‘Atribuir as críticas à condução da política econômica apenas à esquerda do PT equivale a acreditar numa força que essa ala não tem e a duvidar da sagacidade político-eleitoral da cúpula do partido.
Sem discurso para enfrentar as eleições municipais de outubro, o PT parece ter detectado nos ataques à economia uma boa solução para continuar apresentando-se ao eleitorado como o partido da mudança.
Isso, evidentemente, por soar absurda a hipótese de que tais manifestações, feitas agora de maneira oficial, tenham origem numa manobra do ministro da Casa Civil, José Dirceu, para desviar o foco de si. A respeito dele se questionam outros aspectos, não a inteligência.
José Dirceu pode até, num primeiro momento, ter feito alguns movimentos de bastidor nesse sentido, mas tem suficiente senso de realidade para saber que tiros em Antônio Palocci não atingem uma pessoa nem um grupo, mas toda a estrutura de poder.
A onda de pregação mudancista denota muito mais uma ação direcionada à sobrevivência partidária e à disputa de espaço político com a oposição, com vistas ao embate de outubro, do que qualquer outra coisa.
O leitor aqui poderia fazer uma pausa para contestação e contra-argumentar que as conseqüências objetivas dessa ofensiva para a credibilidade interna e externa do País não valeriam o risco. Raciocínio perfeito, caso o PT nestes meses de governo – e nas semanas de crise em particular – tivesse feito algum cálculo mais ou menos razoável sobre a relação custo/benefício de seus atos.
Evidenciou-se, isso sim, uma preferência pelo tiroteio à deriva, pelo ataque a algum alvo como primeira providência e uma tendência a agir antes de pensar.
Nesse quadro, o partido começou claramente a costear o alambrado – para usar expressão notabilizada por Brizola para definir o político pronto a trocar de lado – do Ministério da Fazenda.
Em tese, caberia ao presidente da República e ao grupo mais próximo a ele avalizar a continuidade do rumo atual. Mas, a ser verdadeira a afirmação de Luiz Inácio da Silva de que a política econômica não muda até o meio do ano, a permanência do rumo atual para além do mês de julho perde valor num quadro de apostas.
Mas, ainda que Lula tenha dito isso apenas como uma forma arrevesada de expressão, e o sentido da frase não contenha intenção real de alterações na economia, mesmo assim o PT está com todo o jeito de quem já escolheu uma bandeira.
E, à falta de um presidente da República para atacar, abre a temporada de caça ao companheiro Palocci.
Ação e reação No PFL, briga interna é coisa de profissional. A fim de evitar traições na eleição da liderança do partido na Câmara, o senador Antonio Carlos Magalhães orientou a bancada baiana a marcar, com um pequeno círculo, a cédula com votos em Pauderney Avelino.
A história chegou à cúpula partidária, contrária a ACM na disputa, que imediatamente mandou seus correligionários marcarem os votos em José Carlos Aleluia da mesma maneira e, assim, confundir o adversário.
Aleluia ganhou.
Tangente Advogado experiente que é, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, deixa-se tomar por um cacoete profissional ao classificar como mero ‘frenesi’ o interesse a respeito de José Dirceu e seu entorno. Falou isso a propósito de defender como legítima a atuação do filho de Dirceu na liberação de verbas federais para municípios do Paraná.
Thomaz Bastos usa uma evidência de forma – o alvoroço jornalístico instalado em volta do chefe da Casa Civil desde que seu assessor foi exposto pedindo propina – para tentar desqualificar o conteúdo das impropriedades apontadas.
Realmente, como diz o ministro da Justiça, José Carlos Becker de Oliveira e Silva não cometeu ilícito ao atuar para liberar R$ 607 mil do Orçamento da União para duas cidades paranaenses. Formalmente.
Na prática, ocorreu tráfico de influência, porque ele não conseguiu liberar as verbas por ser funcionário da prefeitura de Umuarama, e sim pela condição de filho do ministro José Dirceu.
Além disso, agiu como deputado que não é, e usou a máquina federal, com o aval do pai, em prol da candidatura a prefeito de Cruzeiro do Oeste, numa campanha ainda não autorizada pela Justiça Eleitoral.
A excitação jornalística em volta do ministro José Dirceu não existe por geração espontânea. Foi motivada pelo flagrante de extorsão em Waldomiro Diniz e prossegue por causa da descoberta de casos como o de José Carlos e o de um segundo assessor da Casa Civil investigado pela Polícia Federal por envolvimento com a máfia do jogo.
Buscar conferir artificialidade às cobranças por esclarecimento é prosseguir na tática diversionista que, como se viu desde o início desse caso, não ajuda nem o governo nem ao chefe da Casa Civil.’
Aluizio Falcão Filho
‘Os boatos de quinta-feira’, Época, 15/03/04
‘Há cerca de um mês, nas tardes de quinta-feira, estabeleceu-se um novo hábito em Brasília: especular sobre o que as revistas semanais publicarão no fim de semana. Cria-se um alvoroço entre os políticos, inventam-se mil reportagens explosivas e até o dólar flutua em função desses rumores.
Evidentemente, o início de tudo foi a reportagem de ÉPOCA, publicada em 13 de fevereiro, sobre o caso Waldomiro Diniz (quando os boatos sobre o teor forte da matéria começaram a circular em Brasília, diga-se de passagem, era uma tarde de quinta-feira).
Do ponto de vista da imprensa, essa boataria é estimulante. Repórteres ficam com a adrenalina a mil e produzem como nunca. Fontes são acionadas. Conversa-se adoidado. O problema é que esse movimento da imprensa retroalimenta a central de boatos, fazendo o caldeirão ferver ainda mais.
Para o país, o conversê das quintas-feiras é um desastre. Receosos dos desdobramentos do disse-que-disse, empresários postergam investimentos e contratações. Ou seja, deixam de fazer o próprio trabalho para prestar atenção a fofocas. Em relação aos políticos, idem com batatas. E, desastre dos desastres, pode-se constatar que o poder paralisante dos boatos é ainda maior entre os membros do governo.
Um dos personagens que volta e meia surgem nesses devaneios de quinta-feira é Delúbio Soares, dirigente do Partido dos Trabalhadores responsável pelas áreas de finanças e planejamento do PT. Ele, que foi tesoureiro da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência, é sempre alvo de insinuações, muitas das quais partem de membros de seu próprio partido.
Delúbio é nosso principal entrevistado da semana. Simpático, desembaraçado, sem papas na língua, ele é um legítimo representante dos históricos do PT. A entrevista, concedida ao redator-chefe Delmo Moreira e ao editor-executivo David Friedlander, rendeu tanto que mereceu quatro páginas, em vez das habituais três. O resultado você confere nesta edição.’
Ricardo Brandt e Virgilio Abranches
‘Regina Duarte volta a fazer crítica a Lula’, Folha de S. Paulo, 11/03/04
‘Depois de dizer, durante a campanha eleitoral de 2002, que ‘tinha medo’ da vitória do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a atriz Regina Duarte, 57, voltou a fazer críticas ao agora presidente e relembrou o episódio durante a comemoração do Dia Internacional da Mulher, na última segunda-feira. Regina foi uma das homenageadas em um evento organizado pelo PSDB na Câmara de São Paulo.
Durante seu discurso, disse ‘estar triste com o que está acontecendo [em relação ao governo]’. ‘Nenhum de nós que ama o Brasil, que ama os brasileiros, desejou, em qualquer momento, que as coisas estivessem caminhando da forma que estão caminhando.’
Em outubro de 2002, a atriz global apareceu no programa do então candidato José Serra (hoje presidente do PSDB) e disse que tinha medo da vitória de Lula. ‘Tô com medo. Faz tempo que eu não tenho esse sentimento.’ Em 2003, Regina adotou um discurso mais conciliador e afirmou ‘ter esperança no futuro do Brasil’.
Procurada ontem pela Folha para comentar seu discurso, a atriz afirmou que foi provocada a falar sobre o episódio de 2002. ‘Fiz um comentário no calor da situação. Não tocaria nesse assunto.’ Sobre sentir medo, afirmou: ‘Acho o medo saudável. Quem não tem medo não está preparado para a vida. Tenho medo sim. A sociedade toda deve ter medo, é esse sentimento que faz com que o ser humano possa estar se defendendo dos maus momentos (…) Não quero ficar reafirmando a cada seis meses que estou com medo, não gosto disso.’’
Boanerges Lopes
‘O direito de pensar o impossível’, Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 12/03/04
‘No Brasil, a CPI tem uma única serventia: promover os políticos, ávidos por um holofote de televisão ou foto no jornal. A constatação da jornalista Suely Caldas faz parte do pensamento coletivo não só dos profissionais de imprensa, mas da maioria da população. Ela diz no interessante texto ‘Jornalismo Econômico’ que segundo levantamento feito pela assessoria do Senado e também publicado em livro, com exceção da CPI que levou ao impeachment do ex-presidente Collor, nenhuma outra chegou com resultados efetivos ao seu final.
O que provavelmente ia ser o desfecho deste Waldogate: acabar em pizza. Mas o governo preferiu não arriscar. O procedimento regimental escolhido por sua base no Senado praticamente encerra não apenas com as chances da CPI dos Bingos, mas com quase todas as CPIs que possam ameaçar futuramente. A oposição, atenta a manobra e já de olho nos holofotes que o ano eleitoral vem proporcionando, tenta estender ao máximo o noticiário sobre o ‘abafamento’ da CPI e trabalha com unhas e dentes para ampliar seu ‘significado político’. Já circula a tese – plantada pelo PSDB – de que o governo está cassando um direito constitucional da minoria. Argumento, inclusive, que pode ser ouvido no STF, segundo analistas do site política brasileira. Não existem dúvidas que este caldeirão de informações e desinformações terá amplo uso eleitoral, remexido com temperos visuais assim que se iniciar a campanha na televisão. Não é difícil lembrar um dos episódios da última campanha presidencial, em 2002, onde o dispositivo utilizado foi praticamente o mesmo: uma obscura e antiga entrevista do candidato do PPS, Ciro Gomes, chamando um eleitor de ‘burro’ foi usada com eficácia.
Aproveitando o ensejo do caso Waldomiro na mídia, outro dia encontrei um velho amigo, jornalista e professor e para manter a tradição fomos a um pé sujo. Depois de uns ‘copos derrubados’ contou-me a seguinte fábula:
A bela vaquinha pastava feliz da vida. Quanto mais comia, mais engordava, pois o capim era farto naquele pasto. Talvez até demais para uma vaca só. Voava pelo lugar uma mosca varejeira que, ao avistar a vaca sadia, pensou: ‘Que bela carne para botar meus ovos….’ e rapidinho se aproximou. Mas a vaca conseguiu espantá-la inicialmente balançando o rabo. Só que a varejeira, muito astuta, resolveu traçar outra estratégia, através de uma abordagem diferente. Voou até o focinho da vaca e começou aquela conversa mole. ‘Conversa para boi (no caso, a vaca) dormir’, como diz o dito.
– Como você é grande. Merece mais espaço do que tem. Eu, minúscula, vou para onde quero. Não existe cerca que me detenha. Vê aquele pasto ali depois da cerca? É muito melhor que este aqui. Vapt-vupt. Foi e voltou em segundos para espanto da vaca.
– Acho que pelo seu tamanho e importância, tínhamos que ter direitos iguais. Você poderia voar e saltar cercas. Imagine se este capinzinho te faz feliz, o que não te espera naquele baita pasto e em muitos outros.
A vaca, picada pelas palavras da mosca, perguntou: Mas o que posso fazer?
– Eu posso ajudá-la – disse a mosca – basta apenas você deixar que eu bote meus ovos nas suas costas. Pois de cada um nascerão duas asas. Em breve você poderá voar e voar……
– Por favor – disse a burra e democrática vaquinha – bote seus ovos nas minhas costas.
A varejeira começou o seu trabalho enquanto a vaca lhe dizia: ‘Bote mais um, por favor..’
Muito rapidamente a vaca estava coberta de calombos. Cresciam os bernes, que bebiam seu sangue e atormentavam com ferroadas de dor. Pobre vaca. Retrucava, reclamando, no que a mosca prontamente dizia: ‘Já viu parto sem dor? Estão nascendo muitas asas’.
A vaca emagrecia e dizia-se fraca. No que a mosquinha rebatia: ‘Depois que tiver asas, comerá de muitos pastos e voltará a ser forte….’ Mas quando será?, gemia a esquálida vaquinha.
Breve, breve….- enrolava a esperta mosca.
Naturalmente o final da fábula fica a mercê da imaginação de cada leitor. Pelo conjunto de particularidades e um efetivo caráter didático e moralizante, ela aponta ao seu final para uma espécie de interpretação, resumida, geralmente denominada ‘moral da fábula’.
Meu amigo se espanta quando digo que minha moral da história diz que é possível espremer os bernes, pois acredito em utopias. A principal delas? O direito de pensar o impossível. (*) Jornalista e professor da UFAL’
O Estado de S. Paulo
‘Ação de Lula contra ‘Estado’ é extinta’, O Estado de S. Paulo, 10/03/04
‘Com base em acordo homologado judicialmente, foi decretada a extinção de ação de reparação civil por danos morais proposta pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra Paulo de Tarso Venceslau e a S.A. O Estado de S.
Paulo. O processo foi movido a partir de denúncias de Venceslau, publicadas pelo Jornal da Tarde e pelo Estado, sobre suposto favorecimento a uma empresa de consultoria em administrações do PT.
Nos autos da transação, Venceslau reconheceu a ‘fidelidade com que os jornais da S.A. O Estado reproduziram sua entrevista’. Antigo militante petista, Venceslau declarou à 20.ª Vara Cível da Capital que, ao conceder a entrevista, ‘não teve qualquer intenção de ofender ou mesmo tisnar a honra e a moral do autor (Lula), mas apenas foi a tanto movido pelo intuito de buscar a apuração dos fatos no âmbito interno do PT’. Venceslau afirmou reconhecer a ‘elevada honra, a moral e a proverbial honestidade do autor’.
O Estado sustentou que, ao divulgar a entrevista, ‘tão-só exerceu direito-dever jornalístico, publicando-a fielmente e com consentimento do entrevistado (Venceslau); precisamente por isso, não é responsável pelo conteúdo da entrevista nem por nenhuma das afirmações ali lançadas pelo entrevistado, afirmações essas cuja autoria em momento algum assumiu, ou endossou, limitando-se à publicação’.
O acordo surgiu quando, a requerimento do Estado, Lula foi intimado a dar depoimento pessoal, em audiência designada em Vara Cível de Brasília por carta precatória. Subscreveram a transação os advogados das três partes – João Roberto Egydio Piza Fontes, advogado de Lula, Luiz Alberto Marcondes Piccina, advogado de Venceslau, e Manuel Alceu Affonso Ferreira, do Estado.’