A TV e o rádio têm realmente uma propriedade capaz de ser reveladora quanto ao despreparo de alguns políticos para o contato com o público. Já se percebe isso nos primeiros debates de idéias e propostas (idéias? propostas?) com candidatos a prefeito em algumas cidades. Não vou falar da autenticidade das informações e nem dos embates entre os aspirantes aos cargos, mas da incrível incompetência no campo das argumentações.
Diante das câmeras, mesmo os mais cotados em pesquisas de opinião pública conseguem ser óbvios demais, redundantes, contraditórios e se tornar completamente ‘batidos’ em suas colocações ao povo em geral. A população que assiste aos debates sente vontade, provavelmente, de rir ou simplesmente desligar o aparelho de rádio ou de TV. Lamentável que os espaços abertos para visualização e audição das idéias seja tão mal utilizado pelos políticos. Um candidato a prefeito em Florianópolis lembrou, num debate, que o povo realmente se desliga das discussões quando percebe a inconsistência da conversa. Claro que com isso ele defendia seu ponto de vista, mas é verdadeira a superficialidade, banalidade e inutilidade presentes nos discursos e nos diálogos travados.
Agora, na arrancada rumo aos palácios municipais, os postulantes demonstram fragilidade ao lidar com os pensamentos e com as palavras. Quem sabe estão apenas ‘esquentando’ e melhorem seu desempenho antes do dia da votação? Mau presságio por enquanto… Um candidato pergunta ao outro algo que indiretamente atinge um terceiro. E esse terceiro evoca o direito de resposta ao mediador e se limita a trocar farpas num combate verbal sem sentido e sem propósito. Outro candidato não cessa de colocar a culpa de todos os problemas nacionais no FMI, no imperialismo americano, na CIA e em qualquer outro organismo que ele possa considerar alienígena. Há ainda candidatos incapazes de dizer até mesmo o que pensam sobre determinado assunto. São questionados sobre meio ambiente, mas respondem a respeito de saúde pública e segurança.
A indigestão é certa
O festival de estatísticas divulgadas sem a fonte é fantástico, porém, o interessante é que está ficando tudo claro na TV e no rádio. É o show daqueles que se apresentam como sobrenaturais capazes de sarar todas as chagas sociais, alimentar os famintos e providenciar empregos sem fim. É o espetáculo dos candidatos à vaga de intelectual e teórico da administração pública.
O eleitor deve assistir a tudo isso com olhar crítico e saber que, se um candidato não consegue ao menos argumentar com a devida lógica e clareza, é indigno de ocupar um cargo de prefeito ou vereador.
Ponto para emissoras que privilegiam as indagações de entidades na hora dos debates e dão voz às lideranças empresariais e comunitárias. Ponto para os candidatos que dão respostas diretas, sem rodeios chatos, assim como os jornalistas que instigam, com colocações inteligentes. É frustrante para o eleitor que se aventura a assistir a esses programas constatar que o nível de ‘enrolação’ é grande e o poder de argumentação não existe.
Se o horário político obrigatório for, mais uma vez, uma mera reprodução do que muitos candidatos agora vomitam no altar de sua ignorância em debates, preparemos nossos estômagos. A indigestão é certa e a informação fica de lado mais uma vez.
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Profissional de comunicação, Florianópolis