Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Correio de recados para população carente

Não tenho procuração da coordenação da Rádio Senado Ondas Curtas para defendê-la, até porque não concordo com muita coisa que ocorre naquela casa legislativa, inclusive com o inchaço de diretorias noticiado nos últimos dias, onde servidores são chefes deles próprios. No entanto, neste caso, gostaria de fazer um contraponto ao que a imprensa tentou passar, chamando a diretoria da Rádio Senado Ondas Curtas de ‘pérola’ e que tal função seria mais um cabide de emprego. Faltou conhecimento de causa a quem noticiou e comentou.

A Rádio Senado Ondas Curtas existe, sim. Faz um bom trabalho e deve ter um coordenador, assim como outras emissoras comerciais. É uma emissora de rádio com estrutura como outra qualquer.

Como ouvinte e pesquisador das ondas curtas, posso atestar que, em sua freqüência de 5990 kHz, na faixa de 49 metros, a Rádio Senado Ondas Curtas desempenha um papel de educação e informação para os ouvintes da região Norte do país, para onde sua antena está direcionada. No programa O Senado é Mais Brasil, técnicos apresentam informações simples e práticas que auxiliam o agricultor a melhorar a produtividade de sua lavoura. Também são entrevistados médicos sobre temas básicos de saúde. Além disso, o programa funciona como uma espécie de correio de recados para uma população carente que não tem acesso à internet ou a telefone. Uma velha carta clássica é enviada para a emissora que, por sua vez, divulga o recado que chega ao destinatário final pelas ondas do rádio. Também as sessões da Casa são transmitidas ao vivo pela emissora.

Crise sem precedentes

Por funcionar dentro de uma casa legislativa, a Rádio Senado acaba apresentando vários pontos-de-vista sobre um tema, muito mais que uma emissora comercial, onde a voz do dono é que fala mais alto. Por exemplo: se o senador José Nery (PSOL-PA) faz um discurso defendendo o delegado Protógenes Queiroz de acusações publicadas pela revista Veja, a Rádio Senado é obrigada a veicular um boletim com tal opinião. O inverso também é verdadeiro: se o senador Heráclito Fortes (DEM-PI) afirma que o delegado praticou abusos em suas investigações, a informação irá ao ar na emissora. É praticamente impossível que a opinião de José Nery seja veiculada com generosos minutos de duração numa emissora comercial. Certamente merecerá o descaso de sempre ou, na pior das hipóteses, algum comentarista tecerá opinião eivada de chavões para desmoralizar o parlamentar.

Numa época em que o rádio comercial vive uma crise de identidade sem precedentes, com pessoas desqualificadas tendo acesso ao microfone para atropelar a língua pátria e apresentar músicas com letras pouco educativas, é preciso esclarecer o papel da Rádio Senado Ondas Curtas no cenário radiofônico brasileiro.

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Jornalista e radioescuta, Porto Alegre, RS