IMPRENSA & JUSTIÇA
A imprensa no banco dos réus, 31/01/07
‘Os últimos dias foram prolíficos no noticiário de ações judiciais que tiveram como alvo a imprensa. Algumas delas, movidas por essa mesma imprensa. Por conta disso, com o apoio do editor-executivo Wilson Baroncelli (baroncelli@jornalistasecia.com.br) e da correspondente no Rio de Janeiro, Cristina Vaz de Carvalho (cvc@criscom.com.br) a edição impressa deste Jornalistas&Cia, que circula nesta quarta-feira, procurou fazer um apanhado atualizando a barafunda de informações sobre os vários casos. Pela importância do tema para todos os que atuam na imprensa, tomo a liberdade de reproduzir a íntegra do texto publicado, contendo uma amostra das dezenas de imbroglios em que a imprensa e alguns jornalistas brasileiros estão arrolados. Há vários outros, mas aqui temos casos de primeira grandeza.
Uma passada de olhos nos veículos especializados na cobertura dos meios de comunicação nos últimos dias mostra o que poderia parecer, à primeira vista, um recrudescimento de ações judiciais contra a imprensa: foram pelo menos quatro notícias com foco em danos morais, isso sem contar a contenda que a ANJ abriu contra o diário gratuito Destak. Na opinião de Márcio Chaer, diretor do Consultor Jurídico, site que acompanha de perto esses e outros embates judiciais, a expressão ‘poderia parecer’ é correta, porque não está havendo uma elevação abrupta de ações contra a imprensa e seus profissionais. Ele faz essa afirmação com base num levantamento que, embora ainda não concluído, está fazendo sobre o volume de processos criminais contra veículos e jornalistas. ‘Mas já posso garantir uma coisa: quebrou-se nos últimos anos o tabu de que imprensa não processava imprensa, de que jornalista não acionava jornalista. E, mais, já não se usa a Lei de Imprensa para o caso de danos morais, mas sim o Código Civil, entre outras razões porque os crimes não prescrevem tão rapidamente nem há teto para indenizações’. Segundo Márcio, a proliferação de ações que hoje se vê contra a imprensa não é fruto de um surto autoritário, mas, sim, resultado de uma profunda alteração sócio-cultural por que vem passando o Brasil desde o restabelecimento do Estado de Direito, em 1984. Ele identifica como os grandes movimentos responsáveis por essa mudança a Constituição de 1988, o congelamento das contas bancárias imposto em 1990 pelo então presidente Fernando Collor de Mello (‘Ele ensinou o caminho da Justiça ao cidadão comum, que a ela recorreu para recuperar o seu dinheiro, o que multiplicou o número de ações por 50 em 1993’), a CPI do Judiciário em 1994 e o caso do juiz Lalau (Nicolau dos Santos Neto) que até hoje está nos noticiários. ‘Desde que não sejam usadas para cercear a liberdade de imprensa, essas ações têm um efeito positivo. Acabam com o mito da impunidade na imprensa’.
Gushiken vs. Attuch, Jardim e Mainardi
O ex-secretário de Comunicação do Governo Lula, acionou a Polícia Federal com um pedido inusitado: ‘adoção de medidas policiais cabíveis contra jornalistas que teriam plantado informações falsas sobre ele, a mando do banqueiro Daniel Dantas’. Quem revelou a iniciativa foi Paulo Henrique Amorim, no blog Conversa Afiada. Entre os profissionais acusados por Gushiken estão Leonardo Attuch, de IstoÉ Dinheiro, e Lauro Jardim, de Veja, os quais, curiosamente, estavam em lados opostos meses atrás, por conta de matérias envolvendo o próprio Daniel Dantas. Também o colunista Diogo Mainardi é citado na carta de Gushiken. Em artigo que escreveu nesta 2ª.feira (28/1) para o Consultor Jurídico, intitulado Qual é o seu medo, senhor Luiz Gushiken?, Attuch refuta incisivamente Gushiken: ‘O ex-ministro fala em suborno. Cita jornalistas e as revistas Veja e Carta Capital. Confunde fatos e inverte os papéis de vítima e agressor. É ele quem deve explicações à Justiça. É ele quem foi um dos 40 denunciados no processo do mensalão pelo procurador-geral da República… Mas não foi Gushiken a pessoa acossada pela Polícia Federal petista nesses últimos anos. Fui eu. Em 2004, no calor da Operação Chacal contra as empresas Kroll e Opportunity, ousei dizer que não se tratava de uma mera ação policial. Escrevi que estávamos diante de um takeover empresarial com participação ativa e pesada do governo brasileiro – e isso, os fatos confirmaram. Além do mais, as notícias que vêm da Itália revelam farta distribuição de dinheiro sujo.’
Attuch viajou à Europa para acompanhar o andamento das investigações que se desenrolam na Procuradoria de Milão sobre uma quadrilha formada por vários espiões que estariam ligados à Telecom Italia, com ramificações no Brasil. Diz ele, no artigo: ‘Mais de 20 pessoas já foram presas por lá. E essa quadrilha italiana, batizada de ‘tiger team’, atuou intensamente no Brasil durante os anos de 2004 e 2005. A partir da confissão de um dos espiões, Marco Bernardini, os procuradores descobriram que a quadrilha fez pagamentos ilegais a políticos, a policiais e até mesmo a jornalistas brasileiros. Coisa de US$ 2 milhões. É isso que relato num artigo publicado nesta semana na IstoÉ’.
Ele conclui afirmando ser ‘espantoso que um ministro de Estado – afinal, foi nessa condição que Gushiken escreveu ao diretor da PF – tenha a ousadia de fazer uma denunciação caluniosa para intimidar jornalistas’ e questiona: ‘Mas, afinal de contas, de quê Gushiken tem medo? Por que procura já a Polícia Federal e não a Justiça, quando vier – e se vier – a ser difamado? Aliás, difamá-lo jamais foi meu propósito. Que intenção eu teria de ofender uma pessoa tão enredada em investigações? Nenhuma. É claro que gostaria de contribuir para que os fatos relativos ao ‘caso Brasil Telecom’ e todos os subornos – exatamente todos – sejam esclarecidos. E gostaria até de debater esse tema, publicamente, com Gushiken. É triste ver alguém tão bem sucedido na luta pelo poder, com tanta experiência na vida pública, querer criminalizar um profissional. Isso não é tolerável no Brasil contemporâneo. E é também ineficaz. Há vários outros jornalistas, corretos e ainda mais competentes, em busca da verdade. Talvez já estejam até em Milão.’
Igreja Renascer vs. Editora Globo
O ministro Francisco Peçanha Martins, presidente em exercício do STJ, decidiu no último dia 25/01 que a Editora Globo continua obrigada a pagar R$ 410 mil de indenização por danos morais para o casal Estevam Hernandes e Sônia Hernandes, donos da Igreja Renascer em Cristo. A defesa da editora havia recorrido ao tribunal contra a decisão do TJ-SP, que a intimara a pagar a indenização no prazo de 15 dias, a partir da publicação do acórdão, sob o risco de multa de 10% por inadimplência. Estevam e Sônia Hernandes ajuizaram a ação de indenização por danos morais em 2002, alegando que foram atingidos em sua honra pelo conteúdo das reportagens publicadas pela revista Época, nas edições de números 209 e 210. Peçanha Martins não acolheu o argumento da defesa da editora de que ela está submetida a riscos de danos irreparáveis caso pague a indenização e o acórdão seja reformado posteriormente. O ministro ressaltou que o Efeito Suspensivo em Recurso Especial só é concedido em ‘casos excepcionalíssimos’, quando manifestadamente contaminados por flagrante ilegalidade ou para evitar dano irreparável, o que não teria ocorrido no caso.
Em face da decisão, a Editora Globo divulgou nota nesta última 2ª.feira (29/01) historiando o processo e informando que havia entrado com medida cautelar a fim de suspender o pedido de execução provisória ‘porque, nos cálculos realizados pelo casal Hernandes, o valor estaria sendo corrigido duplamente, pois foi usado o valor atual do salário mínimo e, mesmo assim, calculada uma correção desde 2002’, mas que, devido ao indeferimento do seu pedido, no dia 26/01 ‘realizou um depósito judicial no valor de R$ 195 mil, calculados com a mesma base de 500 salários mínimos em seu valor atual mais os honorários advocatícios e apresentou impugnação aos cálculos da Igreja Renascer’. A editora esclarece ainda na nota que ‘na impugnação, a fim de preservar-se, fez um pedido de não levantamento do valor depositado, o que impediria o casal de movimentar este dinheiro. Isso porque em casos de execução provisória a parte beneficiada tem por obrigação judicial dar como garantia algum bem caso perca o processo em última instância, sendo obrigada a devolver a quantia depositada na execução provisória’.
Cid Moreira vs. Eliana e Rede Record
O site Consultor Jurídico informa, em nota publicada nesta 3ª.feira (30/1), que o locutor do ‘Fantástico’ Cid Moreira entrou com processo indenizatório contra a apresentadora de tevê Eliana Michaelichen Bezerra e a Rede Record por terem usado no programa ‘Tudo é Possível’, do dia 23/10/05, um boneco de espuma, com voz de ventríloquo e a aparência do locutor, que teria feito gestos obscenos considerados por ele ofensivos à sua moral, além de, segundo Cid, caracterizar uso indevido e não autorizado de sua imagem. Ele, que pede uma indenização de R$ 150 mil, afirma não ser contra o sexo e nem a sexualidade, mas alega, por meio de seu advogado, Júlio César Martins Casarin, ‘que sofreu dano psicológico agravado pelo fato do foco primordial de seu trabalho ser a gravação em áudio de textos da Bíblia. Para ele, sua imagem estaria fortemente vinculada à palavra de Deus, não podendo aceitar a forma bestial como foi retratado’. Outro argumento do advogado é que o locutor dispensa apresentações e que é comum seu nome e imagem serem usados em programas de televisão que respeitam o limite da diversão, o que não teria acontecido no caso. Até o fechamento desta edição, nem a Record nem a apresentadora haviam se manifestado sobre o processo.
O Dia vs. Veja
Na prática, a Justiça ainda não foi acionada, mas o grupo O Dia de Comunicação anunciou no último final de semana que pretende entrar com uma ação contra a revista Veja e o colunista Lauro Jardim por nota publicada na seção Radar desta semana. Segundo esta, a família Carvalho, proprietária do jornal, teria sido procurada pelo bispo R. R. Soares, pela Igreja Universal do Reino de Deus e pela CBM – Companhia Brasileira de Mídia, de Nelson Tanure, para vender o grupo por cerca de US$ 70 milhões. Na 2ª feira (29/1), a presidente de O Dia, Gigi Carvalho, em editorial dirigido aos ‘colaboradores e parceiros, internos e externos’ publicado na primeira página do jornal, negou negociações com ‘qualquer representação religiosa, empresários ou arrivistas e aventureiros que, de passagem, vivem hoje no e do mundo da comunicação’. J&Cia apurou que Veja não deverá recuar, pois tem confiança na veracidade da informação. Até o fechamento desta edição, o Departamento Jurídico de O Dia ainda não havia ingressado com a ação alegando estar estudando qual a melhor alternativa para o caso.
Destak vs. ANJ
O diário gratuito Destak, conforme apurou este J&Cia, apresentou no último dia 26/01 ao Ministério Público documentação em que ‘demonstra sua estrita obediência ao Artigo 222 da Constituição brasileira’, que determina que pelo menos 70% do capital das empresas jornalísticas devem pertencer a brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos e que a gestão empresarial e a responsabilidade editorial também precisam ser exercidas por brasileiros. O questionamento ao Destak pelo MP foi feito por solicitação da Associação Nacional de Jornais, como noticiamos na última edição. Segundo o jornal, conforme documentação enviada à Promotoria da Justiça da Cidadania, o empresário André Jordan é brasileiro naturalizado há mais de 50 anos e detém 70,1% do capital da empresa proprietária do jornal Destak. A documentação também expressa que, ‘por delegação de Jordan, a gestão empresarial é exercida pelos diretores Cláudio Zorzett e Fábio Santos, ambos brasileiros natos, e que este último é o responsável pelo conteúdo editorial do jornal’. Quanto à questão suscitada pela ANJ sobre a presença majoritária de estrangeiros no Conselho de Administração da empresa proprietária do jornal, informa o Destak que a lei brasileira que rege as sociedades anônimas não impõe nenhuma limitação à nacionalidade dos conselheiros. No que se refere à sua tiragem, o diário esclarece que ela é de 200 mil exemplares diários e que é auditada pela empresa BDO Trevisan, cujos relatórios estão disponíveis aos interessados – ‘o último deles, de novembro de 2006, indica tiragem média de 193 mil exemplares’. Por fim, o Destak afirma que não tem sua circulação verificada pelo Instituto Verificador de Circulação (IVC) porque esta entidade não audita publicações gratuitas, mas destaca que ‘uma pesquisa da Ipsos-Marplan constatou que o Destak tem uma média de 4,8 leitores por exemplar, o que indica uma audiência estimada em 960 mil leitores’.
Na opinião de Fábio Santos, o Destak só chamou a atenção da ANJ e a iniciativa do Ministério Público só virou notícia na mídia porque o jornal já seria um projeto de sucesso. ‘Se não estivéssemos indo bem, a associação que representa os jornais pagos não iria pedir nenhuma medida ao Ministério Público’, diz ele. Para o diretor comercial Cláudio Zorzett, já era esperado algum tipo de reação dos jornais tradicionais. Mas ele pondera que ‘os jornais tradicionais deveriam até apoiar o fenômeno dos jornais gratuitos de qualidade como o nosso, que democratizam o acesso à informação e atraem leitores jovens para o meio jornal, target que os veículos pagos têm tido crescente dificuldade de atrair’.
Em tempo: Tanure, Barbará e a Peixes
Salvo imprevistos, a CBM – Companhia Brasileira de Mídia, de Nélson Tanure, conforme apurou este J&Cia, anuncia ainda nesta 4ª.feira (31/01) a aquisição do controle acionário da Editora Peixes, de propriedade de Ângelo Rossi. O assunto veio a público nos últimos dias por conta da contratação do executivo Daniel Barbará pela CBM, que teria como uma de suas prioridades justamente a gestão da nova aquisição do grupo. Imediatamente Rossi veio a público desmentir a informação, dizendo que, embora estivesse negociando, a empresa não havia sido vendida. Nesta 3ª.feira (30/01), poucas horas depois do desmentido de Rossi, no entanto, um release distribuído pela Di Fatto Assessoria, assinado por Ana Paula Ignacio, dava como efetivada a transação.
Diz o release: ‘Embora Barbará assuma imediatamente a Presidência da CBM – que inclui entre suas bandeiras as marcas Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, Forbes, CNT, Casa Brasil, entre outras – seu ingresso nas atividades será gradativo (…) Nos primeiros meses, Barbará dará mais foco à CNT, à Casa Brasil e à Editora Peixes (grifo nosso). Gradativamente, irá se familiarizando com as demais empresas até que em meados deste ano possa se sentir seguro e totalmente integrado ao grupo, suas empresas e seus desafios. ‘A CBM adquiriu muitos negócios num curto espaço de tempo. Isso resulta numa soma de diferentes culturas. Agora é a hora de criar a nossa própria cultura’, diz Barbará. ‘A vinda de Daniel marca um importante passo na profissionalização da CBM e a compra da Editora Peixes (grifo nosso novamente) nos permite volume no meio revistas e na web. Além disso, os movimentos não param por aqui’, ressalta Tanure.’
Num outro trecho, o release acrescenta: ‘Para justificar sua opção em investir em mídia, Tanure cita uma frase do filósofo alemão Friederich Nietzsche: ‘Lá, onde mora o perigo, também mora a salvação.’ Em seguida, adapta o adágio para o mundo empresarial: ‘Onde estão os problemas é que estão as grandes chances’, detalha’.
O texto finaliza assinalando que, ‘segundo Tanure, adventos como web, YouTube, telefones celulares, entre outros, mudaram a relação da mídia com audiência e nem todos estão preparados para isso. ‘Esse jogo cada dia mais é para os grandes e corajosos’, afirma Tanure.’
Anunciando ou não a aquisição da Peixes, o certo é que a CBM entra fevereiro sob nova direção, com Barbará no comando. Ele assume nesta 5ª.feira, 1º/2. Ao aceitar o convite de Tanure, deixou para trás os 26 anos que tinha de DPZ, onde ocupava havia anos a Direção Comercial. E a partir de agora, passará a ser o porta-voz oficial da CBM, permitindo a Tanure ficar ainda mais nos bastidores, onde gosta efetivamente de estar e de atuar.
Até lá, provavelmente também começarão a se desvendar os rumores que citam uma possível venda da Editora Três para o próprio Tanure ou para Daniel Dantas. Sobre o assunto, que há semanas corre o mercado, não se obteve ainda uma única declaração do diretor-geral da empresa Domingo Alzugaray. A conferir.
(*) É jornalista profissional formado pela Fundação Armando Álvares Penteado e co-autor de inúmeros projetos editoriais focados no jornalismo e na comunicação corporativa, entre eles o livro-guia ‘Fontes de Informação’ e o livro ‘Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia’. Integra o Conselho Fiscal da Abracom – Associação Brasileira das Agências de Comunicação e é também colunista do jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, além de dirigir e editar o informativo Jornalistas&Cia, da M&A Editora. É também diretor da Mega Brasil Comunicação, empresa responsável pela organização do Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas.’
GUSHIKEN vs. MAINARDI, ATTUCH E JARDIM
Paixão é antônimo de isenção, 2/02/07
‘O site de Paulo Henrique Amorim – Conversa Afiada – deve estar batendo recordes de audiência, é só dar uma olhada no número de comentários à matéria do Marcelo Tavela em nosso Comunique-se. Mas ainda mais espantoso do que o pedido de investigação encaminhado à Polícia Federal por Luiz Gushiken ou as denúncias de três jornalistas – Diogo Mainardi, Leonardo Attuch e Lauro Jardim – que o motivaram, é o tom de alguns desses comentários.
Dado o pressuposto de que todos, leitores ou escribas do Comunique-se, somos todos profissionais de Comunicação, dá para entender o tom passional-partidário de alguns debatedores?
Três jornalistas talentosos acusam o mais importante membro do núcleo estratégico do Governo de estar supostamente envolvido em uma grande maracutaia. E ele retruca com o pedido oficial de uma investigação criminal, afirmando que os jornalistas estão envolvidos em uma perigosa – e supostamente bem remunerada – conspiração.
Amigos, isso não pode ser transformado numa briga entre petistas e tucanos. Mesmo que seja ou venha a ser. Se queremos uma imprensa cada vez mais competente, vigilante e cuidadosa, instituições do Estado cada vez mais empenhadas em seu aperfeiçoamento, e cidadania cada vez mais consciente do poder de decidir sobre os rumos do país, é imperativo fazer aquela famosa pausa para meditação.
Por mais engajados (as) política ou filosoficamente – e é claro que cada um de nós tem convicções definidas – temos um compromisso fundamental com a busca ou, no mínimo, a aproximação da verdade. E não é como porta-bandeiras de paixões sectárias que vamos ser fiéis a esse compromisso.
Isenção mesmo com justa paixão
Tenho motivos para não gostar do Lauro Jardim. Há alguns anos, dei uma nota aqui informando que Ancelmo Góis aceitara fazer a coluna no Globo, deixando um site onde ganhava menos mas era lido por poucas pessoas. O título era engraçadinho, na base de que Ancelmo preferira ser feliz a ganhar muito. O Lauro, sem nada a ver com o assunto, veio falar com um dos donos do Comunique-se (na época) e pediu minha cabeça.
Mesmo assim, tenho de defendê-lo no caso da nota publicada pela Veja sobre a venda de O Dia, desmentida veementemente, com editorial na primeira página, pela direção do jornal. Para quem não é do Rio, aí vão os links para a nota de Lauro (seção Raio X da revista) e a resposta da sra. Gigi Carvalho.
A razão da defesa é simples: também recebi essa informação e ia dar aqui nesta coluna. Mas a Veja saiu na frente, antes de eu procurar a direção de O Dia na segunda-feira. D. Gigi nega firmemente que pretenda vender o jornal. Mas tem gente querendo comprar.
Pessoal, a China nos imita
A China tem 150 mil repórteres registrados. A mídia, no total, emprega 700 mil pessoas. E foi para todo esse povão que lançaram nesta quarta-feira (31/1), em Pequim, o Comunique-se deles, um pouco diferente porque a idéia é que www.zgjx.cn promova o diálogo entre profissionais e também entre eles e o público.
Zhai Huishen, vice-presidente da Associação Chinesa dos Jornalistas, responsável pelo site, definiu-o como uma espécie de ‘futuro museu de informações para a mídia do país’. Dêem uma olhadinha. Eu já dei mas não entendi nada.’
ANJ vs. DESTAK
Sob investigação, Destak afirma que cumpre a lei, 2/02/07
‘A pedido da Associação Nacional dos Jornais (ANJ), o Ministério Público do Estado de São Paulo iniciou uma investigação sobre uma possível irregularidade na administração do jornal Destak, da capital paulista.
A suspeita é de que o jornal descumpra o artigo 222 da Constituição Federal, que prevê que ao menos 70% de uma empresa jornalística deve pertencer a brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos. A administração da empresa também deve ser de brasileiros. No final do ano passado, a ANJ encaminhou pedido ao Ministério Público que averiguasse a participação de capital estrangeiro na empresa.
No caso do Destak, 70% das ações pertencem ao empresário André Jordan, brasileiro naturalizado há mais de 50 anos, e 30% são de dois grupos portugueses. Mas a ANJ alega que o conselho administrativo é integrado por apenas um brasileiro e seis portugueses ligados aos sócios minoritários: Cofina, maior grupo de mídia impressa de Portugal, e Metro News, que lançou o veículo em Lisboa.
200 mil exemplares
O jornal Destak, que foi lançado em julho de 2006, tem hoje tiragem de aproximadamente 200 mil exemplares e sua distribuição ocorre de segunda à sexta feira gratuitamente.
O veículo alega que a gestão empresarial é exercida pelos diretores Cláudio Zorzett e Fábio Santos, ambos brasileiros natos. Afirma também que a lei que rege as sociedades anônimas não impede que haja membros estrangeiros no conselho, pois o esse somente delega as ações que são implantadas pelos diretores.
Fábio Santos, diretor editorial do Destak, afirma que o caso só chamou a atenção porque o jornal está incomodando os veículos estabelecidos: ‘se não estivéssemos indo bem, agradando nossos leitores e atraindo cada vez mais anunciantes, a associação que representa os jornais pagos não iria pedir nenhuma medida ao Ministério Público’.
A assessoria de comunicação da ANJ informou que a posição da Associação é não se manifestar sobre a questão enquanto não houver uma conclusão final do Ministério Público.’
MERCADO EDITORIAL
Rede Bom Dia de jornais lança sua edição para cidade de Itapetininga (SP), 2/02/07
‘Atuando no interior de São Paulo com uma estrutura de rede, onde uma redação produz a maior parte do conteúdo e redações menores fazem a cobertura local, o grupo Bom Dia lançará neste domingo sua versão para Itapetininga e região. Além dela, outras quatro cidades – Sorocaba, Jundiaí, São José do Rio Preto e Bauru – possuem edições específicas para o município e sua área metropolitana.
Em Jundiaí, 23 jornalistas formam a redação que escreve as matérias de caráter mais abrangente, que são reproduzidas em todos os jornais da rede. As quatro cidades citadas, e agora também Itapetininga, possuem equipes que produzem conteúdo específico para sua região, possibilitando ao jornal alcançar cerca de quatro milhões de habitantes em 120 cidades paulistanas.
O Bom Dia atua na região coberta pela TV Tem, retransmissora da Rede Globo pertencente ao Grupo Traffic, o mesmo que controla o jornal. ‘Nossa tendência é expandir para as áreas onde a TV Tem está presente, onde você tem a força comercial da televisão atuando em favor do jornal’ observa Marcos Nogueira de Sá, diretor comercial do jornal. Ele considera a expansão do Bom Dia para Itapetininga, cidade de 150 mil habitantes, se justifica porque a cidade é um pólo para a região, tem localização geográfica estratégica e possui mercado maduro.
Quase um ano e meio após seu lançamento, a rede Bom Dia começa a se consolidar e em algumas cidades onde atua já deixou de operar no vermelho. ‘Temos a facilidade do anunciante poder alcançar diversas cidades com um mesmo anúncio. Atendemos às empresas da cidade de São Paulo que anunciam no interior do Estado, como as grandes atacadistas’, avalia Sá.’
INTERNET
As melhores intranets, 1/02/07
‘Saiu há alguns dias a lista com as ‘10 Melhores Intranets de 2007’, organizada por Jakob Nielsen, guru da usabilidade.
A usabilidade, para quem não conhece, é a melhor maneira de se medir o sucesso de um site, bem antes de se pensar em visitação. Para tal, é só arregimentar um grupo de pessoas dispostas a participar de meia dúzia de testes, e pronto: você tem nas mãos um pote de ouro com as mais diversas opiniões sobre o que foi produzido. Com a usabilidade, dá-se voz a quem de fato interessa na web: o usuário.
Jakob Nielsen realiza testes de usabilidade para sites intranet todo ano, e a cada edição você encontra boas surpresas. Para quem acha que esse trabalho não tem a mínima importância, é bom lembrar que a lista com os escolhidos inclui sites intranet que, pelo menos para o nosso guru, estão no ponto para virar benchmark, o que é uma ajuda e tanto para profissionais e companhias que querem ‘sugar’ melhores práticas daqui e dali, mas circulam às cegas pelo mercado – já que intranet é um ambiente retrito à própria empresa.
A lista dos notáveis de 2007 é a seguinte:
– American Electric Power (USA)
– Comcast (USA)
– DaimlerChrysler AG (Alemanha)
– The Dow Chemical Company (USA)
– Infosys Tecnologies Limited (Índia)
– JPMorgan Chase & Co. (USA)
– Microsoft Corporation (USA)
– National Geographic Society (USA)
– The Royal Society for the Protection of Birds (RSPB) (Inglaterra)
– Volvo Group (Suécia)
O critério para participar da escolha é bem claro: abra as portas para a equipe de Mr. Nielsen, a Nielsen Norman Group, e você está automaticamente no páreo.
O ‘top ten’ deste ano traz algumas curiosidades:
– 4 empresas não são americanas, o que o próprio Jakob faz questão de alardear em seu site useit.com, que traz o resultado da ‘eleição’;
– Das 4 empresas não-americanas, uma é da Índia – ou seja, do ‘grupinho’ das nações que prometem ‘dominar o mundo’ ao longo deste século, e no qual, nós, brazucas, estamos incluídos;
– 2 empresas são montadoras – o que significa isso, afinal? Deve querer dizer alguma coisa. Fato é que podia não haver nenhuma, e há duas! 😉
O que me chamou a atenção ao ler a análise que está no site de Nielsen, contudo, foi o fato de que muitas empresas, e aí está incluída a Volvo e a DaimlerChrysler AG (olha as montadoras aí, de novo), passaram a veicular, na primeira página de suas intranets, notícias que não dizem respeito à empresa…
A DaimlerChrysler AG, durante a Copa do Mundo do ano passado, chegava a listar – e ajudar o usuário a acompanhar, portanto – os resultados dos jogos do campeonato. O raciocínio por trás? Evitar que o empregado acabasse ‘flanando’ pela internet em busca do placar final de cada partida…
A Volvo fez mais: criou uma área que chamou de ‘5 Minutos Apenas’ (uma sugestão ou uma ordem?), que oferece ao usuário um conjunto de notícias gerais e diárias que a empresa considera essenciais para começar o dia – e que, por ser um conjunto reduzido de news, dá para ser ‘consumido’ em cinco minutos. É, digamos, uma versão BigMac do noticiário.
Sei não… Notícias com picles e molho especial… Acho que eu prefiro, mesmo, é pegar as notícias fresquinhas no buffet da minha boa e velha internet, onde posso até repetir! 😉
Opiniões, por favor…
(*) É autor do primeiro livro em português e terceiro no mundo sobre conteúdo online, ‘Webwriting – Pensando o texto para mídia digital’, e de sua continuação, ‘Webwriting – Redação e Informação para a web’. Ministra treinamentos em Webwriting e Arquitetura da Informação no Brasil e no exterior. Em sete anos, seus cursos formaram 1.300 alunos. É Consultor de Informação para a Mídia Digital do website Petrobras, um dos maiores da internet brasileira, e é citado no verbete ‘Webwriting’ do ‘Dicionário de Comunicação’, há três décadas uma das principais referências na área de Comunicação Social no Brasil.’
DIRETÓRIO ACADÊMICO
Sobre ferramentas e artes do nosso ofício, 2/02/07
‘O XIS DA QUESTÃO – Narrar e argumentar é tudo o que fazemos, como trabalhadores e artistas do jornalismo. Para narrar e argumentar, usamos informações e opiniões – sempre e inevitavelmente. Mas em combinações estratégicas: na narração, as idéias sirvam para dar evidência e clareza à relevância dos fatos; na argumentação, os fatos servem dão sustentação, força, clareza e sentido às idéias.
1. Proposta de pensar junto
No texto da semana passada, escrevi: ‘Para dar conta do ‘mundo não noticiado’, e das suas relações com o ‘mundo noticiado’, o jornalismo impresso tem de reinventar formas e combinações para as ações de narrar e argumentar – e isso inclui o resgate criativo da notícia, para papéis sociais diferentes dos que teve na segunda metade do século XX.’
Essa foi uma das três resumidas idéias que apresentei, na esperança de que pudessem ‘servir de ponto de partida para algumas reflexões e discussões sobre encruzilhadas que impõem ao jornalismo impresso o desafio de se entender a si próprio, para fazer escolhas’.
Retomo o tema, ou melhor, os temas, motivado por um e-mail recebido da colega Adriana Passos, professora de redação em jornalismo impresso, no interior de Minas Gerais. Ela concorda com o que escrevi, e também discute, com colegas, a necessidade de repensar formas e atitudes do jornalismo impresso. Mas esbarra em limitações resumidas em duas perguntas: Como fazer essa reinvenção? Por quais caminhos? Como seria o texto – mais analítico? Menos vinculado ao factual?
Proponho uma pensata, sem nos impormos o dever de alcançar a verdade. E que certamente se alongará por duas ou três semanas, na coluna. Afinal, estamos mexendo com um assunto nada fácil.
Vamos, pois, à pensata.
2. Gênero, questão de forma
Em primeiro lugar, acredito que o primeiro de todos os caminhos é o da revisão conceitual. Quando proponho o rompimento com o velho e falso paradigma que divide o jornalismo em opinião e informação, não penso apenas, nem principalmente, na questão dos gêneros. Mesmo conceitualmente, os gêneros não passam de formas discursivas mais ou menos eficazes, abertas a fusões e experimentações, tendo em vista as circunstâncias, os objetivos e os intervenientes da ação discursiva que se pretende realizar.
Ora, forma de texto nada tem a ver com opinião ou informação. Só para dar um exemplo: onde está a fronteira entre informação e opinião, numa boa entrevista?
Dar ao texto a estrutura externa (a isso se chama ‘forma’) de entrevista, o que se faz é optar pela alternativa mais eficaz de relatar conversas. Mas o mesmo conteúdo poderia ser inteiramente preservado, mesmo se ‘acomodado’ em outra forma – a de artigo, por exemplo, caso a intenção autoral preponderante deixasse de ser a de relatar uma conversa e passasse a ser a de propor aos leitores um acordo em torno de uma idéia ou de um conjunto de idéias. Bastaria eliminar as perguntas e costurar literariamente as resposta, para termos uma argumentação estruturada em forma de artigo.
Estamos, pois, diante de um falso paradigma, insustentável tanto na teoria quanto na prática. Ou alguém conseguirá definir um bom título ou uma boa abertura de matéria sem intervenções de valoração e ajuizamento?
Se, como certa vez escreveu Paulo Francis, fazer jornalismo é saber lidar com relevâncias, como chegar à opção por relevâncias sem o exercício competente da capacidade opinativa?
Vamos, pois, trabalhar para o solene enterro da fraude teórica que divide o jornalismo em opinião e informação. E construir novos entendimentos do jornalismo, a partir da evidência de que, como linguagem e como discurso, ele não se divide, mas se constrói com opiniões e informações.
São as duas grandes substâncias do discurso jornalístico, que se expressa apenas por duas classes de texto, ou seja, dois gêneros: o gênero do relato, para as ações jornalísticas de narrar, e o gênero do comentário, para as ações jornalísticas de argumentar – cada um deles com as respectivas espécies, agrupadas por semelhanças estilísticas.
É tudo o que fazemos, como trabalhadores e artistas do jornalismo: narrar e argumentar. Com informação e opinião, sempre, mas em combinações estratégicas, de tal forma que, na narração, as idéias sirvam para dar evidência e clareza à relevância dos fatos, enquanto na argumentação se utiliza a estratégia oposta: os fatos (pelos quais sempre começa um bom artigo) servem para dar sustentação, força, clareza e sentido às idéias.
3. Vocação preponderante
O que aí fica escrito enquadra-se em um conceito mais amplo, que entende e explica o jornalismo, na sua totalidade, como linguagem interpretativa, apoiada no argumento da veracidade. Linguagem com recursos discursivos que lhe permitem dar boa conta de vocação preponderante culturalmente definida: a de relatar, valorar e elucidar os conflitos da atualidade, nos quais os sujeitos sociais organizados agem pelo que dizem e fazem. Ao cumprir esse papel, o jornalismo não só faz aflorar os conflitos no espaço da discussão pública, mas contribui para os conflitos noticiáveis se realizem com sucesso, em favor dos processos sociais.
Para nos entendermos como narradores e argumentadores dos conflitos da atualidade, sobre atualidade teremos de falar. Na próxima semana.
(*) Carlos Chaparro é português naturalizado brasileiro e iniciou sua carreira de jornalista em Lisboa. Chegou ao Brasil em 1961 e trabalhou como repórter, editor e articulista em vários jornais e revistas de grande circulação, entre eles Jornal do Commercio (Recife), Diário de Pernambuco, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo, Diário Popular e revistas Visão e Mundo Econômico. Ganhou quatro prêmios Esso. Também trabalhou com comunicação empresarial e institucional. Em 1982, formou-se em Jornalismo pela Escola de Comunicação de Artes, da USP. Também pela universidade ele concluiu o mestrado em 1987, o doutorado em 1993 e a livre-docência em 1997. Como professor associado, aposentou-se em 1991. É autor de três livros: ‘Pragmática do Jornalismo’ (São Paulo, Summus, 1994), ‘Sotaques d’aquém e d’além-mar – Percursos e gêneros do jornalismo português e brasileiro’ (Santarém, Portugal, Jortejo, 1998) e ‘Linguagem dos Conflitos’ (Coimbra, Minerva Coimbra, 2001). O jornalista participou de dois outros livros sobre jornalismo, além de vários artigos (alguns deles sobre divulgação científica pelo jornalismo), difundidos em revistas científicas, brasileiras e internacionais.’
JORNAL DA IMPRENÇA
Grande Dácio Malandro!, 1/02/07
‘Todos os dias eu digo:
escreverei um poema
Todos os dias eu falho
escrevo acontecimentos
(Nei Duclós in Outubro)
Grande Dácio Malandro!
O considerado Sérgio Noronha segurou uma furtiva lágrima durante o intervalo de Volta Redonda 3, Fluminense 2, no sábado passado, quando o narrador Luís Roberto apresentou o quadro Baú do Esporte, com imagens de um partido-alto em 1975, na casa de Alcir, então meio-campista vascaíno.
Lá estavam, num bem conservado VT, o dono da casa e os convidados, entre os quais o craque tricolor Rivelino. Num canto, jovem, magrinho e sorridente como sempre, avistava-se Dácio de Almeida, o ‘Dácio Malandro’, grande repórter esportivo do Jornal do Brasil, diretor de escola de samba e excelente figura da paisagem carioca. Foi a lembrança do velho amigo e companheiro de Redação que fez Noronha tremer na base, como se diz. Os telespectadores mais veteranos certamente acompanharam o comentarista da Globo naquele breve instante de pura emoção.
Então veio à memória do colunista uma tarde de domingo dos anos 60, quando Dácio Malandro, que tantos imaginavam torcedor do Fluminense, chegou à Tribuna da Imprensa do Maracanã depois de um almoço bem regado e gritou para quem quisesse ouvir: ‘Sou Mangueeeeeira e Vaaaaaasco!’.
Bons tempos.
É dando que…
Em mensagem repleta de pontos de exclamação e letras maiúsculas, indicativos de sua indignação, a considerada leitora Nilda Junqueira Abdalla, de São Paulo, escreve para protestar contra a notícia que leu na coluna Outro Canal, de Daniel Castro, da Folha de S. Paulo, intitulada Governo dá canal de TV à Igreja Renascer, na qual se bispa:
Apesar dos escândalos envolvendo os líderes da Igreja Renascer em Cristo, o governo federal acaba de conceder à instituição um canal de TV.
Em portaria publicada no ‘Diário Oficial’ de anteontem, o Ministério das Comunicações autorizou a Ivanov Comunicação e Participações Ltda. (empresa registrada no mesmo endereço da sede administrativa da igreja) a retransmitir em Vila Velha (ES) os sinais gerados pela Fundação Evangélica Trindade, concessionária do canal 53 em São Paulo (…)
Nilda considerou o relato um desprezível disparate:
Então o casal apronta tanto que está até preso nos Estados Unidos e vem o governo e lhe dá de presente mais um canal de TV!!! Só mesmo neste país de m…, como vocês dizem, pode acontecer uma coisa dessas!!! O que Lula está querendo com isso?!?!
Segundo Janistraquis, o sempre bem-informado presidente deixou o barco seguir porque anelava a gratidão dos fiéis ao mesmo tempo em que escavava enorme cratera na qual inumaria sua alma cristã. Não contava que o ministro Hélio Costa, que estava de férias quando se perpetrou o desatino, cortasse o barato da Renascer. Foi-se a concessão mas ficou o exemplo; agora, é aguardar a reação do ‘Senhor Jesus’.
Você usa internet?
A pista foi dada pelo considerado Tiago Cordeiro, aqui do C-se, e Janistraquis conferiu no Kibe Loco esta que tem sido vista como a mais engraçada enquete dos tempos virtuais. O site do Globo Online perguntou: Você usa internet? Sim ou não? Aí o alfaraz Antonio Tabet, mais conhecido como Kibe Loco, pediu aos visitantes do seu blog que carregassem no Não, para provar que é possível participar de uma enquete em um site sem ‘usar a internet’…
O resultado, logo retirado do ar pelo Globo Online, apontava 76,10% para o Não e 23,90% para o Sim. Janistraquis adorou:
‘Viva o Kibe Loco!!!’, festejou meu secretário, que sempre o preferiu frito em muito óleo, com ou sem cerveja.
Nei Duclós
A estrofe que encima a coluna foi extraída do poema intitulado Todos os dias eu digo, do livro Outubro, editado em 1975, cuja íntegra o leitor encontrará no Blogstraquis. E neste início de 2007 o considerado Nei anuncia novos projetos, entre os quais uma trilogia juvenil sobre Florianópolis e os adolescentes e um romance escrito em parceria com o escritor, também gaúcho, Tabajara Ruas. Os originais já estão na Editora Record.
Libélulas
O considerado Matheus Filliardi, do Rio de Janeiro, envia trecho de comentário postado aqui no C-se sob artigo do diretor-executivo da Globo, intitulado O Jornalismo, por Ali Kamel:
Márcio Flizikowski [24/01/2007 – 10:12]
Não sei se eu devia rir ou chorar. O texto do Kamel é um grande libélulo da cara-de-pau.
‘Libélulo!?!?!?!’, espanta-se Filliardi. ‘Quem pode levar a sério um comentarista que escreve libélulo quando deveria escrever libelo? Era só conferir no dicionário: Libelo, entre outras acepções, é, segundo o Houaiss, acusação (‘apresentação escrita ou oral’); escrito, geralmente curto, difamatório, injurioso ou satírico. Libélulo simplesmente não existe.’
Janistraquis garante que libélulo existe sim, ó Filliardi; é o macho da libélula…
E como fica?
Deu no Consultor Jurídico, homiziado sob o título Vendedores de fumaça:
O ministro do Supremo Tribunal Federal Sepúlveda Pertence enviou à Procuradoria-Geral da República esclarecimentos sobre o caso em que gravações da Polícia Federal flagraram advogados dando a entender que obtiveram liminar no STF graças a uma propina de R$ 600 mil que teria sido paga ao ministro (…)
Janistraquis, que já remendou várias vezes a cara quebrada por tantas decepções sesquipedais, suspirou:
‘Considerado, perdoe o trocadilho infame, mas, como dizem por aí, o futuro a Deus Pertence…’
(Leia no Blogstraquis a íntegra da perturbadora matéria.)
Fiat lux
Deu em tudo quanto é jornal, rádio e TV por aí afora:
Lula promete luz para todos
Durante uma sessão-devaneio no Fórum Econômico de Davos, na Suiça, o Homem garantiu que todas as famílias brasileiras terão energia elétrica até 2008. É o programa ‘Luz para Todos’, cuja meta é atingir dez milhões de pessoas até 2008.
Janistraquis, que anda tão incréu quanto Roberto Freire a respeito do PAC, deu um sorrizinho de mofa:
‘É, considerado… se a ‘luz para todos’ for igual à que a Elektro distribui aqui na zona rural de Cunha, o país vai conhecer, finalmente, sua Idade Média.’
Mais sabedoria
Atrás de um homem bem sucedido, sempre existe uma mulher.
Atrás de um homem mal sucedido, existem pelo menos duas.
(Contribuição do considerado Fausto Osoegawa, o qual, sabiamente, tem apenas uma mulher e a esta é fidelíssimo.)
Arranca-rabo
O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no Planalto, sediada num vistoso prédio vizinho ao teatro do absurdo, pois Roldão lia o Correio Braziliense quando deparou com uma nota que o fez escrever o seguinte cheganço à direção do jornal:
Na edição de 31/1, uma notícia sobre a chamada Tríplice Fronteira, entre Paraguai, Brasil e Argentina, chama a região de conturbada, o que é evidente exagero. Conturbada seria se estivesse perturbada, agitada, desordenada, amotinada, sublevada, o que não é o caso, felizmente.
Janistraquis acha, ó Mestre Roldão, que conturbada vai ser a fronteira do Brasil com a Bolívia e ali teremos arranca-rabo muito mais emocionante do que os desaguisados de Galvez na minissérie Amazônia.
(Aliás, por falar na Bolívia, o considerado Omar Luiz Cupini Júnior, de São Paulo, escutou Cleber Machado dizer, referindo-se ao jogo entre Santos e Blooming, que Santa Cruz de la Sierra situa-se ‘ao nível do mar’. Cupini troçou: ‘Só se foi na época em que o pantanal era mar…’)
Nota dez
O professor, escritor e poeta Gabriel Perissé escreveu no Observatório da Imprensa, sob o título O difícil acesso ao livro:
(…) Mais da metade dos professores brasileiros (ou seja, mais de 1 milhão e quinhentos mil professores) não têm o hábito da leitura (segundo o Instituto Paulo Montenegro). Nemo dat quod non habet, ninguém dá aquilo que não tem. Nossos alunos (cerca de 50 milhões de pessoas estão estudando hoje no Brasil) vêem boa parte de seus professores carentes da paixão pela leitura…
Confira aqui a íntegra do indispensável texto. E clique também aqui para ler outro excelente artigo do professor.
Errei, sim!
‘POESIA PURA -Há muitos anos, provavelmente desde que votou em Jânio para presidente da República, eu não via Janistraquis a curtir tão rastejante astral. ‘Considerado, sou uma besta, um idiota’, choramingou; ‘abro um jornal e não entendo nem os títulos!’. Sobre a mesa de trabalho do meu secretário jaziam dois recortes com duas obras-primas do surrealismo: Deputado acha que antipiano é humilhante (Estadão); Texto de Borghi tematiza fazer teatral (Folha de S. Paulo).
Tentei animar Janistraquis: ‘Isso é poesia pura, rapaz! Você não se lembra daquela frase pichada nos muros do Rio? Celacanto provoca maremoto. Pois esses títulos seguem a mesma linha que incita o leitor, estimula sua imaginação. Afinal, estamos todos habituados às coisas certinhas, medíocres; façamos a revolução!’. Não adiantou. (janeiro de 1988).
(N da R.: Nas eleições de 1960, Janistraquis consagrou Jânio Quadros, porém o colunista, então um estudante ‘revolucionário’, votou no marechal Lott.).
Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP) ou moacir.japiassu@bol.com.br).
(*) Paraibano, 64 anos de idade e 44 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu oito livros, dos quais três romances.’
COMUNIQUE-SE
Comunique-se pega no pé da revista Veja, 5/02/07
‘O Comunique-se foi tendencioso na reportagem sobre o grupo O Dia de Comunicação, que estaria à venda, segundo a seção ‘Radar’, da revista Veja. Intitulada ‘Grupo O Dia processará Veja’, a matéria dispensa tratamentos diferentes às duas empresas.
Primeiro, a reportagem afirma que Lauro Jardim, que assina a seção, não atende o celular. Acontece que, num gesto idêntico, ninguém de O Dia quis atender o repórter do C-se. Se Jardim não atende o telefone, é arrogante; se O Dia faz a mesma coisa, está em seu direito?
Ingenuidade
A reportagem do C-se não se aprofundou. Faltou penetrar nos bastidores. Jardim pode ter simplesmente errado em sua informação? Sim, pode. Mas pode estar certo. ‘Desmentido não quer dizer absolutamente nada. Pode ser claramente para não atrapalhar as negociações’, comenta um leitor. Concordo com ele.
Dois comunicados de O Dia foram publicados no Portal. Um deles é elogiado pelo redator do C-se, que classifica a resposta do grupo carioca como ‘categórica’. O texto de Jardim em Veja, porém, não aparece. Um leitor ainda corrige: ‘Na Veja, consta que são US$ 70.000.000,00 – dólares e não Reais como está no texto do comunique-se’.
Parlatório
A pauta era ideal para um veículo focado em Jornalismo. Gushiken atacou duas figuras expressivas: Diogo Mainardi e Leonardo Attuch. E o C-se o que fez? Jornalismo declaratório. A matéria do Portal, como bem descreve um leitor, ‘só tem diz-que-diz’. A redação nem sequer procurou os jornalistas envolvidos. Um político escreve, um jornalista publica, outros rebatem. E o C-se comporta-se como um garoto de recados.
Foram dois dias até que surgisse a brilhante idéia de publicar uma nova reportagem, em que os envolvidos na história deram suas versões. Mas aí já era tarde. Quando viu a manifestação de Gushiken publicada no blog de Paulo Henrique Amorim, a redação deveria ter começado a efetiva reportagem. Perdeu, enfim, a oportunidade de sair na frente.
ConJur
Tem sido exagerado o uso do recurso de creditar matérias a outros sites, sobretudo o Consultor Jurídico. A maior parte das notícias acerca de litígios é creditada àquele veículo, que, aliás, produz excelente conteúdo. Mas cadê a reportagem do C-se. Os jornalistas do Portal dão a impressão de não se sentirem capazes de checar e, assim, aprofundar o noticiário que envolva promotores, advogados e juízes.
E daí?
Não faz sentido a matéria ‘A delicada realidade do freelancer’ ter sido destaque na manchete, na quinta-feira (01/02). A reportagem é boa, mas não traz nenhum dado novo que justifique tomar o espaço da home page habitualmente ocupado por reportagens factuais muito mais importantes. Não causa estranheza pouca gente ter postado comentários.
Navegação
Leitores reclamam de problemas técnicos. Ao tentar acessar uma coluna, o internauta encontrará chamadas e até conteúdos diferentes na home do C-se, no Blog-se e na seção ‘Colunas’.
Outro problema está na seção ‘1º Caderno’, que traz a matéria mais recente no alto da página. Porém, quando se clica em ‘Jornal da Imprensa’, é a informação mais antiga que vem no alto. Por que não é informado o horário de inserção das matérias? Isso ajudaria a colocar uma ordem na lista de notícias.
Zero em Geografia
O título ‘Rede Bom Dia de jornais lança sua edição para cidade de Itapetininga em São Paulo’ dá a entender que a redação fica em São Paulo e produz conteúdo para Itapetininga. Mas a redação fica em Jundiaí. Para se informar o estado em que fica uma cidade, basta usar a sigla entre parênteses: ‘Itapetininga (SP)’.
O texto traz, ainda, a seguinte expressão: ‘120 cidades paulistanas’. O certo seria ‘paulistas’, pois ‘paulistano’ se refere à cidade de São Paulo.
(*) Cassio Politi é jornalista. Trabalha com Internet desde 1997. Esteve em projetos pioneiros em jornalismo na Web, como sites da Zip.Net, e no site UOL News, do Portal UOL. Ministra cursos de extensão sobre Jornalismo On-Line e Videorreportagem desde 2001. Deu aulas em 25 estados brasileiros para mais de 2 mil jornalistas. Em janeiro de 2007, tornou-se o primeiro ombudsman do Comunique-se, empresa na qual também ocupa o cargo de diretor de Cursos e Seminários.’
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