Para Craig LaBan, crítico de gastronomia do Philadelphia Inquirer, um jantar em fevereiro em um restaurante da Filadélfia está sendo (mal) digerido até hoje. O jornalista foi processado por calúnia, após ter descrito um filé de US$ 15 como ‘miseravelmente duro e gorduroso’.
Um juiz obrigou o crítico a dar um testemunho gravado em vídeo. Se a filmagem for divulgada publicamente, LaBan poderá ter sua identidade revelada para todos os chefs da cidade – o que irá prejudicar substancialmente seu trabalho. ‘O anonimato de LaBan é importante para o processo de crítica a restaurantes. Se um chef souber que o jornalista está no local, ele pode armar uma situação que não é comum aos demais clientes’, alegam os advogados do Inquirer.
O crítico, que trabalha no jornal há quase 10 anos, esforça-se para manter o anonimato, algumas vezes tendo de usar disfarces; além disso, LaBan nunca usa seu nome verdadeiro nos jantares. Ser reconhecido pelos funcionários de um restaurante é um problema grave para este tipo de profissional. Phyllis Richman, que foi, por muito tempo, crítica de gastronomia do Washington Post, admite que passou a ser tratada de maneira diferente depois que os chefs começaram a reconhecê-la. ‘O que mais muda não é a qualidade da comida, mas o serviço e algumas vezes o tamanho da porção’, conta.
Filé ou sanduíche?
Os problemas de LaBan começaram com uma crítica do restaurante Chops, de propriedade de Alex Plotkin, publicada em fevereiro; o texto não era lá muito favorável ao filé do local. O caso acabou evoluindo para a discussão de detalhes gastronômicos. Em um processo aberto no mesmo mês, Plotkin argumenta que o jornalista não comeu um filé, mas sim um ‘sanduíche de filé sem pão’. ‘Nenhum crítico de gastronomia legítimo iria errar, ou comparar, um sanduíche de filé com um filé’, diz a ação.
O caso é incomum, pois críticas – de filmes ou de comida – são geralmente vistas como opinião, o que é fortemente protegido pela Primeira Emenda da Constituição americana, que garante o direito à liberdade de expressão. Neste caso, o crítico é acusado de fazer uma declaração falsa. Para pôr mais lenha na fogueira, além de alegar proteção da Primeira Emenda, o Inquirer insiste que a crítica foi precisa. As provas são as anotações e o recibo do restaurante apresentados por LaBan, que apontam que ele foi cobrado por steak frites – que seria filé com fritas.
O editor do crítico, Bill Marimow, é só elogios a ele. ‘LaBan é o tipo de pessoa que coloca os pingos nos ‘is’ e qualquer um que leia suas críticas sabe que ele é meticuloso e justo’, defende-o. Informações de Kathy Matheson [Associated Press, 2/7/07].