Os jornais do fim de semana dividiram o espaço mais nobre entre a crise envolvendo o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, e a iminente votação do projeto de mudanças no Código Florestal.
Como foi registrado neste Observatório na semana passada (ver “O paulatino avanço das motosserras”), a imprensa tem como certo que a votação do polêmico projeto pode ser antecipada por conta de um acordo entre o governo e a bancada ruralista para evitar a convocação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a investigar o enriquecimento do ministro.
Na segunda-feira (23/5), em entrevista publicada pelo Globo, a ex-senadora Marina Silva (PV) afirma que o governo está sendo chantageado por parlamentares interessados em aprovar a anistia aos desmatadores.
Ainda no decorrer da semana passada, os jornais informaram que o desmatamento na Amazônia aumentou quase 30% em decorrência da promessa de anistia contida no relatório do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP).
A queda de braço envolve ainda o interesse do governo em fazer aprovar duas medidas provisórias, uma que tenta acelerar as obras de infraestrutura para a Copa do Mundo e as Olimpíadas e outra que incentiva o desenvolvimento da energia nuclear.
Mais sangue
A oposição, evidentemente, procura desmentir que o caso envolvendo o ministro seja a moeda de troca para aprovação do novo Código Florestal, mas os fatos noticiados pelos jornais não deixam dúvida sobre a chantagem.
O episódio, que marca a primeira crise no governo da presidente Dilma Rousseff, deve sinalizar muito mais do que um embate entre a banda podre do agronegócio e os ambientalistas. Trata-se de um teste para a própria chefe de governo, que foi eleita na esteira da popularidade histórica de seu antecessor, com fama de boa administradora.
A falta de transparência na vida privada do homem forte do governo coloca em risco não apenas sua reputação como governante, mas também sua autoridade para conduzir o país no momento em que o crescimento econômico precisa ser equilibrado com o atendimento de carências básicas e o controle da inflação.
No momento em que ela precisa contar com uma bancada leal e afinada, o que se tem é um bando de rapinas tentando tirar vantagem.
E a imprensa?
A imprensa, como sempre, quer ver sangue.