O Estadão foi o primeiro jornalão brasileiro a experimentar as novas tecnologias de informação, ainda no início dos anos 90, antes da Abril começar o BOL e a Folha lançar o UOL. Depois de diversas experiências digitais, o Estado lançou na segunda-feira (16/7) a campanha de publicidade do seu novo portal de notícias.
Capa e contracapa em papel especial, seis páginas inteiras no caderno ‘Metrópole’, tudo pensado para arrasar. Deu azar, pelo menos em São Paulo: fortes chuvas na parte da manhã interromperam o fornecimento de energia elétrica em diversas regiões da cidade, as operadoras de telefonia baquearam e o ‘sistema’ escancarou suas precariedades. Houve panes de até 20 minutos. Não é novidade: no final das tardes de sextas-feiras, quando aumentam os acessos, o ‘sistema’ também engasga.
Enquanto os jornais já anunciam a sua própria morte e se conformam em entregar o bastão à Internet, esta não consegue superar suas dificuldades estruturais. Pelo menos em nosso país. Basta ver a lentidão da oferta da banda larga, ainda circunscrita aos grandes centros urbanos. Basta ver o que Daniel Castro, colunista da Folha, chama de ‘praga da TV paga’ que trafega no mesmo sistema (domingo, 15/7, capa da Ilustrada). Basta ver o número de reclamações contra os serviços telefônicos registradas pelo Procon.
E como se não bastassem as deficiências técnicas, elementares, é preciso reconhecer que o jornalismo digital brasileiro não chega aos pés do rival impresso ou televisivo. Ganha com os blogs políticos, evidentemente mais ágeis do que as colunas impressas, mas perde nas demais modalidades. Nosso jornalismo digital talvez só supere o radiojornalismo, já que as redes de rádio investem ainda menos nas equipes de reportagem (exceto no monitoramento do trânsito).
O portal do Estadão parece clean, por enquanto livre da praga dos pop-ups, empenhado em antecipar os diários do dia seguinte. Mas cada façanha jornalística da internet brasileira produz uma frustração de igual intensidade. Fica clara a distância que a separa dos paradigmas ao quais o cidadão já se acostumou, tanto na mídia impressa como na eletrônica.
Certo da sua inevitável supremacia no futuro, nosso jornalismo digital contenta-se em andar de lado. Quer assumir o seu lado entretenimento, showbiz, antes de impor-se como indispensável ferramenta de informações. A melhor prova disso foi a resignação com que nossos portais de noticias aceitaram a proibição do Comitê Olímpico Brasileiro para não reproduzir imagens em tempo real das provas do Pan.
Clique ‘ão’, proclamam os anúncios do novo portal do Estadão. Mas a sensação geral é de ‘inho’.