Às vésperas do segundo turno da eleição para a Presidência da República, os jornais abrigam citações dando conta de que ninguém mais aguenta os discursos, os factóides e as discussões de campanha. Esta seria, segundo algumas análises, a causa do aumento no número de eleitores que se declaram indecisos ou adeptos do voto nulo ou em branco.
Segundo o instituto Datafolha, o índice de pessoas que não pretendem dar o voto a nenhum dos dois candidatos subiu de 2% para 5% entre as duas últimas pesquisas, enquanto o total de indecisos subiu de 3% para 8%.
Esses indicadores apontam a possibilidade de que muita gente se anime a viajar para a praia ou para o campo no sábado (29/10), aproveitando o prolongamento do feriado de 2 de novembro.
No Rio de Janeiro, o governo do estado mudou o feriado do Dia do Servidor Público Estadual de quinta para a segunda-feira (1/11), o que, segundo os jornais, deve estimular os eleitores de renda mais alta a se ausentar no dia da votação. Segundo a Folha de S.Paulo, essa medida tenderia a reduzir a votação nos bolsões da Zona Sul do Rio, onde se concentram os eleitores de José Serra.
Direito ao voto
Há de tudo nas análises, mas o ponto comum entre elas é certo esgotamento com o debate superficial e a baixaria que marcaram a campanha neste segundo turno.
Depois de contaminada pela questão do aborto, que foi artificialmente amplificada pela própria imprensa, a disputa se enredou em denúncias de corrupção lançadas e requentadas diariamente, e em nenhum momento o debate se aproximou das eventuais idéias que os contendores possuem para seus planos de governo. Promessas e acusações mútuas encerram o espetáculo.
Nesse estado de espírito, o eleitorado aguarda o último debate, marcado para esta sexta-feira na Rede Globo – depois da novela, claro. É bastante provável que, nesse horário, muitos deles já estejam em seus carros ou nas filas dos aeroportos, viajando para longe das urnas.
Na segunda-feira, 1º de novembro, a imprensa vai provavelmente registrar os altos índices de abstenção e alertar para o risco que corre a democracia quando a população se desinteressa do direito ao voto – sem tocar na hipótese de que a própria imprensa, ao estimular a baixaria, teria contribuído para o desânimo do eleitor.