Na Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio – PNAD de 2008, o IBGE revela os bens de consumo mais presentes nos lares brasileiros. Qual foi o campeão?
a) o telefone;
b) o computador;
c) a televisão;
d) a geladeira?
O telefone está presente em 82,1% das residências; o computador já aparece em um terço dos lares brasileiros e a televisão é assistida em 95,1% deles. Mas o bem de consumo que reina é o velho e bom fogão. Está em 98,2% dos lares.
Há certas coisas na vida que parecem óbvias até que duvidemos disso. O fogão é um exemplo. Todo mundo precisa de um e ponto final! Mas não seria razoável imaginar que num mundo marcado pela pressa, falta de tempo para cozinhar, forte indústria de alimentos prontos e franca expansão dos fast food, muitas pessoas poderiam abrir mão de ter um… fogão?
Seria razoável, mas não é a realidade. E por quê? A tecnologia e as facilidades têm seus limites. Embora a contemporaneidade aponte para a imaterialidade dos bens (não está sendo assim com a música e as notícias disponíveis na internet?), há uma fronteira difícil de ser superada que é a natureza humana.
Invenções e fantasias
O sociólogo e professor de Comunicação Ciro Marcondes Filho admite que o acesso ao imaterial proporciona amplas facilidades ao homem, mas defende que este não pode se privar da materialidade. Mais do que necessitar, o homem deseja usar os seus sentidos naturais. Daí a impossibilidade de que um dia aceitemos substituir a boa cozinha, com seus sabores, cheiros e prazeres, por práticos alimentos em pílulas, por exemplo.
E assim é em uma série de outras situações. Em Dorminhoco, o cineasta Woody Allen inventou a máquina do orgasmo individual; já em Desafio Total, Arnold Schwarzenegger sai de férias em uma viagem virtual a Marte sem tirar os pés do chão. O fato de o homem fantasiar com coisas deste tipo não significa que ele as deseje.
Novos parâmetros sociais
Este debate também se aplica à Comunicação. Os dados da PNAD 2008 mostram que boa parte dos bens de consumo adquiridos pelas famílias brasileiras é ligada ao desejo de se comunicar. Estão lá o telefone fixo e o celular, o computador e a internet, a televisão e o rádio. Meios de comunicação cuja convivência é motivo de controvérsia entre os especialistas. A internet vai acabar com os jornais e com a televisão? E o rádio? As experiências estão acontecendo: televisão e rádio dentro da internet, jornais de papel e livros transmitidos virtualmente para equipamentos portáteis, como o Kindle, que permite a leitura digital.
O papel já era? A televisão na sala da casa está com os dias contados? É evidente que a civilização humana se transformou e se transforma a partir da informatização, do processo digital e das comunicações on-line. Há novos parâmetros sociais. Mas não se trata apenas de saber se um aparelho ou processo substituirá ou não outro. Há de se estar atento à necessidade humana de saborear alimentos, se locomover com os próprios pés e ter acesso tátil e visual ao que lhe agrada. A resposta para estas inquietações pode estar naquele aparelho que com um ou mais orifícios, manufatura substâncias através de uma combustão rápida e persistente: o fogão.
Portanto, o fogão ficou, assim como ficarão o jornal de papel, o livro, o rádio e a televisão.
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Jornalista, chefe de reportagem da TV Gazeta, Vitória, ES