Franco estréia como colunista da Folha amanhã
‘O economista Gustavo Henrique de Barroso Franco, 52, um dos idealizadores do Plano Real, estréia amanhã como colunista da Folha, na pág. A2.
Franco já contribuiu regularmente com o jornal nas seções ‘Opinião Econômica’ e ‘Roteiro de Investimentos’ de julho de 1990 a maio de 1993, quando Fernando Henrique Cardoso se tornou ministro da Fazenda e o nomeou secretário-adjunto de Política Econômica. Ficou no posto até outubro daquele ano, quando assumiu a Diretoria de Assuntos Internacionais do Banco Central. Em agosto de 1997 tornou-se presidente do BC, no lugar de Gustavo Loyola. Deixou a instituição em janeiro de 1999, no início do segundo mandato de FHC. No ano seguinte fundou a Rio Bravo Investimentos, empresa de serviços financeiros, fusões, aquisições e securitizações.
Franco considera a Folha ‘um espaço importantíssimo para o debate nacional’: ‘Para mim é um privilégio ocupar esse espaço para dar a minha versão sobre o que é a racionalidade econômica’.
Filho de Guilherme Arinos de Barroso Franco, secretário particular do presidente Getúlio Vargas, Gustavo Franco nasceu no Rio de Janeiro, em 10 de abril de 1956. Formou-se em economia em 1979 na PUC do Rio, e lá defendeu seu mestrado em 1982. Doutorou-se em economia pela Universidade Harvard em 1986 com uma tese sobre hiperinflação. De volta ao Brasil, passou a lecionar na PUC, onde permanece até hoje. Também foi professor visitante nas universidades da Califórnia, Harvard e Stanford.
Publicou, entre outros livros, ‘ Reforma Monetária e Instabilidade Durante a Transição Republicana’ (1983), ‘Foreign Direct Investment and Industrial Restructuring’ (com Winston Fritsch, 1991), ‘O Plano Real e Outros Ensaios’ (1995), ‘O Desafio Brasileiro’ (1999) e ‘Crônicas da Convergência’ (2006). No ano passado lançou ‘A Economia em Machado de Assis’, uma coletânea de crônicas do escritor sobre temas econômicos, e relançou ‘A Economia em Pessoa’ -reunião de escritos de Fernando Pessoa sobre economia.’
TEMPOS MODERNOS
Mãe discute com o marido pela webcam e ameaça matar o filho
‘Um brasileiro que vive no Japão assistiu ontem, pela internet, o filho de quatro anos ser ameaçado de morte pela mãe, em Rio Branco do Sul (região metropolitana de Curitiba).
A professora Márcia Aparecida Sensi, 35, que foi presa, se desentendeu com o marido sobre a documentação necessária para se mudar com os três filhos para o Japão. O casal começou a discutir por meio de uma webcam, na internet. Em depoimento, a mulher negou ter ameaçado os filhos.
No Japão, o marido viu, segundo a polícia, a mulher apontar uma faca de cozinha para o pescoço do filho, que estava em seu colo. Ela teria ameaçado matar a criança na frente da câmera se o marido não conseguisse os papéis para a viagem.
Os outros dois filhos do casal, de seis e nove anos, também foram trancados por ela na sala onde fica o computador.
A mãe da professora chamou a polícia, pois pouco antes de se trancar com os filhos na sala, Sensi a expulsou de casa.
As negociações com Sensi começaram por volta das 8h e três horas depois, a polícia conseguiu convence-la a se entregar. Os filhos foram liberados sem ferimentos.
A polícia suspeita que Sensi tenha tido um colapso nervoso ao saber que o marido estava tendo dificuldades para obter os documentos para a viagem.
As três crianças foram entregues ao Conselho Tutelar e deverão ficar sob a guarda da avó materna. Todas choravam ao sair de casa sob escolta policial.
A professora saiu de casa em uma ambulância. Recebeu sedativos e foi presa.
Em depoimento, ela negou ter ameaçado os filhos e mantido as crianças em cárcere privado. Disse que discutiu com o marido porque seu visto de entrada no Japão estava vencido e ela suspeitou que o marido pudesse estar desinteressado em resolver o problema.’
TELEVISÃO
Prejuízo acumulado absorve lucro da Record
‘Pelo terceiro ano consecutivo, a Record teve lucro. Segundo Alexandre Raposo, presidente da emissora, o lucro líquido em 2007 foi de R$ 83 milhões, resultado 60% superior ao de 2006 (R$ 52 milhões).
Apesar da melhora no lucro líquido, o lucro antes de impostos (R$ 107 milhões) foi inferior ao de 2006 (R$ 200 milhões). Isso se explica, de acordo com o executivo, pelo fato de a emissora ter investido mais em instalações e produção em 2007 e pela maior dedução de Imposto de Renda em 2006, devido ao horário eleitoral.
Assim como nos dois anos anteriores, todo o lucro da Record foi absorvido pelos prejuízos acumulados de 1990, quando o bispo Edir Macedo comprou a rede, até 2004, informa ata publicada no ‘Diário Oficial’ do Estado de anteontem.
O lucro da Record, segunda maior rede do país, ainda é pequeno perto do da Globo. A Globo, de acordo com balanço divulgado em março, teve lucro líquido de R$ 559,5 milhões em 2007, ou seja, 6,7 vezes maior do que o de sua concorrente mais próxima. No ano passado, a TV Globo (sem contar participações em outras empresas) faturou R$ 5,4 bilhões. A Record declara ter faturado R$ 1,380 bilhão. Neste ano, pretende atingir R$ 1,7 bilhão.
Parte dessa receita vem da Igreja Universal, que paga entre R$ R$ 300 milhões e R$ 400 milhões pelo espaço que ocupa nas madrugadas.
ALERTA 1 O Ministério da Justiça está monitorando os programas de Tom Cavalcante na Record. Acaba de reclassificar o ‘Show do Tom’ dos sábados, já exibido após as 23h, como inadequado para antes das 21h, por expor negros, gays e mulheres a ‘situações degradantes’.
ALERTA 2 O ministério promete até o final do mês decisão sobre ‘Show do Tom’ das tardes de domingo. Se houver reclassificação, o que é provável, terá que mudar de horário.
TÔ ROUCA Ainda com voz de travesti, Maria Loura reapareceu ontem no ‘Mais Você’. Mas contou fofoca defasada. Disse que Luma de Oliveira se candidatará à presidência da escola de samba Viradouro. Ela já desistiu.
DE VOLTA 1 Autor de grandes sucessos como ‘Sangue do Meu Sangue’ e ‘Pigmaleão 70’, mas sumido da TV, Vicente Sesso negocia duas sinopses com o SBT.
DE VOLTA 2 Pai do ator e diretor da Globo Marcos Paulo, Sesso completa 75 anos amanhã. Seus últimos trabalhos originais no Brasil foram ‘Cara a Cara’, na Band, em 1980, e a minissérie ‘Tereza Batista’, na Globo, em 1992.
ACTORS STUDIO Preta Gil ‘criou’ uma técnica de manifestar emoção com os pulmões. Em ‘Caminhos do Coração’ (Record), anteontem, ao ser seduzida por Rocco Pitanga, ela ofegava tanto, mas tanto, que parecia estar passando mal. Quase ofusca a estréia de Natália Guimarães, que, como atriz, é uma ótima ex-miss.’
Folha de S. Paulo
Lula grava homenagem para Faustão
‘Antes de partir em viagem para o Peru, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva gravou ontem uma participação na milésima edição do programa ‘Domingão do Faustão’.
Segundo o Planalto, o presidente improvisou o conteúdo da homenagem de cerca de 30 segundos e mencionou o quadro ‘Superação’, que mostra histórias de pessoas que superaram adversidades.
Mais cedo, Lula havia se emocionado ao ouvir a apresentação de crianças de uma orquestra de Coque, um bairro de Recife.’
MÚSICA
Liberação de sambas de Noel divide artistas
‘Desde o primeiro dia do ano, Noel Rosa é do povo. Segundo a lei brasileira dos direitos autorais, os herdeiros de um compositor deixam de receber pela sua obra no ano que sucede o 70º aniversário da morte do artista. O sambista de Vila Isabel, vitimado pela tuberculose em 1937, é um dos primeiros compositores populares do país a cair em domínio público.
Tecnicamente, isso significa que qualquer pessoa pode fazer uso dos 108 sambas que Noel escreveu sozinho sem se preocupar com o Ecad, órgão que cuida da arrecadação dos direitos autorais das obras protegidas. Entre eles, estão os sucessos ‘Com que Roupa’, ‘Fita Amarela’ e ‘Três Apitos’.
A regra não vale para ‘Conversa de Botequim’, ‘Pierrot Apaixonado’, ‘Pastorinhas’ e tantas outras canções que Noel escreveu com parceiros que morreram há menos de 70 anos (neste caso, as famílias de Noel e dos parceiros seguem administrando e recebendo pelo uso das músicas). No total, o Poeta da Vila compôs 259 temas, número impressionante para alguém que viveu só 26 anos.
Co-autor da biografia que catalogou os sambas de Noel (‘Noel Rosa: Uma Biografia’, com João Máximo), Carlos Didier chama atenção para o ‘sentido belo no domínio público’. ‘A turma só pensa em grana. O sentido seria: volta ao povo o que do povo nasceu.’
O fato inspirou Ronaldo Lemos, professor da Fundação Getúlio Vargas e diretor do Creative Commons, a bolar ‘Noel, Domínio Público: Recriando, Remixando, Disseminando’. O projeto, que deve tomar corpo no próximo semestre, pretende reunir um grupo heterogêneo de artistas novos para reler o repertório de Noel não mais protegido por lei.
O material será gravado em CD e encartado com um livro e um DVD-R com todas as faixas de áudio abertas, prontas para remixagens do público. Tudo isso também estará na internet. O Sesc, parceiro da empreitada, ainda abrigará um show reunindo os músicos envolvidos.
Soa bastante ambicioso. Mas Lemos não acredita que o projeto possa gerar uma febre de Noel Rosa ou mesmo a superexposição de sua obra. ‘A avalanche de informações e de conteúdo disponível faz com que a atenção das pessoas fique totalmente dispersa. Não fosse essa iniciativa, é possível que ninguém nem tivesse percebido que sambas do Noel já estão em domínio público’, afirma.
Dylan brasileiro
Escalado para a direção artística, o cantor e compositor Lucas Santtana crê que o projeto possa levar Noel aonde ele ainda não chegou. ‘A geração da Mallu Magalhães conhece Bob Dylan, mas não conhece Noel Rosa, cujas letras são tão atuais, sarcásticas e críticas da sociedade moderna quanto as de Dylan. A intenção é tirar Noel do pedestal e colocá-lo novamente na rua, lugar que foi inspiração para toda a sua obra.’
Dentre os nomes de músicos e bandas que estão sendo cogitados para integrar ‘Noel, Domínio Público’, constam os dos paulistanos Curumin e Hurtmold, do gaúcho Marcelo Birck, do paraense La Pupuña, do alagoano Wado e do cearense Cidadão Instigado.
Fernando Catatau, do Cidadão, diz que se for chamado para participar dará o seu melhor (‘Até porque não quero ninguém puxando meu pé quando estiver dormindo’), mas se vê numa posição contraditória. ‘Não gosto da idéia de ouvir as faixas dos meus ídolos abertas. Perde a magia. Não quero ouvir só a guitarra do Jimi Hendrix. Aquilo só faz sentido para mim com a gangue dele tocando.’
Beth Carvalho, que acaba de participar de um concerto calcado no repertório de Noel, considera válida qualquer iniciativa de se perpetuar suas criações. ‘Sempre vão existir deturpações. Mas ele era tão genial que fica difícil alguém conseguir estragá-lo’, diz. Ela só lamenta que a família do sambista não vá mais receber os direitos autorais. Acha que as composições nunca deveriam cair em domínio público.
‘Grande bobagem’
Já o compositor, cantor e escritor Nei Lopes não vê com bons olhos a idéia de ‘reconstruir’ sambas de Noel. ‘Me parece uma grande bobagem, principalmente por se tratar de uma obra sempre atual e irretocável. Isso é fruto de um certo pensamento (no fundo, racista) de que samba é algo menor, velho, passadista, pobre, que não evolui, quando as evidências estão aí mostrando que, desde 1917, o nosso gênero-mãe se renova quase a cada década’, diz. E indaga: ‘Numa hora dessas como é que fica o tombamento do samba realizado pelo Ministério da Cultura?’.
Ciente de que o projeto gerará debate e manifestações como a de Lopes, Ronaldo Lemos lembra que ‘o próprio Noel criou muita coisa bacana porque trafegava entre vários mundos musicais diferentes no começo do século passado. Quanto mais a obra dele trafegar entre mundos diferentes, maior será a homenagem’.
Santtana já deu uma contribuição informal transformando ‘Com que Roupa’ num hino de exaltação ao Flamengo. Sobre a melodia, ele criou versos para incentivar o clube carioca na Taça Libertadores da América. Antes da aprovação do presidente das torcidas organizadas, o time foi eliminado do torneio. O músico ficou só com o sonho. ‘Já pensou? O Maracanã lotado cantando Noel?’.’
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Família ainda tem poder de veto, mas apóia projeto
‘A funcionária pública aposentada Irami Medeiros Rosa de Melo, 69, ficou feliz com a descrição do projeto ‘Noel, Domínio Público’.
‘Pelo jeito, vai enaltecer muito a obra do tio Noel.’ A sobrinha do Poeta da Vila divide com a irmã Maria Alice Joseph, 67, a administração dos direitos do compositor.
Sim, os direitos patrimoniais, econômicos, de parte dos sambas acabaram. Mas existem os direitos morais, que são inalienáveis e permitem que as herdeiras vetem qualquer iniciativa que julgarem desrespeitosa com a memória do tio.
‘Teve uma peça de quinta categoria sobre a vida dele que a gente não autorizou’, conta Irami. Apesar de não ter convivido com o parente, ela afirma que defenderá o nome da família sempre que necessário.
Ou seja, Noel Rosa está liberado, mas nem tanto. Quanto aos sambas terem caído em domínio público, Irami acredita que isso seja positivo, pois pode ajudar o cancioneiro de Noel a ficar mais conhecido. E informa que o dinheiro que o Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) costumava repassar por trimestre muitas vezes não chegava a R$ 3.000, quantia que, segundo diz, não fará falta nem para ela, nem para a irmã, que mora nos Estados Unidos.’
Plínio Fraga
Caetano canta taras e travestis
‘Na estréia de ‘Obra em Progresso’, o show que começou a ser visto anteontem no Rio, Caetano Veloso expôs taras, travestis e sacanagens -inclusive a americana em Guantánamo -numa relaxada e gozada apresentação do embrião do próximo disco do compositor baiano. Caetano abre as quase duas horas no palco do Vivo Rio com ‘Perdeu’, em que o protagonista é descrito como aquele que ‘fodeu até cansar’, uma das seis inéditas da noite.
Três músicas mais tarde, apresenta ‘Tarado’, em que o refrão ‘tarado ni você’ merece explicação. Caetano conta que uma amiga inglesa ensinou a ele, na Nigéria, que a expressão ‘ni’ em iorubá é o inverso de ‘in’ em inglês e tem ‘em’ como equivalente em português. Sacanamente sorridente, embala os versos ‘tarado ni você, ni mim, no Carnaval, deixa eu gostar de você’. Repete mais de meia dúzia de vezes: ‘Tarado, tarado, tarado’.
Caetano entra na seara da guerra norte-americana contra o terror ao mostrar ‘Base de Guantánamo’, composição inédita sua sobre a base militar que existe desde 1898 na costa sudeste de Cuba e que vem sendo utilizada como detenção para prisioneiros supostamente ligados à rede terrorista Al Qaeda -muitos mantidos sem sequer acusação formal.
Uma guitarra nervosa de Pedro Sá ajuda a sombrear a frase engajada: ‘O fato de os americanos desrespeitarem os direitos humanos em solo cubano é por demais forte simbolicamente para eu não me abalar’, canta Caetano.
A letra é só essa e ele repete o refrão, com variações: ‘Guantánamo, base de Guantánamo, base da baía de Guantánamo’. O público, que não tem mais de 2.000 pessoas -presentes no primeiro de uma série de apresentações que prosseguirá em 28 de maio e nas quartas-feiras de junho-, vibra.
É a canção editorial da noite, como gosta de definir, uma toada anti-EUA oposta ao que versejava em ‘Americanos’, do LP ‘Circuladô Vivo’, de 1992, em que dizia que os ‘americanos representam boa parte da alegria existente neste mundo’.
Quem se surpreendeu com o Caetano político pôde sorrir na canção imediatamente seguinte. Como a debochar dos defensores da arte engajada, Caetano canta ‘Leãozinho’, hino do desprendimento político dos anos 70, razão de ameaças constantes ao cantor durante os shows politizados daquela década. ‘Se cantar ‘Leãozinho’, leva porrada’, foi ameaçado Caetano por um líder estudantil durante um show na Associação Brasileira de Imprensa em 1979.
Ronaldo
No que chamou de aspecto ‘jornalístico’ que a série de shows terá, Caetano resgatou ‘Três Travestis’, música sua gravada por Zezé Motta em 1982. ‘Três travestis/ Três colibris de raça/ Deixam o país/ E enchem Paris de graça’. Alguém gritou: ‘Fenomenal!’ A platéia gargalhou e confundiu Caetano, que teve de recomeçar a canção.
Em seguida, discursou: ‘Ronaldo não tem que pedir desculpa, não tem que pedir perdão. Qual é o problema? A vida é bonita e complexa, não tem que dar explicação para nós. O que aconteceu lá dentro, a parte íntima, não interessa a ninguém. O futebol de Ronaldo é poesia e a poesia tem que se impor’. E continuou: ‘Sem querer desmerecer as outras três pessoas envolvidas, Ronaldo tem toda razão quando disse que não quis pagar porque estava sendo ameaçado. Quem diz isso é craque’.
Caetano elogiou a rima dos próprios versos -sempre terminados em is e aça: ‘Não sou nenhum Chico Buarque, mas a sonoridade é muito bonita’.
O cantor recebeu como convidados na estréia Jorge Mautner, Nelson Jacobina e os percussionistas baianos gêmeos Josino Eduardo e Eduardo Josino. Com a Banda Cê -Ricardo Dias Gomes (baixo e teclado) e Marcelo Callado (bateria), além de Pedro Sá (guitarra)- Caetano apresentou 23 canções, sendo seis delas inéditas.
Recuperou ‘Pé da Roseira’, uma ciranda de roda composta por Gilberto Gil no final dos anos 60. ‘Recife foi fundamental para o início do Tropicalismo’, lembrou Caetano. ‘Foi o primeiro ponto de cultura do ministro Gilberto Gil’, gracejou sobre o carro-chefe do Ministério da Cultura.’
CANNES
Crítica se divide sobre filme de Meirelles
‘O cineasta brasileiro Fernando Meirelles disse que se preparou ‘para a colisão’ quando seu novo filme, ‘Ensaio sobre a Cegueira’, foi convidado a abrir o 61º Festival de Cannes, o que ocorreu anteontem. O choque que Meirelles aguardava não tardou. Críticos de vários países reagiram ao longa ‘Ensaio sobre a Cegueira’ com opiniões opostas e enfáticas, em textos publicados ontem.
O crítico do jornal britânico ‘The Guardian’ Peter Bradshaw afirmou em seu texto que ‘Ensaio sobre a Cegueira’ é um drama ‘com imagens soberbas, alucinantes de colapso urbano. Tem, em seu centro, uma verdadeira espiral de horror, ainda assim, é iluminado com delicadeza e humor. É cinema corajoso, magistral’.
No diário norte-americano ‘Los Angeles Times’, Kenneth Turan também aprovou o filme. ‘Na verdade, só um diretor com a particular combinação de talentos de Meirelles poderia ter levado com êxito à tela a mistura de desespero e esperança do livro [homônimo de José Saramago]’, escreveu.
A revista ‘Hollywood Reporter’, embora faça ressalvas a aspectos do filme, em resenha assinada pelo crítico Kirk Honeycutt, diz que ‘na adaptação do livro de Saramago para a tela, o diretor brasileiro teve um extraordinário plano visual e consideráveis desafios cinematográficos a vencer. Portanto, há muita coisa aqui [no filme] para acelerar a pulsação e envolver a mente’. Honeycutt conclui que ‘Ensaio sobre a Cegueira’ é cinema provocador, mas também previsível: choca, mas não surpreende’.
Sentimentalismo
Entre os que rechaçaram ‘Ensaio sobre a Cegueira’ está a revista inglesa ‘Screen’. Avaliando o filme como regular, Fionnuala Halligan diz que ‘Meirelles parece lutar para encontrar um tom, e ‘Ensaio sobre a Cegueira’ fatalmente perde tensão antes da escalada para um bizarro sentimentalismo no ato final’.
Ao criticar o filme na publicação americana ‘Variety’, Justin Chang viu ‘impacto minimizado e excesso estilístico’ no retrato do ‘caos pessoal e coletivo que resultaria se a humanidade perdesse o sentido da visão’ e avaliou que o filme ‘raramente atinge a força visceral da prosa de Saramago’.
Dominique Borde, do diário francês ‘Le Figaro’, diz que o filme ‘prometia uma reflexão antes de se estragar numa metáfora de autodestruição’.
O diário francês ‘Libération’ classificou ‘Ensaio sobre a Cegueira’ como ‘decepcionante’ e publicou uma dura crítica, de Olivier Séguret, ao filme.
‘O charme teórico da ambição anunciada nos primeiros minutos de ‘Ensaio sobre a Cegueira’ se volta rapidamente contra o filme, como se Meirelles só tivesse colocado o bastão tão alto para estar certo de que passaria por baixo dele’, afirma o texto.
Na introdução de sua cobertura do primeiro dia do festival, o ‘Libération’ observa que ‘a maioria dos produtores e cineastas não gostam nada da situação de abrir o festival’.
O incômodo, segue o texto, é com ‘a primeira projeção para a imprensa, julgada de alto risco. Os jornalistas chegam à Croisette com a faca entre os dentes e o filme de abertura é o alvo dessa agressividade’.’
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