Leia abaixo a seleção de quarta-feira para a seção Entre Aspas.
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Folha de S. Paulo
Quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008
CARNAVAL
Fernando de Barros e Silva
Notas sem confete
‘SÃO PAULO – Embora essa forma de crítica tenha caído em desuso -ou por isso mesmo-, seguem alguns rascunhos sobre cultura e sociedade (e uma pitada de política) colhidos a esmo no Carnaval.
Nunca, como na nossa época, o sujeito comum foi tão impelido a se projetar nas celebridades que consome pela mídia. O sucesso de um programa boçal como o ‘Big Brother’ talvez resida aí: ele materializa essa projeção por meio de uma espécie de novela da vida real. Plim-plim: Zé do Povo virou ‘celebrity’.
No Carnaval se passa o mesmo, mas com sinais trocados: as celebridades brincam de ‘ser povo’. E assim reafirmam a sua… celebridade.
A ‘cultura das celebridades’, essa ficção, colonizou o Carnaval. As escolas de samba passaram a funcionar como agências de ‘rating’ de modelos e aspirantes. Fazem a triagem que alimenta o mercado sexista e vulgar de revistas, novelas e filhos da elite pelo resto do ano.
Com ‘tanto riso, tanta alegria e mais de mil celebrities no salão’, difícil eleger um artista. Destaque para o filósofo da África, Nizan Guanaes, curvando-se para beijar a mão do governador Jaques Wagner, ao lado do presidente da Coca-Cola.
Galãzinho global, Cauã faz a barba diante das câmeras para uma empresa instalada no camarote de Flora Gil, mulher do ministro da Cultura. Recebe R$ 30 mil pela mise-en-scène. No maior ‘Baticum’.
As áreas VIPs dos camarotes entraram em crise, informa Mônica Bergamo. Celebridades não querem mais emprestar seu prestígio às cervejarias assim, de graça.
Sugestão para 2009: cada representante da cultura nacional pendura uma etiqueta na camisa com seu valor de mercado: ‘Eu custo R$’. Os mais descolados podem inovar: ‘Estou grátis’. Será fashion.’
Mônica Bergamo
De topete e serpentina…
‘Se no domingo o camarote da Brahma viveu seu dia da atriz hollywoodiana Lucy Liu e da tenista russa Anna Kournikova, na segunda teve de extinguir seu chiqueirinho de ultra-VIPs por falta de ‘grandes celebridades’, segundo um produtor. Lá, agora samba a ex-dançarina do É o Tchan, Sheila Mello, que, até então, nunca havia pisado num camarote da Sapucaí. ‘Aqui, eles dão tudo pra gente. É carro que te trás para o Sambódromo, é restaurante, é gente que guarda suas coisas…’
A organização do camarote bem que tentou convidar mais celebridades, mas o setor das áreas ‘VIPs’ vive uma espécie de crise: a maioria dos artistas não quer mais vestir a camiseta das cervejarias de graça. A coluna apurou que Adriane Galisteu pediu R$ 30 mil para aparecer na Brahma. Daniella Cicarelli, musa da marca em 2007, não ficava por menos de R$ 80 mil. Flávia Alessandra avisou na última hora que não iria: está de olho num contrato com uma cervejaria concorrente e dar as caras na Brahma poderia comprometer o negócio (elas não foram localizadas, até ontem, para comentar as informações).
A Nova Schin ainda tinha a esperança de receber Valentino, que pediu 30 convites para pular o Carnaval no camarote. O estilista teria desistido quando soube da obrigação de vestir a camiseta da marca. Lá, diz a organização, apenas a musa, Taís Araujo, recebe cachê.
Ellen Jabour diz que dá ‘prioridade pra quem privilegia mais’. Ou seja: no primeiro dia, ganhou 13 convites da Brahma para levar, como diz, seu ‘bandinho’ à festa; na segunda, conseguiu nove na Nova Schin -e pulou um dia cá, outro lá. ‘As promoters são muito ciumentas. Queriam exclusividade nos dois dias, mas é difícil. Preciso de mais convite’, diz.
‘A gente é obrigado a vestir essa camiseta e ser fotografado na frente de logomarcas. Muito cruel.’ É o ator Caco Ciocler, que só se sujeitou à ‘crueldade’ na Brahma para levar a namorada, Marina Previatto, que nunca tinha visto o Carnaval carioca. ‘É um negócio: eles dão a infra-estrutura e a gente dá nossa imagem.’
Cadê aquele topete que estava aqui? ‘Minha mulher pediu e eu tirei. Ela é quem manda. Na verdade, só puxei o cabelo para trás; antes eu penteava para o lado. Nunca tive topete. Isso é intriga da oposição’, diz Roberto Justus, esticando o olho para tentar ler as anotações que uma repórter faz num bloquinho de papel. ‘Vocês vão escrever sobre o meu topete? Isso não é assunto para este país.’ A repórter discorda: ‘Só se fala nisso aqui hoje, é o assunto do camarote!’.
O diretor Marcos Paulo, o MP, ex de Marina Mantega, ex de Nívea Stelmann, chega ao camarote da Grande Rio com a atual, Antonia Fontenelle -que carrega no pescoço uma gargantilha de ouro com a inscrição ‘100% MP’. ‘Não, não compara! Isso aqui não é uma coleira. É uma jóia’, diz ela, indignada com a inevitável lembrança que o adereço desperta: a da coleira que Luma de Oliveira usou num Carnaval com o nome do então marido, Eike Batista. Antonia ganhou o colar da escola em que desfila, a Grande Rio. ‘Queriam me dar também um cinto com o nome dele. Mas aí achei ‘over’.
Grazi Massafera é escoltada no camarote da Grande Rio pelo namorado, Cauã Reymond, que, ao som do samba na avenida, ‘batuca’ no bumbum da namorada. ‘Tá uma carnificina aqui hoje’, diz, referindo-se aos jornalistas que querem entrevistá-lo. ‘A [apresentadora] Monique Evans me arranhou inteiro!’. Cauã está exausto: foi a Salvador na sexta-feira e ao Recife no sábado, no Galo da Madrugada. Como agüenta tanta folia? Ele esfrega o indicador e o polegar, indicando que recebeu um gordo cachê para, digamos, abrilhantar os camarotes VIPs das duas cidades -em Salvador, chegou a fazer a barba por estimados R$ 30 mil, pagos por um fabricante de aparelhos de barbear.
Na ausência de grandes cenas na noite, André Gonçalves -ex-Casa dos Artistas, do SBT, que coleciona ex-namoradas como Alessandra Negrini, Renata Sorrah e Myriam Rios- tratou de criar uma: saiu abraçado aos beijos com Renata Carvalho na pista de dança do camarote da Brahma (mais tarde, ficou com Monique Evans). ‘Eu gosto mesmo é de beijar’, gritava. Tentou até beijar o amigo Tuca Andrada sob o coro: ‘Ele é veado! Ele é veado!’. E respondeu: ‘Olha que eu até gosto de beijar homem, mas…’.
com AUDREY FURLANETO e DÉBORA BERGAMASCO, do Rio e DIÓGENES CAMPANHA, em São Paulo’
GOVERNO
Crédito ou débito?
‘BRASÍLIA – Matilde Ribeiro fez sua parte, claro. Flagrada no topo do ranking dos gastos (os declarados, bem entendido), enrolou-se com as justificativas. Recusou-se a relatar o que comprou no free shop, a provar que ressarciu a União e a esclarecer por que usou o cartão corporativo em plenas férias. A entressafra noticiosa ajudou.
Talvez tudo tivesse sido diferente se fosse março ou abril, quando políticos e jornalistas estaríamos atolados no debate sobre cortes no Orçamento -ou chatice parecida. Não se pode, também, descartar o ingrediente étnico. Não criaram a secretaria e nomearam uma negra justamente para forçar a sociedade a enfrentar seus preconceitos? Natural que um escândalo como esse suscitasse cobranças inflamadas.
Nada disso, porém, basta para explicar por que a ministra da Igualdade Racial acabou rifada tão rápido -em menos de três semanas. Este governo não costuma se abater com os pecados dos seus, dar bola para a oposição/mídia ou temer o confronto com a opinião pública.
E, no entanto, antes mesmo que a imprensa destrinchasse as contas, o Planalto vazou, pela ordem, que: a auditoria das despesas já tinha sido pedida, as conclusões iniciais eram comprometedoras, os colegas de gabinete estavam indignados, novas regras seriam adotadas para os cartões e a cabeça de Matilde cairia.
Falou-se, logo, que Lula teria aprendido com o mensalão. Mas as revelações, durante o feriado, dando conta de que assessores do próprio presidente (e de sua família) também fizeram a festa com os cartões indicam outra razão para tanta diligência: evitar que se cavoucasse mais fundo nas compras que, por lei, requereriam licitação.
O silêncio atípico do PT diante da fritura de Matilde; o chilique de Franklin Martins ao saber que despesas da Presidência haviam sido tornadas públicas; o embaraço da Controladoria ao (não) comentar os gastos milionários da Presidência. A novela escapou do roteiro.’
TODA MÍDIA
Nelson de Sá
Primeira ou primeiro?
‘Na BBC Brasil, Bruno Garcez vislumbrava ‘empate na terça tsunami’. No UOL, Sérgio Dávila arriscava que ‘a corrida estão tão embolada que se estende não só pela quarta-feira como pelas próximas primárias’.
Colunista de mídia do ‘Washington Post’, Howard Kurtz ironizou que democratas e colunistas ‘liberais’ como os do ‘New York Times’, mas também de Salon, ‘Nation’, do blog Talking Points Memo, não sabem o que fazer. ‘Sejamos claros, eles estão divididos entre as alternativas primeira-mulher ou primeiro-negro.’
Num dos destaques da CNN, ontem à noite, ‘muitos nova-iorquinos divididos entre Obama e Hillary’.
NOVA YORK DIVIDIDA
O ‘New York Times’ optou por Hillary. O ‘New York Post’ de Rupert Murdoch, agora dono também do ‘Wall Street Journal’, endossou Obama -até ruidosamente.
Ele foi capa, depois de dois anos de aproximação entre Hillary e ‘Post’. Diz o ‘NYT’ que o ‘interesse’ do tablóide se limitava à senadora por Nova York, não à presidente.
‘TALK RADIO’ ATACA
De sua parte, o republicano John McCain está sob fogo da extrema direita cristã e seus porta-vozes, os locutores de rádio ou ‘Talk Radio’, como Ann Coulter e Sean Hannity.
Rush Limbaugh, o maior deles, deu entrevista ontem ao ‘Washington Post’. No título, o trocadilho ‘É melhor estar certo [ou ser de direita, ‘be right’] o tempo inteiro’.
‘THE HILLARY HATERS’
A revista ‘GQ’, originalmente destinada a ‘cavalheiros’, traz este mês uma longa reportagem sobre o universo dos que ‘odeiam Hillary’. De fundamentalista a atéia, de ultraliberal a ‘falcão’, entrevistados dos dois lados e antagonistas como Dick Morris, marqueteiro de Bill, dizem o que tanto questionam na candidata
LÁ COMO CÁ, ‘UM DIA’
O correspondente do ‘WSJ’ fez um vídeo no Ibirapuera, sobre o apoio aqui aos presidenciáveis americanos.
Um dos diálogos:
– Obama. Porque ele é bom e é negro. Vai ser bom para o país, que tem muito negro também.
– Acha que um negro vai chegar a presidente do Brasil, um dia?
– Pode ser, pode ser, pode ser.
‘O MINISTRO DE IDÉIAS’
O ‘NYT’ deu longo perfil de Mangabeira Unger no sábado, do correspondente Alexei Barrionuevo, sob o título ‘Ministro de idéias tenta pôr futuro do Brasil em foco’.
Sublinhando ser ele ‘professor de direito de Harvard’ há quatro décadas, reproduz declarações grandiosas e vagas, como a de que a ampliação do crédito aos pequenos produtores pode ‘iluminar uma revolução na economia brasileira’. No governo e fora, muitos o questionam, no texto, mas ‘ele dá idéias com ritmo de máquina’, defende o amigo mexicano Jorge Castañeda.
SEM ARROGÂNCIA
Do mesmo correspondente do ‘NYT’, ontem, ‘Argentina sobe, sem sua arrogância’. Ressalta a longa mudança de posição dos ‘rivais e amigos’ Argentina e Brasil, acentuada com o campo de Tupi. Como todos no país, colunistas tipo Mariano Grondona estão em ‘nostalgia e introspecção’. Daí o título, enviado do Rio.
E SEM CARNE
Mais do ‘NYT’, que deu a ‘raiva’ dos brasileiros com o veto à compra de carne pela União Européia. Sublinhando a acusação de protecionismo, a reportagem diz ser inviável importar da Argentina, que não poderia elevar produção.
O ‘Correio da Manhã’ já diz que Portugal vai comprar lá, mas o ‘NYT’ prevê até ‘falta’.’
TELECOMUNICAÇÕES
Elvira Lobato
DEM tenta barrar compra da BrT pela Oi
‘O Democratas vai contestar a compra da Brasil Telecom (BrT) pela Oi (ex-Telemar), afirmou à Folha o presidente do partido, deputado federal Rodrigo Maia (RJ). Ele tem pronto um parecer jurídico do partido que considera o negócio ilegal, por ferir a lei nº 8.894/ 98, que trata das infrações contra a ordem econômica.
‘Vamos questionar a legalidade do decreto a ser assinado pelo presidente da República [que altera o Plano Nacional de Outorgas da telefonia fixa] porque vai concentrar o setor, em vez de descentralizar para aumentar a concorrência. E o filho do presidente Lula tem sociedade com a Oi/Telemar. O negócio é questionável sob qualquer aspecto’, disse o presidente do DEM.
A Telemar é acionista da Gamecorp, da qual Fábio Luiz da Silva, filho do presidente Lula, é um dos proprietários, e injetou R$ 10 milhões na empresa. A parceria com a Gamecorp começou em 2005, quando a tele aumentou o capital da empresa em R$ 2,7 milhões, por compra de ações, e pagou R$ 2,5 milhões pela exclusividade dos serviços. No ano seguinte, colocou mais R$ 5 milhões.
Maia afirmou que o Democratas entrará com ação judicial anulatória assim que o decreto de mudança do PGO for assinado por Lula e que também recorrerá ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica] para tentar impedir o negócio.
Reação esperada
A reação do DEM era esperada por acionistas das duas teles, que aceleraram as negociações a partir do final de dezembro. Mas, segundo apurou a Folha, eles avaliam que a rejeição no Congresso será minoritária, uma vez que a criação do que alguns chamam de ‘supertele nacional’ tem o aval do Palácio do Planalto.
O anúncio oficial do acerto entre os acionistas pode acontecer na semana seguinte à do Carnaval, segundo expectativa do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que financiará parte da operação. A Oi ofereceu R$ 4,8 bilhões pela compra do controle acionário da BrT e poderá desembolsar mais R$ 3,5 bilhões com a compra de ações ordinárias em poder de minoritários.
O ministro das Comunicações, Hélio Costa, chegou a anunciar, na semana passada, que os acionistas teriam fechado o acordo. Mas os fundos de pensão ainda discutem algumas cláusulas.
Concentração
A senadora Kátia Abreu (TO), vice-presidente do DEM, disse que a estratégia de oposição à compra da BrT pela Oi será discutida hoje em reunião da diretoria executiva do partido.
‘Com certeza, o presidente do partido, eu e o futuro líder do DEM na Câmara faremos discursos em plenário. É posição absolutamente fechada, não tem volta’, afirmou. O deputado Rodrigo Maia disse que a posição foi aprovada pelo conselho político da legenda.
A principal alegação do governo para defender a compra da BrT pela Oi é a criação de uma grande empresa nacional que se contraponha ao avanço no Brasil da Telefónica (Espanha) e da Telmex (México) no setor. A primeira é concessionária de telefonia fixa do Estado de São Paulo, tem 50% da Vivo e é acionista da TVA e da Telecom Italia, que controla a TIM. A segunda é dona da Claro, da Embratel (concessionária de telefonia fixa de longa distância) e acionista da TV a cabo Net Serviços.
Segundo Rodrigo Maia, a posição do DEM não tem a ver com a origem do capital, se nacional ou estrangeiro, mas com o aumento da concentração na telefonia fixa. A empresa que resultar da fusão, segundo afirmou, terá 70% da telefonia fixa, com concessão em todo o país, à exceção do Estado de São Paulo. ‘Não foi para isso que o país privatizou as teles e abriu o mercado, mas para aumentar a concorrência’, afirmou
Kátia Abreu questiona a mudança via decreto. Segundo ela, o governo deveria promover um debate político sobre a mudança na legislação, antes de apoiar um negócio privado.
‘Não dá para o presidente Lula, a serviço do bem ou do mal, afrontar a legislação. Se ele quer mudar as regras, que proponha a mudança na Lei Geral de Telecomunicações’, afirmou a senadora.’
TECNOLOGIA
Folha de S. Paulo
Microsoft pode ter que financiar compra de Yahoo!
‘O presidente-financeiro da Microsoft, Chris Liddell, disse que pode a empresa ter que pegar dinheiro emprestado para financiar a compra da Yahoo!. Segundo ele, caso isso ocorra, será a primeira vez que a empresa tomará um empréstimo.
Na última sexta, a Microsoft ofereceu US$ 44,6 bilhões pela rival. Parte da proposta é em ações, e outra, em dinheiro. As ações da Microsoft caíram 3,71% ontem, e as do Yahoo!, que vinham subindo, 1,19%.’
OLIMPÍADAS
Anfitrião cogita menor controle sobre internet
‘A China pode suavizar seu controle sobre a internet durante os Jogos de Pequim. Com isso, pode liberar páginas hoje proibidas. O projeto de derrubar a ‘grande muralha eletrônica’ da China é debatido.
‘Estudamos mudanças. É uma forma de promover o progresso chinês’, disse Wang Hui, chefe de relações com a mídia do Bocog (comitê organizador).
Atualmente, a internet é censurada na China, especialmente os sites de defesa de direitos humanos.’
TELEVISÃO
Novela da Record denuncia droga em rave
‘Próxima novela da Record, ‘Chamas da Vida’ abordará um tema contemporâneo ainda tabu na teledramaturgia: o consumo de drogas sintéticas em raves, festas de música eletrônica surgidas em meados dos anos 90. As gravações começam na semana que vem.
Na história de Cristianne Fridman, Dado Dolabella será ‘Antônio, jovem desajustado, que tira racha e se envolve com ecstasy’, a droga das raves. ‘A novela terá um ferro-velho, onde serão promovidas raves. Na maioria das raves há droga sintética. A garotada de hoje toma ecstasy’, diz Cristianne.
A autora afirma que a abordagem será natural. ‘É um tema que está no personagem. Acho que novela é entretenimento, mas tem alcance enorme e não podemos nos omitir.’
Os personagens principais da substituta da insossa ‘Amor e Intrigas’, a partir de maio, serão bombeiros. ‘O Corpo de Bombeiros é uma das poucas instituições que funcionam neste país. Quero fazer uma novela para cima, com muito ação’, anuncia Cristianne.
O protagonista será Pedro (Marcelo Serrado). Haverá ainda um bombeiro músico (Leonardo Brício) e um bombeiro que tem pânico de incêndio (a definir). Juliana Silveira interpretará a mocinha, que conhece Pedro numa operação em um incêndio criminoso. O encontro atrapalhará os planos da vilã Vilma (Lucinha Lins) de casar seu filho com Carolina.
PÓS-FOLIA 1 Com a leve esticada de ‘Duas Caras’, no ar agora até 16 de maio, ‘Juízo Final’, sua substituta, teve o início das gravações adiado de janeiro para a próxima semana. As gravações começarão por São Paulo.
PÓS-FOLIA 2 Depois, o diretor Ricardo Waddington segue para a Bahia, onde uma gruta servirá de locação. A próxima parada será no Paraná. Ambientada no Estado de São Paulo, a novela conta a saga de três mulheres, vividas por Patrícia Pillar, Cláudia Raia e Mariana Ximenes.
PROVOCAÇÃO A nova temporada de ‘Bofe de Elite’, quadro de sucesso do ‘Show do Tom’ (Record), terá um ‘caveirão’ (como é chamado o carro do Bope, tropa de elite da PM do RJ) cor-de-rosa.
TERCEIRO TEMPO 1 Atual novela das 22h da Record, ‘Caminhos do Coração’ pode ser esticada até setembro, ficando um ano no ar. É que sua substituta, de Lauro César Muniz, não será mais uma versão da chilena ‘Machos’.
TERCEIRO TEMPO 2 As negociações entre a Record e Sony, dona dos direitos de ‘Machos’, não vingaram. Muniz começou há apenas uma semana a trabalhar em uma nova sinopse. ‘Tudo está muito embrionário ainda’, diz. A nova novela, a princípio, estrearia em julho, mas deve entrar no ar só depois das Olimpíadas.
VELHA GUARDA Antigos repórteres do ‘Aqui Agora’ (SBT), Celso Russomano e João Leite Neto estão confirmados na nova versão. Gil Gomes poderá ter um quadro.’
Folha de S. Paulo
Após fama na web, Marimoon estréia na TV
‘Marimoon, 25, a fotologger (www.fotolog.com/marimoon) mais famosa da internet brasileira, estreou na televisão na semana passada. De segunda a quinta, às 19h30, ela apresenta o ‘Scrap MTV’, programa que reúne clipes, entrevistas e interação com os espectadores.
Entre uma gravação e outra, a nova VJ da MTV conversou com a Folha. ‘Eu e a MTV já éramos meio amigas’, diz a garota, que já apareceu em programas como o ‘Videolog’, ‘YaDog’ e ‘Overdrive’. ‘No fim do ano, eles me chamaram para fazer teste de VJ. Eu passei, e eles montaram um programa para mim, com internet, telefonema, as pessoas pedindo clipe. Foi meio baseado no que o povo está querendo ver’, diz.
A exemplo de Amanda Congdom, que apresentava o videocast Rocketboom, Marimoon foi convidada pela televisão por conta de seu sucesso na internet. ‘Há muito tempo, sempre que aparece uma matéria sobre internet eu sou entrevistada. Foi uma coisa natural’, afirma a VJ. ‘Se eu puder vislumbrar, acho que TV e internet vão virar uma coisa só em um futuro bem próximo.’’
O FOTÓGRAFO
Traços e retratos do Afeganistão
‘Em 1986, corriam nas montanhas do Afeganistão os confrontos entre os mujahidin (guerreiros islâmicos) e os russos, iniciados após a invasão pela URSS sete anos antes. Armas, helicópteros e bombas passaram a fazer parte do cotidiano poeirento, de padrões arcaicos e rurais. Foi nesse ano que o fotógrafo francês Didier
Lefèvre conheceu o país. Integrante de uma missão dos Médicos sem Fronteiras, Lefèvre registrou o que pôde -os hábitos afegãos, os mujahidin, a paisagem, o trabalho dos médicos- com um olhar apaixonado, mas que evitava os apelos da miséria e do sofrimento humano.
São essas imagens o ponto de partida da trilogia ‘O Fotógrafo’, uma obra singular que une ‘graphic novel’, diário e álbum de fotos. O segundo volume acaba de ser lançado no Brasil pela editora Conrad (12 páginas da obra estão disponíveis em www.lojaconrad.com.br/trecho/fotografo2-p1.asp). A multiplicidade de ‘O Fotógrafo’ é resultado de uma parceria entre Lefèvre, o desenhista Emmanuel Guibert e o colorista (designer especialista em cores) Lemercier.
‘Há quase dez anos, Lefèvre me mostrou todos os negativos -cerca de 4.000- que ele trouxe da sua primeira missão no Afeganistão. No fim, agradeci a ele e às fotos pela extraordinária viagem no tempo e no espaço e propus fazermos um livro sobre o assunto, misturando as duas técnicas’, contou o desenhista, em entrevista por e-mail à Folha. A obra foi premiada na França em 2007, no Festival de Angoulême, um dos principais do gênero, dias antes da morte de Lefèvre, aos 50 anos.
‘Ele era realmente um irmão para mim. Tinha o maior afeto e admiração por ele. Lefèvre era o tipo de pessoa que torcemos para conhecer por seu talento, generosidade e senso de humor. Era um dos maiores fotojornalistas do nosso tempo, mas muito do seu trabalho é desconhecido’, afirma Guibert.
O fotógrafo viajou por lugares como Kosovo, Camboja e Leste Europeu -o material que produziu nesses lugares também estavam nos planos dos dois artistas.
‘Não queríamos fazer outro ‘O Fotógrafo’. A idéia era que Lefèvre criasse uma nova forma de narrar, misturando fotos e palavras, que permitisse a ele contar histórias mais próximas de um relato literário do que de um trabalho jornalístico. Desde a morte dele, penso sobre como alcançar isso sozinho, por meio de suas imagens e diários’, explica Guibert.
Sem nunca ter pisado no país, ele teve que se basear nas fotos e nos relatos de Lefèvre e dos médicos da missão para desenhar a história. Havia um diário, mas foi perdido no fim da jornada pelo Afeganistão.
‘É claro que, quando comecei, gostaria de poder usar o diário, mas não tinha jeito. Então, nós tivemos de trabalhar com a memória, que é um dos meu temas prediletos’, diz.
‘Gravei horas de conversas com ele [Guibert], ouvi tudo até que me sentisse parte daquilo. Então, começou o processo de escrita. Me convenci que deveria haver um tom literário para ser mais eficaz. Por isso, dei muita atenção ao estilo, que é o que dá vida à história’, afirma.
O FOTÓGRAFO – VOLUME 2
Autores: Emmanuel Guibert, Didier Lefèvre e Lemercier
Editora: Conrad
Quanto: R$ 46 (88 págs.)’
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O Estado de S. Paulo
Quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008
ELEIÇÕES NOS EUA
Mariana Della Barba
Internet vira arma na caça ao voto
‘Obama é quem melhor entendeu o potencial da web, investindo em ferramentas como Facebook, YouTube e MySpace
Nas eleições americanas de 2004, o democrata Howard Dean ficou conhecido como o ‘candidato da web’. Usando a internet, ele ganhou apoio de blogs, recrutou internautas para pedir votos, participou de fóruns, entrou em contato direto com os eleitores e, acima de tudo, arrecadou US$ 15 milhões via internet – um recorde na história entre os democratas. Mas seu sucesso no mundo virtual resultou em fracasso na vida real e ele acabou derrotado.
Se, na época, a internet não ajudou nem mesmo o candidato mais conectado de todos, por que nessas eleições ela está sendo tão importante? O próprio coordenador da campanha de Dean responde: ‘Demoramos seis meses para compilar 139 mil e-mails. Uma comunidade no Facebook (site de relacionamento) leva 20 dias para conseguir 200 mil e-mails. Isso é algo astronômico’, disse ao Estado, por telefone, Joe Trippi. Semelhante ao Orkut, o Facebook é uma das chaves para entender os motivos pelos quais democratas e republicanos estão investindo milhões em seus palanques virtuais.
Da campanha anterior para esta, 40 milhões de novos americanos passaram a usar a internet. Hoje, mais de 70% da população tem acesso à web – no Brasil, o percentual é de 22%. No entanto, o que está fazendo da internet uma peça central na corrida à Casa Branca não é só esse novo e, como disse Trippi, ‘astronômico’ alcance que ela tem hoje nos EUA. Mais importante é a maneira como eles estão navegando.
Antes, a internet era usada basicamente para e-mails e consultas. Hoje, são cada vez mais populares as ferramentas em que os usuários podem interagir uns com os outros e criar seu próprio conteúdo. Seja no Facebook, no YouTube ou em blogs, é possível debater ou fazer vídeos sobre qualquer assunto: do último escândalo de Britney Spears às propostas dos políticos. Nessa quase anarquia, o que conta não é o dinheiro, mas a criatividade de mostrar algo diferente. E, segundo analistas, é Barack Obama quem melhor entendeu esse potencial.
Obama tem 320 mil usuários em seu perfil no Facebook (que tem 62 milhões de usuários) e seus vídeos já foram assistidos mais de 14 milhões de vezes no YouTube. O democrata tem ainda um blog, participa do MySpace (um Orkut com ferramentas multimídia), do Flickr (site de fotos) e do Twitter, outra febre entre internautas: miniblog em que você informa seus amigos sobre o que está fazendo no momento. Além disso, dos US$ 32 milhões que arrecadou, US$ 28 milhões foram obtidos online.
E é o eleitorado com menos de 30 anos o maior responsável por essa movimentação política online. ‘Muitas iniciativas de Obama, como seu Facebook, foram criada por jovens, que se sentem valorizados por estarem contribuindo’, diz Peter Levine, diretor do Centro para Informação e Pesquisa sobre Participação Cívica da Universidade de Maryland, que estuda o potencial de eleitores novatos.
Por ser o mais novo entre os candidatos, Obama, que tem 46 anos, também parece entender melhor o eleitorado jovem. ‘Candidatos que continuam usando programas na TV e o telefone estão tendo dificuldade em conquistar os jovens. Já Obama leva a internet a sério e os jovens o tratam como ‘um de nós’ e não como alguém da geração de seus pais’, disse Andrew Rasiej, fundador do site TechPresident, que analisa como a internet está sendo usada na campanha eleitoral.
Mas como garantir que campanhas online vão realmente fazer a diferença e não repetir o fiasco de Dean? ‘Descobrir como converter entusiasmo online em votos é o Santo Graal da política online’, diz Rasiej. ‘O que se pode ter certeza até o momento é que os candidatos estão usando a internet para tudo: fazer campanhas, construir comunidades, arrecadar dinheiro, conquistar partidários, atrair a atenção das massas, o que os torna conhecido por milhões. E isso certamente se converterá em votos’, conclui.
‘Como a escala na qual esses novos aplicativos estão sendo usados é enorme, eu ficaria surpreso se a internet não tivesse impacto na votação’, diz Levine, que cita duas pesquisas para corroborar a tese de que a internet está influenciando na eleição. A primeira mostra que as chances de um americano ir votar (o que não é obrigatório) é maior se ele debateu sobre a eleição. A segunda revela que a presença de jovens nas prévias eleitorais está batendo recordes este ano. ‘Hoje, o principal palco de debates no país é a internet. E são justamente os jovens seus maiores usuários.’
Como já acontece com o comércio, o jornalismo e a música, a penetração da internet na política é irreversível. São milhares de novos usuários a cada dia, munidos de ferramentas de interação e discussão – o que cria mais debate e, conseqüentemente, mais votos. E é essa equação que torna a internet uma ferramenta cada vez mais essencial na campanha política de qualquer candidato.’
Candidatos derrapam em suas campanhas online
‘Pouca compreensão sobre a linguagem online é o erro mais comum das campanhas políticas na web. ‘Muitos candidatos temem perder o controle de seus sites ao deixar os usuários interagir livremente. Além disso, não percebem que na internet é preciso ser menos formal. Em vídeos online, por exemplo, agem como se estivessem na TV’, diz Andrew Rasiej, do site TechPresident. ‘Alguns políticos querem controlar o conteúdo de seus sites, mas os internautas de hoje querem participar ativamente dos debates’, diz Peter Levine, da Universidade de Maryland.’
CINEMA
Ioannis Gatsiounis
Hollywood ainda seduz o mundo
‘A política externa do presidente Bush parece ter desencadeado uma intensa e irreversível explosão de antiamericanismo em todo o mundo, em que a linha que separa o ódio dos líderes americanos e a cultura vem ficando cada vez mais apagada. Contudo Hollywood, símbolo da ‘hegemonia’ dos Estados Unidos, se algum dia existiu, vem tendo mais sucesso no exterior do que internamente. O valor arrecadado nas bilheterias internacionais representa 60% das receitas totais, 40% mais do que há três anos. As vendas de vídeos são o setor que cresce mais rapidamente em Tinseltown (nome com que Hollywood também é conhecido), sem incluir os milhões que compram cópias piratas. Ao mesmo tempo, os programas da TV americana atraem um número recorde de compradores estrangeiros, apesar de as taxas de licença terem aumentado drasticamente em muitos mercados.
O que acontece? Uma parte da resposta repousa na liberalização do mercado. E a outra parte tem a ver com um marketing mais globalmente direcionado. Os grandes estúdios aumentaram suas divisões no exterior e firmaram parcerias com estúdios estrangeiros. A Warner Bros., por exemplo, recentemente assinou um contrato de US$ 2 bilhões com a maior empresa imobiliária de Abu Dabi, a Aldar, para a construção de um estúdio, para produzir filmes e videogames dirigidos para o mundo árabe, onde 60% da população tem menos de 25 anos e está sedenta de entretenimento.
O que inspira também a filmar no exterior são os gastos menores com despesas trabalhistas e regulamentação. Grandes estúdios de Hollywood construíram produtoras na China para atender melhor o interesse crescente em cinema nesse país. Os custos de produção de Hollywood caíram 4% em 2005, enquanto despesas com marketing saltaram 5,2%. A indústria cinematográfica sempre acolheu com agrado o talento internacional, de Marlene Dietrich a Sean Connery. Mas, à medida que Hollywood promove seus produtos agressivamente no exterior, os executivos consideram o talento internacional ainda mais crucial na promoção de seus filmes no estrangeiro.
Em O Reino, Jamie Foxx contracenou com o ator palestino Ashraf Barhom, que interpreta um valente policial da Arábia Saudita. O Último Samurai, estrelado por Tom Cruise e o ator japonês Ken Watanabe, teve grande sucesso no Japão. A atriz brasileira Alice Braga contracenou com Will Smith em Eu Sou a Lenda. São temas como religião (Cruzada), terrorismo (Munique), vírus mortais (Eu Sou a Lenda), e negócios com petróleo (Syriana). Em resumo, o pensamento em Hollywood é cada vez mais abrangente, tendo em mente nada menos do que o mundo.
Mas isso não explica suficientemente por que Hollywood desfruta de sucesso sem precedentes no exterior numa era de antiamericanismo galopante. A explicação comum para essa contradição tem sido a de que as pessoas fazem distinção entre cultura americana e a política externa dos EUA; que a corrente mais forte de antiamericanismo se limita mais a intelectuais e fanáticos religiosos.
Contudo, nos últimos anos na Europa e Ásia, tenho encontrado cidadãos comuns criticando sem rodeios os Estados Unidos. Não só a sua política, mas os valores ‘hipócritas’, uma cultura popular oca, e a descrença com eleitores que reelegeram Bush. Uma pesquisa da Pew Global Attitudes Project apóia essa evidência, ao concluir que as opiniões favoráveis sobre o povo americano entre os indonésios caiu de 56% em 2002 para 46% em 2005, o que aconteceu também na Grã-Bretanha, Polônia, Canadá, Alemanha, França, Rússia, Jordânia, Turquia e Paquistão. Com certeza a política externa de Bush e sua reeleição ampliaram o desprezo pelos EUA e isso torna o crescimento de Hollywood no exterior algo ainda mais curioso.
Além disso, filmes com temas totalmente americanos também têm bom desempenho nas salas de cinema pelo mundo. Homem-Aranha 3 foi o maior sucesso internacional na história, tendo arrecadado US$ 375 milhões. ‘A receita contabilizada por Os Simpsons – O Filme, que representa a ‘família da América’ chegou a um valor bruto de quase US$ 333 milhões, o dobro do arrecadado em casa. Os produtos de Hollywood de maior sucesso no exterior tendem a ser aqueles com muitos efeitos especiais (como Titanic, Harry Potter, Piratas do Caribe, Jurassic Park), de animação e magia digitais (como Shrek, O Rei Leão e Os Incríveis). Ironicamente, esses trabalhos parecem vender mais do que os que são mais críticos aos Estados Unidos, como Fahrenheit 11/9, Syriana e Beleza Americana. Para Moo Hon Mei, diretor de Marketing da 20th Century Fox na Malásia, essa tendência não foi interrompida no Sudeste Asiático com o decorrer dos anos ‘e não há sinais de mudança para breve’.
De qualquer maneira, os espectadores de filmes de Hollywood são induzidos a ignorar que estão investindo num produto americano. A indústria põe toda a ênfase no excepcional dinamismo americano, a confiança e tranqüilidade em relação à sua supremacia criativa e tecnológica.
E as pessoas gostam do que vêem e isso se reflete não só nas cifras, mas na reação oficial e seu impacto. Em dezembro, a China proibiu, por pelo menos três meses, a exibição de obras americanas, cujo sucesso parece ter influenciado a decisão. A Coréia do Sul estabeleceu uma cota para exibição de filmes produzidos localmente, 146 por ano, que deve cair à metade como parte de um acordo comercial bilateral com os EUA, ainda não ratificado.
Em março, Javad Shangari, assessor cultural do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, acusou Hollywood de ser ‘parte de um ampla guerra psicológica dos Estados Unidos contra a cultura iraniana’ – numa reação ao filme 300, considerado antipersa.
Na Malásia, foi proibida a exibição de A Paixão de Cristo, de Mel Gibson, para proteger ‘sensibilidades’ muçulmanas, porém versões pirateadas logo começaram a ser vendidas em Kuala Lumpur. As esquinas na China estão repletas de camelôs vendendo filmes pirateados de Hollywood, que os jovens iranianos também adoram.
O retrato dos EUA como antro de iniqüidade, feito por Hollywood, pode alimentar ainda mais algumas idéias equivocadas. Na pesquisa realizada pelo Pew Project mais de 60% dos libaneses descreveram os americanos como pessoas gananciosas, imorais e violentas, mas o Líbano é um dos mercados mais aquecidos de Hollywood no Oriente Médio. O fato de ser um sucesso nesses lugares sinaliza, no mínimo, uma fascinação pela ‘depravação’ americana e, mais provavelmente, uma brecha entre o que as pessoas dizem e o que elas realmente pensam sobre o país. Uma jovem da Malásia deixou clara a complexidade do seu relacionamento com os Estados Unidos ao manifestar sua afinidade com Hollywood, dizendo que os filmes lhe permitiam ‘imaginar-se fazendo coisas que não podiam ser praticadas nem eram aceitas em seu país’.
Mas a indústria não se especializou somente no ‘pecado’ e o público não faz fila simplesmente para ver isso. ‘Hollywood permite às pessoas no exterior conhecerem a sociedade americana e especialmente a opulência, moda, padrões de consumo etc., que interessam a elas, não importam suas convicções contra o país’, disse Paul Hollander, editor da coleção de ensaios Compreendendo o Antiamericanismo. O escritor Edward Said lamenta o poder dos EUA nesse aspecto, ou seja, o poder ideológico. ‘Todas as culturas tendem a fazer representações das culturas estrangeiras para dominá-las ou de alguma maneira controlá-las. Mas nem todas as culturas fazem representações de culturas estrangeiras e, de fato, as dominam e controlam.’
Com o antiamericanismo chegando a níveis recordes, Hollywood não é só uma ferramenta ideológica poderosa, mas, poderíamos dizer, necessária. O sucesso do filme de Al Gore, Uma Verdade Inconveniente, por exemplo, mostrou que, na verdade, alguns políticos americanos levam realmente a sério os interesses mundiais. A ‘janela’ de Hollywood complica o relacionamento dos países com os EUA. Desafia as simplificações mal-intencionadas da política e da cultura americanas, inculcadas por críticos, instituições religiosas, governos, escolas e mídia, politicamente motivados. Agindo assim, Hollywood questiona o impulso de repudiar e demonizar e, no nosso mundo polarizado, não poderia fazer melhor.
TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO’
TELEVISÃO
O Japão na Band
‘Em comemoração ao centenário da imigração japonesa, a Band pretende exibir, em março, a minissérie Haru e Natsu – As Cartas Que Não Chegaram, uma produção da NHK, maior emissora de TV do Japão.
Gravada em alta definição (HD) no Brasil e no Japão e escrita por Sugato Hashida, uma renomada roteirista japonesa, a minissérie conta a história de duas irmãs separadas na infância. No embarque para o Brasil, um exame médico revela que Natsu, a caçula, tem uma doença nos olhos e não pode viajar.
A família Takakura, que foge da fome, embarca sem Natsu e Haru segue com os pais, contrariada. O ano é 1934 e as duas irmãs escreverão cartas uma a outra, que não chegarão ao destino final. Elas só voltarão a se reencontrar 70 anos depois.
No Brasil, os Takakuras trabalham em plantações de café e, no Japão, Natsu enfrenta as privações da guerra, presencia a reconstrução do país e vive a fase de crescimento econômico, transformando-se em empresária bem-sucedida.
Muitas famílias japonesas viveram dramas como esse. No Brasil, as locações se concentraram numa fazenda em Campinas.’
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