Partidários de Hillary Clinton acusam a mídia americana de ter feito uma cobertura sexista durante a campanha da senadora pela indicação à candidatura do partido democrata. Eles fazem uma campanha de boicote às emissoras de notícias a cabo e têm postado vídeos no sítio do NOW (National Organization of Women), maior grupo feminista dos EUA. O objetivo é incentivar o debate sobre sexismo e forçar Barack Obama, que venceu Hillary na disputa pela candidatura presidencial, a comentar a postura da mídia com relação à senadora.
O assunto veio à tona depois do discurso em que Hillary reconheceu sua derrota. Na ocasião, ela afirmou que mulheres merecem respeito igualitário e que ‘não é aceitável que haja preconceitos no nosso país em pleno século 21’. Segundo a senadora, enquanto o racismo não é mais tolerado nos EUA, o sexismo é tratado como um problema menor.
Exploração
Com poucas exceções, representantes da mídia americana discordam dos partidários de Hillary. Muitos acreditam que, neste quesito, ocorreu um fenômeno inverso: na medida em que foram aumentando as evidências de que a senadora perderia a disputa, sua campanha acabou explorando alguns poucos exemplos em que a mídia foi sexista, justamente para chamar a atenção para a pré-candidata.
Phil Griffin, vice-presidente da NBC News e executivo encarregado da MSNBC, um dos principais alvos das críticas dos partidários de Hillary, alega que, embora tenham ocorrido alguns erros na cobertura, eles foram corrigidos rapidamente e o tratamento dado pela rede à senadora foi, de modo geral, justo. ‘No ciclo de notícias 24 horas, há pouco espaço para erros. Mas a campanha [de Hillary] viu nisto uma oportunidade para tirar vantagem’, alega. Rem Rieder, editor da revista American Journalism Review, concorda. Segundo ele, apesar de, por vezes, ter enfrentado uma cobertura ‘agressiva’, Hillary tem um longo histórico na vida pública como uma ‘pessoa séria e uma política rígida, e foi tratada desta maneira’.
Debate
Katie Couric, âncora da CBS Evening News, é uma das poucas vozes dissonantes entre os profissionais de imprensa americanos. A jornalista, que diz ter recebido críticas quando se tornou a primeira mulher a apresentar sozinha um noticiário do horário nobre, postou na semana passada um vídeo no sítio da CBS sobre a cobertura de Hillary. ‘Gostando ou não dela, uma das grandes lições da campanha é o constante – e aceito – papel do sexismo na vida americana e, em especial, na mídia’, afirmou. Para Howard Dean, presidente do Partido Democrata, é preciso que haja um debate público sobre o tema. ‘Hillary foi tratada da mesma maneira que muitas mulheres são tratadas durante toda sua vida’, afirma. Informações de Katharine Q. Seelye e Julie Bosnan [New York Times, 13/6/08].