Tuesday, 26 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Celebridade-problema vira alvo da imprensa

Não é segredo que organizações de mídia escrevem com antecedência obituários sobre celebridades em idade avançada ou com doenças graves; mas seria excessivo ter obituários prontos sobre figuras públicas com menos de 30 anos de idade? É o que questiona John Rogers [Associated Press, 20/1/08] depois da notícia de que a AP teria preparado o obituário da cantora-problema Britney Spears, 26. ‘É um assunto complexo’, resume o repórter Adam Bernstein, do Washington Post, um dos mais respeitados escritores de obituários dos EUA.

O Post tem quase 100 obituários já prontos, mas Bernstein não se lembra de nenhum que seja de alguém com menos de 30 anos. ‘Quando não sabemos se alguém realmente está próximo da morte ou não, não investimos tempo em escrever algo que não temos idéia se será publicado agora ou daqui a 70 anos’, diz. Ele alega que figuras jovens com comportamentos problemáticos teriam obituários com mais foco justamente nos problemas, e não em sua carreira. ‘É fácil escrever algo sobre Britney Spears, [a atriz] Lindsay Lohan ou [a cantora] Amy Winehouse. Mas ainda assim se gasta muito tempo para fazê-lo e há pessoas que têm uma vida incrível e já estão com 100 anos’, afirma, embora reconheça que há um grande interesse do público em jovens estrelas. Britney vive em crise e, em meio a comportamentos bizarros, perdeu a guarda dos filhos. Lindsay e Amy são conhecidas por sua nociva proximidade com o mundo das drogas.

A experiência Anna Nicole

Quando a ex-coelhinha da Playboy Anna Nicole Smith morreu de overdose no ano passado, aos 39 anos, o Post e outros jornais colocaram seu obituário na capa. Para Lou Ferrara, chefe de redação das seções de esportes, entretenimento e multimídia da AP, foi a morte de Anna Nicole que ‘acordou’ as organizações de mídia a estar preparadas e ter à mão o perfil de qualquer pessoa pública com comportamento problemático. ‘Não acho que ninguém goste de escrever obituários antes da pessoa morrer, mas é algo necessário’, diz. Quando a ex-modelo foi encontrada morta em um quarto de hotel na Flórida, a AP não tinha seu obituário preparado, assim como não tinha o do ator Brad Renfro, de 25 anos, que morreu no começo de janeiro, dois meses após ter sido preso quando tentava comprar heroína em Los Angeles.

A morte precoce de celebridades por excessos não é algo novo. Basta lembrar que, na década de 70, o mundo da música perdeu Jimi Hendrix, Jim Morrison e Janis Joplin, ambos com menos de 30 anos. O que muda, hoje, é a instantaneidade provocada pela internet. ‘Há muito mais pressão para se ter as notícias’, opina o agente de celebridades Michael Levine, que tem Michael Jackson entre seus clientes. Para ele, a habilidade da internet de transformar pessoas comum em celebridades da noite para o dia força as organizações de mídia a estar mais preparadas para contar a história delas imediatamente.

De olho em Britney

A AP tem cerca de mil obituários preparados em seus arquivos, em sua maioria de pessoas com mais de 70 anos. Na agência, Britney parece ser vista como uma bomba ambulante. No início de janeiro, vazou na rede um memorando interno da AP no qual o editor da sucursal de Los Angeles, Frank Baker, afirmava que, ‘de agora em diante, tudo o que envolva Britney Spears é importante’.