Depois de tanto alarde sobre o livro Por uma vida melhor, do ensinar “errado”, dos absurdos que a mídia fez questão de propagar e que disseminou nas redes sociais numa linguagem também “errada” – triste paradoxo da imprensa – fica a pergunta: o que fazer para formar alunos com competência textual? E, se somente a gramática normativa dá conta desta tarefa?
Nosso meio de mudança e interação social no mundo é a linguagem. Dominá-la exige inter-discurso com as diversas camadas sócio-linguísticas. Isto não é tarefa fácil, porém é possível por meio de práticas de produção textual em que a relação com a linguagem não seja, unicamente, situada no campo sintático visando a uma normatização da língua, que ela vá alem disso e alcance o campo social no texto, trabalhando também o que está fora das normas.
O desenvolvimento da prática de produção textual tem como metas ampliar a capacidade da competência textual, incentivar à leitura e ao estudo gramatical, ação reflexiva da língua e desenvolver a expressividade de alunos. Estas são algumas das contribuições que a produção textual pode trazer para dentro da sala de aula, sendo desenvolvida por meio, principalmente, da realidade escolar e, posteriormente, passar para um campo linguístico mais amplo.
A perspectiva da intertextualidade
A competência textual provém da prática de produção textual. Entretanto, deve-se levar em consideração a leitura. A leitura não é só um momento dedicado à percepção da escrita; muito mais que isso, ela é oralidade em suas mais diversas manifestações. A oralidade, que perdeu campo para a escrita na escola contemporânea, é a primeira tarefa a ser trabalhada dentro da escola para alcançar a competência textual desejada, um trabalho que exige tempo e esforço de alunos, professores, escola e das autoridades.
Na construção de alunos competentes na produção textual, não podemos nos esquecer do espaço multicultural dentro da escola. Este espaço pode ser trabalhado na perspectiva do aluno extrair, dessas culturas distintas, conhecimentos de mundo diversos e internalizá-los, podendo ser trabalhado isto na escrita demonstrando domínio de linguagem nos diversos gêneros.
A linguagem, como entidade metafísica, cria o meio social que é expresso pela língua, meio em que surge a necessidade da comunicação, oral ou escrita, para autenticar e fazer troca de discursos. Neste ponto, situamos a produção textual como o método coletivo que melhor atende à comunicação.
Temos inserido nessa perspectiva a ideia de que sociedade (social) e linguagem devem ser trabalhadas na escola juntas para construção da competência textual. É papel da escola compreender a relação entre social e linguagem na produção de textos, já que língua é uma ferramenta revestida de características sociais, pois a atividade linguística é feita pelo próprio falante.
Aspectos psicológicos, sociais, culturais e históricos não devem ser desprezados na prática textual. Podem ser trabalhados, nos alunos, na perspectiva da intertextualidade, fato tão presente na contemporaneidade em que o homem não se prende mais a uma verdade absoluta, a necessidade de diversos pontos de vista é essencial para construção de sentidos.
Linguagem não é normatização, mas adequação
Como a linguagem traz ancorada os aspectos citados acima, a escola pode partir desse ponto para que alunos façam uma reflexão crítica da língua. E talvez seja aqui um dos objetivos do livro da professora Heloisa Ramos. Sendo assim podemos também tratar da produção de textos em diversos gêneros, tais como carta, e-mail, reportagem jornalística, outdoor, resenha e assim por diante.
Os gêneros textuais, sobretudo os de ordem tecnológica, por serem mais presentes no universo de alunos, são excelentes bases para o trabalho de desenvolvimento da escrita. Nestes gêneros estão presentes aspectos tanto gramaticais como agramaticais, que podem ser estudados como diversos considerando os aspectos sociais e culturais de quem escreveu. Os aspectos culturais têm sido de grande relevância para o estudo da nossa contemporaneidade, tanto na literatura como na crítica, e não é diferente para o caminho da competência textual em que se requer cada vez mais capacidade de escritas diversas como forma de interagir, questionar e discutir as práticas sociais.
No desenvolvimento da competência textual, é importante que professores deixem claro que a linguagem é como roupa. Existem aquelas que são usadas somente em determinadas festas, outras que podem circular por cenários diferentes sem problema. Enfim, que se ressalte que linguagem não é normatização, objetivando distinguir certo e errado, mas que é adequação e o domínio do registro informal é tão importante quanto o do formal.