Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Crise aérea e jornalismo chapa-branca

Ao dar posse na quinta-feira (29/3) ao jornalista Franklin Martins como ministro-secretário da Comunicação Social, o presidente Lula condenou o que ele chamou de jornalismo chapa-branca.


Mas o que está acontecendo na cobertura da maior tragédia em céus brasileiros é algo muito pior do que o jornalismo oficial. Há seis meses ininterruptos, desde aquele fatídico 29 de setembro, o governo tenta controlar o noticiário empurrando os desdobramentos do doloroso episódio para debaixo do tapete.


Não se trata de manipulação jornalística, é manipulação política. Na quinta-feira, o macabro aniversário foi comemorado com dois eventos: um apagão aéreo em Manaus, com todas as aparências de ter sido provocado por uma greve branca dos controladores de tráfego aéreo, e a decisão do STF que valida outra decisão, esta da Câmara dos Deputados, de instalar uma CPI sobre o caos aéreo.


Shows políticos


É preciso não esquecer que o desastre ocorreu dois dias antes do primeiro turno das eleições presidenciais e que, ao longo das semanas seguintes, o ministro da Defesa, Waldir Pires, empenhou-se ativamente em jogar a culpa nos pilotos americanos, ignorando o sofrimento dos controladores de tráfego aéreo de Brasília que conhecem o outro lado da tragédia.


O presidente da República está certamente no auge da sua popularidade, as posses dos novos ministros são verdadeiros shows políticos, mas cada vôo comercial hoje no Brasil converteu-se em comício oposicionista.


Ignorar esta realidade é um exemplo dramático do jornalismo chapa-branca.