Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Celebridades apóiam presidente da Venezuela

Leia abaixo a seleção de segunda-feira para a seção Entre Aspas.


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 5 de novembro de 2007


VENEZUELA
Tony Allen-Mills


Chávez seduz os ‘idiotas úteis’ de Hollywood


‘THE SUNDAY TIMES – Mais de cinqüenta anos depois que os defensores ocidentais do comunismo soviético foram ridicularizados por suas simpatias equivocadas, uma nova geração de celebridades ativistas está agora fazendo o jogo do presidente venezuelano, Hugo Chávez, no que vem sendo chamado de ‘o retorno dos idiotas úteis’.


Os discursos de Chávez contra o Ocidente não impedem uma sucessão de celebridades de Hollywood de prestar homenagens ao líder da chamada ‘revolução bolivariana’. A última a entrar no coro ocidental de louvores foi Naomi Campbell, a supermodelo que agora é uma ‘especialista’ em economia latino-americana. Na semana passada, Naomi disse ter ficado ‘impressionada’ com o ‘amor e coragem’ que Chávez investe nos programas sociais.


A viagem de Naomi à Venezuela lembrou uma visita que a modelo Kate Moss fez há alguns anos a Fidel Castro, deixando irritados os oponentes do presidente cubano ao declarar que ele era ‘uma fonte de inspiração para o mundo’. Segundo um jornal de Caracas, Naomi Campbell usava um ‘primoroso e revolucionário vestido branco da prestigiada marca Fendi’, quando visitou o presidente venezuelano.


O fluxo de celebridades ao palácio presidencial em Caracas frustra os ativistas de direitos humanos, para quem a propaganda social de Chávez encobre um complô para transformar o país numa ditadura de um único partido. ‘Só o fato de estar lá com Chávez mostra que ela (Naomi) concorda com o que está acontecendo’, disse Maria Conchita Alonso, ex-miss Venezuela que faz campanha contra Chávez. ‘Sabem eles que na semana passada centenas de milhares de pessoas protestaram contra as mudanças que Chávez quer fazer na Constituição?’


Entre as várias celebridades que já visitaram Chávez estão os atores Kevin Spacey, Sean Penn, Danny Glover e Harry Belafonte. Para os analistas, o incentivo de Chávez aos críticos do presidente dos EUA, George W. Bush, lembra o sucesso de Fidel em transformar Havana na chamada ‘riviera revolucionária’. Nos anos 90, foram tantas as estrelas de Hollywood que desfilaram por Havana, que grupos de exilados cubanos nos EUA protestaram contra as celebridades – entre elas, Kevin Costner, que esteve com Fidel na estréia, em Havana, de seu filme sobre a crise dos mísseis de 1962, e disse que aquela foi ‘a experiência de uma vida inteira’. Na ocasião, Ileana Ros-Lehtinen, congressista republicana nascida em Cuba, afirmou que as celebridades ‘deveriam se envergonhar, confiando cegamente na máquina de propaganda do ditador’. Para Dennis Hays, membro de um grupo de exilados de Miami, ‘as pessoas transformam-se em tietes quando estão na presença de Fidel’.


O termo ‘idiotas úteis’ foi forjado por Lenin, para referir-se aos ocidentais que visitavam Moscou para apoiar o sistema soviético e, agora, ressurge na América Latina na medida em que estrangeiros deixam-se serem manipulados.


Chávez surgiu como o líder das forças antiamericanas na região, que gasta à vontade. Está investindo quase US$ 20 milhões em dois filmes produzidos por Glover; um sobre uma revolta de escravos no Haiti, no século 18, e outro, uma adaptação do romance de Gabriel García Márquez, O General. Em agosto, Sean Penn visitou a Venezuela, provocando a irritação de alguns colegas de Hollywood quando visitou o estúdio que Chávez está construindo para concorrer com produtoras americanas.’


 


PUBLICIDADE
Marili Ribeiro


Agências buscam inspiração nas favelas


‘As agências de publicidade decidiram ir aonde o povo está. Recentemente, a Neogama patrocinou um tour por várias regiões de São Paulo. O roteiro incluía exercícios para os publicitários, como fazer compras do mês em mercearias de periferia com pouquíssimo dinheiro ou ainda trabalhar como vendedor ambulante.


Outras agências estão promovendo encontros com integrantes de comunidades pobres para discutir o comportamento dos consumidores de baixa renda. A Nestlé mandou equipes inteiras visitar favelas para entender melhor os hábitos alimentares e estabelecer estratégias de vendas.


O que está por trás dessas iniciativas é que o consumidor de baixa renda entrou no radar dos publicitários numa intensidade como não se via antes. ‘O que se descobriu é que a baixa renda está com algum dinheiro no bolso para consumir’, diz o vice-presidente de criação da Leo Burnett, Ruy Lindenberg.


A questão em pauta é como falar com essa população. ‘Temos que tirar da Nestlé a visão Berrini do mundo’, brinca Johnny Wei, diretor de Regionalização e Base da Pirâmide. O comentário se refere à sede da Nestlé, na avenida Luís Carlos Berrini, em São Paulo. ‘Nossos funcionários têm uma noção muito classe média da vida. Não têm percepção do que é a realidade dessas pessoas.’


A falta de conhecimento sobre o cotidiano da classe baixa provoca desencontros, como a promoção de vendas do leite Ninho que pretendia oferecer como brinde um jogo americano para mesa de jantar. ‘O problema é que mais da metade das casas pobres sequer têm mesa’, diz Wei. ‘Mas eles compram Ninho quando podem’.


A área que o diretor da Nestlé comanda, chamada BOP (base of pyramid, no original em inglês), é razoavelmente nova na estrutura da multinacional, que vem preparando seus executivos para lidarem com a população pobre não só no Brasil, mas também na Rússia, Índia e China. Wei foi convidado a falar sobre essas novas práticas em um fórum de debates preparado pela Associação dos Profissionais de Propaganda (APP).


Já o diretor de planejamento da F/Nasca Saatchi & Saatchi, Fernand Alphen, convocou a agência para assistir uma palestra do coordenador da ONG Afroreagge, José Júnior. O interesse se deve às iniciativas de empreendedorismo de Júnior na favela do Vigário Geral, no Rio, e que viraram modelo internacional.


Empresas como Natura, Banco Real e Petrobrás já contrataram seu serviços. ‘Júnior fala do pessoal de baixa renda sem clima de apartheid social’, diz Alphen. ‘Ele mostra que é possível criar pontes econômicas e culturais para oferecer produtos e serviços.’


A busca de adequação de linguagem, que faz de Júnior um sucesso como palestrante, abre canais para publicitários como André Torreta, que se especializou nas classes de menor renda e abriu a agência A Ponte.


‘Tem consultor que quer assessorar as empresas da Berrini. Para mim, está na hora de mostrar como falar com a favela de Paraisópolis’, diz. ‘Sou procurado por quem quer fazer eventos em Capão Redondo (região perigosa na periferia de São Paulo), mas não sabe como. Montei uma rede de contatos com pessoas que trabalharam em projetos sociais e que sabem com quem – e como – falar para deixar o evento rolar’.


Em suas andanças e pesquisas, Torreta coletou dados como o fato de existirem em Fortaleza, no Ceará, 450 bandas de forró. ‘Elas tocam de segunda à segunda e reúnem platéias de mais de 70 mil pessoas por apresentação’, conta. ‘ Assim como há lugares, onde o meio mais eficiente de fazer propaganda e usar a ‘anunciocleta’, pois só as bicicletas conseguem circular por certas vielas.’


Torreta, que passou por grandes agências, acredita que há um erro na linguagem que transporta os valores de uma classe para outra. ‘É preciso usar os signos adequados para não afastar as pessoas’, diz. ‘Fartura, por exemplo, é um valor para quem não pode comprar quantidade. Já a boa forma é preocupação de classe média’.’


 


CINEMA E TV
Michael Cieply e Brooks Barnes


Roteiristas ameaçam fazer greve em Hollywood


‘Duas décadas de paz nas relações trabalhistas foram quebradas na quinta-feira à noite, quando roteiristas de filmes e de televisão declararam que embarcariam em uma greve geral pela primeira vez desde 1988, quando escritores e sindicalistas cruzaram os braços.


O sindicato dos roteiristas disse que informaria seus integrantes quando a greve começaria, de acordo com uma pessoa que participou do encontro na quinta-feira no centro de convenções de Los Angeles.


A greve coloca sindicatos de roteiristas – cuja posição tem sido abalada por programas de televisão do tipo reality show e pelas rápidas mudanças tecnológicas – contra estúdios e redes de TVs controladas por grandes corporações como a General Electric e a News Corp., mas que também estão inseguras quanto ao seu futuro.


A paralisação ameaça dar um choque instantâneo em shows de televisão do tipo talk show, como Late Night With David Letterman e The Daily Show With Jon Stewart, que conta com roteiristas sindicalizados para produzir seus monólogos e cenas cômicas.


E se a greve se arrastar, as audiências poderiam ver uma eventual suspensão das novelas, das séries de TV e das produções de filmes, quando se esgotasse o estoque de scripts prontos.


Em um futuro próximo, a greve dos roteiristas terá um impacto imediato em mais de 200 mil trabalhadores nos estúdios de cinema e na TV aqui e em milhares mais que produzem ou vendem seus programas de entretenimento nos Estados Unidos e no exterior. A disputa pode trazer mais um problema trabalhista, uma vez que diretores e atores podem enfrentar questões semelhantes quando os contratos deles expirarem, em junho.


A longo prazo, essas greves poderiam levar a um questionamento drástico dos negócios de Hollywood. Elas poderiam redefinir a relação da indústria com sua altamente sindicalizada força de trabalho em um momento em que as vendas de DVDs estão esfriando e que as mudanças nos mercados de filmes e de TV deixaram trabalhadores e empresas brigando pela participação que acham justa em um novo eldorado em potencial.


‘Temo que está todo mundo se encaminhando para um período terrível,’ disse Norman Lear, roteirista, produtor e empreendedor cujas carreira abarcou desde o período turbulento dos anos 80 – quando Hollywood enfrentou cinco greves por seus sindicatos – e os anos de relativa paz que precederam aquela década tumultuada.’


 


TELEVISÃO
Ubiratan Brasil


TV Cultura estréia programa dedicado à escrita literária


‘O encontro da literatura com temas que dominam o cotidiano – eis uma das metas do programa mensal Letra Livre, que estréia hoje, às 20 horas, na TV Cultura. Trata-se da reunião de escritores consagrados, sempre de universos literários diferentes, para confrontar idéias, expor opiniões e, claro, discutir literatura. ‘No primeiro programa, por exemplo, tratamos da questão da escravidão no Brasil, desde o tempo imperial até os dias de hoje’, comenta o jornalista e crítico Manoel da Costa Pinto, que vai comandar os encontros – na noite de hoje, ele recebe o romancista Milton Hatoum e o poeta Glauco Mattoso.


Criado por Hélio Goldstein e patrocinado pela Imprensa Oficial de São Paulo, Letra Livre terá sempre uma hora de duração, dividido em quatro blocos. Além disso, uma platéia com cerca de 100 convidados poderá também participar fazendo perguntas. Finalmente, outros autores deixarão gravadas suas perguntas – para estimular, por exemplo, o debate de Hatoum e Mattoso, participaram o poeta Frederico Barbosa e o crítico Fábio de Souza Andrade.


Comum nos países europeus, sobretudo na França, esse formato de programa literário aproveita o bom momento vivido pelos debates entre escritores no Brasil, o que se comprova em encontros como os da Bienal do Livro e de diversas feiras que acontecem pelo Brasil ao longo do ano. ‘É irônico que, em um país onde o índice de leitura é abaixo de muitos outros, exista um interesse tão grande desse tipo’, comenta Costa Pinto. ‘Isso é importante pois, por meio da literatura, as pessoas descobrem um instrumento de contato com a sociedade.’


O próximo programa, já gravado, vai marcar o encontro entre Marcelo Rubens Paiva, cronista do Estado, e Marçal Aquino. ‘Nossa idéia é convidar também dramaturgos e roteiristas’, diz Costa Pinto.’


 


Thais Pinheiro


A volta dos bicheiros


‘A HBO começa a gravar em janeiro a segunda temporada de Filhos do Carnaval. A série, que será ambientada novamente na escola de samba carioca Mocidade Independe nte de Padre Miguel, já está em etapa de pré-produção e sofrerá algumas mudanças em sua nova fornada.


O ponto de partida da nova temporada será a morte do bicheiro e patriarca Anésio Gebara, personagem principal vivido por Jece Valadão, que morreu há um ano. O personagem de Felipe Camargo, Anesinho, também deixou a série logo na primeira temporada.


O destaque da vez será Nilo, vivido pelo o ator Thogun, filho bastardo e segurança de Gebarão. Ele continua como narrador da história, mas terá mais destaque na trama graças à boa performance na primeira temporada.


Os novos episódios da série apostam mais em flash-backs. Esses momentos vão mostrar, por exemplo, a infância dos filhos do bicheiro.


A direção-geral continua com Cao Hamburger, mas há a expectativa para a confirmação de uma convidada. A cineasta Tata Amaral pode entrar como diretora em parceria com Cesar Rodrigues, Flávio Tambellini e Luciano Moura.’


 


INTERNET
Rodrigo Martins


A hora e a vez do MySpace no Brasil


‘São 8 milhões de bandas cadastradas, 110 milhões de usuários mundo afora… E agora no Brasil. Maior fenômeno da música hoje na internet, o MySpace acaba de desembarcar no País. Na bagagem, traz recursos à la Orkut e muita ênfase no universo pop.


Na semana passada, sem alarde, estreou a versão tupiniquim da rede social. Com muito sucesso nos EUA, tem perfis oficiais de mega-artistas, como Madonna e U2, de aspirantes ao estrelato e de artistas menos conhecidos ou independentes. Além, claro, de anônimos que bisbilhotam a vida de famosos e comunicam-se com os amigos.


Agora, o site tenta repetir o sucesso no Brasil e se arma para inundar o serviço com bandas ao gosto tropical. Até agora, poucos artistas, como o Cansei de Ser Sexy (que se apresenta no sábado pela primeira vez no Brasil após um ano e meio no exterior), já tinham se aventurado lá.


E vai conquistar os usuários do Orkut? Tarefa difícil. O site do Google é usado por 68% dos internautas brasucas. O MySpace, por míseros 3%. Na semana passada, o Google contra-atacou. Ao mesmo tempo em que tem ‘seu território’ cobiçado pelo inimigo, anunciou um serviço que colocará recursos em várias redes sociais. Inclusive no… MySpace. Hein?’


 


O verdadeiro proprietário do www.myspace.com.br


‘Quer acessar o MySpace Brasil? Não digite www.myspace.com.br, pois cairá em uma página com links para agências de namoro. Ao clicar neles, abrem-se páginas de publicidade. E nada do MySpace. É um erro?


Nada disso. O endereço não pertence à maior rede social do mundo. O dono do www.myspace.com.br é um webmaster de Santa Catarina, que mora nos EUA. O endereço, segundo o site oficial de registros de domínio no Brasil, o Registro.br, foi adquirido em maio de 2005, 14 meses após o MySpace se tornar líder nos EUA.


Mas o dono – Abner Duarte, de 33 anos – afirma, de forma ríspida, que, quando fez o registro, nem conhecia o site. Toparia vender o domínio?, pergunta o repórter. Ele diz que não. Nem por uma boa grana? ‘Ah, poderia conversar.’ Segundo ele, o MySpace não o procurou ainda.


Duarte tem um rastro grande na web. Se pesquisar no Google por ‘Abner Duarte’, descobre-se que ele tem ligação com uma rede social, a Overcampus. ‘Eu sou o dono. Mas você quer falar comigo sobre o MySpace ou o meu site?’


No Registro.br, pesquisando pelo CGC de sua empresa, vê-se que ele também possui domínios semelhantes ao de sites famosos, como bradecso.com.br, busscape.com.br, correioss.com.br, microsofti.com.br… São 204 endereços do tipo.


Muita gente registra domínios famosos em outros países aqui no Brasil com a terminação ‘.br’ ou endereços conhecidos com letras trocadas na esperança de vendê-los para o próprio detentor da marca. Às vezes dá certo, mas pode acabar na Justiça.


Alguns endereços de Duarte, como o youtuube.com.br abrem páginas que dizem: ‘o domínio está à venda.’ Outros conduzem para o Overcampus. Ele nega que os domínios sejam seus. Mas está registrado em seu CGC, alega o repórter. ‘Vou checar’, responde. Vai entender.’


 


Jeff Jarvis


O ‘momento iPod’ dos jornais está aí


‘Guardian – Neste mesmo The Guardian, o pai da internet Vint Cerf se perguntou quando a televisão terá seu momento iPod – ou seja, quando baixar vídeos se tornará mais comum do que sentar-se para assistir a um programa transmitido pela TV. Então a televisão enfrentará a convulsão à qual a música mal sobreviveu.


Também nestas páginas, o editor Alan Rusbridger especulou sobre o momento iPod dos jornais, que, segundo ele, chegará com o surgimento de ‘um dispositivo relativamente adequado ao mercado de massa no qual ler um jornal (e assisti-lo e ouvi-lo) parecerá bastante normal’.


Ou como disse Scott Adams, cartunista do Dilbert, num blog: ‘Quando temos um navegador de internet no bolso, um jornal impresso torna-se redundante.’


Bem, acredito que o momento iPod está aí. Ele chegou com o último iPod e seu derivado, o iPhone.


A Apple perdeu uma grande oportunidade ao lançar primeiro o iPhone, em junho, e só depois, em setembro, o iPod Touch, idêntico, mas sem telefone. Se a Apple tivesse lançado o iPod Touch primeiro, teríamos percebido que ele é realmente um computador completo com conectividade Wi-Fi, um navegador de internet capaz de baixar e exibir – e também capturar e compartilhar – todo tipo de mídia: texto, fotos, áudio, vídeo, interatividade. E o iPhone não teria ‘engolido’ o iPod Touch.


Esses novos dispositivos representam a próxima geração do computador: pequeno, enxuto, poderoso, portátil. Tudo o que o computador, a internet e o navegador fizeram pelo conteúdo – permitindo que ele se tornasse infinito, mas pessoal; instantâneo, mas permanente; irrestrito pelo meio, por oferecer todas as mídias; e enriquecido pelo diálogo – agora está na palma de sua mão. Tudo o que você pode fazer na internet também pode fazer no iPhone, em qualquer lugar e qualquer hora.


Durante décadas, observei grupos de pesquisa da indústria dos jornais – os pouquíssimos que existem – tentando inventar o próximo meio de veiculação da notícia. Isso normalmente assume a forma mítica do e-paper, fino e portátil como uma folha de papel e capaz de exibir jornais como jornais – algo bem no estilo Harry Potter.


Também vi muitos jornais e revistas tentando usar a penosa tecnologia PDF para exibir suas páginas na tela exatamente como ficam no papel. Por quê? Ego, imagino, além de comodismo e medo da mudança.


Creio que tudo isso segue na direção errada: para trás. São tentativas de adaptar a tecnologia à velha mídia. O que deveríamos fazer é adaptar a mídia à nova tecnologia. Deveríamos perguntar o que podemos fazer de inédito neste novo iPhone.


Infelizmente, não tenho um iPhone. Meu filho tem, comprado com os lucros dos aplicativos que ele criou para o Facebook. De vez em quando, ele me deixa brincar com o aparelho. E o mais importante é que costumo observar enquanto ele o usa. O que vejo é bastante simples e óbvio: ele está na internet. Pois isso é simplesmente um navegador, sempre conectado.


Se tudo o que o iPod faz é cortar os fios que aprisionavam o navegador, nosso primeiro momento iPod completa 13 anos neste mês: foi o lançamento do primeiro navegador comercial.


E os desafios que enfrentamos desde então são os mesmos que enfrentamos agora, só que mais urgentes: como usar esse dispositivo maravilhoso para fornecer às pessoas as notícias e links na hora, no lugar e do jeito que elas desejarem? Como fazer isso com incrível eficiência? Como tornar isso local e relevante? Como aproveitar a relação de duas mãos que agora temos, permitindo que os donos dessas engenhocas compartilhem o que sabem? Finalmente, eis o que todos realmente querem dizer quando falam do momento iPod: como ganhar dinheiro com isso?


*Jeff Jarvis é professor de jornalismo na City University de Nova York.’


 


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 5 de novembro de 2007


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Mais um


‘Globo e outras deram ‘flashes’, depois reportagens nos telejornais, e o acidente em São Paulo ficou para os canais de notícias. A Globo News entrou com cenas de helicóptero, também a Band News, com os corpos retirados. A Record News surgiu diante da casa. Nas locuções, ‘olha, mais um corpo aí’ ou ‘casa simples, seis crianças’. Nas entrevistas, ‘Jefferson, garçom’, foi ouvido por todo lado: ‘o avião deu um ziguezague e desceu de bico na casa’, ‘pessoas com fogo no corpo’.


No UOL, ‘Jatinho cai e mata ao menos sete’, depois oito. No Globo Online, ‘Avião de pequeno porte cai’. E na AP, ‘oito mortos em queda de pequeno avião’.


Para registro, no primeiro ‘flash’ da Globo, à tarde, Faustão levantou a hipótese de falta de ‘fiscalização’.


‘SIR IAN BLAIR DEVE SAIR’


BBC e outras britânicas destacam apoios a Sir Ian Blair, o chefe de polícia que não quer sair depois da condenação pela morte de Jean Charles de Menezes. E o popularesco ‘News of the World’ diz que novo relatório, esta semana, vai ‘desculpar’ Blair. Já o respeitado ‘Observer’ garante que o relatório a ser liberado ‘pode afundar Blair’ de vez.


No mesmo ‘Observer’, no ‘Scotsman’, até em editorial do ‘Financial Times’, cresce a pressão pela renúncia, ‘ele deve sair’. Entre os motivos, sua desinformação -e ‘as desgraçadas tentativas da polícia de caluniar Menezes’.


‘OUTSIDERS’


Depois da imprensa por aqui, do ‘Miami Herald’, do ‘Washington Post’, ontem foi o ‘New York Times’ a falar das ‘mulheres no comando’ nas Américas -da Argentina à Jamaica e talvez aos EUA. Um diretor do Diálogo Inter-Americano, de Washington, diz que a eleição de mulheres, Lula, Evo e outros ‘outsiders’ indica ‘colapso das estruturas políticas tradicionais’.


Já artigo no ‘Le Monde’, ‘Cristina contra Lula’, seguiu com a oposição anterior entre ‘populistas’ e ‘pragmáticos’.


PETROCRACIA


Cresce a campanha contra Hugo Chávez de ‘JN’ e vários outros por aqui. E nos EUA a revista do ‘NYT’ deu na capa ‘os perigos da petrocracia’ do venezuelano. Pergunta se seu ‘socialismo’ não é só ‘a velha maldição do petróleo’.


US$ 100 E ESTÁVEL


A Opep, destacam sites do setor, convocou a ‘terceira cúpula na história do cartel’ para dia 17, para discutir uma ‘estabilização no preço’. Que, confirma o Goldman Sachs, deve passar dos US$ 100.


O GERME E A FÉ


‘Wall Street Journal’ e outros dão que o presidente do Citigroup cai hoje, ainda efeito da crise no crédito. E o ‘FT’ se pergunta se o ‘germe dos EUA’ vai se espalhar pelo mundo. Arrisca que não, que ameaça Europa, Japão e outros ‘ligados aos EUA’, mas os Brics ‘podem suportar’.


Outro texto no ‘FT’ se inspira no Halloween e atira na Bovespa, ‘tão racional como festa no cemitério’. Diz que, ‘apesar de todo o panorama positivo de longo prazo, nada no Brasil justifica a fé que estrangeiros estão pondo nele’.


NOVA ORDEM SOCIAL


O crescimento ameaçador do site Facebook, que uniu Google, MySpace e outros, estimulou artigos testemunhais curiosos e sintomáticos no ‘WSJ’ e ‘FT’ -ensinando aos seus leitores em ‘crise de meia idade’ como é a vida nas redes sociais.


Já ‘Guardian’ e ‘NYT’ dão que o projeto do Google foi sua forma de sair da armadilha de ter um site social que ‘pegou no Brasil’ e na Índia, mas não nos EUA. Isso, em meio à explosão publicitária na área.’


 


COMUNICAÇÕES
Sérgio Dávila


EUA estudam ampliar monopólio de mídia


‘A agência federal de comunicações norte-americana (FCC) enfrenta nesta semana nova etapa em seu périplo para reformar a lei que regula o monopólio em empresas de comunicação nos EUA. O alvo principal é uma regra, aprovada há 33 anos, que proíbe uma única companhia de ser dona de um jornal e de uma emissora de TV ou rádio na mesma cidade.


A iniciativa é do atual diretor-executivo da agência, Kevin Martin, que defende que a atual lei caducou diante dos avanços tecnológicos dos últimos anos, especialmente os decorrentes da popularização da Internet.


Os que apóiam a decisão citam como argumento adicional o fato de a própria medida de 1974 já trazer brechas, ao não valer retroativamente, e ter sido esvaziada ao longo dos anos por dezenas de exceções abertas para algumas empresas.


Já os críticos da revisão contra-atacam dizendo que a nova lei permitirá ainda mais concentração da mídia nas mãos de poucas empresas. Para esses, a mudança beneficiará nomes como Rupert Murdoch, o megaempresário de origem australiana que finaliza a compra da companhia que edita o ‘Wall Street Journal’ por US$ 5 bilhões, e o empreendedor imobiliário Samuel Zell, que faz o mesmo com a Tribune Company, que edita o ‘Los Angeles Times’, por US$ 8,2 bilhões.


Descaso


‘O fato é que não há interesse de nenhum lado em mudar agora’, a poucos meses do fim do mandato de George W. Bush, disse à Folha Drew Clark, expert em temas relacionados à FCC e ex-diretor do centro de mídia e telecomunicações do Centro pela Integridade Pública (CPI), em Washington. ‘Assim, mesmo mudanças pequenas podem não sair do papel.’


Ainda assim, uma mostra da temperatura da questão pôde ser sentida na semana que passou. Na quarta, cerca de cem militantes anti-reforma se concentraram em frente à sede da FCC, em Washington, para protestar enquanto o conselho da agência se reunia para ouvir testemunhas contra e a favor da medida. Um dos que tomou o púlpito do lado de fora foi o reverendo, ativista e ex-senador democrata Jesse Jackson.


Ele citou o chamado ‘Caso Jena Seis’ -em que seis adolescentes negros foram acusados de surrar um adolescente branco em dezembro do ano passado, no auge de uma série de conflitos raciais na cidade de Jena, em Louisiana-, inicialmente ignorado pela mídia nacional, para pedir que a nova lei fortalecesse jornais locais.


‘Não há chances de conseguirmos satisfazer nossos críticos’, respondeu Marcellus Alexander, vice-presidente da Associação Nacional de Emissoras, ao ‘Washington Post’. ‘Na verdade, a transcrição desses encontros mostram que já fomos acusados de ser culpados por quase tudo, do aquecimento global à crise imobiliária.’


As audiências vêm acontecendo há 18 meses, desde que Martin assumiu o comando da agência. A próxima arena será o comitê de Comércio, Ciência e Transportes do Senado, que convocou uma audiência para essa quinta-feira com o tema ‘mídia local, diversidade e propriedade’.


A Federal Communications Commission (FCC), criada pelo Congresso quando da aprovação da Lei das Comunicações de 1934, é uma das agências mais sobrecarregadas da atual estrutura de governo dos EUA. Além da mídia, regula o mercado de telefonia fixa e móvel, e o conteúdo do que as emissoras de TV aberta e pagas e as de rádio colocam no ar, aplicando multas quando julga que algo exibido é obsceno.


Para tanto, conta com cinco diretores, indicados pelo presidente para mandados de cinco anos, que devem ser aprovados pelo Congresso. Até três membros podem ser do mesmo partido -hoje, a maioria é republicana, como o diretor-executivo Martin. Advogado, ex-assistente de política econômica de Bush, da equipe de transição Bush-Cheney e ex-conselheiro de campanha do republicano, sucedeu Michael Powell, filho do então secretário de Estado, Colin Powell.’


 


TROPA DE ELITE
Folha de S. Paulo


‘Tropa de Elite’ é discutido na ONU, diz Alston


‘Ao dizer aos jornalistas presentes ao encontro que só daria entrevista ao final de sua viagem de 11 dias, o relator da ONU Philip Alston afirmou que a mídia brasileira tem tido papel importante na denúncia de abusos e citou o filme ‘Tropa de Elite’, inspirado na atuação do Bope, no Rio. Ele falou à Folha no intervalo de uma reunião.


FOLHA – O senhor viu ‘Tropa de Elite’?


PHILIP ALSTON – Sim. Vi em DVD.


FOLHA – Outros colegas da ONU também viram o filme?


ALSTON – Muita gente na ONU tem visto, e o filme tem sido muito comentado. OK, é só um filme, não dá para dizer que é realidade. Mas chamou a atenção.


FOLHA – Os ataques do PCC pesaram em sua decisão de vir?


ALSTON – Viemos ao Brasil por vários motivos, depois que a ONU recebeu muitas denúncias de crimes cometidos por policiais. Viemos ouvir quem relata os abusos. É claro que [os ataques de maio de 2006] têm relação, mas não é só isso, é todo um conjunto. Mas, desculpe, não vou falar mais nada por enquanto.’


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


TV da China gravará minissérie no Brasil


‘Maior rede de televisão da China, a estatal CCTV irá gravar uma minissérie de 40 capítulos no Brasil, em 2008. Para a empreitada, a emissora acaba de contratar a produtora brasileira Casablanca, uma das maiores do país. A Casablanca já produziu a novela ‘Metamorphoses’ para a Record e uma minissérie para a NHK, TV japonesa, em 2004.


Segundo Patrick Siaretta, diretor da Casablanca, a produção será 80% rodada no Brasil, principalmente São Paulo e Rio de Janeiro, e 20% na China, entre abril e maio. A edição e finalização ocorrerão em São Paulo. A exibição deve ocorrer no início do segundo semestre, coincidindo com a Olimpíada de Pequim. A expectativa é de que a minissérie alcance 600 milhões de telespectadores.


O programa terá elenco misto. Siaretta afirma que os chineses querem brasileiros conhecidos naquele país, como Lucélia Santos, mas nenhum ator foi contratado até agora. O texto será de um autor chinês e os diálogos, nas duas línguas.


A produção faz parte de um projeto da CCTV para aproximar grandes nações da China, por ocasião dos Jogos Olímpicos. Algo semelhante está sendo feito na França.


De acordo com Siaretta, a minissérie será uma história de amor envolvendo brasileiros e chineses. As principais paisagens brasileiras serão mostradas na produção, toda captada em alta definição (HDTV).


ECONOMIA 1 A Globo está fazendo um estudo de otimização de suas produções. Verifica o modo de produção dos programas para detectar desperdícios e apontar formas de redução custos.


ECONOMIA 2 A Globo quer diminuir gastos, mas nega que irá tirar do ar programas pouco rentáveis. Avalia-se na emissora que a rede já tira tudo o que pode do mercado publicitário. Então, para aumentar a rentabilidade, só cortando custos.


RATO TAMBÉM É GENTE Em reportagem sobre cobaias de laboratório, no ‘Jornal Nacional’ de sexta, o repórter Ernesto Paglia lamentou que ‘o Brasil até hoje não tem uma lei que define quais são as regras para o uso desses animais de forma digna e humana’.


CAMPANHA Telespectadores da Record estão em campanha na internet contra o fim da reprise da novela ‘Essas Mulheres’. A produção, que não passava dos três pontos na Grande SP, saiu do ar na última quinta-feira.


MANIA DE GRANDEZA Em seu site, a Record pediu a ‘compreensão dos telespectadores’ de ‘Essas Mulheres’ e justificou que sua ‘atitude não é inédita’. Mas não passou recibo a Silvio Santos. Deu como exemplos os recentes cancelamentos de ‘Smith’ e ‘Viva Laughlin’ pela americana CBS.


LA UNIDAD A Fox, que recentemente frustrou telespectadores ao dublar toda a sua programação, exibiu sexta-feira a série ‘The Unit’ com falas em inglês e legendas em espanhol.’


 


Ana Laura Nahas


Literatura ganha espaço em ‘Letra Livre’


‘A cada mês, um confronto entre escritores de universos distintos sobre literatura contemporânea e sua relação com a sociedade promete marcar o ‘Letra Livre’, que estréia hoje, às 20h, na TV Cultura.


‘A idéia é reunir dois autores para um debate centrado menos em sua obra e mais na realidade cultural, política e social’, define o jornalista Manoel da Costa Pinto, colunista da Folha e apresentador do programa. O romancista amazonense Milton Hatoum (‘Cinzas do Norte’) e o poeta paulista Glauco Mattoso (‘Manual do Pedólatra Amador’) são os convidados desta noite. Hatoum, um dos nomes mais celebrados da produção contemporânea, fala de Machado de Assis e Susan Sontag, de escravidão e cotas para negros, de índios e americanos e da ‘modernidade manca brasileira’. Mattoso, um dos expoentes da poesia marginal dos anos 70, comenta a mudança em seu modo de enxergar as pessoas depois de ter ficado cego e critica a falta de respeito com a literatura homoerótica.


Os programas, gravados em São Paulo, terão ainda perguntas da platéia, de escritores e de críticos. No próximo mês, Costa Pinto conversa com Marcelo Rubens Paiva (‘Feliz Ano Velho’) e Marçal Aquino (‘Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios’).


LETRA LIVRE


Quando: hoje, às 20h


Onde: TV Cultura’


 


THE BEATLES
Ivan Finotti


Heeelp!!


‘Os fanáticos podem até não acreditar no que estão lendo, mas é verdade: ‘Help!’ é um monumento trash. O segundo filme dos Beatles, de 1965, prova que nem a maior banda do mundo passou incólume a esse involuntário subgênero do universo pop. Um subgênero divertido para uns, insuportável para outros. Qual dos adjetivos depende de seu humor.


A comparação óbvia é com ‘A Hard Day’s Night’, do ano anterior e do mesmo diretor, Richard Lester. ‘A Hard Day’s Night’, que por aqui recebeu o nome de ‘Os Reis do Iê Iê Iê’, é um documentário fictício que mostra os Beatles fugindo de fãs, ensaiando, tocando num especial de TV. Em preto-e-branco, ajudou a definir o que seriam os clipes musicais.


Mas, ao contrário daquele, ‘Help!’ envelheceu mal. A primeira diferença é que é colorido -foi restaurado para esse DVD em edição dupla, com lançamento mundial hoje. Mas o pior é que tem história: o anel de uma seita com motivos andinos vai parar, sabe-se lá como, no dedo de Ringo Starr. É preciso resgatar a jóia ou os sacrifícios não poderão ser feitos. Segue-se um pastelão que envolve tinta na cara, seqüestros, carros cor-de-rosa e lutas à la Trapalhões e Didi Mocó.


É, como notou John Lennon anos depois, um verdadeiro precursor do seriado ‘Batman’, com seus ‘pow’ e ‘crash’, ainda que as onomatopéias não compareçam a este longa-metragem. A ligação mesmo é a ingenuidade (hoje ridícula) da coisa toda.


É preciso algum bom humor para enfrentar as seqüências de ação e de diálogos para chegar aos momentos que salvam o filme. O mais importante é a cena histórica dos Beatles esquiando na neve -está aqui, filmada na Áustria, de forma documental.


Lá, Richard Lester apontou a câmera e deixou rodando, enquanto John, Paul, George e Ringo, que nunca haviam subido num esqui na vida, tentavam se equilibrar. Ao fundo, a sensacional ‘Ticket to Ride’ dá o tom. As mesmas roupas de frio foram aproveitadas para a clássica capa do álbum.


Outras músicas inseridas, também como se fossem clipes, são ‘You’re Going To Lose That Girl’, ‘You’ve Got to Hide Your Love Away’, ‘I Need You’, ‘The Night Before’ e ‘Another Girl’, ou seja, o exato lado A do disco ‘Help!’, quando esse era fabricado em vinil.


Uma curiosidade local é que foi ‘Help!’, e não ‘A Hard Day’s Night’, que serviu de base para os filmes que Roberto Farias faria com Roberto Carlos. Especialmente os dois primeiros: ‘Em Ritmo de Aventura’ (1968) e ‘O Diamante Cor-de-Rosa’ (1970).


Este último, aliás, é quase um decalque de ‘Help!’, a começar pelos vilões caricaturais e pela jóia cor-de-rosa (em vez de vermelha), passando por locações distantes, como Japão, Israel e Portugal (em vez de Áustria e Bahamas) e chegando ao limite numa cena em que o Rei e o Tremendão usam barbas postiças para enganar perseguidores (exatamente como os Beatles em uma cena de ‘Help!’).


Três dos Beatles, Lennon, McCartney e Starr, declararam em diferentes momentos que o grupo, durante as filmagens de ‘Help!’, passava a maior parte do tempo fumando maconha. ‘Nós estávamos fumando marijuana de café da manhã naquela época. Ninguém conseguia se comunicar conosco.


Eram só olhos vermelhos e risadas o tempo inteiro. Era como não fazer nada a maior parte do tempo, mas tendo que acordar às 7h assim mesmo. Aí ficamos de saco cheio’, contou Lennon.


O diretor Richard Lester fala do assunto nos extras do DVD, que traz making of, uma cena deletada, trailers da época (um em espanhol) e um documentário sobre o processo de restauração da película.


Lá fora, além da versão com os dois DVDs e livreto, há um box de luxo, com reprodução do roteiro anotado pelo diretor, cards, um cartaz e um livro de 60 páginas com fotos dos bastidores da produção. Nesse caso, o preço sobe de US$ 30 para US$ 135.


HELP!


Direção: Richard Lester


Distribuidora: EMI


Quanto: R$ 80′


 


TV PÚBLICA
Mônica Bergamo


Delfim, o ‘encrenqueiro’ da TV pública


‘Convidado para fazer parte do conselho da TV pública que está sendo criada pelo governo, Delfim Netto falou à coluna:


FOLHA – A TV não pode virar um braço publicitário de Lula?


DELFIM NETTO – Não acredito. Na verdade, o que se vai tentar fazer é uma espécie de BBC de Londres, uma TV educativa no sentido mais amplo do termo, que aborde desde arte até a matemática. As tentativas feitas pelas TVs educativas já existentes não têm persistência. Por exemplo, os cursos de matemática sempre terminam na quinta lição.


FOLHA – Então a TV pública vai ensinar matemática?


DELFIM – A TV pública vai ensinar a ver o mundo de maneira razoável. Uma TV como essa pode ser intrigante, instigante. Pode ter uma independência que a TV comercial não pode.


FOLHA – Por quê?


DELFIM – Porque a TV comercial é parte do mundo em que vive, do mundo capitalista. Seria antinatural ela destruir o sistema em que vive. Ela é um reforço do sistema capitalista -que é o mais eficiente para o homem produzir, mas que precisa de controle para funcionar. E esse controle as TVs privadas não podem fazer.


FOLHA – Segundo reportagem publicada pela Folha, a cobertura da Rede Globo sobre o dossiegate na eleição de 2006 foi determinante para que o presidente Lula priorizasse a criação de uma rede pública de TV. O que o senhor acha disso?


DELFIM – As pessoas têm mania de atribuir coisas ao Lula, como se ele estivesse preocupado. E ele não está. A TV Globo já esteve com o Lula, contra o Lula. A TV Globo não pode ser neutra, nem que ela queira ela pode ser neutra. Quem acha isso está equivocado, naturalmente. Ela é parte do establishment. E não tem nada de pecado nisso. A TV Globo, e todas as outras, têm seus próprios interesses, como os patrocinadores também têm. Quando esses interesses coincidem com os do governo, o governo é bom. Quando não coincidem, o governo é ruim. É simples assim. E é legítimo que seja assim. É uma característica das TVs comerciais. Não se pode pensar que as TVs estão aí a passeio, né? E também ninguém pretende substituir a TV Globo. Ninguém tem esse sentimento ridículo. Queiram ou não queiram, a TV Globo é a TV Globo. A competência fez com que ela tivesse mais audiência que todas as outras.


FOLHA – A TV pública também não estará a passeio.


DELFIM – É óbvio que tem sempre mensagens implícitas, propaganda subliminar. Algum resíduo desses vai restar na TV Pública. Mas os conselheiros escolhidos [além de Delfim, personalidades como Cláudio Lembo, Wanderley Guilherme dos Santos e Boni] formam um grande ninho de encrenqueiros. De modo que a vida deles [governo] não vai ser tão fácil. Mas é preciso ver primeiro se a TV vai ter sucesso, audiência. A receita você só sabe se presta depois de comer.’


 


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