Eleição polarizada como essa, para nós, é coisa nova. E lá estão Aécio e Dilma, empatados após três semanas. A agressividade política em blogs e nas redes sociais jé é velha conhecida, embora ainda pouco estudada. Mas como é ali, na virtualidade, que ocorre boa parte das conversas sobre política, não custa ir buscar o que já se estudou sobre o tema lá fora.
Em 2008, Eric Lawrence, John Sides e Henry Farrell, da Universidade George Washington (GWU), foram entender o perfil dos leitores de blogs políticos. Eles já mostravam relevância no debate político americano desde 2004, e ela só tem aumentado. Exatamente como aqui, os blogs políticos são profundamente partidários. Torcem para um lado. Às vezes distorcem notícias. O que sempre fazem é selecionar aquilo que fica feio para o adversário e só o que é bom para seus candidatos.
Descobriram que os leitores destes blogs costumam ler apenas aqueles sites com inclinações equivalentes às suas. São poucos os que leem tanto blogs de direita quanto de esquerda. Uma segunda característica: talvez não sejam radicais, mas são politicamente aguerridos. Leitores de blogs de esquerda não estão ao centro. Tampouco seus pares à direita. São também politicamente engajados. Nos EUA, onde o voto não é obrigatório, eles votam. Doam dinheiro para seus candidatos. Fazem campanha.
Uma última característica descoberta pelos professores da GWU: os leitores de blogs de esquerda são mais ativos politicamente do que os de blogs de direita. Pode ser uma característica particular americana. Ou não.
A polarização se repete no Twitter. Estudo do Pew Research, publicado em fevereiro deste ano, mostra que duas redes se formam na rede social. Uma conservadora, outra progressista. Elas se estruturam ao redor de usuários particularmente influentes e inúmeras hashtags. Mas as hashtags usadas por um grupo não são repetidas pelo outro. Os usuários influentes num lado não são retuitados pelo outro. São grupos grandes que não se encontram. São raras as pontes, gente lida por ambos os grupos.
País rachado
Não é só a polarização que marca a conversa política online. É também a agressividade em relação ao outro lado. A pouca delicadeza nos diálogos pode ser feia, mas isso não quer dizer que atrapalhe a política. Outro estudo, assinado por Hyuseo Hwang, Porismita Borah, Kang Namkoong e Aaron Veenstra apresentado na Convenção Anual da Associação Internacional de Comunicação, em 2008, aborda este ponto.
A conclusão dos cientistas é de que o tom das conversas quando duas pessoas discordam, na internet, talvez seja mais relevante do que o fato de conversarem muito pouco entre si.
Política serve para que dois grupos com opiniões divergentes busquem pontos em comum que permitam o avanço em discussões. Cedam às vezes, ganhem noutras. A agressividade de um contra outro faz o contrário. Trava o diálogo, acirra o confronto. Impede que a democracia funcione. O discurso aguerrido pode ser útil para agregar militantes mas dificulta muito qualquer negociação com os adversários.
A escolha é de cada um. O Brasil está rachado. Metade de um lado, metade do outro. Alguém vencerá por margem estreita. Se o tom na internet permanecer como está, o caminho do país é bloqueado. Haverá ódio entre brasileiros. Buscar a conversa civilizada é nossa missão primeira na próxima segunda.
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Pedro Doria, do Globo