Monday, 04 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Depois dos sítios, vem aí o papel eletrônico

No filme de ficção científica Minority Report, um passageiro do metrô tem em mãos uma moderna edição do USA Today; em vez do tradicional papel, uma tela de vídeo de plástico, fina, dobrável e sem fio disponibiliza as notícias, com textos atualizados constantemente. A cena, ambientada no ano 2054, deixou de ser apenas ficção. Este mês, o jornal financeiro belga De Tijd começou a testar versões de papel eletrônico. Trata-se de um dispositivo de telas com tinta digital – milhões de cápsulas microscópicas, da largura de um fio de cabelo humano, feita de material orgânico – que mostra imagens claras ou escuras em resposta a cargas elétricas.


Este ano, os jornais Les Echos, de Paris, New York Times, dos EUA, e o grupo IFRA, da Alemanha, são alguns dos que testarão o dispositivo. O International Herald Tribune, de propriedade do grupo The New York Times Co., está em negociações com a empresa iRex Technologies para disponibilizar assinaturas do jornal eletrônico também até o fim deste ano, segundo informa Michael Golden, publisher do IHT.


Tecnologia em teste


O De Tijd, com 40 mil leitores na Bélgica, testa um dispositivo chamado iLiad eReader, que adapta o formato impresso tradicional para a tela, sem mudar o estilo do jornal. No dia 14/4, 25 leitores receberam de graça dispositivos para ler o e-paper. É o início de uma pesquisa com três meses de duração para analisar os hábitos de leitura de 200 voluntários. Os pesquisados são, em maioria, homens com educação superior, selecionados para encaixar no perfil usual dos leitores da versão impressa – e que geralmente estão entre os primeiros a adotar novas tecnologias. ‘Sabemos que nossos leitores gostam de ter o jornal antes de ir para o trabalho e nós lhes oferecemos as edições antes das 7h30 da manhã; mas isto não é suficiente’, afirmou Kris Laenens, gerente do projeto. ‘O jornal tem de oferecer serviços aos leitores onde e quando eles quiserem’.


Até o momento, o e-paper é em preto e branco, oferecendo apenas 16 variações de cinza. A tela é feita de plástico rígido; o flexível ainda encontra-se em desenvolvimento. Tais fatores desanimaram algumas editoras de jornais, que esperavam dispositivos – em fase de testes no Japão e China – mais sofisticados, mais leves e flexíveis. ‘O pensamento deles é: ‘queremos ter certeza que as pessoas vão querer ler o e-paper antes de desenvolver tecnologias mais avançadas’’, afirmou Darren Bischoff, gerente de marketing do E Ink, empresa que desenvolve a tecnologia de tinta digital.


Evolução


O Les Echos está adotando uma estratégia diferente do jornal belga. Em vez de adaptar a versão impressa à eletrônica, a empresa pretende customizar a informação com um formato diferente do jornal de papel, e mais parecido com seu sítio na internet. Ainda este ano, 500 leitores devem testar o dispositivo. De acordo com Jochen Dieckow, responsável pela pesquisa de mídia e negócios do grupo alemão IFRA, a primeira fase do e-paper será testada em maio. ‘Muitas editoras estão levando isto a sério, e nós vemos [o papel eletrônico] como um novo canal de mídia’, disse Dieckow.


Segundo Bruno Rives, fundador da empresa de consultoria Tebaldo, que trabalha no projeto do jornal eletrônico para o Les Echos, o novo dispositivo é uma evolução do papel, e não o próximo estágio dos jornais.


Para os grupos que enfrentam queda de circulação dos jornais, o e-paper parece ser uma oportunidade para atingir mais leitores, salvar algumas florestas e economizar nos custos de impressão e distribuição. No entanto, depois que alguns e-books no mesmo estilo não obtiveram sucesso no fim dos anos 90, esta pode ser apenas uma esperança longe de se realizar.


Aposta


De acordo com especialistas, a diferença desta vez está na tela do dispositivo. Ela agora é desenhada para refletir luz mais do que transmiti-la, fazendo com que o e-paper se pareça mais com o jornal, legível na luz do dia ou em um metrô escuro. Os dispositivos, menores que um livro médio, podem ser atualizados através de conexão sem fio ou com fio à internet. Para virar as páginas, é necessário apenas tocar um botão.


Surge a questão: será que estes aparelhos serão o iPod dos jornais? Inicialmente, algumas livrarias mostraram-se relutantes em comercializar o dispositivo da Sony que permite a leitura do e-paper, devido ao fracasso dos e-books no passado. Este mês, entretanto, a versão online da livraria Borders anunciou que venderia em breve 200 e-readers, embora nenhum jornal além do Les Echos tenha anunciado que disponibilizará seus e-papers no dispositivo da Sony. Informações de Doreen Carvajal [International Herald Tribune, 24/4/06].