MAINARDI PROCESSADO
Leonardo Attuch
A difamação agora é livre?, 14/12/06
‘Em seu podcast semanal, o articulista Diogo Mainardi, da revista Veja, diz que jamais será lembrado pelo que escreveu, mas apenas como símbolo da liberdade de imprensa. Fez um elogio aberto ao juiz de primeira instância que lhe deu sentença favorável no processo que movo contra ele e lançou uma nova polêmica. Segundo ele, jornalista que processa jornalista é ‘maricas’. O lugar correto para o revide, prossegue Mainardi, seria a tribuna de cada um. Na essência, ele propõe uma volta ao estado primitivo. Olho por olho, dente por dente.
Apenas para ilustrar o caso, o nosso processo diz respeito ao artigo ‘Observatório da Imprensa’, no qual ele me aponta como um dos ‘petistas’ e diz que eu seria ‘subordinado’ ao empresário Daniel Dantas, do grupo Opportunity. No mesmo artigo, Mainardi afirmou que Mino Carta, da Carta Capital, seria também ‘subordinado’ ao empresário Carlos Jereissati, da La Fonte – e ao que parece, nesta ação, o colunista de Veja já foi condenado a indenizá-lo, em primeira instância.
No meu caso específico, decidi processar Mainardi porque avalio que o principal atributo de um jornalista é a sua independência. Também aprendi na escola que acusações contra a honra devem ser sempre provadas. E como jamais tive vínculos de ‘subordinação’ com qualquer empresário, ainda aguardo um desfecho favorável. Ao abordar o caso, no entanto, o juiz de primeira instância entendeu que Mainardi teria o direito de caricaturar terceiros. Afirmou ainda que, exigir que ele prove o que diz, seria uma forma odiosa de censura. Como eu discordo da sentença, naturalmente, haverá recurso.
O que importa aqui, no entanto, não é este processo em particular. Ganhar ou perder é parte do jogo. A questão é discutir se jornalistas devem ou não processar outros jornalistas ou se devem apenas se valer do espaço que têm em seus veículos. No meu caso específico, sou editor de uma revista de economia e de uma revista rural. A qual dos nossos leitores interessa conhecer o meu contencioso com Mainardi? É claro que não interessa a ninguém. Se eu agisse dessa forma, estaria usurpando um espaço que não me pertence. Além disso, há uma questão de proporcionalidade. Mainardi trabalha para a revista de maior circulação nacional e, ao que parece, é seu articulista mais lido. Portanto, seus comentários, verídicos ou não, têm largo alcance.
O curioso é que, o caso ‘Daniel Dantas’, de onde derivam os ataques contra mim, vive hoje um momento decisivo. Dois anos atrás, quando houve a ação da Polícia Federal contra o grupo, com ampla cobertura da imprensa, nós, na Istoé Dinheiro, remamos contra a corrente e apontamos as contradições do caso. Dizíamos, na essência, que não se tratava de uma mera ação policial, mas sim de uma disputa empresarial, com engajamento indevido do governo brasileiro. Em função disso, sofri represálias e houve um pedido de interceptação do meu sigilo telefônico, negado pela Justiça. Mas neste exato momento, na Itália, há mais de 20 pessoas presas, ligadas à Telecom Italia, que são suspeitas, entre outras coisas, de terem ‘encomendado’ a ação do governo brasileiro contra o banqueiro baiano. O próprio Mainardi sabe disso e já abordou o assunto, mais de uma vez, em sua coluna. A diferença entre nós é que eu enxerguei as mesmas coisas que ele viu agora, mas com dois anos de antecedência.
Desse episódio, decorre meu vasto contencioso com a Editora Abril. Numa das ações, por exemplo, a Justiça acolheu uma queixa-crime movida por mim contra o diretor de redação de Veja, Eurípedes Alcântara, e contra o seu redator-chefe, Mario Sabino. Ela diz respeito a um texto apócrifo chamado ‘O mais vendido’, em que eles me chamam de ‘quadrilheiro’, ‘negociante de notícias’ e ‘profissional à venda’. Não sei se vencerei ou não tais ações. Poderei vir a ganhá-las como poderei perdê-las. A questão é que o único caminho disponível para reparar crimes contra a honra, numa sociedade civilizada, é a Justiça. Ou será que eu deveria abordar tais assuntos numa revista rural? Não faz o menor sentido.
Mainardi é um colunista polêmico, que chama a atenção e atrai milhares de leitores. Se ele acha que deve difamar e caricaturar terceiros, que o faça. Mas não há nada de errado em recorrer à Justiça. E ele próprio sabe disso, pois já tentou interpelar até o presidente da República, quando Lula se referiu a jornalistas de Veja com os adjetivos ‘bandido’, ‘mau-caráter’, ‘malfeitor’ e ‘mentiroso’.
(*) Editor das revistas Istoé Dinheiro e Dinheiro Rural’
ESQUERDA À ANTIGA
Por que não pinto meus cabelos, 14/12/06
‘O presidente Lula deflagrou um debate sobre quem é mais ou menos de esquerda – jovens ou velhos -, mas principalmente sobre o quê os conceitos ‘esquerda’ e ‘direita’ significam.
A experiência histórica dessas generalizações pode ser resumida na divisão entre ‘quem quer mudar’ e ‘quem quer que as coisas fiquem como estão’. Juntar os ‘conservadores’ é obviamente mais fácil do que aqueles ‘que desejam mudar’, porque estes têm de se entender sobre os objetivos e os caminhos para qualquer mudança.
Lula expressou uma idéia muito comum: a de que o jovem defende transformações, freqüentemente radicais, nas relações entre os seres humanos e destes com a natureza, mas a ‘entrada na real’ vai mudando suas idéias e propostas sobre essas relações.
Sem dúvida isso ocorre, mas não necessariamente na direção de ‘deixar as coisas como estão’. A sociedade se torna sempre mais complexa e surgem novas possibilidades de mudança. Republicanos e democratas, nos Estados Unidos, continuam conservadores unidos pelos princípios da Constituição de 1776. Mas direitos civis, política externa, garantias trabalhistas, defesa do meio ambiente e outras questões fazem surgir uma esquerda cada vez mais ativa e até com representação parlamentar.
Pessoas como, por exemplo, o ex-presidente Jimmy Carter, o ex-vice-presidente Al Gore, o ex-secretário geral da ONU Kofi Annan, o prefeito de Londres, Ken Livingstone, e os primeiros-ministros Michelle Bachelet e José Luiz Rodriguez Zapatero não parecem estar caminhando para a direita à medida que os cabelos vão ficando brancos.
E. para concordar com o presidente Lula, eu e eles teríamos de pintar os cabelos como o presidente chinês, Hu Jintao.
Mas minha mulher acha que eu não ficaria bem.
Imprensa regional sempre melhor
O 51º Prêmio Esso mostra que a imprensa fora do Rio e de São Paulo é cada vez melhor. A veterana Conceição Freitas, com 30 anos de batalha na reportagem, levou o Prêmio Esso de Jornalismo e foi a protagonista desse brilhareco. Faço um apelo para que o Correio Braziliense libere na internet as onze excelentes matérias da série ‘Amores Possíveis’, porque todos os profissionais de comunicação certamente gostarão de conhecer esse trabalho.
Companheiros gaúchos da RBS levaram o Prêmio Especial de Telejornalismo e todos os prêmios regionais mostraram excelente nível de qualidade.
Três coisas estranhas na ótima e bem-organizada festa do Esso:
1. Ninguém entendeu por que resolveram juntar um prêmio regional com o de Informação Científica, Tecnológica e Ecológica.
2. Nem por que revistas nacionais disputaram o Prêmio Esso Regional 3, conquistado por Monica Rodrigues e equipe, do jornal carioca O Dia.
3. E ninguém consegue entender a ranzinzice de Veja, Estadão e Rede Globo, que continuam fora do Esso.
(*) Milton Coelho da Graça, 76, jornalista desde 1959. Foi editor-chefe de O Globo e outros jornais (inclusive os clandestinos Notícias Censuradas e Resistência), das revistas Realidade, IstoÉ, 4 Rodas, Placar, Intervalo e deste Comunique-se.’
Carlos Chaparro
Crônica de um país em crise de humor, 15/12/06
‘O XIS DA QUESTÃO – Depois da incompreendida ‘piada’ presidencial sobre esquerda e direita, vêm agora os congressistas com a graça de, em nome da isonomia, quase dobrarem os seus salários. Daí, a pergunta: e se o povão descobrisse que isonomia é a igualdade de todos perante a lei, num Estado em que todos são governados pela mesma lei, e resolvesse se organizar para também lutar por isonomia?
1. Isonomia? Que isonomia?
Com rapidez e ousadia que lhe faltam quando questões cruciais do bem comum estão em jogo, o Congresso Nacional resolveu aumentar em 91% os salários de deputados e senadores. E o fez, se não em nome do povo (porque a tanto não chegaria a hipocrisia), pelo menos em nome de algo chamado isonomia, direito entre nós muito evocado e levado a sério pelos que já estão bem de vida. Por exemplo, os nossos atrevidos deputados e senadores, boa parte dos quais pessoas com fortuna pessoal avantajada.
Para o povão – esse tão abstrato e ao mesmo tempo tão concreto aglomerado humano do qual fazem parte os milhões de famílias de desempregados, e os milhões de analfabetos, e os milhões dos sem-profissão, e os milhões dos sobreviventes do Bolsa-Família, e os milhões de aposentados a quem o INSS paga salário mínimo, e os milhões de outros compatriotas identificados por tantos outros rótulos da exclusão -, para o povão, escrevia eu, isonomia nem palavra é. Porque, no plano da vida real de quem sofre na pobreza, o vocábulo não tem força de enunciado nem significado enunciativo.
Já imaginaram se o povão resolvesse se organizar para lutar por isonomia, com a noção consciente de que isonomia é a igualdade de todos perante a lei, num Estado em que todos são governados pela mesma lei?
Estamos, pois, diante de uma discussão sem futuro. E se assim é, faço uma proposta, para que não entremos em stress intelectual, que ao gosto de alguns talvez pudesse ser chamado de stress ideológico.
A proposta é esta: vamos brincar de acreditar que tudo foi uma brincadeirinha congressual. Mais uma brincadeirinha, apenas mais uma brincadeirinha de congressistas em quem, em algum dia de desatino, votamos com ingênuo carinho e imprudente confiança.
Trata-se de uma boa proposta, convenhamos, se levarmos em conta que os tempos são de brincadeira.
2. Rótulos ou conceitos?
Ao brincarem com o direito de isonomia para quase duplicar os próprios salários, os nossos deputados e senadores deram valiosa contribuição ao bom humor nacional, já tão enriquecido esta semana pelo presidente Lula, com aquela notável filosofada sobre o ser de esquerda ou de direita, e a relação disso com a cor dos cabelos.
Tudo brincadeira, apenas brincadeira, disse-nos ele dois dias depois. E lamentou que o humor nacional andasse em tão profunda crise, a ponto de ninguém ter percebido que, ao dizer o que disse, apenas brincara um pouco com duas palavras seculares, gastas por bons e maus usos – esquerda e direita.
Tudo leva a crer que a oportuna explicação do presidente Lula tocou fundo o coração e o cérebro dos congressistas, que de imediato aderiram à conclamação presidencial pelo bom humor.
Lamentei profundamente que o nosso presidente não tivesse ido além da piada. Quando o ouvi, esperava que nos dissesse o que entendia por ser de esquerda ou ser de direita. Mas ele não arriscou definições, e por isso fui atrás do saber de gente como Norberto Bobbio, que vinte e três anos atrás, com alguns colegas da ciência política, organizou o hoje indispensável Dicionário de Política.
Pois fui lá, ao Dicionário de Política, para saber o que os mais ilustres cientistas do ramo ensinavam sobre esquerda e direita. E descobri que o nosso presidente teve boas razões para não avançar em filosofadas no assunto. Afinal, nem Bobbio se arriscou a abrir verbetes específicos sobre o assunto.
3. Perguntas do poeta
Não duvido que o entendimento dos conceitos esteja lá, diluído nos milhares de verbetes que recheiam as 1.300 páginas do Dicionário de Política. Mas seria conveniente a esta discussão em que o país se envolveu depois do humor filosófico do presidente Lula, que Bobbio nos tivesse presenteado com sínteses facilmente alcançáveis.
À falta disso, e para colaborar com a campanha nacional pelo bom humor, resolvi trazer aos meus leitores, embora sem autorização do autor, uma reflexão em forma de perguntas poetizadas. Ela pertence ao poeta pernambucano Marcelo Mário de Melo e faz parte do seu Manifesto da Esquerda Vicejante (Recife, 2005, copyright do autor – cultcom@uol.com.br), pequeno e genial livro de bem humorados questionamentos políticos.
Marcelo tem história de homem de esquerda. Por ser de esquerda, encarou os militares, foi preso, torturado. Depois, ajudou a fundar e a organizar o PT. E inventou, continua a inventar, trincheiras outras, para as lutas da caminhada jamais interrompida.
Caminhando, Marcelo Mário de Melo na esquerda continua, por um elenco de razões devidamente enumeradas, uma das quais é o medo de perder a identidade. E porque é de esquerda, e na esquerda continua, faz, num dos capítulos do livro, dezoito ‘Perguntas Incômodas’:
Esquecer
compromissos programáticos
é de esquerda?
Vetar debates
é de esquerda?
Abusar
ou omitir-se
de autoridade
é de esquerda?
Apropriar-se
ou descuidar-se
de recursos públicos
é de esquerda?
Populismo
é de esquerda?
Assistencialismo
é de esquerda?
Eleitoralismo
é de esquerda?
Clientelismo
é de esquerda?
Patrimonialismo
é de esquerda?
Nepotismo
é de esquerda?
Cupulismo
é de esquerda?
Casuísmo
é de esquerda?
Autopromoção
é de esquerda?
Plantar notícias anônimas
é de esquerda?
Perpetuar-se
em diretorias de entidades
é de esquerda?
Boca de urna paga
é de esquerda?
Caixa 2
é de esquerda?
Fazer perguntas incômodas
é de direita?
Quem quiser e puder que responda.
(*) Carlos Chaparro é português naturalizado brasileiro e iniciou sua carreira de jornalista em Lisboa. Chegou ao Brasil em 1961 e trabalhou como repórter, editor e articulista em vários jornais e revistas de grande circulação, entre eles Jornal do Commercio (Recife), Diário de Pernambuco, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo, Diário Popular e revistas Visão e Mundo Econômico. Ganhou quatro prêmios Esso. Também trabalhou com comunicação empresarial e institucional. Em 1982, formou-se em Jornalismo pela Escola de Comunicação de Artes, da USP. Também pela universidade ele concluiu o mestrado em 1987, o doutorado em 1993 e a livre-docência em 1997. Como professor associado, aposentou-se em 1991. É autor de três livros: ‘Pragmática do Jornalismo’ (São Paulo, Summus, 1994), ‘Sotaques d’aquém e d’além-mar – Percursos e gêneros do jornalismo português e brasileiro’ (Santarém, Portugal, Jortejo, 1998) e ‘Linguagem dos Conflitos’ (Coimbra, Minerva Coimbra, 2001). O jornalista participou de dois outros livros sobre jornalismo, além de vários artigos (alguns deles sobre divulgação científica pelo jornalismo), difundidos em revistas científicas, brasileiras e internacionais.’
JORNALISMO & PRÊMIOS
Correio Braziliense vive momento especial, 13/12/06
‘A repórter Conceição Freitas deu ao Correio Braziliense, na noite desta terça-feira (12/12), no Rio de Janeiro (Copacabana Palace), o Prêmio Esso de Jornalismo, o mais cobiçado da imprensa brasileira, conquista que veio com a matéria Amores possíveis. Não bastasse a honraria, ainda pôs no bolso um cheque de R$ 30 mil.
O feito repetiu a façanha de seis dias antes, no mesmo Rio de Janeiro, quando, na festa do Canecão, o Correio arrematou o Troféu Barbosa Lima Sobrinho, prêmio maior do Imprensa Embratel, com a matéria As ambulâncias da fraude, sobre o esquema para a compra de ambulâncias em Rondônia – mais tarde conhecido como o Escândalo dos Sanguessugas -, série publicada entre dezembro de 2005 e agosto deste ano. Os vencedores, neste caso, foram Gustavo Krieger, Marcelo Rocha, Leonel Rocha, Luciene Soares, Ana M. Campos e Lúcio Vaz, que dividiram R$ 20 mil.
De quebra, o jornal faturou também a categoria Jornal do 3º Prêmio AMB de Jornalismo, oferecido pela Associação dos Magistrados do Brasil, de Brasília, com a matéria A velhice no cárcere, de Ana Cristina d’Ângelo e Mariana Gomes; e o especial Rumos do Desenvolvimento do Prêmio CNH de Jornalismo, que rendeu R$ 10 mil, com o trabalho Condenado a crescer pouco, de autoria de Vicente Nunes, Ricardo Allan, Raul Pilati, Mariana Mazza, Marcelo Tokarski, Luciano Pires, Edna Simão e Luís Osvaldo Grossmann, entregue nesta terça-feira em São Paulo.
Nenhuma repetição de nome ou de matérias, o que mostra a força da equipe e o poder das pautas e da cobertura do jornal neste ano que está se encerrando.
Esso
A festa do Esso na noite que passou, aliás, deu uma imensa alegria também à RBS, do Sul, que ficou com o Especial em Telejornalismo, com o trabalho A farra dos vereadores turistas, produzido por Giovani Grizotti, Laura Nonohay, Jonas Campos e Sérgio Pavanello, que vão dividir um prêmio de R$ 20 mil.
E tão feliz quanto Correio Braziliense e RBS ficou a equipe do Extra com a dupla premiação no concurso: o jornal ganhou o Esso de Reportagem (R$ 10 mil) com Adeus, futuro, de Eduardo Auler; e o Especial de Primeira Página (R$ 5 mil), com Luiz Vieira Jr., Marlon Brum e Octávio Guedes.
Em Fotografia (R$ 10 mil), ganhou Marcelo Carnaval, de O Globo, com ‘Pietà’, foto que mostra a mãe segurando o corpo do filho (um engenheiro) assassinado no Centro.
Nas demais categorias os vencedores foram: Informação Econômica – Fernando Canzian, da Folha de S.Paulo; Informação Científica, Tecnológica e Ecológica – Silvia Bessa, do Diário de Pernambuco; Criação Gráfica Jornal – Antônio Nascimento, Telio Navega, Marcelo Monteiro e Alessandro Alvim, de O Globo; Criação Gráfica Revista – Rita Palon, Airton Seligman, Roberto Negreiros, da Porto Seguro; Especial Interior – Fábio Gallacci, do Correio Popular (Campinas) – todos valendo R$ 5 mil para os vencedores. As categorias regionais foram vencidas por: Regional 1 – Demitri Túlio e Cláudio Ribeiro, de O Povo (Fortaleza); Regional 2 – Carlos Etchichury e Nilson Mariano, da Zero Hora; Regional 3 – Mônica Pereira e equipe de O Dia – que deram aos vencedores R$ 3 mil.
A categoria Melhor Contribuição à Imprensa, que não distribui prêmio em dinheiro, destacou dois trabalhos: o livro e o site Políticos do Brasil, de Fernando Rodrigues, e a ONG Transparência Brasil, com o trabalho Projeto Excelência. Segundo a Comissão que os escolheu, ambos ‘se complementam (…) na tarefa de permitir maior visibilidade sobre o comportamento e a atuação de políticos que pleiteiam o voto popular’.
A Comissão de Premiação foi composta por Audálio Dantas, Cláudio Conceição, Ricardo Setti, Ronaldo Lapa e Xico Vargas.
Folha de S.Paulo tem dupla vitória
Raphael Gomide e Sérgio Torres, da sucursal Rio da Folha de S.Paulo, ganharam a categoria Reportagem de Jornal/Revista do Prêmio Imprensa Embratel, com Exército recupera armas após fazer acordo com facção de traficantes. Dois dias depois, no Rio Grande do Sul, receberam também o 23º Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo.
A matéria publicada pela Folha, em maio deste ano, foi recebida com indignação pelas autoridades e desmentida oficialmente. Na época, o roubo de armas de um quartel levou o Exército a ocupar alguns morros do Rio. Quando as armas reapareceram, foi anunciado que tinham sido encontradas por acaso, durante uma busca. Gomide soube, na véspera, que seria selado um acordo entre os dois lados: a devolução das armas em troca da desocupação dos morros. Não havia provas, sequer gravação do depoimento das fontes. ‘Tudo o que eu tinha era uma história espetacular, contada por dois protagonistas da operação,’ disse ele em depoimento colhido pela correspondente do Jornalistas&Cia, no Rio de Janeiro, Cristina Vaz de Carvalho.
Na mesma noite, o repórter consultou o coordenador da Redação, Sérgio Costa, e a diretora da sucursal, Paula Cesarino, e fez um relatório com todos os detalhes. ‘No dia seguinte, as coisas foram se confirmando uma a uma,’ prossegue ele. Diante das evidências, a Folha bancou a história, contrariando a praxe de só publicar material comprovado – o que Gomide considera um grande mérito do jornal. Mesmo assim, a matéria levou ainda uma semana para sair. ‘Foi uma semana desgastante psicologicamente, com muita pressão dos militares’, lembra. ‘Me diziam que aquela reportagem não podia sair, porque pessoas estavam com a vida em risco e a instituição ficaria desmoralizada.’ Para ele, isso só comprovava as informações.
Gomide é repórter de Política e Geral, não de Polícia. Quando estourou o caso, redações experientes em Polícia no Rio foram atrás da confirmação, sem encontrá-la. ‘Nesse caso, a polícia não sabia. As fontes estavam no Exército,’ conclui. Sua vivência na Política fez a diferença. E dois meses depois, Maurício Dias, da Carta Capital, recebeu pelo correio, sem remetente, um CD com gravações telefônicas de conversas entre membros do alto escalão do Exército, tratando do acordo. Era a prova que faltava. Dias, na matéria para a revista, deu o crédito a Gomide. Como definiu o Portal Imprensa em matéria sobre o caso: A Folha tinha razão.
Outros Prêmios
Correio Braziliense (Ana Cristina d’Ângelo e Mariana Gomes, com A velhice no cárcere), Exame (Roberta Paduan, com Para fazer Justiça), Programa Via Legal (Vera Lúcia Teixeira, com JEF São João do Piauí), Rádio Câmara (Jairo César dos Santos Ribeiro, com Defensoria Pública) e Consultor Jurídico (Rodrigo Haidar, com A mão da Justiça) foram os vencedores da categoria Jornalismo Nacional da 3ª edição do Prêmio AMB de Jornalismo, respectivamente em Jornal, Revista, TV, Rádio e Internet. Foram premiados regionalmente O Estado do MS (Centro-Oeste, Marília Capellini), TV Santa Cruz, de Itabuna (Nordeste, Marta Maria Cardoso), Rádio Liberal AM, de Belém (Norte, Celso Luís Barbosa Freire), A Tribuna, de Santos (Sudeste, Patrícia Diguê), Zero Hora (Sul, Moisés dos Santos Mendes) e Jornal O Magistrado, da Associação dos Magistrados do Estado de Goiás (Ludmila Viana Furtado). Ao todo foram distribuídos R$ 80 mil em prêmios.
Outro prêmio já com vencedores conhecidos é o CNH de Jornalismo Econômico. Na categoria Revista, a vencedora foi Alexa Salomão, de Exame, com O preço da ignorância, sobre o grave problema do déficit educacional brasileiro. Em Jornal, venceu O Estado de S. Paulo, com Brasil com Z, de Clayton Netz, Ricardo Galuppo, Nely Caixeta e Amauri Cegalla, uma reportagem que mostra investimentos brasileiros no Exterior. Os prêmios de Excelência Jornalística foram concedidos para Sandra de Cássia, da revista Meu Próprio Negócio, com Venda mais para as classes C e D (e para as outras também); e para Fernando Canzian, da Folha de S.Paulo, com Bolsa-Família e empregos precários. Na premiação criada especialmente para esta 14ª. Edição – Rumos do Desenvolvimento – venceu a equipe do Correio Braziliense composta por Vicente Nunes, Ricardo Allan, Raul Pilati, Mariana Mazza, Marcelo Tokarski, Luciano Pires, Edna Simão e Luís Osvaldo Grossmann, com Condenado a crescer pouco. O 1º lugar – em cada uma das categorias – ganha R$ 12,5 mil. Os vencedores do prêmio Excelência Jornalística ganham R$ 5 mil e os da categoria Rumos do Desenvolvimento, R$ 10 mil.
Também a Abimilho divulgou os vencedores do seu 2º Prêmio de Jornalismo, que contempla as melhores matérias sobre o consumo humano de derivados de milho. Venceram Antonio Carlos Moreira (revista Panorama Rural, de SP) e Odilon Guimarães (revista Sulco, do RS) na categoria Impresso; Flávio Albim (Revista Rural/Canal do Boi, de São Paulo), na categoria Televisão; e Alexandra Fiori e Giulianno Cartaxo (Agência Radioweb, de Brasília) na categoria Rádio. O vencedor de cada categoria foi contemplado com prêmio de R$ 7 mil.
(*) É jornalista profissional formado pela Fundação Armando Álvares Penteado e co-autor de inúmeros projetos editoriais focados no jornalismo e na comunicação corporativa, entre eles o livro-guia ‘Fontes de Informação’ e o livro ‘Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia’. Integra o Conselho Fiscal da Abracom – Associação Brasileira das Agências de Comunicação e é também colunista do jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, além de dirigir e editar o informativo Jornalistas&Cia, da M&A Editora. É também diretor da Mega Brasil Comunicação, empresa responsável pela organização do Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas.’
INTERNET
Bruno Rodrigues
‘Experimente: ao longo de uma semana, acompanhe os jornais com outros olhos. Conte quantas vezes a internet é apontada como terreno propício para o exercício do que há de pior no ser humano, do tráfico de drogas à pedofilia. No mínimo, a Rede é descrita como palco para novos costumes bizarros e curiosos, como flertar, ainda que à distância, uma ilustre desconhecida, ou passar dias imerso em uma comunidade virtual como o ‘Second Life’.
Tenho a impressão de que, por pouco, sociedade e mídia não proclamam a internet como ‘criação do demônio’ e seitas mais radicais não queimam computadores e laptops em grandes fogueiras. Ao longe, observando tudo, estaria – em êxtase! – uma multidão de marmanjos, pais de meninos e adolescentes, defensores ferrenhos, entre outras coisas, de que ‘lugar de homem é na rua’…
Esta visão estrábica da internet não surge na mídia e na cabeça dos pais à toa. É como se precisássemos de uma ‘consciência coletiva’ nos alertando sobre o perigo que o ‘novo’, ao mesmo tempo fascinante e ameaçador, oferece – uma versão adulta do Grilo Falante.
É tudo muito assustador: o pânico vai do comércio eletrônico (‘vão roubar o número do meu cartão de crédito!’) aos games (‘meu filho não vai mais sair de casa!’), dos relacionamentos (‘o que vale é olho no olho!’) aos e-books (‘preciso pegar nos livros que leio!’). Haja coragem e discernimento para não perder o bonde da história – é preciso confiar na Rede com um olho fechado e o outro bem aberto.
Muitos passam por isso quase todo o dia. Eu, que vivo de (e na) internet, me peguei outro dia numa encruzilhada daquelas.
Sempre fui defensor do uso que os adolescentes fazem do português na web, ao criarem novas palavras baseadas mais em seus sons e menos no que está no dicionário. O que não seria fonte de dor de cabeça para os professores, na minha opinião. Ou seja, o jovem saberia muito bem onde utilizar o ‘vc’ ou o ‘você’. No Orkut, vale o novo; na redação da escola, o que Houaiss e Aurélio fazem questão de nos lembrar, sempre. Seria simples assim.
E foi, no início. Quando o MSN e os ‘torpedos’ ainda não faziam parte do dia-a-dia do adolescente – e da criança, também -, quando a atividade de se comunicar constantemente pela escrita pela Rede ainda era novidade, havia uma clara distinção do que era português e o que era ‘da web’.
Outro dia, ao conversar com duas professoras de ensino médio, fiquei de queixo caído: agora é um Deus nos acuda. As provas vivem inundadas de ‘vc’s, e o mais delicado, elas me explicaram, é que – óbvio – não é de propósito… Mas, o que fazer se é este o português que crianças e jovens usam para se comunicar hoje em dia pela Rede? Dá agonia e uma profunda insegurança. Uma delas, à beira da aposentadoria, disse, brincando, ter saudades ‘de quando a única ameaça à língua era a gíria’ – e nada afetava a escrita.
É hora de parar e pensar, então. No Brasil, a língua portuguesa já passou por mais de uma reforma. Por que ‘pharmácia’ virou ‘farmácia’? Porque ninguém lia ‘parmácia’, oras. Até hoje me pergunto por quê ‘caixa’ não é ‘caicha’, ou vice-versa… Pela regra, apenas? Nosso ‘cadê’ está condenado a ser ‘c-a-d-ê’ por toda a eternidade, ou um dia escreveremos ‘kd vc’?
A língua não retrata o que o povo fala? Ou o que a regra nos impõe?
Mas aí bate o medo do desconhecido, do descontrolado, do que até ontem era absurdo.
Arranquem rápido os computadores dos quartos dos filhos: à fogueira com eles, antes que seja tarde demais. Porque lugar de língua é no dicionário. Ou não?
(*) É autor do primeiro livro em português e terceiro no mundo sobre conteúdo online, ‘Webwriting – Pensando o texto para mídia digital’. Ministra treinamentos e presta consultoria em Webwriting e Arquitetura da Informação no Brasil e no exterior. Em seis anos, seus cursos formaram 1.200 alunos. Desde 1997, é coordenador da equipe de informação do website Petrobras, um dos maiores da internet brasileira, com 4.000 páginas em português e versões em inglês e espanhol e é citado no verbete ‘Webwriting’ do ‘Dicionário de Comunicação’ (Editora Objetiva, 2001), há três décadas uma das principais referências na área de Comunicação Social no Brasil.’
DIRETÓRIO ACADÊMICO
Comunique-se
Luta estudantil marca cursos do Sudeste, 15/12/06
‘Buscando realizar um panorama do ensino do Jornalismo no País, o Comunique-se publica agora a terceira de uma série de cinco reportagens, onde aborda os cursos de graduação através da visão dos maiores interessados – os próprios alunos. Nesta edição a região escolhida é o Sudeste e, coincidência ou não, as três instituições públicas cobertas – USP, UFES e UFMG – tiveram grandes protestos estudantis no ano de 2006. Além delas, Unasp e PUC-Rio também tiveram seus prós e contras apontados.
Por uma educação pública e de qualidade
Caixão, velas, sal grosso e uma cruz marcaram o ato simbólico do enterro do curso de Jornalismo da Universidade de São Paulo (USP), realizado em agosto deste ano. Além de buscar mais qualidade para sua graduação, um dos objetivos dos alunos foi desconstruir a imagem de que a instituição é um centro de excelência sem falhas. ‘Eu não acho que o Jornalismo é levado a sério pela USP. Falta infraestrutura, professores e boa vontade dos docentes. Eles confundem a necessidade de uma formação generalista como um pretexto para tirar a seriedade do curso’, disse Eliane Scardovelli, aluna do 7º semestre da universidade.
Caso emblemático de descaso, Eliane aponta um episódio que ocorreu em uma turma alguns anos mais antiga que a sua. No semestre em que fizeram o Jornal do Campus, veículo-laboratório mais importante do curso, um aluno da classe estava fazendo intercâmbio na Europa, não compareceu a nenhuma aula e mesmo assim foi aprovado com nota acima da média e 100% de freqüência. Segundo ela, porém, os alunos também têm sua parcela de culpa, alimentando um ‘pacto de mediocridade’ com os docentes. ‘Existe vista grossa por parte dos alunos e dos professores. Um finge que aprende e o outro finge que ensina. Às vezes você está meio atarefado e deixa a faculdade em segundo plano. É perfeitamente possível ir levando sem esforço’, atesta.
Na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), foi a negligência do próprio departamento que lançou as bases para um protesto estudantil. Por incapacidade de tramitar na burocracia da instituição, não foram realizados concursos para a contratação de professores e em algumas disciplinas as aulas apenas começaram no meio do período letivo. Para responder ao descaso os alunos realizaram uma assembléia, que resultou em um ato no campus e na entrega da pauta de reivindicações para a direção. Segundo Bruna Mesquita Gatti, aluna do 5º semestre de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, a direção se comprometeu a repor as aulas perdidas e a avaliar o novo currículo do curso, que apenas recentemente formou sua primeira turma.
Entre as instituições pesquisadas, foi na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) que os alunos conseguiram os melhores resultados com seus protestos. Em junho de 2006, cerca de 150 estudantes vestidos de preto anteciparam a manifestação da USP, realizando o cortejo fúnebre e o enterro do curso, com direito a vela e oração, protestando principalmente contra o uso excessivo de professores substitutos, sem dedicação integral e com salários de cerca de R$ 400. O grupo foi atendido pelo reitor, que ouviu suas colocações e se comprometeu a agir: R$ 200 mil foram destinados para a instalação de um laboratório novo de Rádio e TV para o Jornalismo. A contratação de professores, porém, ficou para 2007 e deve percorrer o lento trâmite burocrático das universidades públicas brasileiras.
Teoria…
Clarice Tenório é aluna do 6o período da PUC-Rio, a última turma a ainda ter sua grade baseada no currículo antigo, reformulado com o objetivo de imprimir um caráter mais prático ao curso. ‘A grande critica que existe sobre o currículo antigo é que ele é muito teórico, mas na minha opinião isso não é um ponto negativo. A parte prática a gente vai aprender no mercado, então acho importante termos matérias como filosofia ou antropologia’, aponta.
Segundo ela, uma das principais vantagens de sua faculdade é a oferta de horários e professores diversos para a mesma disciplina, ficando a cargo dos alunos escolher os que melhor lhe convêm. Ela reconhece que existem professores ruins, mas afirma que com um pouco de pesquisa é possível montar uma grade de aulas satisfatória.
A dificuldade da UFMG em renovar seus laboratórios e oferecer disciplinas práticas para seus alunos fez com que, na avaliação de Lívia Furtado, do 10o semestre, o curso assumisse um caráter eminentemente teórico. ‘Temos professores que escrevem textos e livros que são indicados em outras faculdades por aqui. Então o que o nosso curso oferece é esse conhecimento’, diz a aluna, apontando o absurdo que é sua graduação não possuir um jornal laboratório.
Apesar disso, ela aponta a revista laboratório Outro Sentido como uma experiência enriquecedora: ‘Ela coloca outro tipo de jornalismo em questão, buscamos um padrão diferente das revistas semanais. Por exemplo, fiz uma matéria sobre uma varredora de rua com a proposta de contar a história daquela personagem. Quando uma semanal aborda esse tipo de questão é estereotipado, fazem as perguntas mais bestas, não conhecem a realidade da pessoa e não tentam se aproximar. Conseguem a fala que eles querem e só’, avalia.
… E prática
O Canal da Imprensa é uma revista eletrônica que acredita que a mídia deve prestar contas à sociedade de tudo aquilo que divulga, veicula ou publica. Além disso, ele também é um dos laboratórios produzidos pelos alunos do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), instituição onde Evanildon Dias cursa seu 5º semestre e que considera possuir um caráter muito mais prático do que teórico. Ele critica sua graduação, apontando a deficiência das disciplinas teóricas, uma vez que na primeira metade da graduação os alunos de Jornalismo e Publicidade compartilham as mesmas aulas. Assim, querendo suprir necessidades diversas, Dias avalia que muitas aulas acabam não conseguindo alcançar satisfatoriamente nenhuma delas, resultando na baixa qualidade do conteúdo transmitido.
Assim como a PUC-Rio, a UFES está passando por uma reestruturação de seu currículo em busca de mais prática e menos teoria. ‘O currículo novo traz disciplinas claramente voltadas para o mercado que mais cresce no Espírito Santo, que é a assessoria de imprensa e a comunicação organizacional. Não que isso seja um problema em si, esse conteúdo tem que ser trabalhado, mas ao mesmo tempo em que ele é enfatizado a gente não tem disciplinas que trabalhem a questão de assessorias para instituições sociais ou da comunicação comunitária, por exemplo’, cobra Bruna Gatti.
A aluna acredita que o embasamento teórico oferecido por sua faculdade, não só na comunicação, mas em todas as áreas de humanidades, é insuficiente. Segundo ela, pelo papel que um comunicador social desenvolve, um acúmulo de conhecimento maior do que o oferecido pela UFES é fundamental. Além disso, a aluna critica também a falta de apoio da universidade para os projetos de extensão, afirmando que geralmente eles são iniciativas dos próprios estudantes, que se organizam independentemente. A maioria dos projetos não tem verba e cabe aos alunos levantá-la, acusa também.
Com a palavra, os alunos
? Muitas vezes temos uma visão errada do que é um projeto de extensão. Ele é uma troca de conhecimento e não uma inserção de conhecimento nas comunidades. No Jornalismo isso tem sido muito bem feito e esses projetos é que dão vitalidade para o curso, porque não podemos depender da estrutura deficiente dos laboratórios. Participei do Projeto Manuelzão, que trabalha a comunicação e a preservação junto à comunidades ao redor da bacia do Rio das Velhas, um dos mais poluídos de Minas.
– Lívia furtado 10º semestre da UFMG
? Aprendi muito mais no estágio, tive que me virar para aprender o que não foi ensinado em sala. Muitas vezes já liguei para a faculdade e peguei professores nos corredores para tirar dúvidas. Acredito que o aluno não deve depender somente da universidade, temos que buscar coisas além dela. Se ficarmos esperando aprender tudo que o mercado precisa dentro de uma sala de aula, nunca seremos bons profissionais.
– Evanildon Dias, 5o semestre da Unasp
? A maioria dos alunos tem a postura de assistir aula, pegar seu diploma e ir para o mercado do trabalho, sem vivenciar a universidade. Eu acho que é exatamente ai que o CA [Centro Acadêmico] cumpre um papel importante. Geralmente os estudantes se mobilizam mais quando é uma pauta que os atinge em seu cotidiano, como falta de professores. Falta muito, falta criar uma certa consciência pra que os alunos vejam a importância de se mobilizar e se organizar para conseguir de fato um objetivo.
– Bruna Mesquita Gatti, 5º semestre da UFES
? Fiz um semestre de Produção Cultural na UFF [Universidade Federal Fluminense] e lá eu era muito mais engajada do que na PUC. Não consigo dizer por que, talvez por lá ser uma universidade pública e enfrentar muitos problemas que não tem aqui. As turmas também são bem diferentes, aqui entram 400 alunos por semestre em jornalismo e lá eram 30.
– Clarice Tenório, 6o semestre da PUC-Rio
? A formação do Jornalismo na USP é aquém, não acho suficiente o embasamento teórico oferecido. Não me sinto especialista, não sinto que minha formação acadêmica é sólida e por isso eu penso em fazer uma pós ou até outro curso. Quero ter mais conhecimento de sociologia.
– Eliane Scardovelli, 7o semestre da USP’
TELEVISÃO
Lapso de apresentadora do SBT repercute na mídia, 15/12/06
‘No último sábado (9/12), a jornalista Juliana Alvim, nova apresentadora do telejornal ‘SBT Brasil’, chamou a atenção dos telespectadores ao não conseguir anunciar o nome do programa que seria transmitido em seguida. ‘Assista daqui a pouco…Assista daqui a pouco o programa…Boa noite’, encerrou. Além de já aparecer em página do Google Video, o fato repercutiu na imprensa que relacionou o episódio ao recente fim dos departamentos de divulgação e da assessoria de imprensa do SBT.
Segundo Paulo Nicolau, diretor do ‘SBT Brasil’, os dois problemas não estão relacionados. ‘O SBT é uma empresa séria, dá aos jornalistas liberdade editorial e as melhores condições para trabalharmos aqui’, afirma. Nicolau explicou ao Comunique-se que tudo não passou de uma falha do teleprompter. ‘O nome do programa que vinha a seguir estava na lauda, mas houve um problema técnico e o texto desapareceu do TP. Na hora, o problema provocou a falha da Juliana’, disse.
Nicolau defendeu a apresentadora e rebateu as críticas. ‘Ela é uma profissional correta, experiente e não merece esse massacre. Problemas como esse acontecem em todas as TVs do mundo’.
O ‘SBT Brasil’ tem enfrentado problemas desde que a jornalista Ana Paula Padrão deixou a sua bancada para criar o novo programa ‘SBT Realidade’. Segundo a Folha de S. Paulo, o apresentador Carlos Nascimento não conseguiu manter os mesmos números de audiência em sua estréia que caíram de 4,7 pontos para 3,9 pontos em sua estréia.’
José Paulo Lanyi
O SBT é uma ilha, 12/12/06
‘Silvio Santos resolveu implodir o departamento de Divulgação de sua emissora (leia SBT acaba com assessoria de imprensa e dificulta trabalho de redações que cobrem TV), sabe-se lá por quê. O dono do baú é mesmo dado a decisões estapafúrdias, em que pese a sua genialidade como comunicador – na minha opinião, o maior do País em todos os tempos.
O empresário que é useiro e vezeiro em montar e desmontar equipes de jornalismo, ao influxo de seu humor naturalmente calcado nos números do momento, parece se lixar para o bom senso. Em contraste, melhor do que nós ele sabe que, em seu próprio mundo, imagem é quase tudo. Às vezes, tudo. Nem conteúdo precisa ter- o que talvez, em sua emissora, possa explicar a programação que, como diria o impagável Nelson Rodrigues, sói ser tão rasa que uma formiga poderia atravessá-la com a água pelas canelas.
Tenho experiência no assunto em pauta. Trabalhei, em início de carreira, no departamento de Divulgação da TV Bandeirantes em São Paulo, há quase quinze anos. Naquele tempo, acredite, ainda não havia Internet, não como a conhecemos hoje, disseminada pelos PCs.
Eu redigia os boletins de programação que eram distribuídos aos principais cadernos de variedades pelo Brasil afora. Eram reportagens sobre as novas atrações da emissora, como os filmes, os shows e as transmissões esportivas que caracterizavam a Bandeirantes naquela época. Foi naqueles dias que testemunhamos a criação da nova marca da emissora, Band, concebida sobretudo para atrair o público jovem.
O trabalho da Divulgação era árduo. Além de editarmos o boletim – uma revista com reportagens e sinopses de filmes impressa pela gráfica da Legião da Boa Vontade, a LBV-, atendíamos os telefonemas de jornalistas de todo o Brasil. O resultado era expressivo, como o clipping atestaria a cada semana. Penso que agora, com a Internet, as coisas sejam um pouco mais fáceis, embora sempre trabalhosas.
Trata-se de um setor importante para uma rede de televisão, como, de resto, para qualquer grande corporação. Os jornais têm pressa e precisam, se não de informações oficiais, ao menos da confirmação das que foram apuradas ‘em off’ com as outras fontes. Há, também, uma demanda significativa por parte dos veículos de outros estados, muitos deles distantes e ‘desconectados’ do cotidiano da emissora.
É bem verdade que os jornalistas que cobrem as coisas da TV devem cultivar as suas fontes para depender cada vez menos da voz oficial, como destacou, com ironia, a jornalista Regina Rito, colunista de O Dia, na matéria sobre o SBT publicada por este Comunique-se: ‘Adoraria que eles tivessem uma assessoria que pudesse dar exclusivas, mas não têm’. Bom, fato é que, com ou sem exclusivas, a colunista também precisa da voz oficial, como ficava claro naquela época da Bandeirantes, em que a jornalista costumava conversar com a Divulgação da emissora.
Mais do que a extinção do departamento, sublinhe-se, nessa história do SBT, a displicência com que a empresa tem conduzido a sua decisão. Acabou? Por quê? É uma nova tática de comunicação? Qual seria, então? Silvio Santos não se vê na obrigação de divulgar.
O SBT é uma ilha. A cada dia mais distante de tudo e de todos.
Parafraseando um diretor da TV Bandeirantes de Curitiba, ao referir-se à emissora em que trabalhava, há alguns anos: o SBT não é uma televisão com um escritório, mas um escritório com uma televisão.
(*) Jornalista, escritor, dramaturgo, crítico, escreveu quatro livros, um deles com o texto teatral ‘Quando Dorme o Vilarejo’ (Prêmio Vladimir Herzog). No jornalismo, tem exercido várias funções ao longo dos anos, na allTV, TV Globo, TV Bandeirantes, TV Manchete, CNT, CBN, Radiobrás e Revista Imprensa, entre outros. Tem no currículo vários prêmios em equipe, entre eles Esso e Ibest, e é membro da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes).’
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