Veja recebeu em 2005 mais 12.118 cartas do que no ano anterior. Isto está constatado na primeira edição do ano (nº 1938, pág. 27, de 11/1/2006). Mas o aumento de 2004 sobre 2003 foi de 14.824 cartas. Curva descendente, isso é grave: Veja está começando a cansar os assinantes. Logo começará a cansar os anunciantes.
Significa que no ano mais intenso, mais agitado, mais dramático da vida política brasileira nas últimas décadas, o pujante semanário teve menos respostas do seu público. E isso com a economia em ascensão e a equipe econômica do governo executando fielmente tudo o que a direção de Veja recomenda.
Significa também que o extremo recurso de publicar palhaçadas e vilanias ‘padrão Diogo Mainardi’ já não está surtindo o efeito desejado. O Prêmio Nacional de Jornalismo Marrom tem um preço. O rebotalho que sai em suas colunas acaba maculando o resto. Inevitável.
Desmascarado, sem conseguir responder ao que foi escrito neste Observatório sobre os verdadeiros motivos do seu mais recente delírio macartista, Mainardi agora pretende imputar a este Observador coisas que outros escreveram sobre ele.
O narcisismo enfermo produz estas alucinações e desvios. O leitor pode comparar o que aqui foi dito e a maneira calhorda como o escriba contratado para enxovalhar o jornalismo brasileiro o traduziu e respondeu. [‘O macartismo mainardiano em ação‘; ‘Acabou a lista negra da Veja!‘; ‘Além de macartismo, chantagem‘]
Um psiquiatra resolveria o problema de Mainardi com apenas uma consulta. O ídolo de Mainardi, o americano Gore Vidal, preferiu outra saída. Está mais calmo, feliz da vida. Conviria imitá-lo nisso também.
Valor de face
Quando recebeu a primeira resposta à sua coleção de infâmias, Mainardi tentou uma aproximação via e-mail. Na base do ‘meu caro’ e outros salamaleques. Imaginava que com este tipo de civilidade poderia disfarçar sua abjeta postura pública.
O delator estava atacado, queria nomes de jornalistas a serviço da Opus Dei para denunciá-los. A resposta também foi bem educada. Esta é a íntegra:
‘Caro Diogo, desculpe, não faço pixações [sic] pessoais nem delações. Tenho escrito extensamente sobre a penetração da Opus Dei &Universidade de Navarra na imprensa ibero-americana. De cima para baixo – começa nas instituições corporativas (tipo SIP), ANJ e vai até os quadros médios nas redações. No meu artigo não denunciei a presença de pessoas da Opus Dei na Veja e na Abril. Conheço algumas mas não faço este tipo de acusação. O meu approach é institucional, político. A Opus Dei é uma ordem religiosa e como tal não me preocupa. Mas enquanto projeto de poder – através da imprensa e das grandes empresas – me preocupa muitíssimo.’
O imperador da língua portuguesa, êmulo do Padre Vieira, estilista ímpar & paradigma moral da literatura brasileira, serviu-se de um e-mail apressado para tentar enxovalhar aquele que revelou o que há por trás da sua patriótica campanha contra os jornalistas brasileiros. Com ch ou x, Diogo Mainardi é o Matt Drudge da mídia brasileira. Matt Drudge é a escória da mídia ianque.
Só lhe resta um caminho: pedir desculpas à diretoria da Editora Abril por desonrar semanalmente uma instituição jornalística que conseguiu sobreviver porque, no passado, apostou na dignidade e na decência.
Chantagistas e mafiosos caracterizam-se por invadir a vida privada e a correspondência pessoal para fins escusos. Não têm escrúpulos. Apenas fúrias. E para atendê-las enveredou pela baixaria. Mainardi, porém, não revelou na coluna a íntegra do seu último e-mail sobre o jornalista Pimenta Neves:
‘Na minha opinião, se é que vale alguma coisa, o Pimenta deveria estar preso.’
Tem razão, sua opinião não vale coisa alguma. Mas por que não a assume publicamente? Essas coisas vendem revista, podem reverter o cansaço dos assinantes. Por que não faz jus ao seu fabuloso salário para retomar um assunto de real interesse público e, aliás, já tratado em outras páginas por outro colunista? [Segue]