Qual a lição que o caso da menina Isabella Nardoni deixará para a sociedade? Será apenas mais uma triste história? Ou será que a população, a partir da dor, da comoção e da revolta, adotará, daqui para a frente, respeito amplo, irrestrito e inegociável para com as crianças? Chegamos ao fundo do poço? Chegamos ao limite do ser humano?
Entre tantas crianças, infelizmente a pequena Isabella Nardoni é apenas mais uma vítima do capricho, da loucura e da indiferença dos adultos, sejam eles familiares ou não. Exemplos não faltam.
Em 2007, o Fórum Internacional Infância e Violência, realizado na Espanha, destacou que, a cada ano, aproximadamente 200 mil crianças morrem assassinadas em conflitos armados, 400 milhões são explorados pelo trabalho infantil, dois milhões são vítimas de tráfico sexual e outros dois milhões são mutiladas. Aqui no Brasil, pesquisa do Laboratório de Estudos da Criança (Lacri), da Universidade de São Paulo (USP), revela que, entre 1996 e 2007, foram registrados nada menos do que 159.754 casos de violência doméstica contra as crianças.
A infância está destituída de respeito e direitos. E, quando isso acontece, a infância também fica destituída de deveres. Assim, como nós, adultos, podemos nos surpreender com os casos de violência cometidos pelas crianças? Afinal, em grande medida, são exemplos e valores de violência, desrespeito e indiferença que as crianças estão recebendo de nós, seja no sinal do trânsito, na impaciência do dia-a-dia, na resolução dos simples e graves problemas da vida ou, simplesmente, dentro do próprio lar que construímos para protegê-las.
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Jornalista