Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Contra as agressões e o clima de histeria

Na semana passada, três casos envolvendo a liberdade de imprensa ganharam destaque na mídia nacional. O primeiro foi a hostilização de militantes do PT a vários jornalistas na entrada do Palácio da Alvorada, na segunda-feira (30/10). No mesmo dia, à tarde, em entrevista coletiva, o governador reeleito Roberto Requião (PMDB/PR) ofendeu de modo genérico jornalistas e empresas de comunicação. E no dia seguinte, o depoimento de três repórteres da revista Veja nas dependências da Polícia Federal, em São Paulo. Tais fatos atingiram indiretamente a FENAJ, que emitirá nota pública de esclarecimento.


Para o presidente da Fenaj, Sérgio Murillo de Andrade, o caso das agressões em Brasília é condenável. ‘A Fenaj defende que as pessoas possam manifestar sua contrariedade à cobertura da imprensa, mas jamais irá concordar com ameaças e violências contra jornalistas ou a própria imprensa, como instituição’. Segundo ele, é totalmente mentirosa a nota publicada na coluna ‘Painel’ da Folha de S.Paulo, publicada no dia 31 de outubro, insinuando uma concordância com a intolerância dos militantes do PT. ‘A Folha só me ouviu depois da publicação da nota. O texto publicado traz declarações que não fiz. Foi escrito por telepatia’, reclama Murillo.


Já em relação ao caso do Paraná, a Fenaj se solidarizou com o Sindicato dos Jornalistas do Paraná, que emitiu nota oficial condenando a atitude desrespeitosa do governador Requião em relação aos jornalistas. ‘O governador tem o direito de reclamar do que considera uma partidarização da cobertura do processo eleitoral, mas não pode ofender de modo genérico profissionais e veículos’, comenta Murillo. A Fenaj solicitou que o governador abra uma agenda de diálogo com os Sindicatos dos Jornalistas do Paraná e de Londrina, visando superar os conflitos de integrantes do governo, e especial o próprio governador, com os profissionais de imprensa.


Sistema de responsabilidade


Quanto aos jornalistas da Veja que foram chamados a depor na Polícia Federal de São Paulo, ao tomar conhecimento do fato a Fenaj entrou imediatamente em contato com a Superintendência da PF em Brasília, que assegurou a legalidade da convocação e um tratamento não intimidatório aos profissionais. Outra providência foi solicitar que o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo entrasse em contato com os envolvidos. Porém a direção da Veja declarou ao Sindicato que só iria se manifestar através de nota oficial durante a noite.


A nota divulgada pela Veja afirma que houve constrangimentos aos jornalistas. Mas a procuradora da República, Elizabeth Kobayashi, que testemunhou os depoimentos, afirmou que, no seu entendimento, não houve intimidação pessoal. Agora faz-se necessário que os jornalistas envolvidos se manifestem.


Para o secretário geral da Fenaj, Celso Schröder, ‘não é justo atribuir uma malignidade intrínseca à imprensa, da mesma forma que não existe um salvo-conduto para erros e desvios de conduta’. Schröder informa que o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação, do qual a Fenaj é integrante, está preparando um estudo que avalia a cobertura das eleições, ouvindo especialistas e jornalistas que trabalharam neste processo.


Antes disso, a Executiva da Fenaj divulgará uma nota relacionando estes acontecimentos e a cobertura do processo eleitoral. ‘É preciso tranqüilidade e serenidade para análise e posição responsáveis. A Fenaj já foi vítima deste falso clima de histeria, que de modo algum contribui para o aperfeiçoamento das instituições democráticas no Brasil’, conclui o presidente da Fenaj. Para ele, a melhor defesa da liberdade de imprensa é a instituição de um rigoroso sistema de responsabilidade que, infelizmente, a mídia se recusa a discutir publicamente.

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Federação Nacional dos Jornalistas