DIRETÓRIO ACADÊMICO
A angústia de quem se forma, 24/08/06
‘Quem adivinharia que tantas possibilidades na vida poderiam trazer tanta agonia?
Muitas possibilidades sim, mas nenhuma certeza. E aquele medo que muitas vezes paralisa. Medo do perigo do mundo lá fora. Medo de errar. Medo de falhar, de cair e não conseguir se levantar de novo. Medo do desconhecido.
É essa situação que está atormentando um grupo de jovens que acabou de se formar em jornalismo, numa universidade mediana nos Estados Unidos. Ou seja, uma universidade que não é nenhuma Harvard, Yale ou Columbia.
Esses jovens têm alguma experiência no jornalismo americano, mas não o suficiente – e um diploma não poderoso o suficiente – para encontrar as portas de jornais conceituados abertas. Com muita vontade de trabalhar e pouco dinheiro no bolso, eles saem atrás de jornais menores que aceitem contratá-los, em meio a uma crise que já fez milhares de jornalistas perderem seus empregos nos EUA. Mas acredito que gente do mundo inteiro possa se identificar com isso.
Nos Estados Unidos, há centenas de possibilidades em jornais pequenos, escondidos nos subúrbios, desertos e cidadezinhas com menos de 100.000 habitantes. O problema é que há milhares de jornalistas, com pouca ou muita experiência, disputando os mesmos empregos. Muitos deles fazem qualquer coisa para conseguir emprego numa época difícil como a atual.
Alguns desses recém-formados, de diploma com peso mediano, iludidos, ainda acreditam que os jornais grandes vão sair no tapa por eles. Outros ficam aterrorizados só de pensar que podem dar um passo errado no início da carreira e depois ficarem presos ali, pela limitação do mercado ou pelas próprias neuras.
Essa espera por alguma resposta, ou proposta, contando as horas e os dias que demoram a passar é o limbo – ou inferno – pós-faculdade.
Muitos desses jovens já trabalham desde adolescentes, em algo diferente do jornalismo (geralmente em escritórios, lojas, cinemas ou lanchonetes). Assustados com a imensidão do mundo lá fora, pensam se não poderiam trabalhar em outra coisa temporariamente, ou então fazer pós-graduação e até mudar de carreira. Poderiam mudar de vida, quem sabe, de país – só o medo os impede. O medo de não conseguirem aprender uma nova língua, de serem barrados no baile pelas autoridades da imigração, de não conseguirem ganhar dinheiro, de serem infelizes e talvez, acima de tudo, de nunca mais conseguirem voltar para o jornalismo.
As mãos doem de saudade da caneta, do teclado. Ou é o coração que chora pelo brilho das cameras e luzes, de saudade da ‘ação’. Por que os estágios não se transformaram em emprego? Pensaram que fossem bons o suficiente…
Os focas não conseguem entender como é difícil para aqueles que tomam as decisões reconhecerem seu talento. Não entendem, mas continuam mandando seus currículos, na esperança de que nada disso seja uma perda de tempo.’
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