Wednesday, 04 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Deus, profeta, pintura

Silio Boccanera entrevistou uma muçulmana radicada em Londres, cujo nome não foi possível reter, no Sem Fronteiras (Globonews), exibido em 9 de fevereiro. Perguntada sobre o que acha da lei que está sendo preparada na Inglaterra proibindo desrespeito a religiões, ela respondeu: por um lado, não deveria haver censura, por outro não é bom que se tenha de ir tão longe para a boa convivência entre o Ocidente e o Islã.

O mundo é assim, testam-se os limites de tudo o tempo todo, até que venham as leis. Aqui no Brasil temos a Lei Caó, que coibiu mesmo as manifestações de racismo. Qualquer um é livre para ser racista, mas sabe que se o manifestar vai para a cadeia. E a imprensa? Charlie hebdo, revista de humor francesa, republicou as charges de Maomé. E a comunidade islâmica francesa? Promoveu manifestação pacífica de protesto e promete processo contra a revista.

Rosto mouro

Aliás, um blog chamado ‘Mídia Judaica Independente’ está divulgando por e-mail a informação de que o jornal egípcio al-Fagr foi o segundo a publicar as charges, em 17 de outubro de 2005, antes mesmo da Noruega (10/1/06). Em termos bem rudes, cobra dos muçulmanos boicote também ao Egito. Publicações da Jordânia igualmente reproduziram os desenhos sem qualquer reação popular – os editores foram presos –, e provavelmente outros o fizeram no mundo muçulmano, apenas não sabemos.

É assim que o mundo vai evoluindo: a lei e a imprensa forçam os avanços, apesar dos muitos recuos. O Islã não vai escapar da ‘modernização’, que é inexorável nestes tempos midiáticos, e o Ocidente vai acabar aprendendo a usar a liberdade. Nem que seja pela força. A história é cheia de exemplos.

Michelangelo Buonarotti estranharia muito tudo isso. Nos inacreditáveis afrescos da Capela Sistina seu Deus tem rosto mouro. O deus de alguns é o profeta de outros – e também uma pintura.