Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Clima de guerra na campanha eleitoral

A poucos dias do primeiro turno das eleições presidenciais torna-se inevitável uma avaliação sobre o grau de veemência, virulência ou mesmo violência da presente disputa eleitoral.

A avaliação será subjetiva, não há como medi-la em termos de intensidade ou quantidade. Mas é essencial aquilatar o teor do que se passa nos palanques e ruas de modo a evitar que o clima de um eventual segundo turno assuma proporções ainda mais graves.

Convém lembrar que no fim da noite de 26 de outubro, quando a contagem dos votos estiver concluída, começará uma tarefa ainda mais árdua e imprevisível do que a escolha do novo chefe de Estado: acabar com a presente cizânia.

O país não aguenta a manutenção do clima de discórdia e ressentimento. Mesmo os que adoram combates sabem que os gigantescos desafios que se avolumaram nos últimos meses só poderão ser vencidos com um mínimo de entendimento.

Os desafios que nos aguardam não se resumem à área econômica e social. aqueles que foram às ruas em junho-julho de 2013 – e agora, nas urnas, optaram por mudanças – sabem que no redesenho do Estado brasileiro será imperioso encarar a reforma política.

O que nos remete à questão inicial: a turbulência do processo eleitoral porventura não se relaciona com o instituto da reeleição?

É o que vamos examinar nesta edição do Observatório da Imprensa. (Alberto Dines)

 

 

A mídia na semana

>> A mídia não parece muito interessada em diversificar o entusiasmo por outros esportes de equipe, mesmo aqueles onde já temos uma posição destacada – caso do vôlei. Para o Campeonato Mundial masculino recentemente encerrado na Polônia nenhum dos grandes jornais mandou repórteres para cobrir as emocionantes partidas – a meia-exceção foi do Globo, cujo repórter viajou por conta da Federação Internacional. O Brasil foi vice-campeão com um desempenho excepcional, a façanha foi coberta apenas pelos canais esportivos na tevê paga com imagens vindas do exterior. O mesmo está acontecendo com a Copa Mundial de vôlei feminino, onde a equipe brasileira encerrou brilhantemente a primeira fase sem a presença de nossos repórteres em Trieste, Itália. Se a mídia não se interessa em valorizar um esporte no qual somos respeitados internacionalmente, como atrair patrocinadores e apoios para garantir algumas medalhas de ouro em 2016?

>> Uma semana para entrar na história da igreja católica. Em sua cruzada de tolerância zero com a pedofilia, o papa Francisco, na semana passada, mandou prender um arcebispo, o polonês Wesolowski, que servia na República Dominicana. E dias depois afastou um bispo paraguaio, Liviero Plano, membro proeminente da conservadora Opus Dei, por acobertar crimes cometidos por sacerdotes em sua diocese. O poder do papa Francisco é espiritual, mas a cada dia que passa deixa mais claro que delitos morais são tão perniciosos quanto os da esfera civil.

>> A prática do aborto é uma questão de saúde pública, mas agora está se tornando caso de polícia com o desaparecimento dos cadáveres de duas vítimas mortas em clínicas clandestinas, ambas no Rio de Janeiro. Com pelo menos três candidatas mulheres nos palanques – duas delas cotadas para o segundo turno – custa crer que a questão da descriminalização do aborto fique sujeita aos dogmas religiosos e num Estado que se pretende laico. Mais estranho é o silêncio do poderoso movimento feminista brasileiro e das autoridades de defesa dos direitos das mulheres em plena temporada de debates políticos. Se não agora, quando discutiremos o fim da Idade Média?