Assisti, estarrecido, à reportagem do Jornal da Globo sobre a invasão do MST ao laboratório florestal da Aracruz. As imagens assustadoras de destruição eram acompanhadas por uma voz em off que explicava que aquilo foi obra de mais de mil manifestantes do MST. A uma certa altura, uma taquara com uma lâmina na ponta brandida contra a câmera demonstrava que armas perpetraram aquele assédio digno de Átila.
Depois, corte para William Waack, com expressão séria, anunciando o depoimento pungente de uma laboratorista transtornada com a destruição do trabalho de uma vida que testemunhou.
Procurei pelas notícias do ataque no dia seguinte. Não foi uma ação do MST.
Na Folha Online, a invasão foi atribuída a militantes da Via Campesina, logo depois denominados militantes de um MMC, cuja filiação à Via Campesina apenas subentende-se no texto. Há inclusive citações de declarações dos manifestantes. A depredação seria motivada pelas ‘conseqüências sociais e ambientais do avanço da invasão do deserto verde criado pelo monocultivo de eucaliptos’.
A necessidade de mencionar o MST chegou ao disparate no Jornal da Globo, que atribuiu ao movimento a responsabilidade pelo ataque. Mesmo na Folha a associação parece um tanto forçada. Assemelhou-se a algo como ‘Kim Jong-II, filiado à Internacional Socialista, da qual participa o partido do presidente da Câmara, Aldo Rebelo, ameaça o mundo com armas nucleares’.
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Analista de sistemas, São Paulo (SP)