Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Carnaval, mídia & negócio

Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.


Antigamente existia o micareme, no meio da quaresma. Hoje temos as micaretas,
carnavais disfarçados ao longo do ano. Este ano é diferente, embora não seja
bissexto. A micareta veio antes do Carnaval. E veio em ritmo de rock
pauleira.


Com o apoio integral dos meios de comunicação, Rio e São Paulo entregaram-se
aos Rolling Stones e ao U2. Ensaio de empolgação ou substituto importado? Apesar
das diferenças formais entre o rock e os desfiles carnavalescos, estes
megaeventos têm muito em comum. E não apenas por causa da percussão e da
repercussão. Fazem parte do mesmo show-bizz, o fabuloso negócio do espetáculo,
indústria sem chaminés e muitos holofotes que depende dos meios de comunicação.
E os meios de comunicação dependem da publicidade. E a publicidade precisa da
empolgação das platéias para manter-se economicamente viável.


Por ironia, os sambódromos aceleraram o processo de mercantilização ou
monetização do Carnaval. Pouco mais de 20 anos depois temos o mestre Martinho da
Vila, o celebrado compositor da Unidos de Vila Isabel, afastado da sua escola e
denunciando os desmandos dos carnavalescos.


Quando se revelou o divórcio, a mídia não se incomodou. A mídia, na verdade,
não se importa com muita coisa que importa. Até a reportagem de capa da
Revista do Globo publicada neste domingo com o desabafo de Martinho saiu
meio escondida na primeira página do jornal. Mick Jagger, obviamente, dominava o
noticiário, e no tocante ao Carnaval, quem aparecia era a sensual Tatiana Pagung
levemente vestida com as cores da brasilidade.


Carnaval é alegria, vamos a ela. Mas nos intervalos comerciais convém pensar
naquele carnaval que acabou.