Os meios de comunicação brasileiros até que torceram bastante, mas não foi desta vez que o Terceiro Mundo conseguiu ser representado no comando da Igreja Católica. Foi só a fumaça branca aparecer e o óbvio ocorreu: Bento 16 (cardeal Joseph Ratzinger) é o novo papa.
Desde a morte de João Paulo II, a imprensa brasileira vem realizando uma ampla cobertura dos acontecimentos na Igreja. Apesar dos inevitáveis deslizes que aparecem em qualquer evento de cobertura muito intensa da mídia, como foi, por exemplo, a notícia de que João Paulo II teria, no ano 2000, desejado renunciar ao papado (na verdade, ele escrevia sobre a morte, não sobre a renúncia), a imprensa pátria não fez feio. Realizou bons perfis dos principais ‘papáveis’, ouviu os principais teólogos brasileiros, reproduziu as opiniões dos ‘vaticanólogos’, descreveu a contento o processo de sucessão e enviou bons profissionais para Roma.
O fato é que os limites que se colocaram para os brasileiros também foram postos para a mídia de todo o planeta. Quando a porta se fechou e começou o conclave que escolheu Ratzinger, todos os veículos ficaram iguais, de olho na chaminé, à espera da fumaça branca. Não houve tecnologia ou espionagem capaz de fazer qualquer órgão de comunicação antecipar a escolha do papa. No dia e meio em que foram realizadas as votações, muita gente chutou, e para todos os lados, mas informação que é bom, não havia.
Guinada conservadora
Se pecado houve na cobertura da imprensa brasileira, foi pecado venial, qual seja o de tentar fazer o público crer nas chances dos conterrâneos D. Cláudio Hummes e D. Geraldo Majela. É bem verdade que todos os jornais e revistas advertiram para o favoritismo do cardeal Ratzinger, braço direito de João Paulo II, mas foi evidente um certo clima de ‘oba-oba’ com a possibilidade de um brasileiro ou mesmo um latino-americano se tornasse papa.
Outro problema da cobertura brasileira foi uma certa complacência com o conservadorismo de João Paulo II. Evidentemente, na comparação com Ratzinger, João Paulo II poderá até passar a ser visto como um moderado, tal o grau do fundamentalismo católico de Bento 16. Mas a verdade é que o papa polonês foi, sim, extremamente conservador, tanto na doutrina como no sentido político que imprimiu ao seu pontificado. Poucos jornais ressaltaram este aspecto.
[texto fechado às 16h47 de 19/4]